História Pretty Woman - Ela tem seu nome e sobrenome

Estou terminando de arrumar minha mala quando Ashley entra pela porta do quarto, colocando sua bolsa em cima da cama. Não trocamos nenhuma palavra, ela está apenas me olhando colocar as últimas coisas dentro da mala de rodinhas. Tento me concentrar em tudo o que tenho que levar, para não esquecer nada, mas com Ashley ali, olhando firme para mim, não consigo pensar em nada além de sentar e esperar que ela fale alguma coisa.

— Pare de me olhar dessa maneira  — peço, olhando de relance para a loira, que agora está com a sobrancelha levantada.

— Não haja como se não soubesse o motivo de eu estar te olhando dessa maneira.

Ashley consegue ser a pessoa mais insistente do mundo quando ela quer, ainda mais quando é algo sobre o qual ela quer muito saber. Sempre foi assim. Sempre que ela quer saber sobre alguma coisa e eu sei sobre isso, ela fica dessa maneira até conseguir arrancar de mim. E eu conto tudo a ela, já que o fato de ter alguém me encarando incomoda-me de uma maneira que eu não sei explicar, eu me sinto pressionada.

— Ashley, não há nada que você não saiba  — tento explicar, mas ela faz um som estranho com a garganta.  — Estou falando sério.

— Lena, não há nada no mundo que você consiga me esconder  — estou sentada agora.  — Qual é o motivo de você ter ficado daquele jeito na noite em que ficamos com os meninos?

— Só estava chateada, Ash  — digo olhando para baixo.

— Chateada com o que? Cole brigou com você por algum motivo?

— Não é isso, só estamos discordando de algumas coisas sobre os preparativos. Não é nada demais.

— Sabe que se quiser desistir disso tudo, você pode não é?  — anuo, então Ashley segura minha mão fazendo-me olhar para ela.  — Sempre vou estar aqui para te apoiar, sempre.

— Sim, eu sei, e agradeço por isso. Mas eu não quero desistir, apenas estamos discordando de algumas coisas, acontece com todos.

— Tudo bem, acredito em você.  — Ashley diz, mas sei que é mentira. Ela esta enrugando os lábios e faz isso sempre que mente.

Ela murmura algumas coisas, mas eu não me preocupo em perguntar o que ela está falando. Sei que está pensando alto e não vai querer me falar nada sobre. Mas bem no fundo, sinto que ela está escondendo alguma coisa de mim e isso me incomoda, porque nós nunca escondemos nada uma da outra. Ashley levanta quando alguém bate na porta, ainda estou no quando, mas consigo ouvir ela trocar algumas palavras com a pessoa.

Vou até o banheiro e vejo que estava quase esquecendo minha escova de cabelo. Pego ela e coloco na mala, e então a fecho, levando-a até a sala e deixando ao lado da mala da minha amiga. A porta está aberta e quando ando até lá, vejo Ashley conversando com Justin e Ryan no corredor, Ryan me vê e acena, repito o gesto para ele e volto a entrar em casa e me sento no sofá. Encaro meus sapatos e olho para o tapete no chão da sala e lembro que foi Cole que me deu quando vim morar aqui.

Sinto mãos tocarem meu rosto delicadamente e toco na pessoa, na tentativa de saber quem é. De inicio, imagino que seja um dos meninos, mas então eu sinto o perfume e sei exatamente quem é. Segura minhas mãos e a beija em seguida, dando a volta no sofá e sentando ao meu lado. Cole inclina a cabeça em minha direção e beija a ponta do meu nariz, sorrindo em seguida.

— Me desculpe pela discussão de ontem  — ele começa.  — Eu estava nervoso, não deveria ter falado as coisas que falei.

— Cole, está tudo bem  — observo seu rosto branco e vejo seu olhar. Ele me olha como se precisasse do meu perdão.  — Você tem o direito de opinar sobre o casamento, você vai se casar também.

— Eu te amo tanto  — ele fala com o rosto bem perto do meu.

— Eu também te amo.

Nossos lábios se tocam e no momento em que ele toca meu rosto, lembro-me do dia em que nos conhecemos e do momento em que ele ajoelhou em minha frente pedindo minha mão em casamento. Seu toque é suave, e sinto nele que está arrependido, mesmo que não tenha sido uma coisa muito grave o que aconteceu. Nossos amigos entram na sala e algum deles pigarreia, fazendo-nos nos afastar.

