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História Quick Musical Doodles and Sex (Imagine Min Yoongi) - Uma questão de tempo.


Escrita por: biasmut

Notas do Autor


Yaaaaaay, cheguei com um capítulo quentinho pra vocês! Boa leitura, e espero que a espera tenha valido a pena, babesss! <3

Capítulo 10 - Uma questão de tempo.


Fanfic / Fanfiction Quick Musical Doodles and Sex (Imagine Min Yoongi) - Uma questão de tempo.

Eu tenho certeza de que pelo menos 95% do peso do mundo está repousando sobre meu cérebro, porque só isso parece justificar a dor intensa que sinto. Só isso e a quantidade exorbitante de álcool que ingeri noite passada, em uma tentativa falha de esquecer Yoongi. Yoongi, ah. Perceber que o nome dele é uma das primeiras coisas que surge em minha mente assim que abro os olhos me causa um desconforto extremo, e minha vontade é a de me obrigar a mergulhar novamente em meu sono profundo. Porém, infelizmente, parece impossível fazer qualquer coisa antes de dar um jeito de me livrar de minha ressaca.

Ignoro as dores difusas que se espalham por todos meus músculos e rolo para fora da cama, esperando que minha vista embaçada se acostume com a claridade do apartamento. O horário no relógio ao lado da cama indica que já são quase cinco da tarde, e não consigo nem mesmo me sentir culpada por ter passado o dia desacordada. Enquanto caminho para o banheiro, medindo meus passos com cautela, tento fazer uma varredura em busca de lembranças da noite passada, mas tudo parece um borrão de cores escuras e formas nada definidas. Lembro de Jisoo e de várias garrafas de soju, e de um Hoseok preocupado.

Respiro fundo quando vejo meu reflexo no espelho e percebo que sou definitivamente a cara da derrota. A maquiagem derretida e borrada se acumula embaixo de meus olhos, me deixando com olheiras profundas e escuras, e um resto de batom marrom repousa no canto de minha boca. Olho para meus cabelos soltos e não consigo nem mesmo descrever o estado deplorável em que os fios se encontram, e resolvo desviar o olhar, exausta demais para me preocupar com minha dignidade agora, enquanto minha cabeça lateja e implora por um analgésico.

Enquanto jogo um pouco de água fria no rosto, tentando limpá-lo, alguns flashes da noite anterior começam a ganhar contornos mais nítidos, e a imagem de Jimin aparece, sendo seguida por Jungkook. Mas tudo para aí, em Jungkook e em seus ombros largos e fortes. Me pergunto se também reparei nisso enquanto estava bêbada, e a resposta surge logo. É óbvio que reparei, por que quem é que, mesmo fora de si, deixaria de reparar nos ombros daquele garoto? A direção de meus pensamentos parece se tornar tortuosa e termino de lavar o rosto, optando por deixar tudo para lá. Talvez seja melhor que eu não lembre mesmo de todas as burradas que devo ter feito sob os efeitos do álcool.

Se fosse pra lembrar, eu não teria esquecido, certo?

Com isso em mente, deixo o banheiro para trás e começo a caminhar até a cozinha, mas meu caminho é interrompido assim que estou passando pela sala. Eu queria poder dizer que o que rouba minha atenção é a mancha estúpida pra sempre marcada em meu tapete, ou que o responsável por minha parada repentina é o livro de Romeu e Julieta esquecido no chão. Mas não. O que me deixa paralisada e com a respiração presa na garganta é o que meus olhos encontram ao lado da porta de entrada. Um pedaço de papel branco, e uma cartela prateada que parece ser algum remédio.

Eu me obrigo a caminhar até a porta, ainda que meus pés se arrastem e que minha coragem diminua a cada passo vencido, e antes mesmo de chegar até o bilhete eu sei. Eu sei que algo muito errado aconteceu, e que eu definitivamente não deveria ter bebido. Hesitante, como se eu estivesse prestes a enfrentar o apocalipse, eu me abaixo para pegar o papel rasgado e a cartela de analgésicos, e não preciso nem mesmo me dar ao trabalho de reconhecer a caligrafia inclinada para saber quem é o responsável por isso.

“Você vai precisar disso. PS: Gostei da camiseta… e das bolinhas rosas.”

Meia dúzia de palavras e eu sinto o caos se alastrar por meu corpo, e se essa não é a constatação mais óbvia de que Yoongi me contaminou por inteiro, então não faço ideia de qual seja. E, como tudo que já está ruim sempre pode ficar ainda pior, meu cérebro resolver fazer questão de trabalhar contra minha sanidade mental, e uma enxurrada de memórias da noite passada encontram vazão. Os pensamentos vem e vão sem permissão alguma, na velocidade de um flash de luz, e ao contrário das memórias anteriores, borradas e escuras, tudo agora é claro e nítido.

E eu me lembro.

12 HORAS ANTES

— Você não prefere me entregar isso pessoalmente? — A voz de Yoongi é um alerta de perigo e meu corpo reage de imediato, fazendo meu coração disparar. Mas que merda, essa droga de garoto realmente precisa aparecer sempre nas horas mais inapropriadas? E daí que é o apartamento dele e obviamente ele precisa aparecer por aqui!? São quase cinco da manhã, isso não são horas de chegar em casa… Meus pensamentos acelerados são interrompidos novamente por ele — Acho que já aprendemos com Romeu e Julieta que a falta de comunicação pode levar a morte, não é? — Ele fala sério, mas o cantinho repuxado de seu lábio deixa claro o tom de brincadeira, e eu sinto vontade de morrer.

Eu sinto mesmo vontade de morrer, ou de pelo menos me transformar em ar e evaporar pra longe daqui, porque, de repente, o pensamento de que eu queria tanto beijar o canto desse sorriso inclinado me atinge em cheio, e é difícil me livrar dele.

— Quem disse que eu ia entregar isso pra você? — Sim, essa frase absurda de infeliz é a primeira oração coerente que meu cérebro entoxicado pelo álcool recente consegue formar. 

— Você tem um histórico com recados enviados por debaixo da porta — Ele fala tranquilo, ainda parado no último degrau da escadaria e com os braços cruzados na altura de seu peito, enquanto o peso de seu corpo repousa preguiçosamente contra o corrimão — E você está ajoelhada na porta do meu apartamento, segurando um pedaço de papel perto da minha porta…

É só quando ele pontua que estou ajoelhada na porta de seu apartamento que eu lembro que eu, de fato, estou mesmo ajoelhada na porta de seu apartamento. E a constatação disso só não é pior do que a constatação de que estou vestindo apenas a blusa velha que Jisoo encontrou para mim, e que definitivamente não cobre o suficiente do meu corpo. Em um ato carregado de desespero eu tento me levantar depressa, mas meus movimentos saem todos errados e o álcool que circula por meu organismo faz com que meus pés descalços escorreguem e eu caia sentada, de frente para Yoongi. Em um piscar de olhos minhas mãos estão indo parar na barra de minha camisa e estou puxando o tecido para baixo, entre minhas pernas, em uma tentativa desesperada de cobrir minha calcinha branca com bolinhas rosas. Isso só pode ser mesmo um pesadelo.

