História Prateleira do Meio - Inesperado

Yoongi

Claro que eu não me via trabalhando em supermercado. Puta merda, quem se via?  Quando se é criança isso não é exatamente um sonho. 

"Meu sonho é viver em um supermercado por oito horas enquanto coloco os novos produtos na prateleira." 

Alguém já ouviu uma criança falar isso? Acho que não. 

Entretanto, admito que ser a pessoa que colocava o preço nas mercadorias sempre foi um pensamento que passou muito em minha cabeça. Imagina decide brincar um pouco e colocar preços mais altos ou mais baixos do que deveria? O caos iria reinar, não é mesmo? E a diversão em ver isso era maravilhosa. 

Mas voltando a vida real, claro que não me imaginaria com vinte dois anos trabalhando em um supermercado; porém, era o famoso: preciso pagar as contas no final do mês e qualquer oportunidade é válida. Com o tempo, aprendi a realmente gostar do que fazia. No começo odiava, as pessoas quando me viam colocando mercadorias novas fingiam que eu nem estava lá, pois várias vezes me empurravam para pegar o que precisavam, sem nem um com licença ou obrigado.

Outro ponto detestável? O ar condicionado. Juro que tinha dias que o ambiente parecia ser a antártica, por isso que precisava sempre ter o meu casaco por perto. Mas em geral, depois de tanto tempo, esses pontos viraram algo tão comum que se não acontecesse, iria sentir saudades. 

Uma das minhas coisas favoritas no emprego era ver os clientes que sempre voltavam. Não sei a causa, mas era tão satisfatório ver alguém sempre, se tornando quase um hábito, e no momento em que sorrissem para mim, sinalizando que me reconheciam, a sensação de hábito, tanto para eles quando para mim, se tornaria grande. 

Melhor que isso? Somente as pessoas que sempre compravam os mesmos suplementos. Um homem de mais ou menos a minha idade sempre vem a cada duas semanas, quatro horas da tarde, comprar o seu inseparável chocolate quente, no verão ou no inverno, feriado ou não, doente ou não. 

Alguns dias ele estava vestido com terno, talvez saindo de seu estágio, outros dias gritava claramente que não possuía saco nenhum para se arrumar, o que resultava nele de chinelos e a primeira camiseta que visse em seu guarda-roupa com algum boné da vida. 

Porque lembrei dele? O mercado decidiu mudar as mercadorias de lugar. Na verdade, era bem mais comum do que as pessoas imaginavam, se tal marca pagassem mais para o estabelecimento, iria resultar estar no meio da prateleira para que os clientes colocassem os olhos mais rapidamente e quem sabe, os comprar no impulso. 

Acontece que o chocolate que o homem sempre comprava foi para a última prateleira e sinceramente? Só as pessoas super altas poderiam o pegar.  

— Não acredito que mudaram isso, quando vim pela última vez estava tudo certinho. — O ouvi resmungar quando seus olhos passaram pela prateleira de cima. Ficou um tempo examinando-as, como se em sua cabeça estivesse traçando o melhor plano possível para pegar o chocolate. 

Depois de uns dois minutos, simplesmente desistiu e foi a moda antiga: pulando. Juro, deu uma dó. Até com seus braços estendidos não conseguiam alcançar; logo, descartei a possibilidade de o ajudar, pois ele não era muito mais alto que eu e, teoricamente, deveria estar fazendo meu trabalho e não perdendo tempo com minha curiosidade. 

— Toma aqui, Hoseok. — Mattew, um dos empregados com mais altura, pegou a mercadoria e entregou para ele. O cara ficou tão agradecido que poderia até ver os olhos brilhando e um alívio como se outro mundo passasse por suas palavras de gratidão.  

Semanas e mais semanas se passaram, repetindo o mesmo ocorrido, este que já tinha virado uma rotina. Querendo ou não, minha vontade era de o ajudar e, de quebra, ajudar Mattew —  ser chamado a cada dia da semana, no meio do seu trabalho, não era nada confortável —, mas, claro que não poderia mudar todas as mercadorias de lugar somente porque um cliente regular não possui facilidade para o pegar.

Então, depois de muito pensar, cheguei a um plano: todos os dias que soubesse que Hoseok viria, pegaria somente uma embalagem de seu bom e velho chocolate e colocava na prateleira do meio. 

Sabia que aquilo não era nada demais; entretanto, toda vez que se encontrava na sessão do mercado com seus olhos esbugalhados em surpresa e seu sorriso, não poderia ficar mais feliz. 

Para mim, não foi incômodo nenhum, mas, para ele, foi a maior ajuda do mundo e isso não poderia me deixar mais feliz. As pessoas poderiam ajudar as outras com pequenas ações. E isso? Não poderia ser mais satisfatório.