— Não queria atrapalhar ninguém, mas nós temos que ir se quisermos chegar lá antes do almoço.  — Ryan fala sem jeito. Sorrio para ele, levantando de onde estou e indo pegar minha bolsa.

Justin pega sua mala e a mala de Ashley, e ambos vão descendo as escadas na frente. Aquilo me incomoda um pouco, pois pensei que ela ficaria comigo, mas não digo nada. Ryan pega minha mala e desce em seguida. Cole me espera trancar a porta e quando chego ao seu lado, na escada, ele segura minha mão e nós descemos. Quando chegamos lá, todos já estão em seus devidos lugares. Ashley concordou em ir na frente com Ryan, Justin está sentado no banco atrás do motorista e tem outros dois lugares vagos ao seu lado, sem contar os outros atrás de onde Justin está sentado.

Sento entre Justin e Cole, apoiando a bolsa em meu colo e encostando a cabeça no encosto atrás. Justin está com o rosto virado para o lado da janela e não vira até sairmos da cidade. Somente quando estamos na estrada, cercados por árvores, ele se vira quando Cole chama pelo seu nome, perguntando o motivo de estar tão calado. Ele apenas responde que está cansado.

Sinto-me incomodada pelo clima estranho que tem entre Justin e eu, e talvez possa ser coisa da minha cabeça, mas eu tenho que resolver isso de qualquer jeito. Toco seu braço com meu indicador e espero que ele olhe para mim, mas não o faz. Repito o ato e então, ele me olha. Sua expressão facial me deixa receosa, mas de qualquer maneira, eu continuo.

— É, Justin  — dou uma pausa e procuro as palavras certas para falar.  — Desculpe pelo jeito que eu falei com você na noite passada. Eu estava chateada com algumas coisas e acabei descontando em você.

— Selena, não tem problema. Você só expôs seu ponto de vista.

— Não, eu fui uma idiota. Sério, eu falei com a Ashley depois e ela me disse algo que faz muito sentido.  — Justin olha para Ashley e depois volta a olhar para mim.  — Eu não sei se essa pessoa que você gosta tem outro alguém, e eu te entendo.

— Selena, está tudo bem. Mesmo. Não esquenta com isso.  — eu concordo. Justin volta a virar o rosto para a janela.

Não consigo cochilar em momento algum durante a viajem. Ashley está dormindo, Cole e Justin também, apenas Ryan e eu estamos acordados e eu não quero atrapalha-lo enquanto ele dirige, tenho medo de fazer ele tirar a atenção da estrada e aconteça algo. Olho para seu rosto pelo retrovisor e ele parece sereno e tranquilo, seus olhos encontram os meus e eu sorrio para ele.

— Por que está tão quieta, Selena?  — pergunta.

— Bom, todos estão dormindo  — dou de ombros.

— Eu estou acordado, pode conversar comigo se quiser.

— Achei que te atrapalharia se eu falasse, não sei, fiquei com medo de tirar sua atenção.  — Ryan da risada, olhando novamente para mim pelo retrovisor.

— Você não vai me atrapalhar, Selena. Nós podemos conversar até chegar lá se você quiser  — ele está sorrindo.  — E além do mais, esse silêncio todo me deixa um pouco para baixo, você não?

— Um pouco, sim. Você e Justin são amigos a muito tempo?

— Tempo pra caralho.  — Ryan parece tentar lembrar de algo.  — Você pode achar bizarro, mas nós contamos um ao outro quando perdemos nossa virgindade  — dou risada, porque isso aconteceu comigo também.

— Ashley e eu também contamos uma para a outra. O mais bizarro foi que tinha apenas uma parede nos separando, e quando acabou, eu corri para ela e contei tudinho.

— Comigo foi igual. Justin disse que eu era idiota por deixar a menina lá e correr para o melhor amigo, mas não foi uma experiência muito boa. Entende?  — concordo com ele, e nós dois estamos rindo agora.  — De qualquer maneira, quando voltei, a menina ainda estava dormindo.

— Eu não voltei. Peguei minhas coisas e fui embora de fininho, agi igualzinho a um homem aquele dia. Nunca mais soube do garoto.

— Você não pode estar falando sério  — assinto quando ele me olha novamente, e ele gargalha alto agora.  — Você saiu mesmo de fininho?

— Sai, acredite!

— Eu queria muito estar lá para ver a cara do menino, deve ter sido hilário.

— Minha sorte foi que eu estava passando as férias na casa da avó de Ashley, então nós voltamos para casa e eu nunca mais vi ele. Imagine se ele ficasse atrás de mim no colégio.

