[Wilhelm: Monstro.]
[Heinkel: Aberração.]
Reinhard estava acostumado a ouvir tais palavras dos dois. Seu avô e seu pai, as únicas figuras familiares que ainda lhe sobravam vivas e despertas. Sua mãe estava em um sono profundo, por culpa de uma doença desconhecida, que nem mesmo os melhores curandeiros não conseguiram ajudá-la.
E sua avó...
[Reinhard: Morta por minha culpa...]
Ele se repetia. Afinal, é verdade, não é? Era isso o que todos lhe falavam — especialmente seu avô quando referia-se a algo relacionada a ela ou a Baleia que causou sua morte. Morta por seu neto ser um monstro, um monstro egoísta que roubou sua única forma de salvação.
Reinhard até culpava-se por suas lembranças que tinha com sua avó.
Ele não merecia ter lembranças positivas de sua avó. Não quando causou sua morte, não quando causou tanta dor a toda sua família só por ter nascido como uma aberração monstruosa que se tornava, a cada novo ano, pior. Chegando ao ponto de que mesmo agora suas habilidades chegavam ao nível de um adulto mesmo só tendo nove anos de idade.
O jovem garoto de cabelos ruivos e olhos azulados estavam andando pelos corredores da mansão, até sair pela porta frontal, sozinho.
Atualmente, nenhum dos funcionários seguia-o de um lado para o outro.
Nem por segurança, nem por vontade própria. Eles evitavam-no tanto por ordens do senhor da mansão, Heinkel, o pai de Reinhard, quanto por pedido do próprio garoto, que não gostava de incomodá-los. E isto antes mesmo de seu pequeno segredo; Ele ia para os jardins da propriedade, com seus livros encontrava um lugar isolado, sentava-se e lia até o entardecer.
Ninguém o incomodava assim como não queriam se envolver. Ele nem sequer possuía amigos para brincar naquele gigantesco quintal, especialmente do ganho de suas habilidades.
As crianças não tinham coragem para aproximarem-se.
[Reinhard: Elas não devem querer ficar perto de um monstro como eu...]
Eram seus pensamentos, assim como múrmuros sombrios quando estava sozinho e pensava sobre tais assuntos. Ele pensava sempre negativamente desta forma quando ficava sozinho no quintal da mansão.
Mas...
Isso foi antes de seu segredo, quando encontrou [aquela pessoa].
Agora quando ele foi para o quintal, ele carregava um de seus livros, como uma desculpa. Correndo até um dos muros, ele se esgueirou por alguns dos arbustos para chegar onde queria. Uma rachadura pequena na parede. Deixando seu livro contra grama, ele passou por entre a fresta no muro, esgueirando-se até sair do lugar.
Fora dos domínios Astrea, ele começou a correr.
Sua moradia não ficava longe da Capital. Correndo pelos gramados, ele foi na direção de lá, mas não para chegar na Capital, mas para chegar até uma casa que ficava entre a Capital e a mansão Astrea. Dentro das terras de sua família, construída não mais que alguns meses atrás.
Ao chegar na frente da porta da casa humilde, ele deu algumas batidas na porta...
[???: Quem é?]
[Reinhard: Sou eu, Reinhard!]
[???: Como posso saber? Você possui a senha?]
Reinhard respirou fundo, se preparando. Ele então assobiou. Assobiou um ritmo que se tornou familiar para ele, por ter repetido muito desde que começou a vir até essa moradia.
Pelo que o dono contou-lhe: Essa era a primeira abertura de um programa chamado Oone Pieece ou coisa parecida. Nomeada de: “Wee Arre”. Uma melodia que ele demorou pouco tempo para ele memorizar conforme seu [conhecido] tinha ensinado. Ele não desgostava, afinal, foi uma coisa ensinada por uma figura tão amigável.
[???: Sim, sim! É o Reinhard!]
