História Procurados - Caçada

Mulheres belas e magras saíam dos carros luxuosos tomando o cuidado com seus vestidos caros. Mesmo estando fora do salão de festas, elas já tinham suas máscaras no lugar certo. Algumas chegavam juntas, na mesma limusine cara, esbanjando poder aos olhos atentos de pessoa “normais” que passavam pelo local. Carregavam sorrisos no rosto, mesmo que este estivesse tampado pelas belas máscaras.

Perto dali, num beco escuro, uma moto escura estava estacionada. Ao lado da moto, o respectivo dono e seu companheiro. A raposa e o coelho. Ambos atentos sobre quando deveriam entrar no local. Era um lugar da alta sociedade, então era óbvio que seus disfarces deveriam estar impecáveis. Seus ternos carregavam um belo perfume, bem caro para ser exato.

Bobby não via necessidade alguma em um vidrinho de poucos milímetros carregar tamanho valor, mas se fazia parte de seu trabalho fingir ser alguém rico e importante, o faria. Hanbin observava aqueles corpos com um certo brilho nos olhos, imaginando que sua vida poderia ter dado certo e poderia muito ser rico como eles.

Assim que sentiu um cutucar em seu ombro, olhou para Bobby, sentindo sua respiração pesar ao perceber que estava na hora deles entrarem naquele salão de festas. Tirou o convite dourado de seu bolso e o olhou curioso, imaginando se todo aquele brilho seria apenas tinta ou se realmente haviam gastado outro em um convite inútil.

Com passos fortes, os dois atravessaram a rua, abandonando a mote naquele beco escuro. Ao andarem pelo tapete vermelho, Hanbin se surpreendeu assim que viu um fotógrafo. Virou-se para Bobby e percebeu que ele manteve a postura.

Era um ótimo ator, agia como se nada o abalasse.

Apenas imitou o maior, mantendo aquela postura estranha que pessoas ricas tinham. Logo o fotógrafo os esqueceu, vendo uma mulher esbelta vestida em uma vestido vermelho aparecer ali.

O salão de festas ficava na cobertura de um dos prédios mais altos daquela cidade, isso dificultaria um pouco sua fuga, mas nada que fosse os atrasar muito.

Após essa deixa, pegaram o elevador mais vazio e assim que chegaram no andar certo, andaram juntos para aquele salão. Era gigante, como se a alguns anos atrás, aquilo houvesse sido um palácio real. Cortinas iam desde as janelas gigantes até se arrastarem no chão branco e bem encerado. Lustres gigantescos estavam pendurados no teto, iluminando todo aquele salão. Haviam vários garçons servindo as várias pessoas que já haviam chegado. Todos os garçons usavam máscaras de pinguim, o que combinava bastante com suas respectivas roupas.

Hanbin não conseguia definir o que via. Eram muitas pessoas, todos ali ganhavam por dia o que ele poderia levar anos para conseguir. Além de que as belas máscaras deixavam tudo mais caótico. Era estranho demais estar naquele meio ali, mas pelo o que ele entendia, raposas eram bastante espertas.

Bobby puxou Hanbin até um canto e olhou em volta, percebendo se eles estavam realmente “sozinhos”. Logo após isso, subiu as escadas que davam para o andar de cima, com mais mesas distribuídas pelo local. Foi aí que localizou os banheiros. Continuou arrastando o menor e então trancou a porta, para que pudesse ter um pouco de tranquilidade.

-Não podemos agir por enquanto. Ele não chegou. –Bobby disse retirando a máscara enquanto se olhava no espelho. –Evite conversar. Mas se vierem até você, não negue assunto, apenas seja curto. Vamos permanecer juntos, mas não podemos ficar parados. Isso sempre estraga o disfarce.

Após Hanbin concordar com tudo aquilo, Bobby arrumou a máscara em seu rosto novamente e então saíram daquele cômodo como se nada tivesse acontecido.

Bobby olhou em volta e percebeu que havia um pequeno tumulto no primeiro andar. Andou até a escada com rapidez e olhou em volta, percebendo que as pessoas mais poderosas dali haviam chegado.

Mas seu favorito ainda não.

Bufou entediado com aquilo tudo e então pegou uma taça de champanhe do primeiro garçom que assou perto deles. Isso fez Hanbin sentir um pouco de medo. Bobby era quem pilotava a moto, e como ele faria isso caso estivesse bêbado.