— Você seria tipo uma destruidora de corações  — penso um pouco e assinto, rindo em seguida.  — Justin e eu quase fomos presos uma vez.

— Não fico nem um pouco surpresa em ouvir isso.  — Ryan mostra a língua e eu dou risada.  — Como aconteceu?

— Ele estava saindo com uma menina a algumas semanas. E eles saíram juntos uma tarde e quando começou a anoitecer, eles foram até a minha casa. Então, nós tivemos a brilhante ideia de ir até a casa do lago e passar o sábado e o domingo.  — Ele faz uma pausa enquanto presta atenção em algo na estrada. Eu espero, ansiosa para ouvir o resto da história, e quando a estrada volta a ficar quase deserta, ele continua.  — Nós achávamos que a menina tinha falado com os pais dela, ela sumiu por uns dez minutos e voltou falando que iria junto. Nós chegamos lá era de madrugada já, tiramos as roupas e fomos dar um mergulho no lago. Estava tudo bem, até que no domingo a tarde quando estávamos chegando perto da casa da menina e vimos várias viaturas da polícia. Eu encostei o carro e quando nós saímos, os pais da garota vieram correndo em nossa direção perguntando o que tínhamos feito com ela e pedindo para os policiais nos levarem para a prisão. A menina não tinha avisado os pais dela, Selena, ela tinha pedido para a melhor amiga dela falar que ela estava na casa dela, mas quando a mãe dela ligou para a casa da amiga, quem atendeu foi a mãe e disse que ela não estava lá.

Estou gargalhando muito alto agora e Ryan me segue na risada. Tento falar alguma coisa, mas fico imaginando a cara deles na hora que viram as viaturas lá paradas e quando os pais da garota voaram para cima deles. E isso só faz eu rir mais ainda, Ryan também tenta falar alguma coisa, mas parece que alguém jogou algum tipo de gás em nós dois e não conseguimos parar até que o efeito acabe. Justin se mexe ao meu lado e eu tento tapar a boca, mas Ryan me olha pelo retrovisor e eu não consigo segurar, estou gargalhando de volta.

— É feio rir da desgraça das outras pessoas, viu.  — Ryan protesta, mas isso não faz eu rir menos.  — E em nossa defesa, nós achamos que ela tinha avisado.

Solto um grito quando o loiro no volante faz uma careta engraçada e Justin quase pula do meu lado. Seu rosto está amassado de ficar encostado e eu dou risada disso também. Ryan está fazendo um gesto negativo com a cabeça e da de ombros quando Justin olha para ele. Sem querer, eu acabei acordando todos que estavam no carro com minha risada e todos estão olhando para mim.

— O que aconteceu?  — Ashley pergunta com o corpo virado para trás.

— Contei uma história para ela.  — Ryan responde dando de ombros e nós voltamos a dar risada.

— Que história?  — é Justin quem pergunta agora.

— Uma história nossa, nada demais.

— Você contou a ela a história da vez em que quase fomos presos?  — eu gargalho novamente e Justin faz uma cara nada boa para Ryan.  — Ryan, porque você conta essa história para as pessoas, cara?

— Desencana, Justin, não é como se a gente fosse culpado, e além do mais, só Selena e eu estávamos acordados, o silêncio estava um saco.

— Foi a melhor história que eu ouvi em anos  — digo virando o rosto para encarar o loiro ao meu lado. Seus olhos estão focados no meu rosto, e eu continuo.  — Nunca ri tanto, minha barriga está doendo de tanto rir.

— Que história é essa?  — Cole pergunta agora e a atenção te todos é dirigida a ele.  — Como assim vocês quase foram presos e eu não sei sobre isso.

— Não é nada demais.  — Ryan diz e Justin concorda.

— Você contou para a Selena e não quer contar pra mim? Poxa.

— Não é nada demais, Cole  — é Justin quem fala.

— É amor, nem é tão engraçada assim, eu exagerei um pouco.  — Tento ajudar os meninos pois sei que Justin não quer falar sobre aquilo.

Cole abre a boca para protestar, mas não o faz. Voltamos a ficar em silêncio, mas dessa vez todos estão bem acordados e Ryan disse que estamos perto. Ashley tira fotos com seu celular e Justin está digitando alguma coisa. Colo pousa sua mão em meu joelho e deposita um aperto fraco ali, fazendo eu virar meu rosto para olha-lo, está com um sorriso no rosto e eu sorrio para ele também. Sua pele clara está brilhando com a luz do sol que está entrando pela janela e ele está tão lindo assim.