Abrindo a porta da entrada da casa, estava um jovem; Este tinha cabelos escuros, olhos de aparência assustadora, um sorriso animado e usando roupas estranhas para todos no reino, mas que alguns estipulavam ser da nobreza pela qualidade do tecido. Natsuki Subaru.
[Subaru: Parece que você chegou cedo! Bem a tempo, na verdade. Porque queria lhe mostrar minha nova mais brilhante invenção!]
Proclamou com animação e mostrava para a criança na beirada de uma década de idade. Uma espécie de quadrado com uma ponta extremamente maior que a outra, com uma espécie de X deformado com uma ponta também tão longa que se estendia da mesma que a ponta do papel colorido.
[Reinhard: O que é isso?]
[Subaru: Isso é uma pipa! E você vai ser a primeira criança sortuda a brincar com uma! ESTÁ PRONTO?! Não vou aceitar um não como resposta, porque você vai comigo agora!]
[Reinhard: U-Uhum. T-Tá bom.]
—X—
[Reinhard: Whoaa!]
O garoto de cabelos vermelhos olhava para o céu com um brilho nas duas orbes de sua face. No céu, aquela coisa nomeada por Subaru como Pipa voava alto, os brilhos do sol acertando os papeis e gerando uma iluminação bonita aos olhos.
[Subaru: Certo, sucesso! Se dá para ver no rosto do pequeno Rein.]
Subaru falava enquanto anotava coisas em outra das suas invenções: uma Prancheta. Com papeis no pedaço de madeira retangular, anotando coisas neles. Escrevendo atualmente as reações de Reinhard.
Era quase sempre assim desde que se conheceram.
Foi há um ano quando se conheceram em um dia ensolarado, foi algo agitado. Eles se conheceram por um acaso do destino, quando se falava daquele momento.
Subaru apareceu carregado por um dos funcionários.
Pelo que lhe foi contado, ele foi encontrado quase apagado. Tendo sido atacado por bandidos na estrada. Ele foi resgatado pelos funcionários da mansão e trazido para dentro da mansão Astrea e conheceu-o quando acordou. Apesar dos machucados, Subaru manteve sua personalidade animada ao conversarem.
Reinhard sempre foi um garoto tímido e retraído, então tiveram dificuldade para conversarem de inicio quando se viram pela primeira vez.
Os dois começaram com conversas simples. Subaru acabou recebendo uma ajuda dos funcionários ao receber uma moradia temporária, um emprego como mordomo e ajudante, e acesso a uma forma de conhecer melhor a região. Pelo que Reinhard também descobriu, Subaru não tinha conhecimento de Lugunica ou das outras regiões como: Vollachia, Gusteko ou Kararagi.
Uma pessoa sem nenhum conhecimento.
Isso acabou iniciando a aproximação entre os dois. Reinhard tinha muito conhecimento graças ao seu tempo lendo sobre... basicamente tudo e Subaru não teve vergonha em pedir para que Reinhard o ensinasse. Eles conversavam, o garoto ensinava, e Subaru começou a ensiná-lo também sobre coisas de onde veio — “Jaapão.” — e ensinava também o próprio garoto sobre brincadeiras de criança.
Eles se aproximaram até formar um belo vinculo. Para Reinhard, Subaru se tornou o [conhecido] mais próximo de ser um amigo.
Até Heinkel aparecer.
Por Subaru não ser alguém que ele realmente tivesse contratado, e pela raiva que ele possuía normalmente e pior bêbado, o expulsou de sua mansão. Ninguém podia contestar as ordens dele. Ele era o mais velho, o dono da Mansão Astrea, pai de Reinhard e chefe de todos ali. Mas antes de ser mandado embora, Subaru recebeu uma bolsa de moedas e a dica de uma casa onde poderia se instalar.
Reinhard até pensou que tinha sido a última vez que viu seu [conhecido], até que Subaru uma vez apareceu quase pulando o muro quando o garoto estava lendo seus livros no quintal e então lhe indicou a rachadura secreta para que o garoto saísse.
E foi assim uma vez e outra.