A cena toda deve ser ridiculamente divertida, porque Yoongi simplesmente não consegue esconder o sorriso irritante que insiste em crescer em seu rosto, e eu me sinto estúpida e burra. Por que foi que achei que era uma boa ideia mesmo sair do meu apartamento a essa hora para enviar um post-it por debaixo da porta dele? É claro que essa ideia idiota não daria certo, e é claro que eu já deveria ter aprendido que os malditos post-its nunca funcionam mesmo. Eu permaneço paralisada em meu lugar, lutando contra minha respiração acelerada e contra os batimentos altos de meu próprio coração - e Deus, eu tenho certeza de que se Yoongi chegar mais perto ele também vai conseguir escutar as batidas alucinadas que ecoam dentro do  meu peito.

E, para tornar meu desespero ainda maior, ele resolve fazer exatamente isso. Vejo sua língua traçar o contorno de seu lábio inferior, umedecendo sua boca, e ele solta um suspiro longo e pesado antes de se afastar do corrimão e começar a caminhar em minha direção. Os fios loiros de seu cabelo estão escondidos embaixo do boné preto com argolas, e há um headphone branco repousando ao redor de seu pescoço, ao lado de algumas correntes douradas. Eu me lembro do vídeo que Jungkook me mostrou e sinto meu estômago dar um giro completo de 360º, porque a lembrança de Yoongi fazendo rap com um sorriso debochado me deixa em chamas, dos pés a cabeça, e lembrar isso enquanto ele encurta a distância entre nós é suicídio puro.

Eu penso que preciso desesperadamente arrumar alguma forma de me defender, porque o olhar que Yoongi lança em minha direção enquanto caminha até mim parece ser capaz de enxergar além de minha pele e, puta merda, ele sabe o efeito que tem sobre mim. Eu tenho certeza absoluta de que todos os seus passos foram perfeitamente planejados, e de cada palavra que escapou de sua boca nas últimas semanas foi ensaiada com o único propósito de arruinar minha vida. É isso, essa é a meta de vida dele: me deixar louca. Talvez seja por isso que eu, inutilmente, tento deslizar para trás, na intenção de me afastar dele, até que sinto minhas costas se chocarem contra a porta de seu apartamento, me fazendo constatar o óbvio: estou encurralada. E o pior não é simplesmente o fato de estar encurralada, mas sim de estar encurralada entre Yoongi e seu apartamento.

Assim que ele para em minha frente, percebo que a porta de meu apartamento parece estar a quilômetros de distância, e quero choramingar. Quero muito choramingar e espernear e implorar para que ele volte no tempo e acabe com essa palhaçada, ou que ele se mude e deixe de ser meu vizinho, mas eu só continuo calada, engolindo todas as palavras que tentam escapar por minha garganta apertada. Sem dizer nada, meu colega de literatura estende uma mão para mim, me pegando de surpresa, e eu me vejo encarando as veias proeminentes que correm por suas mãos, se alastrando por seus braços cobertos pela jaqueta escura. Os dedos longos estão cobertos por alguns anéis, e ele não se parece em absolutamente nada com o garoto que frequenta a biblioteca aos finais de tarde e, novamente, aceitar que o nerd da faculdade e o vizinho viciado em sexo são a mesma pessoa se torna uma missão quase impossível.

— Eu não tenho a noite inteira — Sua voz rouca me traz novamente para a realidade e percebo que ele continua com a mão estendida, enquanto eu continuo o encarando sem a menor discrição. Eu tento me convencer de que aceito sua mão apenas porque preciso me levantar depressa e fugir dessa situação toda, e não porque estou desesperada por seu toque, feito uma garotinha apaixonada e que não sabe como controlar os próprios hormônios. 

Por favor, é claro que consigo controlar meus hormônios, não é?

Não. É? 

E também é claro que a sensação de calor intenso que sinto no instante em que os dedos de Yoongi  se enrolam ao redor dos meus, me puxando para cima, não significa absolutamente nada. Não é como se houvesse faíscas ou correntes elétricas correndo por todo meu corpo por causa de um toque completamente insignificante. É claro que não.

Isso é tudo culpa do álcool.

Assim que fico em pé, esquecendo completamente o post-it agora caído aos meus pés, espero de forma nada paciente que Yoongi se afaste e deixe a passagem livre para que eu possa voltar para casa para ir afundar o rosto no travesseiro e gritar até adormecer. Mas, a essa altura, eu devia saber que ele não vai facilitar. Afinal de contas, por que o cara que sabia que éramos vizinhos e não disse nada iria querer facilitar, não é? Então, ao invés de aumentar a distância entre nós, ele se certifica de fazer justamente o oposto, e eu sou incapaz de decidir se o mísero centímetro de distância que impede nossos corpos de se tocarem é uma benção ou uma maldição. De qualquer modo, ele está próximo o bastante para que eu consiga sentir o cheiro forte de cigarros, álcool e menta que emana dele. Talvez o cheiro de álcool seja só meu, não sei…

Ele continua segurando em uma de minhas mãos, e eu permaneço utilizando a outra para puxar a barra de minha camisa para baixo, movendo as pernas na tentativa de escondê-las atrás do tecido, mas isso só serve para chamar a atenção de Yoongi. Eu vejo seu olhar escorregar de meu rosto para baixo, e não é preciso acompanhá-lo para perceber que ele está, descaradamente, olhando para minhas pernas expostas. E, pelo amor de Deus, eu não consigo lembrar qual foi a última vez em que alguém me olhou com tanta intensidade assim, e isso me faz sentir coisas que eu definitivamente não deveria sentir. Pelo menos não por ele, em sua versão vizinho irritante.

— Yo-yoongi… — Eu gaguejo, com a voz falha e tão derrotada quanto eu. O som de seu nome faz com que ele volte a subir suas íris escuras de minhas pernas para meus olhos, e não sei se isso me ajuda ou me atrapalha ainda mais. Será que existe um jeito simples e fácil de lidar com ele? 

— Eu já disse que você devia cobrir as pernas, não disse? — Ele me pergunta, inclinando o pescoço para o lado e estreitando seu olhar, e eu sinto como se tivesse infringido a lei por deixar minhas pernas expostas. Minha vontade é a de pedir desculpas, mas quando abro a boca para falar, as palavras que escapam são completamente diferentes. 

— Por que não respondeu minhas mensagens? 