— Falta muito para chegarmos ainda?  — Ashley pergunta olhando para Ryan.  — Preciso fazer xixi.

Ryan não responde. Viramos em uma estrada de terra e ao fundo posso ver uma casa, estilo de campo, linda. Vejo um sorriso no rosto do garoto dirigindo e então ele olha para minha amiga, e ela sorri também.

— Chegamos.  — fala quando para o carro.

Justin é o primeiro a descer, indo direto ao porta malas e pegando as malas dele e de Ashley, que o segue até a casa. Ambos entram juntos e somem depois que a porta se fecha sozinha, com o vento. Nós pegamos nossas malas e seguimos Ryan, que vai falando onde ficam as coisas. Então, paramos em frente a uma porta e ele diz que aquele vai ser o nosso quarto, pois é o único que tem cama de casal, além do dele.

— Obrigada, Ryan  — agradeço antes de entrar.

O quarto é lindo. Vou até a janela e abro a cortina, tendo uma visão linda do lago. Abro a janela e sinto o vento fraco entrar em contato com a minha pele, nós estamos num lugar lindo e ainda assim, algo me incomoda. Cole tira sua camiseta e encontra Ryan e Justin no quintal, e os três correm até o lago e pulam juntos, como adolescentes em uma festa.

— No que você anda pensando?  — Ashley pergunta sentando na cama.

— Hum, nada.

— Você nunca foi uma boa mentirosa, não para mim, mas eu vou fingir que acredito em você. Se não quer falar, não vou te encher o saco  — da de ombros e eu sorrio.  — Coloque um biquíni, vamos tomar um pouco de sol.

— Tudo bem  — ela sorri.

— Vou te esperar lá na varanda.

Procuro na mala um dos biquínis que eu trouxe. Ele é rosa e tem o desenho de pequenas cerejas vermelhas bem vivas, comprei para as férias, mas acabei não usando ele. Coloco um vestido soltinho e pego meu óculos. Encontro Ashley onde ela disse que estaria e a mesma está com duas cervejas em uma mão e o celular na outra. Me entrega uma cerveja e espera que eu a abra.

— Vamos brindar  — ela faz uma pausa e então sorri.  — Esse brinde é a nossa primeira viagem sozinhas com homens de verdade.

Dou risada, porque sei do que ela está falando. Tocamos as garrafas uma na outra e tomamos um gole. A loira passa o braço em volta dos meus ombros e nós andamos até perto do lago, onde temos os meninos em nossas vistas. Estendemos as toalhas, uma ao lado da outra como fazemos desde que nos conhecemos. Ashley deita e coloca o óculos que estava em sua cabeça, mas eu permaneço sentada. Minha atenção não está presa a pessoa que eu queria que estivesse e isso me incomoda.

Justin tem seu corpo definido e seu cabelo parece ainda mais bonito molhado. Sua pele parece ainda mais bonita a luz do sol, com as gotas de água escorrendo por toda a sua extensão. E no fundo, sei que não deveria estar olhando para ele dessa forma, mas não é algo que eu seja capaz de fazer agora. Então, para não me sentir mais culpada, coloco o óculos e me deito ao lado de Ashley, fingindo que nada está acontecendo.

Justin Bieber, point of view.

Estamos jogando água um no outro quando vejo as duas garotas estenderem as toalhas para deitarem e pegarem sol. Selena demora mais que sua amiga para deitar, está olhando em nossa direção e parece séria. Ela parece ainda mais bonita a luz do sol, e sinto meu estômago revirar olhando para ela daqui. Vejo a silhueta do seu corpo no biquíni rosa. Sua pele se destaca no sol forte e agora eu sei como Cole se sentiu quando a viu pela primeira vez.

Ryan para ao meu lado e da tapinhas fracos nas minhas costas, viro o rosto para encara-lo e ele tem um sorriso fraco no rosto. Dou de ombros e ele repete os tapinhas. Nós voltamos a jogar água um no outro quando ouvimos Cole nos chamar. Estamos tendo um momento legal entre amigos, mesmo que no fundo eu esteja com meu pensamento em um lugar onde não deveria estar. 

— Meninos  — uma das garotas grita e nós nos viramos.  — Venham passar protetor antes que se queimem mais.

