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História Predestinados - Cinza


Escrita por: Yume-ni

Notas do Autor


Olá pessoal!
Quanto tempo né?
~Desvia das pedras
Depois de 84 anos estou de volta com o cap que marca a nova fase da fic. Espero que gostem :3

Capítulo 8 - Cinza


            Jaejoong estava ao lado de seu advogado esperando seu adversário chegar para a reunião em que tentariam firmar um acordo bom o suficiente para ambos os lados. Estava irritado com tanta demora, sua paciência se dissipando aos pouquinhos enquanto sua presença começava a incomodar os que estavam presentes na sala.

— Eu recomendo ao senhor que se acalme, sua presença chama muito a atenção e alguns policiais podem ficar irritados com isso – o advogado se pronunciou, receoso de que o plano fosse por água a baixo devido à impaciência de seu cliente.

Jaejoong bufou irritado com a situação. Queria sair dali, queria poder esganar aquele Alpha intrometido e tomar o ômega de volta, mas isso poderia significar sua ruína. Yunho jamais poderia descobrir sobre Kyungsoo ou então seu casamento acabaria. Bagunçou os cabelos e fechou os olhos, tentando controlar seu lobo. Não podia perder o controle ou perderia tudo.

Depois de mais alguns minutos a porta da sala de conciliação se abriu e dois homens entraram,  sentando-se na frente do Alpha e de seu advogado. Eram dois betas, um de aparência séria e compenetrada, o outro todo colorido e delicado como um ômega. Jaejoong franziu a testa, irritado com isso. Quem aquele Alpha pensava que era para nem se dar ao trabalho de ir ele mesmo? Segurou um rosnado na garganta ao ver os olhos dos policiais o vigiando como falcões.

— Você é Lu Han? – Jaejoong falou com a voz meio tremida, claramente controlando-se ao extremo.

— O senhor Lu Han estava ocupado, por isso seu sócio Byun Baekhyun está aqui para representá-lo. – respondeu o advogado do Byun.

— Espero que isso não seja um problema Kim Jaejoong? – Baekhyun completou a fala do advogado com um sorriso presunçoso nos lábios, fazendo o Kim se corroer de ódio – É bom que comece logo a ladrar, também sou um homem ocupado.

Baekhyun cruzou os braços satisfeito com a coloração avermelhada que se apoderou do rosto de Jaejoong. Parecia prestes a explodir a qualquer momento e Baekhyun achava divertido brincar com os limites de um Alpha tão intemperante como aquele.

— Vou ser direto então, senhor Byun, doutor Oh, está claro que este processo que os senhores pretendem dar início contra o meu cliente pode se prolongar por tempo indeterminado e de maneira desgastante. Muito dinheiro será gasto por ambos os lados. Além de que todo processo será sofrido demais para a mente cansada do jovem Kyungsoo, que terá que passar pelo constrangimento de ter seu caso conhecido publicamente. Sua reputação também será manchada. Por isso, sugiro que façamos um acordo de cavalheiros. O senhor Kim prometerá nunca mais se aproximar do ômega Do Kyungsoo e efetuará um pagamento no valor de meio milhão de Wons em uma conta no nome do ômega. Em contrapartida, os senhores retirarão sua influência do caso, permitindo que ele seja arquivado e devidamente esquecido para o bem de todos.

— Para o bem de todos você diz... – Baekhyun deu uma risada escarnecedora, voltando seus olhos para a dupla de salafrários a sua frente. – Bem para quem, Kim Jaejoong? Por acaso você tem noção do que fez a ele? Tem noção de como Kyungsoo está agora? Acha que todo esse dinheiro vai reparar todo o dano que acusou? Acha que ele vai esquecer facilmente todos os anos em que sofreu nas suas mãos? Você é um monstro, mais ainda do que eu pensava, do pior tipo. Do tipo que usa sua aparência para fazer dos outros seus fantoches. Acha que é divertido, Kim Jaejoong? É divertido brincar com as pessoas como se elas fossem apenas objetos para a sua diversão?

