Desde aquele dia, Subaru só conseguia ver metade do teto. Mesmo que tentasse forçar seu olho para ver; jamais conseguiria por ser impossível algo que não estar lá enxergar alguma coisa. E tudo o que ele sentia era o buraco para dentro de seu crânio quando colocava os dedos lá.
Os dedos de sua única mão, a única que ele agora tinha desde aquele dia.
E naquela noite ele não conseguia dormir direito por conta disto.
Virando-se na sua cama, ele viu a cadeira com rodas ao lado dela. Ele teve dificuldade em se mover para alcançá-la, mas tendo o melhor, tentando pegar e sentar-se nela. Foram vários minutos de tentativas e algumas toses de dificuldade depois ele conseguiu forças o suficiente para ajeitá-la e sentar nela, movendo-se com ela pelo quarto.
Um dos quartos preparados para ele na Mansão de um dos primeiros amigos que ele fez nesse novo mundo — pelo menos ele esperava que fosse seu amigo.
A Mansão Astrea, de seu amigo: Reinhard van Astrea.
O garoto de cabelos negros se moveu recebendo o brilho da luz pelas janelas sobre seu corpo. Ele se viu em frente a um espelho alguns instantes depois, para ver aquela figura horrenda. A figura horrenda que antes era Natsuki Subaru, o filho de Kenichi e Naoko Subaru, alguém que veio do Japão para um mundo de fantasia.
Mas agora?
Ele via alguém irreconhecível; Começando pela sua face, estava sem o olho esquerdo, se mantivesse sua pálpebra aberta, ele era capaz de ver a escuridão do interior de seu crânio. Colocando sua mão direita sobre o seu rosto, ele novamente colocou seu dedo lá, antes de baixar sua mão para o braço esquerdo; que não estava mais lá da altura do ombro até a mão, nada mais estava lá alem de seu ombro.
Movendo sua mão para o seu pijama entregue pelos empregados da casa, ele abriu um pouco. Vendo cicatrizes.
Uma cicatriz no seu pescoço, profunda, que todas às vezes lhe impedia de falar por bastante tempo. Na verdade o impedia de ser quem costumava ser. Já que quando falava muito, ele engasgava, começava a tossir violentamente ou até mesmo sufocava com as palavras e tinha que recuperar o fôlego. E uma cicatriz grande no seu peito, profunda.
Se não fosse só por isso, olhando para baixo, ele via suas pernas: Ou sua perna. Só a perna esquerda, a direita arrancada e o pijama deixavam bem obvio pelo fato de estar caído na cadeira e sua perna estava bastante ferida, que o impedia de movê-la da maneira natural.
Quem antes era Natsuki Subaru agora tinha nem metade de sua forma física.
Um aleijado. Cujos ferimentos mesmo tratados pelo melhor curandeiro do reino, não funcionou para curá-lo de todas suas perdas físicas. Condenando-o a uma vida presa a uma cadeira de rodas, dependendo da bondade humana de outros ao seu redor para sobreviver, pois além dos seus ferimentos; ele mal estava conseguindo se alimentar direito se não fosse forçado pela ajuda dos outros.
Algumas lágrimas ameaçaram cair de seu único olho, enquanto o buraco do outro ardia.
[Subaru: Nã.. chore... idio...]
Ele mal conseguia falar consigo mesmo enquanto tentava enxugar suas lágrimas.
Como ele tinha sido reduzido a esse estado? Ele nunca esqueceria enquanto vivesse.
Começou quando ele conheceu uma meio-elfa chamada Emilia, no seu primeiro dia neste novo mundo, e tentou ajudá-la a recuperar sua insígnia. Quando morreu. Ele descobriu seu poder de Retornar pela Morte naquele dia ao morrer três vezes seguidas na sua tentativa de ajudá-la. E teria morrido mais, se não fosse por também ter conhecido Reinhard naquele mesmo dia ao pedir ajuda para ele quando estava sendo assaltado por três bandidos.
Emilia e Reinhard foram as figuras mais gentis que ele conheceu naquele dia.
E então ele acabou machucado e inconsciente, levado por Emilia e curado como parte do agradecimento dela por tê-la ajudado a recuperar sua insígnia e a salvou de ser morta por Elsa. Sendo levado para a mansão do patrocinador dela, Roswaal L. Mathers, um homem que Subaru considerou excêntrico com maquiagem de palhaço.