Saímos da água um ao lado do outro e vamos em direção a elas. Ryan senta de costas em frente a Ashley e eu espero, olhando para a cara dele. Ele sorri, dando de ombros e levantando as mãos. Olho para trás e não vejo Cole vir até nós, ele entrou em casa. Selena cutuca minha perna e eu a olho.

— Pode se sentar, eu não mordo  — fala rindo.

Sento de costas para a morena e em segundos, sinto ela derramar o protetor gelado em minhas costas. Ela o espalha delicadamente e eu tremo ao sentir o toque de suas mãos em minha pele. Fecho os olhos e aprecio ainda mais toque dela. Parece que estamos apenas nós dois aqui agora, eu sinto como se fosse assim. Sinto os pelos do meu corpo se arrepiarem a cada segundo que ela esfrega a mão em minha pele e por um momento chego a esquecer o motivo disso estar acontecendo.

Ryan cutuca meu braço e eu viro o rosto para olha-lo, está sério sentado ao meu lado e ao que parece, Selena já terminou de espalhar o protetor em minhas costas. Levanto e sei que Ryan vem atrás de mim, ando até o pier e sento com os pés encostando na água. Minha cabeça está borbulhando agora e sinto que estou cada segundo mais apaixonado pela garota de cabelos negros.

— Justin, o que foi aquilo?  — não respondo, ele sabe a resposta para essa pergunta, só a fez para não pensar que viu algo errado.  — Até mesmo Ashley deve ter percebido aquilo.

— Ryan, eu só não consigo mais.  — Começo a falar porque sei que ele irá escutar tudo.  — Tudo nela faz com que meu corpo trema. O sorriso, os olhos, a pele, até mesmo as roupas que ela usa fazem isso. Não dá, simplesmente não dá.

— E o que pretende fazer?  — questiona, mas eu não tenho uma resposta.  — Vai simplesmente chegar nela e falar que está apaixonado por ela, mas sabe que ela é noiva do seu melhor amigo e mesmo assim não pode evitar?

— Não estou só apaixonado por ela, eu já a amo tanto, e ela sequer tem noção disso.  — Ryan me encara sério agora e não fala nada.

Sei que nunca disse isso pra ele, mas a verdade é que sinto isso a algum tempo. Talvez tenha começado no dia em que ela foi atrás de mim na praça e perguntou se eu estava apaixonada. Pode ter sido no memento em que eu a vi pela primeira vez. Ou pode ter sido agora mesmo, posso ter percebido agora mesmo que o que sinto pela morena vai além de uma simples paixão forte o suficiente pra me fazer esquecer todas as coisas quando estou perto dela. O mundo todo parece um borrão sem sentido quando eu a olho e isso esquenta meu coração e o enche de um sentimento que eu quero colocar todo para fora, mas sei que não posso.

— Justin, eu não sei o que te falar.

— Eu sei que não posso chegar nela e falar que a amo, Ryan, sei disso. Mas é algo que me tortura todos os dias quando deito para dormir. Ela está ali, tão perto de mim que quase consigo ser seu cheiro, pode parecer loucura, eu sei, mas não é algo que eu consiga controlar ou parar de sentir. Não posso falar para eu parar de amar ela e parar de querer sentir seu toque todos os momentos do meu dia. Só que é ruim demais vê-la nos braços de outra pessoa, saber que ela está nos braços de uma pessoa e eu não poder fazer nada sobre isso, porque essa pessoa é ninguém menos que um dos meus melhores amigos.

Ryan não fala nada agora, apenas pisca forte algumas vezes como se estivesse pensando numa forma melhor de dizer alguma coisa. Sei o quanto ele está divido nessa coisa toda por ser amigo de Cole também, mas sei que vai me apoiar sempre. Levanta a cabeça e olha para o lago, dando de ombros e olhando para mim.

— Conte a ela  — fala. Estou o olhando com uma cara surpresa, sei disso porque ele volta a dar de ombros.  — Se você sente mesmo o que diz, conte a ela. Quer dizer, o máximo que pode acontecer é você ouvi-lá dizer que está noiva do seu melhor amigo e que você não deveria fazer isso com ele, ou sei lá. Ninguém nunca foi preso por amar.

— Você está dizendo para eu fazer algo que você disse ser sacanagem nos últimos meses, agora?  — pergunto e ele assente.

— Sim! Quem se importa com o que eu disse todos esses meses?  — faz uma pausa.  — Só espere o momento certo, se é que existe um momento certo para isso.