— Senhor Byun...

— Cale a boca! – Baekhyun gritou com o advogado, que se encolheu na cadeira como se ele tivesse falado consigo com a voz de alpha. — Eu vou lhe contar um segredo. O mais aterrador da sua existência.

Baekhyun se levantou da cadeira onde estava acomodado e se inclinou sobre a mesa que o separava do Kim e seu advogado. Espalmou as mãos na madeira para se equilibrar, o rosto tão próximo do Alpha que este pôde sentir o cheiro da pele do Byun.

— Do Kyungsoo não precisa de você, ele nunca realmente precisou. Ele é muito mais do que você julgou. Achou que podia tê-lo sobre seu poder para sempre não é mesmo? Somente por ele ser ômega. Mas aquele lobinho selvagem irá provar para você que é incrivelmente forte e você vai estar de macacão laranja chupando o dedo como um bom menino dentro de uma cadeia de segurança máxima. Do Kyungsoo vai brilhar e você vai ser esquecido para sempre.

Jaejoong rosnou de puro ódio. Seus olhos vermelhos sinalizavam que seu lobo estava querendo tomar o controle, mas ele logo foi sedado pelos policiais e seu corpo caiu semiacordado no chão frio da sala. A última coisa que viu antes de desmaiar completamente foram os sapatos de grife do Byun, que apenas deu meia volta e se retirou dali. Não haveria conversa coisíssima nenhuma com aquele Alpha, seu advogado ou qualquer um que tentasse defendê-lo. Kim Jaejoong pagaria e Byun Baekhyun faria de tudo para que isso acontecesse.

 

 

 

 

Kyungsoo estava no apartamento de Baekhyun novamente, mas dessa vez de volta à suíte do Byun; nada de quarto de hóspedes. Tudo estava diferente. Era como se ele tivesse mudado tudo no apartamento. O Do se perguntou por que motivo ele faria isso.

Talvez porque ele tem dinheiro suficiente, pensou.

Deu de ombros e voltou a se deitar, enrolando-se nos lençóis como Kimbap. Estava feliz por finalmente poder sair daquele hospital cheio de Alphas. Apenas as enfermeiras eram ômegas, o que fazia Kyungsoo sentir medo o tempo todo, mesmo que não soubesse exatamente o porquê. Toda a aproximação Alpha fazia seu lobo se agitar de puro medo e todo o seu corpo reagia para se manter distante.

Agora, ali no apartamento de Baekhyun, sentia-se seguro finalmente. Havia apenas o cheiro dele pela casa, o que o acalmava um pouco mais. Ele havia saído pela manhã falando sobre alguns assuntos que precisava resolver, mas ainda não havia voltado. Kyungsoo se sentia incomodado por estar se aproveitando de Baekhyun novamente, mas ele havia falado muito sério sobre como ficaria magoado se voltasse e não o encontrasse ali novamente.

Quando acordou no hospital Kyungsoo pode ver nos olhos de Baekhyun o quão preocupado ele havia ficado. Além de ter que escutar um sermão de Lu Han. Não gostava dele, tinha pavor da sua presença alpha, mas o agradeceu por ter lutado contra Jaejoong e ajudado Baekhyun a resgatá-lo. Só os Deuses sabiam o que teria acontecido se tivesse continuado sobre o poder do Kim. Kyungsoo preferia se abster de pensar no assunto.

— Hey, querido, como você está?

Baekhyun apareceu na porta da suíte com a roupa na qual havia saído. Ele estava muito bonito, e com seu cheiro natural, sem hormônios ômegas em sua pele. Sorriu e se aproximou de Kyungsoo, acariciando seus cabelos negros.

— Espero que a manhã não tenha sido entediante – Baekhyun disse ao se deitar junto de Kyungsoo.

— Eu apenas dormi – Kyungsoo respondeu dando de ombros.