-Não deveria beber. –Hanbin disse interrompendo seu ato. Bobby o olhou de soslaio e sorriu, por mais que aquela máscara tampasse a maioria de suas expressões, o menor pôde enxergar muito bem o sarcasmo que estava sendo carregado naquele sorriso.

-Eu disse para agir normalmente. Não vou ficar sem diversão só por que você é certinho demais. –Bobby disse, aproveitando para observar o local.

Estranhamente, nenhuma câmera. Isso poderia deixar tudo mais fácil ou talvez mais difícil.

Largou a taça cara de cristal em cima de uma mesa vazia e foi andando até uma das varandas. O tempo lá fora estava frio e certamente ninguém ficaria ali fora, para presenciar aquela lua tão cheia e maravilhosa.

Jóias tinham mais valor que uma simples paisagem.

Hanbin se debruçou com cuidado sobre o parapeito e ficou observando a cidade. Não havia percebido que o salão de festas ficava num ponto tão alto da cidade. De fato, era um prédio grande, mas mesmo assim, parecia difícil acreditar que dali, podia ver quase todas as luzes daquela cidade extensa.

Bobby observava Hanbin de perto, mas ao mesmo, parecia ser muito mais distante que o normal. O “garoto” estava a menos de dez passos de distância de Bobby, mas mesmo assim, ele era incapaz de andar até ele. Era incapaz de conseguir puxar um assunto e sair do tédio de sua vida.

Bobby imaginava ser incapaz de se socializar, não importando quem era a pessoa. Para ele era difícil demais relaxar e simplesmente dizer algo sobre o clima, qualquer coisa.

Desconfiança.

Hanbin sentia que estava sendo observado, como a boa raposa esperta que deveria ser, mas nada podia fazer. Atrás daquele coelho, escondia um lobo, feroz e muito mais forte que si. Ficaria destroçado em segundos.

Mas por que o lobo não fazia isso logo?

Talvez por que fosse divertido conviver com alguém diferente de si mesmo. Não necessariamente divertido, mas com certeza era menos entediante. Viver sozinho, sem contato humano algum por três anos era demais, até mesmo para o lobo solitário. Bobby não tinha medo de viver.

Tinha medo de amar.

Isso impedia o maior de fazer várias coisas. Já não saía com a mesma animação de antes, apenas saía para fazer seus respectivos trabalhos. Nõ sentia aquela vontade de viver.

Um passo.

Não fazia ideia de como seria viver como uma pessoa normal, sem ter o medo de acordar com uma arma sendo apontada para sua cabeça.

Outro passo.

Não tinha motivo para ter tanta dúvida assim. Mas por que desejava tanto aquilo? Algo que sentia sem nem ter noção direito do que seria.

Mais passos.

Bobby tinha medo de morrer sem desvendar a criança que existia por dentro daquele policial. Mas eram tantas dúvidas, pesadelos, sonhos. Pensamentos que não pareciam fazer diferença nenhuma para a vida medíocre que levava. A resposta era tão simples e estava à frente de seus olhos, e mesmo assim, ele continuava cego.

Quando Hanbin se virou, estranhando o silêncio até o momento, arregalou os olhos surpreso ao ver que Bobby lhe olhava fixo. Parecia estar imerso em pensamentos, mas estranhamente, era ele quem mais lhe interessava ali. No meio de toda aquela multidão...

Bobby havia o escolhido inconscientemente.

Sem ter muita noção do tempo, Hanbin parou de o encarar, percebendo que haviam se passado 10 minutos.

10 minutos imerso em pensamentos. Pensamentos que ligavam aquela noite a tudo o que havia acontecido em sua vida.  Pensamentos ligados a Bobby, por mais que inconscientemente. Hanbin já estava mais envolvido do que deveria.

Mais envolvido do que imaginava.

E tudo o que podia fazer, era encarar o outro, procurando pelas mesmas respostas que Bobby parecia procurar. Com apenas um passo, ele se aproximou mais do menor, olhando profundamente em seus olhos.

-Hoje você tem permissão para atirar.

XXXXXX

Haviam se separado. Aparentemente, seu alvo havia chegado entre os longos minutos que passaram se entre olhando, confusos demais para definir o que era aquilo que pensavam um sobre o outro.