— Ryan, não sei se isso seria a melhor coisa a se fazer.

— Por que não? Você ama a garota, ela tem o direito de saber disso.

Não tenho a oportunidade de responder. Ashley aparece na porta da casa e grita para irmos almoçar. Caminho alguns passos atrás de Ryan e penso sobre o que ele disse. Não sei se isso é apenas um teste que ele esta fazendo comigo ou se ele fala sério. Mas de qualquer maneira, não acho que seja justo com Selena e muito menos com Cole, mesmo que eu não consiga suportar o fato de ver a mulher que eu amo se casando com outro.

Entramos na cozinha e tem uma travessa de macarronada na mesa e ao lado, uma jarra de suco de laranja e outra de suco limão. Selena e Cole já estão sentados e meu amigo começa a se servir. Ryan senta ao meu lado esquerdo e Ashley ao meu lado direito. Todos nós nos servimos e Ryan da risada de algo sozinho quando pega o suco de laranja e coloca em nossos copos.

— Do que está rindo?  — Cole pergunta.

— Essa turma está muito mal dividida.

— Do que está falando?  — é Selena quem pergunta agora.

— Está errado isso aqui  — ele diz apontando para todos nós na mesa.  — Cole e você tem um ao outro. Ai sobram Ashley, Justin e eu, está errada essa divisão.

— Não ligo de ter que beijar os dois  — Ashley fala dando de ombros e nós damos risada.  — Não seria incomoda algum, se querem saber, eu faria um rodizio legal entre os dois.

— Quem beijaria primeiro?  — Cole pergunta e em seguida toma um gole do suco.

— E isso importa?

— Na verdade não, eles iriam se beijar por tabela de qualquer jeito.

— Não que isso já não tenha acontecido entre Justin e eu.  — Ryan comenta e parece que a mesa ficou silenciosa por um momento. Cole está olhando de Ryan para mim e dando risadinhas.  — Não é como se você nunca tivesse passado por isso, Cole. Nós sabemos que você já ficou com algumas garotas logo depois de termos beijado elas.

Selena da risada e Ashley a segue. Quero rir, mas sei pela expressão no rosto de Cole que isso ainda vai render muito assunto, então prefiro enfiar várias garfadas de macarrão na boca para impedir que qualquer som saia dela. Selena ainda está rindo olhando para Ashley quando Cole olha duro para ela.

— Já passou, Selena, pode parar de rir  — acho essa atitude ridícula quando vejo o rosto da morena murchar e ficar sério. Parece querer chorar e a única vontade que eu tenho agora é ir para cima de Cole e falar para ele nunca mais falar naquele tom com ela.

Ambos terminam de comer e Cole sai da mesa e vai em direção ao quarto, Selena pega os pratos e os copos e coloca na pia, apoiando as mãos nela em seguida. Ashley vai até ela e cochicha alguma coisa em seu ouvido, ela apenas responde um "está tudo bem" e segue o mesmo caminho que seu noivo.

Levanto para secar a louça que Ashley está lavando enquanto Ryan está na mesa. Ouvimos a voz dos dois vindo do quarto e deduzimos que pelo tom da voz de ambos, estão brigando. A loira ao meu lado parece incomodada com a situação e mexe a cabeça em gestos negativos várias vezes seguidas, como se estivesse tentando controlar alguma coisa.

— Estou preocupada com ela  — solta do nada.

— Como assim?  — Ryan pergunta.  — Quer dizer, por que?  — completa.

— Na noite em que estávamos no terraço com vocês, ela estava distante, vocês perceberam?  — não dizemos nada, mas ela sabe que sim.  — Eles brigaram um pouco antes de irmos para lá. Quando cheguei no prédio ele estava saindo e sequer olhou na minha cara. Subi as escadas correndo e quando entrei no apartamento ela estava sentada no chão do banheiro chorando.

Meu coração está apertado agora. Eu só queria ir até lá e leva-lá para bem longe de Cole e protege-lá de todo o mal que qualquer pessoa pudesse pensar em fazer a ela.

— O que acha que aconteceu?  — é o loiro sentado na mesa quem pergunta novamente.

— Não sei, realmente não sei.  — Ashley deixa a esponja na pia e fecha a torneira, virando-se para nós dois e encostando na pia.  — Eu perguntei a Selena o que tinha acontecido, mas ela só disse que discordaram de algumas coisas sobre o casamento. Mas não parecia ser só isso, e ela não quer me contar. Selena não sabe mentir, não para mim. Alguma coisa aconteceu e ainda está acontecendo, mas ela não quer contar e isso me deixa com raiva.