Encostou a cabeça no ombro de Baekhyun, aproveitando o carinho que ele lhe dava. Era tão bom. Poucas as vezes fora tocado daquela maneira. Suspirou com o cafuné, abrindo os olhos novamente para examinar o Byun.

— Hyung, eu não quero continuar aqui apenas me aproveitando da sua boa vontade. Você não tem obrigação nenhuma comigo – Kyungsoo voltou à discussão de uns dias atrás porque, por mais que gostasse de estar ali com Baekhyun, não achava certo.

— Eu fiz alguma coisa errada? Tem algo em mim que não te agrada e por isso quer ir embora? – Baekhyun disse com voz embargada, sentando-se na cama novamente, sendo seguido por Kyungsoo.

— Não! Eu apenas não quero ser um fardo! – Kyungsoo tentou se explicar.

— Você não é fardo nenhum, Soo, eu não me importo que fique aqui pelo tempo que precisar. Não seja orgulhoso e me deixe te ajudar. – Baekhyun segurou os ombros de Kyungsoo e ergueu o queixo dele, fazendo-o olhar para si. – sua recusa me machuca ainda mais, eu já te falei antes. Se afastar irá machucar a nos dois. Por favor, deixe para trás esse orgulho. Eu só quero ficar ao seu lado e te ajudar.

Kyungsoo respirou fundo e fechou os olhos, tentando acalmar seus pensamentos. Não sabia o que fazer, não era daquela maneira que fora ensinado. Por isso não sabia mais que código de conduta seguir, afinal, era a primeira vez que se deparava com algo tão diferente como Byun Baekhyun.

— Tudo bem, Hyung, eu fico, mas só se me deixar trabalhar. Posso cuidar da casa para você, cozinhar, limpar...

— Nem pensar, não precisa fazer isso só porque se sente obrigado, Dongsang – Baekhyun exclamou indignado.

— Essa é a minha condição – Kyungsoo disse firmemente. – É pegar ou largar.

Baekhyun bufou contrariado, mas viu que não teria outra escolha. Aquele pequeno lobo selvagem conseguia lhe dobrar de um jeito tão fácil... Do Kyungsoo era realmente mais do que aparentava, pensou com um sorriso no rosto.

 

 

 

 

 

Chanyeol estava em seu escritório analisando contratos e novas possibilidades de investimento. Apesar de seu empenho, a manhã não estava sendo realmente produtiva, já que seus pensamentos estavam presos em Jongin a maior parte do tempo. Já havia recebido a notificação de que Jongin  sabia sobre o compromisso dos dois. Havia tentado de todas as formas atrasar ao máximo esse evento, mas Jongdae conseguira pressionar a diretoria o suficiente. No fim, os executivos foram inteligentes o suficiente para colocar Jongdae na parede e anunciaram o noivado dele também. Chanyeol sentia pena do pobre coitado ômega escolhido para o patife.

O telefone tocou e o Park viu no identificador de chamadas que era sua secretária.

— Precisa de algo, Yona?

Chanyeol escutou a mulher negar e anunciar a chegada de um convidado inusitado. Rapidamente aceitou a entrada dele na sala da presidência. E Kim Jongin passou pelas portas automáticas espalhando sua presença pelo lugar. Ele estava deslumbrante, como sempre, mas havia algo estranho em seus olhos. Algo que deixou o Park preocupado.

— É um prazer revê-lo Jongin – Chanyeol disse com um sorriso galante nos lábios, tentando aliviar as expressões pesadas de Jongin.

— Eu queria muito poder dizer o mesmo, Chanyeol.

O ômega parecia tomado por uma aura negra impenetrável. Chanyeol sabia o motivo, por isso apenas respirou resignado e o convidou a se sentar em um espaço onde normalmente recebia visitas de amigos para conversas mais íntimas e de jornalistas. Jongin se sentou, mantendo a expressão impassível, enquanto o Park massageava as próprias têmporas tentando se preparar para uma possível discussão.

— Você sempre soube? Por isso se aproximou de mim? – Jongin perguntou secamente.