Subaru aparecia em cima do muro, convencia Reinhard a sair, brincavam juntos e depois o garoto voltava para sua casa. Tornou-se uma rotina semanal, depois diária. Ao ponto de que chegou um dia que Reinhard era convidado a sair pela rachadura para ir até sua casa. Lá, Subaru sempre mostrava suas novas invenções para o garoto.
O garoto sempre seria o primeiro a testar os brinquedos que Subaru criava. Foi assim várias vezes, sempre brincando juntos.
Hoje foi mais um dia em que seu [conhecido] perdia tempo brincando com um... monstro.
[Subaru: Que expressão é essa, hein, Rein?]
[Reinhard: Hum?!]
Reinhard olhou para Subaru com surpresa.
[Subaru: Tá com aquela expressão triste de novo... Não me diga que odiou minha pipa?! Fiz especialmente para você!]
[Reinhard: N-Não, eu g-gostei, Subaru-San. É r-realmente boa.]
[Subaru: Não precisa do ‘San’, Rein. Já te disse isso mil vezes. —— Então por que você está com essa expressão triste? —— Foi seu pai de novo?]
[Reinhard: ——]
[Subaru: Quer conversar sobre isso? E quando eu pergunto, eu quero dizer que vamos conversar. Agora.]
Sem dar espaço para questionamentos ou forma de escape, Subaru falou com certa autoridade para o garoto de cabelos vermelho fogo. Reinhard ficou com uma expressão mais triste, ficando mais aparente sua preocupação. O garoto puxou a pipa pela corda que ligava ela ao pedaço de madeira em suas mãos e então a colocou ao seu lado quando se sentaram.
[Subaru: O que foi dessa vez?]
[Reinhard: —— Não foi nada.]
[Subaru: Para! Nenhuma criança fica com uma expressão triste quando estão soltando pipa de onde venho. Se está acontecendo com você, deve ter alguma séria. —— Desembucha. O que aquele idi- baba-, seu adorável paizinho falou dessa vez?]
[Reinhard: —— Subaru, você... acha que eu sou um monstro... ou uma aberração...?]
[Subaru: —— Entendi, entendi. É isso. Está preocupado com isso.]
Subaru ficou calado por alguns instantes, pensativo. Desde que conheceu o garoto que estava do seu lado, ele percebeu que tinha alguma coisa errado.
Ele vivia quase sempre sozinho, lendo, sem amigos, os parentes pareciam o abandonar e o ignorar dentro da mansão. E o seu pai, Heinkel, quem Subaru teve uma péssima primeira, era a imagem de um pai que nenhum filho realmente deveria ter. Ainda mais pelo cheiro repugnante forte de álcool que o rapaz de cabelos negros sentiu naquela vez.
Reinhard era uma criança, mas parecia ter o peso do mundo sobre suas costas. Subaru até descobriu que parte desse motivo tinha haver com a morte de sua avó: Theresia van Astrea, a Antiga [Santa da Espada].
Ele respirou fundo antes de se levantar repentinamente.
[Subaru: HORA DO TESTE!]
[Reinhard: Teste...?]
[Subaru: De onde venho, tem uma testa para saber se alguém é um monstro, uma aberração ou alguém normal. Hein? O que acha? Você vai fazer, ou não?]
[Reinhard: H-Hum, t-tá bom.]
[Subaru: Beleza! Agora, de pé!]
Reinhard se levantou para o comando.
[Subaru: Hmmm. Hummm. Hmmm.]
O rapaz de cabelos negros começou a circular ao redor do garoto, olhando-o de cima a baixo. Enquanto Reinhard ficava nervoso com os olhos assustadores analisando-o dessa forma.
[Subaru: De vista... não parece um monstro. —— Tem dois braços, duas pernas. Dois olhos, um nariz, uma boca. Bochechas adoráveis que dá vontade de apertar.]
[Reinhard: Au, ai.]