— Com raiva do que exatamente?  — pergunto.

— Com raiva dele  — se refere ao Cole.  — Fico imaginando coisas que possam deixá-la da maneira que a encontrei e nenhuma delas tem a ver com discordar sobre coisas de casamento. Já falei um milhão de vezes para ela que se ela não está a vontade com isso, pode cair fora. Eu vou estar do lado dela.

— E o que ela te fala?

— Ela só diz que está tudo bem e que não é nada demais, mas eu sei que tem alguma coisa demais.

Antes que Ryan ou eu digamos alguma coisa nós escutamos um grito vindo do quarto onde estão, mas não nos mexemos. Em seguida, ouvimos Selena chamando pelo nome de Cole e ele passa por nós rápido demais para que possamos fazer algo. Sai e bate a porta em seguida, Ainda conseguimos vê-lo indo em direção a estrada e então ele some. O som sutil da porta se fechando e sendo trancada toma conta do ambiente e Ashley larga as coisas na pia e vai até lá. Nós terminamos a louça e vamos para a sala.

Estamos ouvindo a loira batendo na porta e pedindo para que Selena a abra, mas não ouvimos a voz da morena. Está tudo silencioso quando Ashley vem em nossa direção e senta no sofá que está na nossa frente.

— Lena não quer abrir a porta  — fala de cabeça baixa.

— Dê um tempo a ela.  — Ryan tenta consolar. Ela assente e ele se senta ao lado dela.

— Eu vou afinar o violão  — digo e rapidamente vou para o meu quarto.

Assim que sento na cama a imagem da Selena sorrindo vem em minha mente e eu odeio a ideia de saber que ela está chorando e que eu não posso fazer nada. Minha cabeça gira quando lembro de todos os detalhes que tenho guardados dela. Seus olhos brilham como se tivessem estrelas presas neles. Seu sorriso é capaz de iluminar até o túnel mais escuro do mundo. Quando a olho, imagino que até mesmo a flor mais bonita deve ter inveja da sua beleza e dói saber que não posso falar isso para ela. Selena é como um poço onde nós só encontramos coisas boas e qualidades, é como se Deus a tivesse colocado no mundo para ser a pessoa mais linda, natural e inocente no mundo.

— Juro que me apaixonaria por você todos os dias se eu tivesse amnésia  — falo baixinho.

[...]

Dedilho algumas notas no violão enquanto olho para a água clara do lago. Faz algumas horas que estou aqui tocando e Ryan já veio duas vezes me avisar que Selena ainda não saiu do quarto, na última, disse que ia até o mercado mais próximo com Ashley comprar alguns doces e bebidas.

Está tudo silencioso quando escuto o barulho da porta e olho para trás. Selena está enrolada em uma manta e caminha até mim. Seu rosto esta inchado e quando ela se aproxima mais, consigo ver que ela ainda chora. Meu coração aperta quando ela me olha e da de ombros, limpando a bochecha com as costas da mão. Senta ao meu lado e deixa os pés encostarem na água gelada, mas ela parece não se importar com isso.

— Quando eu era mais nova, adorava ir para a casa dos meus avós no campo e nadar até a água ficar bem gelada. Minha mãe dizia que era para eu testar até onde eu conseguia suportar, mas eu sempre dizia que fazia aquilo porque gostava de água gelada  — ela faz uma pausa e puxa o ar com força. Presto atenção em todos os movimentos que ela faz, até que ela olha fundo nos meus olhos.  — Ela estava certa.  — diz e sorri.

Ficamos quietos quando ela termina. Selena mexe os pés na água e permanece olhando para eles. Não sei se está querendo me perguntar alguma coisa ou se está tentando dizer algo, mas está desconfortável. Aperta os olhos e escorrem algumas lagrimas deles, que ela enxuga rapidamente com a manta.

— Nós brigamos, vocês devem ter escutado. Ele disse que eu não estou parecendo uma dama  — ela solta uma risada pesada e triste.  — Para ser sincera, as palavras dele foram: você não é uma dama, Selena. Não está agindo como uma dama.  — Meu corpo treme com a brisa que bate em nossos corpos, mas sei que não é por isso.  — Tudo porque eu dei risada das coisas na mesa e porque não quis contar a ele a história que Ryan me contou no carro.