— Ah, então era você mesmo… Você estava com o Jungkook? — Ele me responde com outra pergunta, e pela primeira vez na noite vejo que o sorrisinho discreto que parece tatuado em sua boca desaparece. E, de novo, me sinto ameaçada, e apenas balanço a cabeça em sinal afirmativo, percebendo que também não sei se devo agradecer ou não pela aba de seu boné impossibilitar que nossos rostos fiquem mais próximos — Por que não usou o seu celular? 

— Porque acharam que era melhor eu não falar com você agora — Eu respondo sem hesitar, e a verdade parece ser a última coisa que eu deveria estar compartilhando com Yoongi. Eu continuo sem pensar direito, e meu coração permanece esmurrando minhas costelas e eu começo a considerar que, talvez, eu realmente acabe desenvolvendo algum problema cardíaco como arritmia por causa desse garoto. Isso pode acontecer, não pode? Minha linha de raciocínio confusa se torna ainda mais sem pé nem cabeça quando vejo um rastro de diversão voltar a tomar conta do rosto sereno de Yoongi. 

Eu quero arrancar sua serenidade com as unhas, e é tão errado que eu acabe pensando em como essa frase pode ser interpretada de um jeito errado mas que parece certo, ugh.

— E por que não? Eles acham que você é uma ameaça pra mim essa noite? — Ele ri. Ele simplesmente ri, na minha cara, parecendo encontrar alguma espécie de prazer nessa situação toda, e isso é absurdo demais para que eu consiga processar o que está acontecendo. E então, tão rápido quanto seu riso curto surge, ele também desaparece — Ou eles acham que eu sou uma ameaça pra você? 

As minhas pernas ficam fracas. Eu juro que sinto meus ossos se transformarem em manteiga derretida e é por causa disso que eu, instintivamente, acabo apertando a mão de Yoongi, em busca de apoio - apesar de eu estar, literalmente, encostada contra a porta de seu apartamento. Ainda assim, eu pareço prestes a cair, a desabar em queda livre de um edifício de cem andares. Eu não sei o que responder e, por mais que tente, não consigo entender seu jogo. Eu tento, tento e tento, mas o álcool não ajuda, e me sinto anos luz de distância de entender qual é seu objetivo com tudo isso.

— Você não respondeu porque ignorou minhas mensagens — Eu tento fugir do assunto, lembrando que ele ainda me deve uma resposta.

— Bom, você também não respondeu minha pergunta… — Ele rebate prontamente, e não posso dizer que isso seja uma mentira — Eu estava ocupado, não dava pra responder… — Ele explica, sem entrar em detalhes ou dar maiores explicações e é óbvio que minha curiosidade é ainda mais atiçada, mas não tenho a chance de tentar descobrir mais sobre sua noite, porque Yoongi volta a falar e muda o rumo da conversa — E por que você quer que eu pinte o cabelo? 

Ah, não, não, não.

Eu me sufoco em meu próprio pânico, e um grito desesperado fica preso no fundo de minha garganta. Por que eu fui tocar na merda do assunto das mensagens, caramba? Não é Min Yoongi que é um panaca, é você, garota! Eu abro a boca uma, duas, três, uma centena de vezes, implorando para que alguma coisa decente saia dela, mas nada. O silêncio cresce e nessa altura do campeonato é fácil ouvir o ruído alto de minha respiração acelerada. Ele parece se cansar de esperar por uma resposta e resolve tomar uma atitude, que vem primeiro na forma de um gesto que faz meu coração tropeçar.

Sua mão livre vai parar em seu boné e, fácil assim, os fios loiros bagunçados são expostos e eu me sinto fraca de novo. Não pode ser, eu não consigo acreditar que eu caí nessa armadilha de me apaixonar por um garoto de cabelo descoloridos e que toda minha existência parece ameaçada cada vez que coloco os olhos em seu rosto perfeitamente desenhado e em seu cabelo ridículo, e com esse maldito undercut sexy. É, eu usei a palavra sexy para me referir a Yoongi, a coisa realmente vai de mal a pior. Ele afasta o boné e usa os dedos livres para tentar ajeitar os fios e, sem afastar a mão de sua cabeça, volta a falar.

— Tem algum problema com o loiro? — A inocência por trás de sua pergunta é uma fraude, e isso está estampado em seu olhar que me provoca e me testa. E, sério, abençoado seja o álcool por me deixar pelo menos cem vezes mais lerda, levando tempo demais para processar tudo, porque se eu estivesse sóbria eu já estaria destruída, arrasada, desmaiada. Como é que eu posso explicar que o problema está muito além do loiro, e, pra ser mais específica, tá nele inteirinho? Dos pés a cabeça? — Você acha que ficaria melhor preto? — Ele parece realmente pensar a respeito — Ou outra cor diferente, tipo verde ou azul? 

Puta merda, imaginar ele de cabelo azul é algo que eu definitivamente não precisava, e eu gostar muito dessa ideia me deixa com raiva.

— Só coloca esse boné de novo, pelo amor de Deus, Yoongi… — Eu imploro, e quero agradecer quando ele entorta os lábios em um sorrisinho e me obedece sem contestar mais. 

Mas não agradeço.

Não agradeço porque, por algum motivo, ele resolve que é uma boa ideia colocar o boné virado para trás, e os acontecimentos dessa madrugada são a prova viva de que as possibilidades de que uma situação se torne ainda mais absurda são infinitas. Com a aba virada para trás, o rosto dele parece ficar ainda mais próximo do meu, e eu podia me aproveitar disso e do álcool. Eu podia ficar na ponta dos pés, e descobrir de uma vez por todas o gosto da sua boca, e depois jogar toda a culpa em todas as garrafas de soju que coloquei pra dentro sem pensar nas consequências. Mas ele mentiu, e o resquício de amor próprio que ainda existe em mim me impede de ferir meu orgulho já tão destroçado.

Não bastasse colocar o boné para trás, ele ainda resolve apoiar a mão livre na porta, ao lado de minha cabeça, e a sensação de que estou presa se torna ainda maior. Sem permissão alguma, meu olhar desvia para sua boca e eu me sinto derrotada. Derrotada e sem forças para mirar em outra coisa que não sejam os lábios cheios e avermelhados de Yoongi, que se parecem com a merda de um oásis no meio do deserto, e eu nunca me senti tão desidratada em toda minha vida.

— Você só precisa pedir… — A voz baixa dele me pega de surpresa e me lembro que ainda estou encarando sua boca, e que não há nenhuma explicação racional para isso. Assim que  reúno a força necessária para voltar a olhar em seus olhos, descubro que as íris escuras de Yoongi também estão distantes, olhando para minha boca. Nós dois somos ridículos. 