Chanyeol levantou o rosto e seus olhos brilharam para o ômega de uma maneira que o Kim nunca tinha visto. Era como se Chanyeol estivesse baixando as próprias barreiras apenas para ele, como se quisesse que Jongin o enxergasse de verdade. Jongin ficou meio paralisado enquanto assistia o Alpha puxar sua mão direita e a segurar como se fosse feita de porcelana. Park Chanyeol parecia um menino perdido e sem rumo.

— Hyung...

— Sabe Jongin, eu jurei a mim mesmo que seria forte o tempo todo, para que eu fosse digno de ficar ao seu lado, para que eu conseguisse te proteger. Eu demorei um pouco para entender que você não precisa de mim, e sim eu que preciso de você – Chanyeol começou a falar, acariciando as falanges de Jongin com os dedos. – Sempre que você se aproxima eu sinto como se apenas com essa mão você pudesse me destruir. Eu estou bem aqui, meu bem... – Chanyeol circulou a palma de Jongin com indicador. – O que você decidir sobre essa situação eu vou acatar. Se não quiser se casar comigo, se não quiser se casar com ninguém, eu irei te ajudar a conseguir o que deseja.

— Chanyeol-Hyung,  - a voz dele tremeu - me perdoe por te julgar antes de começar a conversa, eu apenas estava...

— Assustado?

— Sim.... Eu fiquei tão confuso depois de saber sobre esse casamento. Não sabia de nada sobre isso, sobre meus pais planejando meu casamento, sobre você aparecendo tão de repente e mexendo comigo desse jeito, sendo que só o... – Jongin se impediu de falar o nome de Lu Han, pois ainda machucava ter sido rejeitado. Engoliu em seco e desviou o olhar de Chanyeol. – Eu pensei que tudo estava calmo na minha vida, então essa guinada acontece de repente, eu... só não quero perder tudo novamente.

Jongin sentiu Chanyeol apertar sua mão entre as dele. Sentiu o corpo ser puxado e quando viu estava quase sentado no colo do alpha. Ele tinha os olhos cinzentos grudados em seu rosto. As mãos de Chanyeol subiram até o queixo de Jongin, aproximando seus lábios dos dele. Estava completamente hipnotizado pelo cheiro e pelo olhar do Park.

— Eu não sei quem partiu seu coração, meu bem... mas eu estou aqui e prometo fazer de tudo para cuidar bem dos seus sentimentos. Eu estou tão apaixonado por você, baby. — Chanyeol apertou a mão de Jongin contra o lado esquerdo do peito onde seu coração batia acelerado como se corresse uma maratona. – Nada no mundo além de você é capaz de me destruir. Saiba disso.

Jongin abriu a boca surpreso com a declaração do alpha e mal percebeu quando ele reivindicou sua boca com um beijo de tirar o fôlego. O ômega tremeu nos braços do Park, uma sensação quente e avassaladora tomando conta de todo o seu corpo. Os lábios de Park Chanyeol eram sua perdição.

Não soube quanto tempo ficaram ali, perdendo-se um no gosto do outro. Pararam apenas quando Chanyeol percebeu o sol se pondo por cima dos prédios, dando a eles uma bela vista através da grande parede de vidro da sala. Os dois estavam aconchegados em um divã. , aproveitando o momento para compartilharem calor um com outro enquanto o rio da noite espreitava por entre os cantos da sala.

— Eu não quero... – Jongin começou a dizer depois de sentir os braços de Chanyeol se estreitando ainda mais em volta de si.

— O que, bebê? – Chanyeol perguntou deixando beijinhos carinhosos atrás da orelha do ômega.

— Não quero interromper nosso noivado, só vamos fazer as coisas um pouco mais devagar que o normal, ainda preciso te conhecer um pouco mais. Eu não nego que sinto atração por você... só quero ter certeza sobre os meus sentimentos. Eu sei que você já percebeu que existe alguém que eu gosto, e eu sinto isso há muito tempo, não sei se consigo esquecer facilmente. – Jongin suspirou sentindo os dentes de Chanyeol brincarem em sua orelha, fazendo seu corpo se arrepiar.