Ele também conheceu outras figuras naquela mansão: Beatrice, uma garota loli de cabelos loiros broca, e duas gêmeas; Rem e Ram.
Só lembrar-se delas o fazia se estremecer da cabeça ao pé.
Como pedido por sua recompensa no seu primeiro loop lá, ele pediu um emprego. Trabalhando como mordomo durante alguns dias naquela vez. Ele aprendeu coisas com ambas as garotas, para seu trabalho, assim como aprender a ler e escrever. E no segundo loop ele pediu a mesma coisa, enquanto tentava encontrar uma forma de sobreviver. Até começar a vomitar sangue e sentir uma dor excruciante que só acabou de vez quando teve seu crânio esmagado, antes tendo tido um dos seus braços arrancados.
Isso levou-o a suspeitar que havia um assassino atacando a mansão e os moradores. No terceiro loop, o último da mansão, ele pediu somente ser um visitante.
Após completar alguns dias lá, ele resolveu ir embora. Uma mentira elaborada. Ele pegou uma faca e foi para uma colina com uma visão da mansão, para vigiar. Tentando agir como um herói para ajudar as pessoas que ele conheceu e achou ter feito amizade naqueles dias que se perderam.
Mas tudo não passou de mentira...
Quem matou-o no segundo loop, além dele suspeitar que quem o matou no primeiro loop, foi Rem. A empregada gêmea Oni de cabelos azuis. Ela o atacou, o feriu gravemente, e quando ele tentou fugir, ele teve sua perna arrancada na fuga e o incapacitou-o. Deixando-o a mercê dela para ser torturado durante as próximas horas pela garota.
Golpeado, curado, torturado, destruído. Sua mente e seu corpo destruídos. Pois ele percebeu o quão pouco elas realmente confiaram nele, como tudo o que viveu com elas foi mentira.
E então ele teve sua garganta cortada por uma magia de vento.
Mas por sorte, ele não morreu. Ele entrou em choque por aquilo, pelo dano, e viu seu corpo sendo descartado por Rem e Ram — quem ele percebeu ter sido que tinha atacado-a daquela forma —, descartado em uma cova rasa. Como lixo. Onde elas não perderam seu tempo por quererem voltar para mansão.
Ele sobreviveu.
Sangrando, chorando, machucado.
Ele se arrastou da cova, percorrendo a floresta até chegar na estrada. Um ponto que desmaiou. Talvez por sorte do destino, ele foi encontrado por alguém, que salvou-o, levando-o para Capital alguns dias depois.
Um acontecimento que ele agradecia.
Quando chegou na Capital, ele estava em um lugar onde os Curandeiros foram capazes de mantê-lo vivo, mas não se recuperava. E de alguma forma conseguiu os convencer a entrar em contato com Reinhard ao falar seu nome e onde se conheceram.
Mais rápido do que ele esperava, seu amigo encontrou-o naquele lugar de curandeiros e o tirou de lá e o trouxe para mansão.
Logo depois, Reinhard entrou em contato com Félix para tentar curá-lo naquilo que podia. Conseguindo salvar pelo menos parte de suas cordas vocais para continuar conseguindo falar — mesmo que de forma engasgada e pouco. Mas ele estava condenado a aquela vida na cadeira de rodas, aquela vida de aleijado.
Pois quando morreu novamente, ele se viu fora do loop da mansão.
Sendo aceito na mansão Astrea, ele também foi aceito no Acampamento de Felt, que ficou furiosa ao saber do que aconteceu com ele na mansão. Subaru nunca pareceu tão assustado quanto na vez que viu Reinhard com raiva — ele descreveria como nas vezes que fazia algo idiota e seu pai tinha que o repreender, só que milhares de vezes pior — e quis levá-las a Justiça.
Mas Subaru não queria preocupar Emilia. Então, ele pediu que esperassem mais alguns dias. Para que isso não interferisse na campanha da Eleição da garota que era sua querida amiga.
Um motivo idiota? Talvez.
Só que ele não queria fazer mal contra Emilia. Felt e Reinhard, mesmo que ele vissem estarem desgostos quanto ao pedido dele, aceitaram o pedido dele. De não fazerem nada contra Emilia e suas empregadas até o momento certo. Para não atrapalhar Emilia, mais do que ele achou já ter atrapalhado ao ser levado aquele lugar e o deixado.