— Eu não sei do que você tá falando… — Respondo exausta, sentindo que todas minhas energias foram roubadas de mim, e é mentira… É claro que é mentira porque sei exatamente do que ele está falando, mas isso não muda o fato de que me sinto vendada entrando em seu jogo, mergulhando em um abismo sem fim, e sem saber se vou chegar viva ao final. 

A mão dele que até então permanece apoiada na porta atrás de mim, em um centésimo de segundos, vai parar em meu rosto, e seu toque quente e macio me faz fechar os olhos de maneira instintiva, e seria mentira dizer que não me pego esperando por algo. E também seria mentira dizer que assim que o polegar dele passeia por minha mandíbula e vai parar em meu lábio inferior, deslizando devagar por este, eu não sinto vontade de me dar por vencida e pedir. Simplesmente pedir, ou implorar, ou até mesmo mendigar um beijo dele.

Mas eu continuo lembrando dos gemidos constantes dele e das suas garotas, do post-it malcriado, e de sua mentira deslavada.

— Quem disse que eu quero beijar você? — Eu pergunto em um lapso de consciência, sem saber de onde surgiram essas palavras. Meus lábios se movem contra seu dedo conforme minhas palavras quase sussurradas escapam e a cena toda parece obscena demais, e eu imploro para que o álcool e a ressaca me façam esquecer disso pela manhã. Eu torno a abrir meus olhos para observar seu rosto, esperando por sua resposta, e encontro seu olhar grudado no meu, o que me faz engolir a seco. Suas íris escuras parecem mais intensas do que o normal, e isso me tira todo o fôlego. 

Outra vez, não há rastro algum de diversão em seu rosto, e ele parece sério e concentrado. Seu polegar escorrega de minha boca para meu queixo e os demais dedos apertam levemente a lateral de meu pescoço, me fazendo inclinar a cabeça para trás até encostá-la na porta atrás de mim. A língua de Yoongi volta a aparecer quando ele, pelo que parece ser a milésima vez na noite, resolve umedecer seus lábios. E eu juro que consigo entendê-lo, porque também me sinto estranhamente morta de sede, e imito sua ação, de modo inconsciente. Seus dedos pressionam ainda mais minha pele, e me sinto queimar, como se a região de meu pescoço abaixo de seus dedos longos estivesse em chamas.

— Você não quer? — Ele devolve a pergunta, sua voz arranhada uma oitava mais baixa, me causando calafrios por todo o corpo — Porque eu quero.

É então tudo se torna demais, e eu tenho certeza absoluta de que vou explodir, porque é impossível conter o misto de sensações que se alastram por meu corpo de uma só vez, e de repente se torna óbvio que o corpo de Yoongi está mesmo muito longe do meu, e precisamos acabar com esse pequeno gigante centímetro de distância urgentemente. Meus olhos insistem em fechar mas eu me esforço para mantê-los abertos, porque preciso memorizar a imagem de Yoongi aproximando seu rosto do meu, e isso acontece tão, tão lentamente, que cada segundo se parece uma década.

Ele acabou de dizer que quer me beijar e suas palavras parecem ter o efeito de me deixar sóbria em um piscar de olhos, porque, de repente, tudo se torna bastante nítido e claro. E eu, oficialmente, jogo tudo pro alto e estou verdadeiramente disposta a deixar que isso aconteça mesmo, e dane-se a coerência ou a minha saúde mental. Meu corpo precisa disso, minha mente precisa disso, eu preciso disso. Eu posso arrumar toda essa confusão depois, mas agora a única coisa que desejo é que ele me bagunce ainda mais.

É só quando sua boca está a uma respiração da minha que me permito fechar os olhos e parto meus lábios, esperando para sentir sua boca na minha.

Mas, então, nada acontece.

Sua respiração acaricia minha bochecha e vai para próximo de meu ouvido, e é ali que suas próximas palavras escapam.

— Mas não agora… — Sua voz arrastada toca minha pele e eu me sinto quente e frustrada. Muito frustrada — Quando isso acontecer, eu quero ter certeza de que você vai estar sóbria, pra lembrar de tudo — E nem mesmo todo o álcool no meu organismo me impede de perceber a promessa contida em suas palavras.

Eu realmente tento me convencer de que ele realmente utilizou a palavra quando, como se estivesse deixando claro que, cedo ou tarde, vamos acabar nos beijando. Assim como também tento me convencer de que a segurança por trás de suas palavras não me causa um ataque terrível de ansiedade e antecipação. Quando? Quando e como? Mas então minha frustração começa a ser substituída por raiva, e tenho certeza de que essa maldita instabilidade de humor é culpa da bebida. Yoongi continua com o rosto próximo de meu pescoço e, em um ato que considero uma verdadeira vitória, eu tento o empurrar para longe e ele cede facilmente, como se estivesse falsamente me deixando no controle da situação.

— Isso não vai acontecer — Eu respondo firme, e não fosse minha paixão platônica que parece inabalável mesmo após a descoberta ridícula de que o cara que eu quero beijar e o cara que eu quero matar são a mesma pessoa, eu poderia até mesmo acreditar em minhas palavras. 

— Ah, eu acho que tudo é uma questão de tempo, você não? — Ele provoca, e nem se preocupa em tentar disfarçar isso.

— Bom, nesse caso vai ser um longo, longo tempo, Yoongi — E por que eu continuo fazendo questão de repetir o nome dele em toda porcaria de frase?! Não faço ideia de como faço para que as palavras saiam em ordem, mas elas saem. 

— Sem problemas, vizinha… Eu sei esperar — Eu quero muito matá-lo.

— Eu não vou atrás de você… — Eu insisto, desesperada para tentar convencê-lo de que isso é uma verdade, e não uma tentativa frustrada de me convencer de que não vou mesmo atrás dele.

— Eu aposto que você vai… — Ele parece me desafiar e, antes que ele tenha tempo para dizer mais alguma coisa, que me tire ainda mais do eixo da coerência, me obrigo a afastar nossas mãos, que permanecem unidas até então. Assim que o faço, porém, parece que parte de mim fica perdida com Yoongi, porque só isso parece justificar a sensação de vazio que sinto repentinamente. Ele esconde as mãos nos bolsos de sua jaqueta mas continua imóvel em minha frente, me dando pouco espaço para me mover

— Eu quero passar.

— Tudo bem — Ele responde, calmamente, e nem parece que há um segundo atrás ele estava com o rosto afundado em meu pescoço tentando me fazer ter uma verdadeira síncope só com o som de sua voz me dizendo coisas absurdas. Me beijar? Uma questão de tempo? Certo.

— Será que você pode, por favor, sair da minha frente? — Digo entre dentes, vendo Yoongi finalmente se afastar, dando alguns passos curtos para trás e deixando a passagem livre. Eu me mantenho apoiada em sua porta mais alguns segundos, tentando ter certeza de que ainda me lembro de como caminhar para chegar até meu apartamento.