— Não se force a nada, querido, eu vou estar aqui para você sempre. Não precisa se preocupar, tudo bem? – Chanyeol sussurrou no ouvindo de Jongin, ouvindo-o suspirar e se esfregar de maneira automática contra si.

Se tinha começado, era melhor terminar. Chanyeol não era o tipo de alpha que deixava seu parceiro insatisfeito.

 

 

 

 

 

Kyungsoo assistia televisão quando recebeu a notícia do noivado entre Jongin e Chanyeol. Saiu pela manhã em todos os programas de variedades e tabloides. De repente era o assunto do momento. O romance inesperado entre o Herdeiro ômega e o Gênio Alpha dos negócios.

O Do se perguntou se Jongin estava de acordo com isso e ficou imediatamente preocupado. E se esse alpha fosse como Jaejoong e machucasse seu amigo? Estava quase tendo uma síncope quando Baekhyun se aproximou de si e deitou no sofá com a cabeça em seu colo.

— Aigoo, parece que o Park não perde tempo mesmo hein? – Disse com voz brincalhona.

— Você conhece esse alpha, Hyung? – Kyungsoo perguntou, meio encabulado.

Baekhyun pegou a mão do ômega e a colocou em seus cabelos indicando sua necessidade de carinho. Kyungsoo sorriu e começou o cafuné, satisfeito com os suspiros de contentamento que seu Hyung dava.

— Nós somos amigos de infância, ele é um bom alpha, sempre em volta do Jongin pronto para cuidar dele. Se Jongin negasse o casamento, Park Chanyeol faria de tudo para que ele não acontecesse, mesmo que significasse perder uma boa parceria empresaria  – falou, sabendo que tranquilizaria o ômega com relação ao casamento de Chanyeol e Jongin. – Não se preocupe, Soo, o Park tem essa pose de durão, mas é um doce.

— Isso é bom... – Kyungsoo comentou baixinho, enquanto assistia Baekhyun ronronar em seu colo devido ao carinho – ,Não vai trabalhar hoje. Hyung?

— Hoje é meu dia de folga, então quero passar o dia dormindo de conchinha com você! – Baekhyun comentou animado enquanto se aconchegava no colo de seu Dongsang.

— Mas quem disse que eu passo o dia na cama? – Kyungsoo disse consternado. – Pode ir levantando que eu tenho muita coisa para fazer hoje!

O ômega tirou a cabeça do beta de seu colo e pegou o avental antes de começar a andar pela casa de maneira apressada. Baekhyun assistiu com seus olhos sonolentos o Do começar a limpeza diária enquanto colocava as panelas no fogão. Realmente, Kyungsoo era uma pessoa extremamente ativa. Os dias em que ele ficara de cama mostraram o quão mal ele se sentira, chegando ao ponto de nem desejar se mover, mas agora com Baekhyun sempre lhe apoiando e o incentivando, Kyungsoo sentia novamente essa necessidade de estar em movimento.

Baekhyun até tentou ajudar em alguma coisa, mas era um desastre em trabalhos domésticos. Queimava a comida, mais sujava do que limpava, e deixava Kyungsoo morto de preocupação sempre que se machucava. No fim, acabou se instalando na sala mesmo, assistindo o jovenzinho terminar os afazeres da manhã com um almoço bem caprichado.

O beta nunca fora alguém que deixava as coisas passarem despercebidas. Enquanto observava Kyungsoo, pôde perceber que a maior dedicação dele era na parte da cozinha, em uma persistência em fazer uma boa refeição para os dois. Após comerem a sobremesa, o ômega se mostrou sonolento e acabou adormecendo. Baekhyun o levou para o quarto, deixou o ambiente à meia luz e fechou a porta para evitar barulhos externos.

Agora era o seu momento de trabalhar.