Voltando a falar de sua sétima morte, foi na Seleção Real.
Enquanto Reinhard e Felt foram para o Castelo para fazerem sua apresentação na Seleção Real, Subaru foi levado para lá, para encontrar-se com Félix e ele pudesse checar sua situação física quanto examinar seu Portão — já que na primeira vez ele tinha visto o desenvolvimento do Portão de Subaru como de uma criança — e o três se juntaram com ele. No castelo.
Foi lá que ele se encontrou novamente com Ram.
Ela tinha sido levada por Roswaal e Emilia, o encontrando em uma sala que Felt e Reinhard tinham deixado-o para descansar até o final do evento que a garota não queria participar. Ele pensou estar seguro, até ela entrar.
Foi terrível, não pela dor, mas pelas palavras.
[Ram: Sinto muito, Barusu. Não me importa se você é ou não é um Cultista do Culto das Bruxas... mas Rem e Roswaal-Sama são as únicas coisas que me importam no mundo. É meu dever cuidar deles, me livrando das pedras no caminho.]
Uma pedra no caminho? Era só isso o que ele foi reduzido na vista de alguém que ele aprendeu a gostar nos dias que passou com ela, trabalhando juntos.
Subaru chorou antes de ter sua cabeça cortada pela irmã de sua torturadora.
Quando retornou novamente pelo Retorno pela Morte, ele estava se despedindo de Felt e Reinhard antes deles deixarem-no sozinho. E Reinhard percebeu seu estado emocional. Ele tentou inventar uma desculpa rápida, mas no fim ele teve que confessar parte de sua habilidade; Ele não conseguiu contar realmente sobre seu poder, mas o bastante para Reinhard confiar nele o bastante.
Ele foi salvo da sua morte pelas mãos de Ram. Anteontem foi tal acontecimento, que mostrou-o que agora ele nunca mais se recuperaria das dores que sentiu.
Se olhando no espelho de novo, ele sentia-se um inútil. Um inútil idiota. Alguém que confiou sua vida a pessoas que o atacaram daquela forma tão cruel e mostrou-lhe que não confiariam nele de volta. Só por causa do seu cheiro. Um inútil que agora era carregado de um lado para outro em uma mansão gigantesca, sendo tratado como um incapaz, alguém que não conseguia nem mais ajudar no que queria ajudar.
Mesmo que Reinhard dissesse que era para compensar os danos que ele achou ter causado por sua preguiça ao deixá-lo sofrer da maneira que sofreu, Subaru sentia que a culpa ainda era sua.
E ele agora nem conseguia mais confiar direito nas pessoas.
As vezes imaginava as empregas pensando em atacá-lo pelas costas, os mordomos rindo das suas tentativas de ajudar, Reinhard pensando em se livrar dele — mesmo que este último caso ele pensasse tentar que seria impossível, pela perspectiva que tinha do rapaz de cabelos vermelhos. Esperando firmemente sua próxima tortura, como sua próxima morte pelas mãos de quem ele pensava em confiar sua vida.
Subaru sentia dor.
Sentia tristeza, sentia desespero.
Mas ele também sentia um último sentimento.
[Subaru; Mor... morr... morram... mor... morr.... morram...]
Em meio as lagrimas que ele soltava, também estava sua raiva. Seu ódio.
As vezes tarde da noite, ele fazia isso. Se encarar no espelho para ver a atrocidade inútil que ele acreditava ser mesmo antes de ser aleijado, colocando para fora sua tristeza e sua raiva. Raiva contra Rem e Ram, raiva contra as duas irmãs.
Odiando-as. Desejando algo que ele nunca pensou querer desejar para alguém: A morte.
Ele desejava que elas morressem. Desejava que elas alcançassem um fim tão cruel quanto o fim da sua confiança e do seu corpo.
Pois aquele garoto alegre, aquele garoto que animado, aquele garoto que tentava agir tão empolgado quanto seu pai. Se foi. Ele foi esmagado, torturado, cortado. Destruído pelas mãos das duas irmãs empregas Onis da mansão Mathers.
A magia de outro mundo como de empregas sendo destruídas além do concerto para ele.
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