— Você consegue entrar sozinha, ou precisa que eu te leve pra cama? — Ele fala com uma inocência falsa, e lá está ele, o sorriso inclinado de um só lado, me atormentando. 

Puta merda, Min Yoongi.

12 HORAS DEPOIS

Eu e o chão nos tornamos um só, porque tenho plena convicção de que jamais vou encontrar a força necessária para me reerguer. Não bastasse todas as memórias que voltam com força, me acertando em cheio e sem piedade alguma, o que me incomoda mais é, justamente, a ausência de lembranças de como fui parar na minha cama. Depois da frase ambígua e suja de Yoongi, tudo que surge em minha mente é escuridão, e então meus pensamentos voltam para o momento em que acordei, minutos atrás. A simples ideia de que há uma possibilidade, ainda que remota, de que algo o envolvendo tenha acontecido depois disso me deixa aflita, e completamente desorientada. Eu consegui voltar pra cama sozinha? Ele teve que me levar pra cama? Eu deixei ele me levar pra cama? Ah, meu Deus, eu tinha mesmo que esquecer justo dessa parte?! E o que ele quer dizer com “gostei das bolinhas rosas”? Ele precisava mesmo me fazer ter certeza de que a merda da minha blusa mal cobria a porcaria da calcinha?

Isso só pode ser mesmo um pesadelo.

O pedaço de papel rasgado continua em minhas mãos, assim como a cartela de analgésicos, e eu me proibido de achar a preocupação dele com minha ressaca uma coisa fofa ou bonitinha. Não, nem pensar. Nada nisso é fofo ou bonitinho, só é complicado e confuso e um sinal claro de que Min Yoongi é um homem perigoso que deve ser evitado. Um homem que resolveu assumir que quer me beijar, e que acredita realmente que isso vai acontecer, mas ainda assim um homem perigoso. Um homem perigoso que eu também gostaria de beijar. E de fazer muito mais. Mas isso não vem ao caso, não agora.

Percebo que não há som algum vindo do apartamento ao lado e me pergunto se, depois de também passar a noite fora, Yoongi também resolveu dormir o dia todo, ou se ele não está em casa. Se ele, talvez, tenha planos com alguém… E isso não devia me interessar tanto, eu sei. Perco a conta de quantos suspiros frustrados deixo escapar enquanto continuo largada no chão de meu apartamento, esperando por algum sinal divino que me indique que as coisas vão sim melhorar. Mas, como era de se esperar, sinal nenhum aparece e depois de quase quinze minutos em estado total de letargia eu me obrigo a voltar a viver, e resolvo aceitar os analgésicos enviados por Yoongi e voltar para cama.

Se não bastasse precisar encarar a situação com Yoongi enquanto estou acordada, acabo também tendo que lidar com meus sonhos, que acabam sendo invadidos pelo garoto de cabelos descolorido. 

*

Na segunda-feira, os efeitos da ressaca ainda parecem presentes, mas começo a chegar a conclusão de que, nesse caso, a ressaca a que me refiro seja causada por Yoongi e não pelo álcool ingerido no sábado. Durante a tarde, cada vez que a porta da biblioteca é aberta por alguém, sinto meu coração disparar em antecipação dentro do peito, mas o dia chega ao fim e não há o menor sinal de Yoongi. A situação não é muito diferente durante a noite, quando o apartamento ao lado continua em total silêncio, me fazendo estranhar a situação. Não que eu esteja com saudades dos barulhos, é claro… Só é… Estranho.

A terça-feira se parece com uma extensão de segunda, e o mais próximo que chego de saber sobre Yoongi é quando encontro com Namjoon nos corredores da faculdade e ele me cumprimenta com um breve aceno, mas não me dá tempo algum para reunir a coragem necessária para iniciar uma conversa. Eu tento me convencer que a mania terrível que desenvolvi de checar meu celular a cada cinco minutos não tem nada a ver com Yoongi e suas mensagens recentes, mas a coisa toda é tão escancarada e absurda que nem mesmo minhas próprias mentiras parecem efetivas. Na terça, a biblioteca também parece incompleta sem sua presença.

Na quarta-feira chego a conclusão de que ele deve estar fazendo isso de propósito. Não é possível que depois de meses frequentando a biblioteca, praticamente todos os dias, ele resolva sumir assim, do nada, depois de jogar na minha cara que é meu vizinho e que pensa em me beijar. Simplesmente não faz sentido algum, e isso começa a me irritar. Porém, ao mesmo tempo, também me pego agradecendo por não precisar encará-lo, porque não sei se estou pronta para isso. Chego a conclusão de que Yoongi realmente me transformou em uma pessoa confusa e indecisa, e Jisoo começa a perceber o mesmo, já que resolve me obrigar a ouvir de um de sermões gigantescos, me deixando sem saída.

— Você precisa tomar uma atitude! — Ela exclama, batendo o punho fechado contra um dos livros esquecidos sobre o balcão da biblioteca — Tudo bem, ele é o seu vizinho irritante, e tudo bem, ele é também o nerd da biblioteca por quem você está apaixonada — E eu me surpreendo em perceber como isso já não é mais uma hipótese, e sim uma verdade absoluta… Quando foi que deixei que isso chegasse nesse ponto?! — Então, o que você pode fazer com isso?

— Chorar? — Eu arrisco, vendo-a bufar irritada e revirar os olhos — Sei lá, Jisoo… Ainda não faz nem uma semana que descobri tudo isso, acho que meu cérebro ainda não conseguiu processar todas as informações, então não sei o que fazer. 

— Eu acho que vocês precisam conversar — Ah, não… Jisoo e sua mania de achar que preciso conversar com as pessoas — E antes que você pense nisso, trocar post-its por debaixo da porta não é uma forma de conversa! — Ela me repreende, e finalmente sinto que é o momento certo para contar para ela o ocorrido na madrugada de domingo.

— Bom, você precisa avisar isso pro Yoongi também… — Digo, vendo o olhar de minha amiga se tornar confuso e ela fica em silêncio, esperando uma explicação — Não te contei isso antes porque achei que era melhor esquecer, mas… — Eu hesito, sabendo que no segundo em que revelar para ela tudo que aconteceu, vamos acabar sendo expulsas da biblioteca por causa dos gritos estridentes de Jisoo.

— Mas o quê? O que aconteceu? Vocês se falaram depois de sábado? — Faço que sim com a cabeça, me encolhendo em minha cadeira e torcendo para que alguém resolva interromper nossa conversa, mas todos ali parecem ocupados demais em suas leituras e trabalhos — Ah, você deve me odiar mesmo! Que tipo de melhor amiga não conta esse tipo de coisa pra outra?! — Jisoo praticamente grita, recebendo olhares feios de outros alunos, e eu imploro para que ela fale baixo — Vai logo, me diz o que ele fez! — Ela tenta sussurrar, e sua voz fica ainda mais aguda do que o normal. 