 

 

 

 

— Como você pode ser capaz de fazer isso em apenas algumas horas? – Kyungsoo perguntou chocado.

A mesa da cozinha estava repleta de diagramas de vendas, possibilidades de mercado, cálculos para estoque, funcionários, possíveis imóveis além de uma série de documentos e pesquisas necessários para se abrir um restaurante.

— Bem, eu estava entediado. – Baekhyun deu de ombros como se não fosse nada.

— E você calcula o mercado de restaurantes de luxo quando está entediado? – Kyungsoo disse em tom irônico enquanto tentava entender o que aqueles papéis queriam dizer.

— Se eu tiver um bom motivo, sim.

 O beta sorriu enigmático com um tom de voz que implorava a Kyungsoo que ele fizesse a pergunta final.

— E o que seria um bom motivo? – Kyungsoo perguntou baixinho, mais para si mesmo do que qualquer coisa, mas isso não impediu Baekhyun de lhe responder:

— Você, é claro. – Sorriu enquanto mostrava para Kyungsoo a imagem de um estabelecimento comercial, simples, mas aparentemente em bom estado e aconchegante.

— Como assim, eu? – Kyungsoo olhou para o beta chocado.

— Eu estive pensando que ficar o tempo todo dentro do apartamento, cozinhando e limpando não poderia ser muito bom para você, já que quer tanto ser independente, achei que ter seu próprio negócio não seria algo ruim, ainda mais se for sobre algo que você gosta. Afinal eu vou fazer questão de arrancar até as calças daquele Alpha imundo, e aí você terá um bom dinheiro para viver bem e ainda abrir seu próprio restaurante – Baekhyun começou a tagarelar sobre o lugar bonitinho que havia achado, além de todas as possibilidades de comida caseira que Kyungsoo poderia preparar e como seria um sucesso.

No entanto, toda aquela história foi deixando o pobre ômega assustado com a avalanche Byun Baekhyun e suas ideias mirabolantes. Não sabia se estava preparado para sair na rua todos os dias, ou se queria mesmo o dinheiro do antigo noivo, ou se queria fazer qualquer outra coisa além de passar o resto da vida fazendo o que sempre fizera. Eram mudanças drásticas demais para sua cabecinha já mergulhada em confusão.

— Hyung, eu não sei se quero isso. – Kyungsoo comentou baixinho, segurando a manga da camiseta longa de Baekhyun, tentando fazê-lo parar de falar. –Eu acho melhor deixar as coisas como estão, e-e-e-e-e-eu não quero, não quero...

Kyungsoo estava com os olhos arregalados. Parecia ainda mais assustado do que o normal. Baekhyun respirou fundo e o trouxe para seu colo, abraçando-o de maneira carinhosa.

— Eu sei que não está sendo fácil, Soo, me desculpe por ser afobado demais, apenas... reconsidere um pouco, pode ser a sua chance de continuar a vida normalmente sem precisar depender de um Alpha ou até mesmo de mim – falou em tom brando, acariciando os cabelos negros de Kyungsoo.

— Eu não consigo me ver fazendo tantas coisas assim sozinho. – Kyungsoo fungou – Eu sinto medo de estragar tudo.

— Você não conseguiria estragar nada nem se tentasse, sei que vai ser ótimo em tudo que tentar fazer – Baekhyun reiterou, mas Kyungsoo ainda parecia não ter mudado a própria mente. – Eu acho que talvez seja bom você ter alguém para conversar sobre essas coisas,  hum?

Kyungsoo franziu o cenho sem entender do que ele falava, mas Baekhyun sabia que o que seu pequeno precisava ele não conseguiria dar. Pelo menos não diretamente.

Naquele fim de tarde o beta contatou uma velha amiga que se dispôs a ajudar no que fosse preciso. Por mais forte que Kyungsoo fosse, ele precisava de alguém que o pudesse fazer enxergar a si mesmo.