Não sei o que falar para ela. Minha garganta está queimando e meu coração parece querer sair correndo do meu peito quando vejo outras lágrimas saindo de seus olhos. Estico a mão e enxugo seu rosto molhado dessa vez, e ela me olha fundo nos olhos. Ela parece estar vendo minha alma agora.

— Acha que eu não sou uma lady, Justin?  — pergunta ainda me olhando.

— Your once, twice, three times a lady. And I love you.  — canto a parte da música para ela e vejo um sorriso aparecer em seu rosto.

— Cante algo para mim, por favor?  — pede com a voz baixa.

Começo a tocar uma música e vejo-a fechando os olhos.

— Pretty woman, walkin' down the street. Pretty woman the kind I like to meet  — começo e ela está sorrindo.  — Pretty woman I don't believe you, you're no the truth. No ne could look as good as you, mercy.  — Selena balança o corpo de acordo com o toque do violão.  — Pretty woman won't you pardon me. Pretty woman I couldn't help but see, pretty woman that you look lovely as can be are you lonely just like me. — Selena da uma risada fraca. — Pretty woman stop awhile. Pretty woman talk awhile. Pretty woman give you smile to me.

— Pretty woman yeah, yeah, yeah.  — Ela canta comigo.

— What do I see? Is she walkin back to me? Yeah, she's walkin back to me. Oh, oh, pretty woman  — canto o final da música e ela está com o sorriso mais lindo do mundo no rosto agora.

— Sabe Justin, eu finalmente descobri que você não está apaixonado pela Karlie  — olho para ela agora e ela está olhando para baixo.  — Eu demorei bastante para perceber, mas, seus olhos não brilham quando você olha pra ela.

— Não, eles não brilham  — concordo, então ela me olha nos olhos novamente.

— Eu já vi seus olhos brilharem, e eles ficam lindos. Mas hoje na mesa, eu percebi que seus olhos começaram a brilhar quando você olhou para mim. E no carro quando eu chamei você para me desculpar, também.  — Selena pausa e eu coloco o violão no chão quando ela começa a se aproximar de mim.  — Seus olhos estão brilhando agora, Justin.  — aproxima seu corpo um pouco mais e nossos rostos estão a centímetros um do outro.  — Mas e os meus olhos, eles estão brilhando? — Minha respiração oscila e minhas mãos começam a suar e tremer. Talvez seja coisa da minha cabeça, talvez eu esteja sonhando e acorde daqui a pouco, mas os olhos estrelares dela estão brilhando e ela sorri.

Roço meu nariz no dela e Selena fecha os olhos. Suas mãos sobem por meus braços causando-me arrepios. Ela encosta a testa na minha e então abre os olhos, nós estamos tão perto agora e eu desejo que isso nunca acabe, que esse momento nunca acabe. Pouso minhas mãos nas laterais do corpo da morena e encostos nossos lábios. Tudo dentro de mim parece explodir, como fogos de artificio em datas comemorativas. Selena retribui o beijo no memento em que tento aprofundá-lo. Nossos corpos estão completamente colados agora e levo minhas mãos até seu rosto e o seguro. Ela coloca os braços em volta do meu pescoço e tudo a nossa volta parece estar em câmera lenta, tudo parece passar devagar enquanto estamos assim. Selena se encaixa tão perfeitamente bem nos meu braços que chego a pensar que talvez ela tenha sido desenhada para mim. Talvez nós sejamos o par um do outro.

Cortamos o beijo com um selinho longo e voltamos a encostar nossas testas novamente. Permanecemos assim, com os olhos fechados e os corpos colados, como se nada no mundo fosse mais importante do que esse momento que acabemos de ter. Como se não tivéssemos que nos incomodar com nada além de nós dois agora.

— Meus olhos também brilham, Justin.  — Selena corta o silêncio.

Afastamos o rosto um do outro e ela está sorrindo quando me olha. Seus olhos brilham com tanta intensidade e imagino que os meus também estão assim. Selena acaricia meu cabelo e passa a mão no meu rosto, contornando o desenho dos meus lábios com o dedo indicador e em seguida faz carinho no meu pescoço.

Então eu olho em seus olhos e falo o que está preso dentro de mim a um tempo.

— Se a perfeição realmente existe, ela tem seu nome e sobrenome.

“Você aparece como um sonho para mim, como as cores de um caleidoscópio. Que provam para mim que tudo de que preciso. Cada suspiro que eu dou. Você não sabe que você é maravilhosa. [...] Você aparece como um sonho para mim.” — When I Look At You.