Era um homem velho e bem gordo, e pelo o que havia escutado por outros convidados mascarados, ele estava usando uma máscara de porco.

Não podia combinar mais que isso.

No andar de cima, Bobby observava todo o salão, mas acabou sendo abordado por uma mulher magra, com um vestido colado em seu corpo, realçando as várias curvas, um pouco grandes. Nada daquilo parecia impressionar Bobby, agora ele já tinha interesses muito melhores que um par de seios fartos. Uma ova. O dinheiro poderia até comprar um corpo, e aquela mulher já não tinha mais seu corpo, tudo o que tinha ali, eram notas e mais notas de dinheiro em seu próprio corpo. Era tudo tão falso,e não podia existir algo pior do que isso para Bobby.

Ignorou a mulher que logo ficou emburrada, indo a procura de alguém melhor. Apenas iria achar mais corpos sujos por dinheiro. Bobby usava seu salário, sujo, para fins de trabalho, que apesar de serem sujos também, não ousava usar aquilo para modificar o próprio corpo. No máximo, faria uma tatuagem nova que fosse de seu agrado.

Assim que Hanbin encontrou o homem com a máscara de porco, acionou Bobby. Ele havia instalado um pequeno microfone em cada máscara, para o caso de terem e se separar.

-Código verde. –Hanbin sussurrou baixo, olhando fixando para aquele homem. –Ele tem um quarto aqui no andar de cima. Está lá dentro com alguém. Uma mulher.

Enquanto Hanbin falava, nem percebeu que Bobby andava atrás dele com passos rápidos, o procurando. Como podia ter sido tão desatento ao perder ele assim naquela multidão.

Passou por Hanbin e se virou em um segundo, o olhando com seriedade, olhou em volta, percebendo que eram quase invisíveis ali.  Por sorte, aquela mulher que havia feito contato com Bobby havia desaparecido, o que melhorava muito mais as coisas. Andaram pelo corredor com vários quartos,todos com as portas fechadas, mas apenas o último tinha a porta encostada. Ambos conseguiam escutar a voz daquele velho nojento sair daquele cômodo.

Hanbin retirou a arma que carregava consigo. Era pequena, mas potente. Se virou de costas para Bobby ficando na porta, de vigia. Assim que Bobby entrou naquela sala, apontou a arma para a cabeça do velhote que estava sentado na beirada da cama.

-Tire essa máscara. –Bobby disse, sem parar de mirar naquele homem. O mesmo estava assustado, com os braços levantados para cima.

-T-Tenha pieade meu jovem... Você quer dinheiro? Eu lhe dou dinheiro. –Essa súplica apenas fez Bobby sorrir mais ainda.

-Acha mesmo que se eu não tivesse dinheiro, estaria aqui dentro? O Sr. Lee lhe mandou lembranças.

Apertou o gatilho com rapidez e o tiro foi disparado. Não iria demorar até que encontrassem o corpo ali, então teriam de ser rápidos. Bobby colocou sua luva  e apenas colocou a máscara de volta no homem, apenas por diversão. Não era de seu feitio brincar, mas aquele homem havia morrido com uma expressão feia, então apenas o poupou de ser visto assim dessa maneira.

Junto de Hanbin, saiu dali com rapidez, enquanto guardava seu próprio revolver na parte de trás de sua calça.

Saíram do salão com rapidez, mas não tinham tempo nenhum para pegarem o elevador. Pelas escadas de emergência, eles desceram por mais de 15 andares, correndo a toda velocidade. Aquilo tudo valia suas vidas.

Era um risco gigantesco.

Quando já estavam fora do prédio, atravessaram a rua com pressa, enquanto retiravam as máscaras. Hanbin guardou as mesmas no bolso de seu terno, enquanto Bobby colocava seu capacete. Hanbin apenas seguiu seus passos e logo estava montado na moto.

Conseguiram escutar a gritaria vindo lá de cima, percebendo que haviam ganhado tempo o suficiente para fugirem tranquilos.

Em um segundo, Bobby pareceu finalmente entender o primeiro enigma de sua vida. Sentia que a adrenalina aumentava quando ele tinha de se preocupar com mais um corpo além do seu.

Naquela noite, a raposa então percebeu que seria um desperdício acabar com sua vida caçando um coelho daquele. Se a união faz a força, eles eram imbatíveis até o momento.