 

 

 

 

 

Baekhyun andava nervosamente de um lado para o outro. Haviam se passado alguns dias desde que havia começado a levar Kyungsoo em uma psicóloga que era sua amiga. Além de conversar com o pequeno sobre seu passado e futuro, ela vinha preparando o jovem Do para aquele exato momento. Mas isso não impedia que o Byun ficasse nervoso em nome dele.

Lu Han estava ali, parecendo abatido e triste de um jeito nunca visto. Baekhyun queria poder se aproximar e confortá-lo, mas o Lu já havia deixado claro que não estava com bom humor o suficiente para discutir a si mesmo. Ainda mais naquelas circunstâncias.

Estavam colhendo os testemunhos.

De vizinhos, parentes, conhecidos, e é claro que o dia de Kyungsoo ser interrogado chegaria. Afinal, haviam sido eles mesmos a exigir agilidade no caso. Kim Jaejoong havia tentando comprar a maioria das testemunhas, mas o Baekhyun e Lu Han possuíam ainda mais influência e dinheiro do que ele. Se era guerra o que queria, era isso que havia conseguido.

Kyungsoo tremia, com medo de ter que se encontrar com seu antigo Alpha, mesmo com todos o tranquilizando sobre a impossibilidade de isso acontecer. Jaejoong estava bem preso e sedado em sua cela para que fosse impedido de espalhar sua presença pelo local.

Estava repassando as conversas com a psicóloga, tentando lembrar do que deveria dizer e não das cenas que tomavam sua mente, deixando-o apavorado apenas com a ínfima possibilidade de ter que viver tudo aquilo de novo.  Depois de tantas conversas, desabafos e lágrimas atrás de lágrimas ele conseguiu enxergar com clareza o quão destrutivo e errado era seu relacionamento com o Alpha. Antes apenas se sentia traído por saber que ele havia mentido sobre ser sua alma gêmea, seu companheiro predestinado. Agora, no entanto, a dor e a angústia que sentia tinham uma explicação ainda mais profunda.

Preso dentro daquele relacionamento errado de tantas formas, Kyungsoo passou por abusos físicos e mentais que se refletiam em sua personalidade e o impediam de seguir em frente. Era como se tivesse criado uma dependência, como se em sua mente existisse apenas aquele tipo de relacionamento, como se o amor fosse aquilo mesmo.

Foram tantos anos ao lado de alguém abusivo e violento que Kyungsoo não conseguia entender quando alguém o tratava bem ou lhe fazia algo bom apenas por fazer. Não sabia reconhecer o amor em um afago, não conseguia interpretar sorrisos ou retribuir abraços. Jaejoong o havia quebrado para o amor. Mas a psicóloga o havia deixado tranqüilo quanto a isso; ele conseguiria aprender o certo. Apenas precisava se permitir quando se sentisse seguro o suficiente para isso. Não precisava se forçar, mas também não precisava se fechar.

Depois de entender tanto sobre si mesmo, Kyungsoo entendeu seu propósito ali naquela delegacia, onde contaria as partes mais sombrias de sua vida. Onde delataria todos os seus vinte anos de sofrimento e finalmente seria capaz de dizer a alguém o que passara, impedindo que aquele alpha fosse capaz de repetir seus feitos. Alguns acham que é impossível de se sentir medo e coragem ao mesmo tempo. Do Kyungsoo tinha certeza que era feito desses dois sentimentos.

— Do Kyungsoo! – Um policial beta apareceu chamando o rapaz. Tremendo, Kyungsoo se levantou.

Teve as mãos apertadas por Baekhyun e um beijo foi depositado de maneira carinhosa em sua testa.

— Vai dar tudo certo, meu bem... se precisar de qualquer coisa eu vou estar aqui – disse com carinho.

Kyungsoo apenas assentiu e abraçou Baekhyun com força. Não podia chorar ali, não naquele momento, advertiu a si mesmo quando sentiu os olhos molhados. Precisava fazer o que tinha viera fazer... As lágrimas ficariam para depois.


Notas Finais


E ai?
Não foi tão ruim né?


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