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História Quando a gira girou - O céu de repente anuviou


Escrita por: williebilly

Notas do Autor


Bom dia amante da sétima arte sobre irmandade dos Anjos (vulgo user antigo @hrrorfilm),

espero que você goste desse presente que foi escrito de coração. Eu também gosto muito desse companheirismo dos dois irmãos, além de um angstzinho relacionando sprinterkombi e fuscavinheta.
E nada melhor para mim que essa música!

Aproveite!

Capítulo 1 - O céu de repente anuviou


 Maurílio dos Anjos chorava ao final de mais uma película assistida, superando todos os limites da capacidade humana de choro possíveis. 

    Deitado no sofá-cama improvisado na casa da irmã, Amanda dos Anjos, Maurílio tentava fingir a si mesmo que a cara inchada, de dias de lágrimas quase que ininterruptas, era apenas por mais um roteiro tão bem trabalhado como de todos os complexos filmes, sempre sobre amor entre pessoas que se odeiam, ou sobre aquela amizade destruída e reconstruída pela morte de algum familiar ou só sobre drogas, que passavam diariamente na Sessão da Tarde

Queria acreditar que toda a tristeza e todo o fungar entupido das narinas eram tão somente pela belíssima história sobre o namoro do Hulk mais novo e menos drogado com a fantasma da Reese Witherspoon, e não pelo recente término do relacionamento entre ele e Julinho da Van e da falta, mais uma vez, de moradia, que tanto assombra sua sorte.  

    Mais um assôo no lençol, também emprestado pela irmã, que usava para se cobrir. Porém, o barulho saído de seu nariz, em direção àquele pedaço de pano, foi silenciado pelo estrondoso relâmpago que cortava o céu escuro do Rio de Janeiro em pleno verão. 

    O clima tempestuoso, atípico para a cidade, já perdurava por alguns dias. Parecia que quem quer que comandasse o termostato carioca, tinha plena noção de que a última coisa que precisava, pelo menos para o momento do roteiro, era de uma sensação térmica de 43°C.

Santa Teresa, bairro onde morava a primogênita da família Dos Anjos, alagava toda chuva que vinha. Fosse ela forte, como era a daquele dia em questão, fosse ela fraca.

 Após o terceiro estrondo seguido na rua, o cinéfilo levantou-se rapidamente para desligar da tomada o “T” que conectava todos os eletroeletrônicos do cômodo. Como a casa antiga tinha sido herança para Amanda da avó paterna, que ambos nunca chegaram a conhecer, a ausência de tomadas três pinos dificultava a vida da geração moderna em usufruir do máximo conforto e da segurança de ventiladores, TVs, roteadores e conversores digitais ligados em um único benjamim trincado e amarelado por culpa do tempo. 

Enquanto Maurílio suspirava, encaminhando-se para sua emprestada cama, a porta da frente era aberta por uma Amanda dos Anjos completamente molhada. 

“Que chuva, hein?”, disse ela ao irmão, fechando a porta, sem o encarar. 

Ele apenas respondeu com um baixo “sim” e a viu escapar-se rapidamente, algo atípico dela que sempre puxava algum assunto animado. 

Desde que Maurílio está hospedado lá, Amanda, com ou sem Simone dos Prazeres (operadora de VTs do programa e namorada dela) ao seu lado, perguntava sobre o que o irmão tinha feito, qual filme tinha passado daquela vez, se ele tinha comido alguma coisa etc. 

As respostas para a última pergunta sempre vinham numa envergonhada negação, pois, com ou sem Simone ao lado dela, ele levava uma grande bronca da mais velha, com direito a xingamentos baixos que ele sempre acabava escutando um ou outro, por não se alimentar da forma correta, e que Maurílio não deveria ficar para baixo, nem adoecer por conta de “machocontroladorfilhadaputa”.

O mais novo estranhou ainda mais que a namorada da irmã não tenha aparecido junto naquela sexta-feira para passar o final de semana com Amanda e, temporariamente, com ele. 

Era quase como um ritual das duas desde que o cinéfilo tinha voltado a se hospedar lá. A companhia da mais quieta, Simone, que também era de seu círculo profissional e que, infelizmente, conhecia seu ex-namorado, não era de todo ruim. “Talvez ela vai chegar mais tarde”, pensou. 

Ao barulho de um novo estrondo, agora dentro de casa, Maurílio percebeu que daquela sexta nada lhe era comum à memória. Tinha escutado altos xingamentos, para Deus e seus doze apóstolos, para as mais diversas entidades cósmicas do universo e para a companhia de gás e energia do Rio de Janeiro, deferidos por Amanda em plena cozinha. 