— Quando vocês me deixaram em casa, eu meio que não conseguia dormir e resolvi que era uma boa ideia mandar um bilhete pra ele, sabe… — Eu só podia estar bêbada mesmo, porque falar isso agora, sóbria, me faz perceber o quão ruim essa ideia era — Mas aí, bem na hora que resolvi enviar a porcaria do bilhete, ele resolveu chegar e me pegou lá, ajoelhada na porta dele… 

— Ah, não! Ajoelhada usando aquela blusa de criancinha que eu coloquei em você e aquela calcinha ridícula? — Jisoo e sua mania maravilhosa de sempre me fazer perceber o lado péssimo de todas as coisas. 

— Isso não vem ao caso, amiga — Tento mudar o rumo da conversa, porque essa realmente não é a parte importante — O que interessa é que acabamos conversando no corredor e… E ele meio que disse que queria… me… beijar… — Eu finalmente confesso, o volume de minha voz diminuindo gradativamente conforme a frase chega ao final, e a boca de Jisoo vai se abrindo no mesmo ritmo. 

— Eu não acredito — Ela fala, com uma calmaria que só demonstra o quão chocada ela está. 

— É, eu sei, talvez eu tivesse sonhado com tudo isso, mas aí pela manhã encontrei um bilhete e uma cartela de analgésicos embaixo da minha porta, então sim, eu e ele realmente nos encontramos durante a noite e…

— E vocês se beijaram?! — Ela me interrompe, voltando a falar alto demais. 

— Ai Jisoo, é claro que não… — Porque ele é um idiota, só por isso. 

— Mas como assim?! Porra amiga, você quer beijar ele, e ele diz que quer te beijar, mas aí vocês não se beijam? Como é que isso funciona? 

— Ele disse que queria fazer isso quando eu estivesse sóbria — Suspiro frustrada. Lembrar de nossa conversa faz com que uma nova sensação de ressaca moral e mental se alastre por meu corpo, e me sinto exausta. 

— Ah — Jisoo diz, finalmente resolvendo se sentar na cadeira vazia em minha frente, se acalmando um pouco — Vocês combinam mesmo, ele também parece uma bagunça. E agora? Vocês vão se encontrar com você sóbria e vão se beijar? — Minha amiga brinca, dando um sorrisinho malicioso, mas sei que há um rastro de verdade e de pura curiosidade em sua voz.

— Não dá, Jisoo… Não é que eu não queira, mas é que parece errado — A sinceridade em minha voz me assusta, e Jisoo me observa com seriedade, percebendo que o assunto é mesmo importante — Eu não consigo entender qual o objetivo dele com tudo isso. Eu não faço ideia de quando foi que ele descobriu que éramos vizinhos, e por que não contou isso antes… Não faço ideia do porque dele estar fazendo uma matéria de literatura comigo, sendo que ele pode conseguir horas extras fazendo coisas que tem bem mais a ver com o curso de música dele… E também não entendo quem ele é de verdade… Eu passei os últimos três meses fantasiando com o garoto que senta naquela mesa, todas as tardes, e então descobri que ele é na verdade o vizinho barulhento que aprendi a odiar, e isso me deixou meio maluca. 

— É, é justificável — Ela concorda, esboçando um sorriso gentil para mim — É por isso que acho que vocês precisam conversar, sabe? 

— Ah, Jisoo! 

— Não, é sério! Você tá com medo de se envolver porque não faz ideia de onde tá se enfiando, não é? — Faço que sim, porque se Yoongi já era um mistério antes, agora ele é um mistério ainda maior. Afinal de contas, quem é esse garoto? — Então o que você precisa fazer é conversar com ele e descobrir isso, simples assim. 

— Você só tá falando isso porque nunca teve uma conversa com ele, Jisoo… Ele mexe com a minha cabeça, e me enrola, e eu acabo mais perdida ainda, sem chegar a lugar nenhum. 

— Bom, você não tem muita opção… Mas você precisa se decidir… Onde é que você quer chegar? — Ela sussurra por fim, se levantando para atender um grupo de alunos que chega e colocando fim na conversa.

Sua pergunta fica girando em círculos dentro da minha cabeça durante todo o restante do dia, até a hora em que finalmente consigo adormecer.

Na quinta-feira Yoongi também não aparece e eu me pego escrevendo e deletando uma centena de mensagens para ele. Eu disse que não iria atrás, então não posso ser a primeira a fazer algo, certo? Mas me manter no controle e ignorar a vontade que sinto de falar com ele é uma tarefa árdua e que acaba com meu bom humor, e é por isso que a quinta-feira é definitivamente um dos piores dias da semana.

A aula de literatura. Esse é o primeiro pensamento que me vem à cabeça assim que abro os olhos na sexta, depois de uma noite terrível de sono. Eu gostaria de poder dizer que o culpado não era Yoongi, mas eu estaria mentindo. O som dos gemidos e das músicas não havia aparecido durante nenhum dia, mas noite passada o barulho da porta batendo e do chuveiro sendo ligado denunciou que ele estava em casa, e constatar que ele só havia aparecido depois de dias, às quase três da manhã, arruinou qualquer possibilidade de que eu pudesse ter uma noite de sono decente.

Eu tento ignorar a vontade de bater em sua porta e me arrumo depressa para faculdade. Não me surpreende quando chego para aula de literatura e encontro o lugar de Yoongi vazio, e também não me surpreendo quando, depois de quase uma hora de aula, ele continua sem aparecer, recebendo outra falta. O que me surpreende e me deixa aflita é o professor relembrando sobre nosso trabalho e sobre o prazo de entrega, cada vez mais próximo.

— Não esqueçam que a nota é para a dupla, e por isso é importante que vocês estejam realmente trabalhando juntos, e em sintonia, para a apresentação dos seminários daqui duas semanas! — Suas palavras são um verdadeiro discurso de terror, e a simples lembrança de que Yoongi ainda é minha dupla, e de que ainda não concluímos nosso roteiro, me deixa com os nervos a flor da pele, e sem saída. 

Vou ter que falar com ele.

Não, mais do que isso… Eu vou realmente ter que ir atrás dele, com meus próprios pés, ignorando o que eu disse sobre não ir procurá-lo.

E isso tem tudo para dar errado, e por um segundo eu considero a ideia de terminar o restante do trabalho sozinha, mas essa ideia é logo deixada de lado quando lembro que ele precisa estar junto para apresentarmos nosso projeto para o restante da turma. Eu passo os minutos finais da aula tentando pensar em uma saída para esse problema, mas nada que possa me livrar da tarefa de precisar falar com ele surge, e, assim que o professor finalmente dá seu horário por encerrado, eu me pego suspirando derrotada e afundando em minha cadeira.