Para enfatizar suas palavras, Subaru agarrou as bochechas do garoto, apertando-as com uma mão em cada uma. Deixando-as mais vermelhas pela vergonha das palavras de Subaru e pela força que ele colocou para apertá-lo.
[Subaru: Não, não. Alguém com uma aparência tão adorável não poderia ser um monstro, eu nunca acreditaria em uma mentira dessas.]
[Reinhard: Mas... eu matei minha avó...]
[Subaru: Matou sua avó? Desculpa falar de uma forma tão rude, mas. Eu ouvi que ela foi morta por uma Baleia, aquela das três Grandes Bestas, não por um garoto fofo.]
[Reinhard: Ela morreu por minha culpa... se eu——]
[Subaru: PETELECO NA TESTA!]
Assumindo uma pose exagerada, ele fez seu ataque. Dando um golpe na testa com um peteleco na testa de Reinhard, ferindo-o levemente, mas fazendo Reinhard esfregar a cabeça.
[Subaru: Não se culpe por isso! Por mais que joguem a culpa em você, por mais que digam ser! Não acredite nessas mentiras! —— Claro que eu não sei todas as condições que levaram a colocar a culpa em você, mas sei, ou pelo menos sinto, que tudo isso é besteira. O pequeno Rein que conheci nesse último ano não faria algo tão horrível quanto matar a própria avó. Não, não. Você não é um monstro. E tem uma última forma de saber se você é um monstro ou não...]
[Reinhard: De que—— Pfft! Hahahahaha!]
Antes que Reinhard pudesse raciocinar ou terminar sua pergunta, ele foi “atacado” por Subaru. Subaru começou um ataque de cócegas no pequeno garoto. Mesmo que Reinhard tentasse fugir, lutar, ele não conseguia.
[Subaru: Viu? Haha! Nenhum monstro iria rir de uma forma tão fofa como você, sabia? —— Se lembre, Rein. Não importa o que seu avô ou seu pai digam, você não é um monstro. Eles ainda estão... tomados pela dor... E jogam a culpa, injustamente, em você. O QUE NÃO DEVERIAM FAZER! Você não tinha controle, tinha? Não quis fazer aquilo, não é?! Para mim é completamente injusto fazerem isso com um garotinho tão fofo e bonzinho quanto você!]
[Reinhard: ——]
[Subaru: Sinceramente. Ficou surpreso por você não guardar rancor deles. Se fosse eu, ficaria fazendo coisas infantis. Como pegadinhas, pinturas, tudo para irritar eles. Mesmo que eles brigassem comigo, só para saberem que eu não iria aceitar calado. Mas você é incrivelmente mais maduro do que eu jamais fui em toda minha vida. —— Então sempre que um desses idiotas te chamarem de monstro, venha até mim, ok? Talvez as palavras de um amigo não tenha tanta importância quanto de um parente, mas ainda vou te fazer entender que você não é isso.]
[Reinhard: A-Amigo...?]
[Subaru: Sim, amigo. —— Ah, não! Você não quer ser meu amigo?! Eu pensei que queria! Até por isso que eu te trazia aqui para brincar com minhas invenções, só para ter a opinião do meu amigo mais jovem! Bom, o único amigo que realmente fiz até agora nesse último ano. Mas se não quiser...]
[Reinhard: Não! Não, eu quero! Eu quero ser seu amigo!]
Reinhard falou com uma empolgação e energia que nunca antes falou.
[Subaru: Oh, certo! Esse tipo de animação que eu quero! Que tal voltarmos a brincar com a pipa, hein? Temos que aproveitar até você ter que voltar para aquele pessoal chato, não acha?]
Sem mais nenhuma troca de palavras após aquelas, Reinhard voltou novamente a brincar com a pipa. Seu coração mais leve. Aquele cara, Natsuki Subaru, não o via como um monstro ou uma aberração, assim como não era só um [conhecido]... ele era seu primeiro amigo.
O primeiro amigo de Reinhard Astrea. Que no futuro, levaria ele pelo caminho de ser um verdadeiro herói.
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