Em passadas cuidadosas, o cinéfilo foi para o cômodo no qual a irmã estava. Viu-a pressionar o nó das mãos com ódio na pia de mármore ao mesmo tempo em que as fungadas aumentavam. Ele bateu levemente os dedos na porta. Nada. Tentou uma, duas, três vezes menos leve até que recebeu um anasalado “que foi” da irmã. 

“Ouvi um barulho”, ele calmamente falou, “tá tudo bem?”

“Tô ótima, não precisa se preocupar.”

O mais novo dos Dos Anjos semicerrou os olhos para as costas da irmã que não havia mexido. Ela continuava posicionada rente à pia, terminando de salvar o resto que sobrara da xícara de girassóis amarela, presente de aniversário dado por Simone dos Prazeres à Amanda.

“Certeza, Manda?”, o irmão continuou, “Se tiver se sentindo mal, eu posso arrumar aqui rapidinho pra você descansar.”

“Eu já disse que tô bem, Maurílio, você pode me deixar em paz?”

A voz mais forte da irmã o fez perder o ar momentaneamente. Maurílio abriu a boca mais algumas vezes, na tentativa de replicar qualquer coisa à irmã, porém desistiu e pegou o rumo de volta para a sala, não percebendo que o barulho de recolhimento dos cacos tinha cessado e que os pés apressados de Amanda vinham logo atrás aos deles. A dona de casa conseguiu alcançá-lo, o que não foi muito difícil, visto que o sedentarismo e o vício em cigarros eram características vitais do irmão. Buscou a mão do mesmo, puxando-a e falou (mais baixo do que o som das trovoadas que castigavam Santa Teresa): 

“Lírio, desculpa, é só que hoje foi um dia péssimo e-eu não… só… bem, só queria ficar um pouco sozinha.” 

“Tudo bem,” ele entrelaçou a mão da irmã com a dele, “acho que passei de novo dos limites.” 

“Não é isso”, ela respondeu, suspirando, “não é contigo, é comigo Lírio. Não devia ter falado desse jeito. Me perdoa.” 

“Tá tudo bem mesmo, Manda. Julinho falava que eu era intrometido assim mesmo, não precisa pedir desculpa.”

Os olhos de Amanda se encheram rapidamente. O abraço inesperado e desajeitado dela em Maurílio, deixou-o sem reação. Ele levou as mãos ao cabelo curto da irmã, dando-lhe um afago. 

“Quer que eu faça alguma coisa? Posso ir comprar um negócio pra gente comer, pra beber… se quiser, eu ligo pra Simone agora pra ela vir aqui.”

O choro mais alto, junto com algumas tremidas vindas do minúsculo corpo da irmã, fez Maurílio perceber que o nome da namorada da irmã talvez fosse o tópico pelo qual Amanda não estava tão bem. 

“Simone...”, disse o mais novo em decibéis menores, “vocês brigaram?” 

    E com um olhar choroso, Amanda respondeu em meio respirações curtas: 

    “Ela… ex… comigo.”

    O cinéfilo forçou as sobrancelhas para baixo, tentando entender o enigma dito pela mais velha. O olhar triste só refletia uma coisa: 

    “Simone voltou com a ex-namorada e terminou com você?” 

    Amanda puxou novamente o irmão para um abraço, despejando toda a dor de um término como esse nos ombros da blusa surrada de dormir. Talvez fosse um sim para a pergunta um tanto quanto retórica. 

    Os dois se abraçaram por mais alguns minutos. O sentimento da perda de um amor, seja por ciúmes excessivos, seja pela troca por outro alguém, era substituído pelo sentimento de companheirismo entre os dois irmãos. 

Ainda que terminados, ambos não se sentiam mais sozinhos. 

E ao final do dia, em uma noite nublada mais fria que o típico termostato carioca daquela época, Amanda dos Anjos se aconchegou nos ombros de Maurílio dos Anjos enquanto o mesmo lhe afagava os cabelos curtos. Era a posição que faziam quando o mais novo sofria com pesadelos à noite e a irmã mais velha o acudia. 

 

Os irmãos rapidamente dormiram, protegidos de tudo pelos braços um do outro.

 

   


Notas Finais


Gostou? Não gostou? Comentem!!!!

Quase pessoa secreta, espero que tenha gostado,


até mais!


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