Olho para meu celular, ainda sem nenhuma nova notificação, e penso que talvez fosse uma boa ideia mandar uma mensagem ao invés de procurá-lo, mas então me lembro de Jisoo e de suas palavras. Onde quero chegar com isso? Por mais que eu queira continuar fugindo, reconheço que continuar tentando me comunicar através de post-its ou de mensagens não vai me levar a lugar nenhum, e preciso esclarecer toda essa bagunça de uma vez por todas para reorganizar minha vida.

Esse pensamento surge e não dou tempo para que ele seja mais explorado, porque tenho certeza de que pensar demais a respeito disso irá fazer com que eu desista de tudo. É por isso que, em um segundo de coragem irracional e insensatez, eu finalmente encontro a força necessária para juntar meu material e sair depressa da sala, caminhando apressada pelos corredores do campus. Meu olhar atento continua tentando encontrar algum rosto conhecido no meio do aglomerado de pessoas que se movimenta em todas as direções, mas penso que talvez seja uma boa tentar o refeitório, já que é quase hora do almoço.

Assim que adentro no salão lotado, escuto Jisoo chamando por mim e acenando de uma das mesas, nas quais Hoseok e alguns outros garotos estão sentados. Penso que talvez Hoseok saiba onde Yoongi pode estar, mas as chances disso são bastante baixas, já que ultimamente o garoto parece saber apenas aquilo que se refere a Jisoo, a julgar pelo modo como os dois estão apaixonados. Resolvo apenar retribuir o aceno e continuo a explorar o local, em busca de algum dos amigos de Yoongi, mas não encontro nenhum garoto de cabelos coloridos.

Penso em encarar isso como um sinal de que talvez eu não deva mesmo encontrá-lo agora, depois de todos os acontecimentos recentes, mas meus momentos de coragem são raros e preciso me aproveitar deste, e é apenas por isso que resolvo deixar o refeitório para trás e seguir para o gramado principal do campus, perto das quadras. E nada. Não há sinal algum de algum dos amigos dele, e começo a me perguntar se eles não frequentam a faculdade as sextas, porque não é possível que nenhum dos garotos esteja por aqui hoje. Estou a um passo de dar minha busca por encerrada quando uma ideia surge em minha cabeça e me pego caminhando depressa até o prédio no qual as aulas do curso de música são ministradas.

A caminhada é um pouco cansativa e o sol do meio dia refletindo diretamente sobre minha cabeça me faz ficar sem ar e com a garganta seca. Há vários alunos sentados no gramado diante do prédio de tons avermelhados, mas nenhum deles se parece com os amigos de Yoongi que conheço. Talvez eu tenha mesmo que acabar enviando uma mensagem… Suspiro frustrada e busco por meu celular no bolso de trás de minha calça jeans, conseguindo ficar ainda mais decepcionada quando percebo que a única notificação nova é de Jisoo, questionando o porque de eu não ter me juntado a ela e a Hoseok no refeitório.

Deixo a mensagem para lá, disposta a respondê-la depois de resolver meu problema maior, chamado Yoongi, e abro uma nova mensagem, pensando no que devo escrever. Meus dedos estão prestes a apertarem as teclas do celular quando escuto um som de risadas altas romper o silêncio que me envolve, e assim que ergo o olhar, de maneira involuntária, me deparo com Jimin, Namjoon, e mais três garotos que não lembro de já ter visto antes. A risada de um deles, o de cabelos escuros que se apoia em Namjoon, parece ser a responsável por fazer com que os outros acabem rindo também, e assisto em silêncio eles saírem do prédio.

Ok, preciso fazer isso.

Preciso fazer isso agora mesmo.

O nome de Jimin saí de minha boca em um momento de desespero e sinto o arrependimento me espancando de dentro para fora antes mesmo que eu tenha tempo de pensar sobre isso. O garoto de cabelos alaranjados para de rir de repente e olha em minha direção, sorrindo ao me reconhecer e acenando para mim. Aproveito a deixa para me aproximar e os demais garotos também resolvem parar para prestar atenção em mim.

— Tudo bem? — Jimin pergunta e apenas balanço a cabeça em um sinal positivo, certa de que minha voz deve estar trêmula em razão do meu nervosismo — Não sabia que você frequentava esse lado do campus. Achei que seu habitat natural fosse o prédio de letras e a biblioteca — Ele sorri simpático, e vejo os outros acompanharem o gesto. 

— É, eu não frequento mesmo… Mas preciso de ajuda.

— Ah, você é a garota do Yoongi, não é? — Namjoon ignora minha fala e vejo sua expressão se tornar mais  relaxada assim que ele me reconhece… Mas, ser chamada de garota do Yoongi, não é nem de longe a melhor forma de ser lembrada, não é? É, eu tento me convencer de que não é. Meu coração, por outro lado, parece achar isso ótimo já que ele se acha no direito de acelerar e praticamente esmurrar minhas costelas. 

— Eu não sou a garota dele… — Corrijo, me sentindo desconfortável por gostar de como essa coisa toda soa, e vendo Namjoon assentir, concordando comigo, apesar do sorrisinho divertido que ele carrega em seus lábios.

— Mas, então, do que você precisa? — Jimin pergunta, voltando para o assunto principal, e eu até poderia pensar em agradecê-lo por isso, se eu não fosse obrigada a fazer com que o assunto volte a ser Yoongi.

Por que tudo parece girar em torno dele?!

— Na verdade, eu queria perguntar se vocês sabem onde posso encontrar o Yoongi — Digo fraca, tendo que praticamente cuspir as palavras para obrigá-las a escaparem. Assim que termino minha fala, vejo Namjoon franzir o cenho, parecendo confuso.

— Achei que vocês fossem vizinhos — As palavras que escapam de sua boca são só mais uma prova de que Yoongi realmente sabia desse pequeno gigante detalhe, e resolveu compartilhá-lo com seus amigos, mas não comigo. Ótimo, ótimo mesmo! 

— Ah, então você sabia disso também — Eu juro que tento não deixar minha palavras soarem como ironia, mas é exatamente isso que acontece, e Jimin olha de canto para Namjoon, como se estivesse tentando perceber se o amigo se deu conta da confusão que tudo isso gerou. E, a julgar pela cara surpresa que Namjoon faz, acho que ele percebe isso. 

— Acho que ele ficou na sala de estudos — Um dos outros garotos, o da risada contagiante, resolve se juntar a conversa e me responde. Abro a boca para perguntar em que andar fica a sala mas ele se antecipa — Fica no terceiro andar, perto do elevador, você vai ver uma placa.

— Obrigada — Digo já me afastando e seguindo para dentro do prédio. 

E a verdade é que não faço ideia do que estou fazendo.

Não faço ideia do que vou falar quando encontrá-lo.

Não faço ideia.

Mas, ainda assim, continuo caminhando até o elevador e fingindo ignorar o nervosismo enquanto ele me leva até o terceiro andar, bastante vazio provavelmente devido ao horário de almoço. Assim que as portas se abrem, sou recebida pelo som melancólico de um piano, e as notas espaçadas parecem vibrar por todo o corredor, me fazendo mergulhar na música, sendo completamente hipnotizada por esta. Ao invés de procurar pela placa, resolvo apenas deixar que meu corpo siga a direção do som, e conforme vou caminhando devagar pelo corredor vazio, o volume da música clássica parece se tornar maior, cada vez mais intenso.

Acabo me deparando com uma porta dupla de madeira com vidros foscos que me impedem de enxergar o lado de dentro. As notas continuam a escorregar pelos vãos da porta e, por alguns segundos, a música me faz esquecer de tudo. Não parece que estou tentando encontrar Yoongi, meu vizinho irritante, ou o que quer que seja. Meu nervosismo é reduzido a quase nada e a verdade é que me sinto entorpecida e com uma sensação estranha de nostalgia, e culpo a melodia triste que é reproduzida de maneira perfeita.

Levo minha mão até a maçaneta da porta, e só então me dou ao trabalho de perceber a placa metálica fixada na madeira escura, que indica que esta é a sala de estudos. Respiro fundo e abro a porta com extrema cautela, tentando não fazer barulho algum e passar despercebida, e assim que sou capaz de abrir uma fresta significante, espio por esta, me deparando com uma sala ampla e bastante clara, devido a toda as vidraças que ocupam toda extensão da parede oposta à porta. Há uma variedade absurda de instrumentos espalhados pelos cantos da sala, mas nenhum deles chama minha atenção.

Meu olhar logo se depara com o piano marrom, localizado bem no centro do salão, e sou incapaz de me afastar da imagem que encontro. Os dedos longos e ágeis de Yoongi deslizam pelas teclas brancas do teclado com maestria e cuidado, e é como se ele e o instrumento fossem na verdade uma só coisa, um sendo a extensão do outro. Ele mantém a cabeça levemente abaixada, e mesmo de longe consigo perceber que seus olhos estão fechados, e a expressão que repousa em seu rosto é tão serena que ele parece envolto por um uma calmaria e paz interna invejáveis. Os fios descoloridos de seu cabelo estão bagunçados, como se ele não tivesse se dado ao trabalho de penteá-los ao sair da cama, e sua pele pálida mal se destaca do moletom branco que ele veste, mas ainda assim ele se parece com uma verdadeira obra de arte que ganhou vida.

Nesse momento, ele não se parece em nada com o vizinho irritante, ou com o garoto nerd da biblioteca. É como se eu estivesse me deparando com um Yoongi completamente novo e, por algum motivo, esse lado dele faz meu peito ficar apertado e sinto meu coração doer, porque é como se todos seus medos, angústias e receios estivessem sendo derramados nas notas que seus dedos produzem. Tudo parece íntimo demais, desde o modo como ele acaricia o instrumento, até o jeito como seus olhos se apertam e se fecham com mais força nas notas mais intensas, e percebo que eu não deveria estar aqui. É como se eu estivesse tentando invadir seu espaço sem ter permissão para isso, e tudo parece errado. Preciso lutar contra a vontade gritante de permanecer parada, apenas o observando e ouvindo a canção, e por mais que todo meu corpo implore para que eu faça exatamente isso, resolvo que preciso ir embora e deixar para encontrá-lo em outra hora.

Em uma hora que ele, de preferência, se pareça mais com o garoto nerd da biblioteca ou até mesmo com o vizinho irritante.

Mordo o lábio inferior para impedir que um suspiro escape e começo a puxar a porta para fechá-la, mas, por algum motivo que não consigo entender, as dobradiças parecem ranger e um som agudo ecoa pela sala, arruinando o silêncio e meu plano de ir embora sem ser vista. Assim que o barulho nada harmônico se mistura as notas musicais de Yoongi, este abre os olhos depressa e seus dedos ficam imóveis sobre o piano, deixando que a sala mergulhe em um silêncio cortante. No instante em que ele vira o rosto em minha direção, vejo um lampejo de surpresa cruzar seu rosto, e posso jurar que suas bochechas adquirem um tom avermelhado.

Não posso estar louca e imaginando coisas.

Essa expressão, porém, não dura muito tempo e é logo substituída por uma que já é bastante conhecida. Seus olhos se enchem de confiança e seus lábios avermelhados não demoram para se curvarem em um sorrisinho discreto, mas que consegue me bagunçar por inteiro. E lá está o Yoongi que eu conheço, enquanto o músico, sentado diante do piano, parece ser guardado a sete chaves.

Toda atmosfera de antes parece se quebrar e é como se eu tivesse viajado até uma dimensão paralela e agora estivesse de volta para a realidade. O real motivo de eu estar aqui me atinge outra vez e lembro o porque de ter procurado Yoongi, em primeiro lugar. Com isso em mente, resolvo entrar na sala e fecho a porta atrás de mim, amaldiçoando o barulho que as dobradiças fazem novamente. O olhar de Yoongi permanece em mim o tempo todo, e sou obrigada a me apoiar contra a porta para sustentar a força que suas íris escuras e intensas tem sobre mim.

— A gente precisa conversar — Consigo falar, mesmo que com a voz baixa e repleta de nervosismo. 

Vejo Yoongi controlar seu sorriso, que parece querer crescer, e ele então se vira sobre o banco retangular de madeira, jogando uma de suas pernas para o lado oposto e se sentando com as pernas abertas, de frente para mim.

— Eu disse que você viria atrás de mim, não disse?


Notas Finais


Eu nem sei o que comentar sobre esse capítulo, só que o Yoongi é um filho da mãe mesmo, e que eu odeio muito ele, e que eu sou essa menina todinha... Quero esganar ele mas também quero beijar, e aí? HAHAHAHA E agora, como será que vai rolar essa conversa dos dois, hein? Será que ele vai confessar qual o plano maligno dele? Hmmmm...

Pra além da fic, só queria dizer que O COMEBACK DO BTS FOI A COISA MAIS MARAVILHOSA DESSE MUNDO e to perdidamente apaixonada por todas as músicas, e vocês viram o Yoongi de bandana vermelha no comeback stage?! E ele de boné virado pra trás, no estúdio dele? AH RAPAZ, ESSE MOMENTO É MEU!!!!! Enfim, to feliz demais hahaha.

Lembrando que vocês podem sempre ir conversar comigo seja nas mensagens daqui, no tumblr (www.biasmut.tumblr.com) ou lá no twitter (www.twitter.com/sexstiell) <3


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