[Emilia: Subaru podemos conversar?]
A garota de cabelos prateados perguntou enquanto olhava para as costas do garoto de cabelos negros no corredor, um pouco nervosa. Tal pedido fez o rapaz parar repentinamente. Com o que pareceu ser um suspiro, ele se virou para encará-la, Emilia estremecendo um pouco sobre o olhar frio e afiado de Subaru.
[Subaru: O que você quer, Emilia-Sama?]
[Emilia: H-Hum.]
Isso a deixou mais desconfortável do que antes.
Antes da Capital, ela receberia um olhar carinhoso dele, que mesmo os olhos assustadores dele não a afetariam de maneira negativa como agora estavam afetando, mas também o modo de falar dele. Um tom polido, ensaiado, como se na verdade quisesse esconder as reais emoções que ele sentia em relação a ela. E a forma de se referir a ela.
“Emilia-Tan~!” tal modo de se referir a ela com extremo carinho, como uma vez ela explicou-lhe com grande empolgação e carinho.
Agora ela parecia estar recebendo um tratamento frio desde os acontecimentos anteriores. Da discussão deles na Capital e da eliminação do Arcebispo da Preguiça na batalha contra o Culto na Vila de Arlam. Onde nenhum dos dois teve um tempo para discutirem os acontecimentos recentes, e Emilia percebeu que ele estava ignorando-a.
[Emilia: E-Eu acho que deveríamos conversar sobre... o que aconteceu.]
[Subaru: Ao que se refere?]
[Emilia: A Capital... nossa briga... e sobre o ataque em Arlam...]
[Subaru: —— O que você quer discutir, Emilia-Sama?]
Ela percebeu que o tom dele se tornou um pouco mais frio quando ela citou tais acontecimentos. Uma reação, mas uma que ela não queria dele.
[Emilia: —— Acho que... nós dois precisamos colocar tudo o que sentimos para fora, não acha?]
[Subaru: Arf! —— Colocar tudo para fora? Nós já não colocamos? Você me dispensou como seu aliado e amigo, me deixando na Capital para ser curado, certo? Isso encerou nosso relacionamento pessoal. —— Eu ainda sou um Servo da Mansão Mathers até receber uma dispensa adequada de Roswaal L. Mathers, o real proprietário dessa Mansão, como das terras em que estamos. E vou cumprir meu papel como mordomo até este momento.]
[Emilia: E-Eu... h-hum... —— Por que você voltou?]
[Subaru: Para salvar as pessoas em perigo contra o Culto das Bruxas, já que você já demonstrou-se incapaz de fazê-lo por si mesma.]
O tom a fez engolir em seco.
[Emilia: C-Como você sabe? Como você sabe que eu não conseguiria lidar com eles?]
[Subaru: Porque você é incompetente demais para lidar com coisas importantes assim, simples assim. E eu demorei a perceber e entender isso.]
[Emilia: D-Do que——]
[Subaru: Não me interrompa, meio-diabo.]
As palavras pareceram uma facada nela. Entre todos, ela nunca o ouviu falar aquelas palavras ou aquele tom de voz ameaçador e frio vindas dele. Como nunca penso que ouviria daquele rapaz alegre que a levou para um encontro na colina cheia de flores.
[Subaru: Desde o dia que nós conhecemos, na verdade. Se não fosse pela minha intervenção de levar o Reinhard até a Casa de Saque, você, Felt e Rom estariam mortas. O que impediria até o inicio da Seleção Real. Porque não havia nenhum cavaleiro lá para te defender, como também posso imaginar que nem mesmo seriam capazes de acabar com ela, se até o Reinhard teve dificuldade. E o pior? As favelas são um lugar tão abandonado pelo governo, que mesmo uma Assassina como aquelas poderia andar livremente e sem problemas de ser reconhecida.]
E era verdade. Já que no seu último loop na Capital, ele se encontrou com ela vagando livremente e não havia nenhum guarda ou cavaleiro lá para fazer a proteção das pessoas caso ela desejasse começar um massacre.
[Subaru: Você tinha uma missão simples como candidata, não tinha? —— Defender o que simbolizava a sua entrada para Seleção Real e mesmo assim você mostrou-se incapaz de fazê-lo. Mesmo que Felt fosse uma ladra habilidosa, você mostrou-se incapaz de proteger algo tão importante? E mais... nem ao menos tentou obter ajuda dos cavaleiros? E por que...? Ah, é mesmo. Porque nenhum cavaleiro moveria um dedo para ajudá-la por causa da sua aparência, enquanto eu fiz isso mais de uma vez. —— Se você tivesse morrido naquele dia... imagino o estrago que teria acontecido. Duas candidatas escolhidas pelo Dragão morrendo no chão sujo de uma Casa de Saques esquecida em uma Favela? Que ironia.]
O rapaz nem citando o que Puck teria feito quando Emilia morresse que seria destruir toda Capital com gelo. Uma morte que ele bem sabia.
[Emilia: Como pode saber se eu e o Puck——?]
[Subaru: Como eu sei que vocês falhariam em vencer ela...? Sendo sincero, não é obvio? Ela tinha uma capa que protegeu-a dos seus ataques e do Puck, como também era mais habilidosa em combate corpo do que todos que estavam naquela Casa de Saques, e sobreviveu a um ataque do Rein. Ou se esqueceu dessa última parte?]
[Emilia: ——]
Emilia engoliu em seco, lembrando-se bem daquela batalha. Como Elsa facilmente estava dominando ela, Felt, Rom e Subaru, especialmente quando Puck teve de sair após dar o seu horário combinado no contrato entre eles, assim como ela sobreviveu ao ataque poderoso de Reinhard.
[Subaru: Nem falando de suas capacidades de competência pessoal, luta e sobrevivência, vamos citar os eventos do ataque na Vila de Arlam? Se não fosse por mim e por Rem conseguindo resolver tudo, quantas pessoas teriam morrido por causa de você e Roswaal? Independente da desculpa que der... a responsabilidade seria sua.]
Ele apontou para ela de maneira acusadora, a fazendo dar um passo para trás com espanto.
[Subaru: Dentro dos domínios do seu patrocinador, as pessoas que se encontram sua responsabilidade para mantê-los vivos. Especialmente porque poderia ser um ataque direcionado intencionalmente para matá-la ou enfraquecê-la politicamente por mostrar sua falta de competência para defender o seu povo, mesmo os que estivessem perto de você. —— O que seria verdade, se, de novo, eu não estivesse aqui para ajudar e resolver tudo para você com a ajuda de Rem, Ram e enfim de Roswaal.]
O tom dele se tornava mais e mais frio conforme falava essa última linha, a fazendo sentir um arrepio na espinha.
[Subaru: Falando da Capital... Talvez eu tenha feito uma promessa com você para não me envolver, talvez eu tenha sido arrogante em falar o que falei? Mas quer saber? Se eu tivesse que me arrepender de algo seria: Proclamar-me seu cavaleiro.]
Os olhos de Emilia se arregalaram um pouco.
[Subaru: Sério... Os Cavaleiros são uma vergonha. Não protegem as pessoas na favela, as ignoram. Aquele Félix não é o maior curandeiro do reino e ele não se digna a tentar ir ajudar as pessoas naquele lugar? Por favor, ele já vive em uma mansão. Se fosse por medo de ser atacado, ele ainda tem o Wilhelm e outros para defendê-lo, mas... acho que o medo de sujar o vestido que a dona deu para ele é horrível demais ao ponto dele nem ligar para os doentes naquele lugar que choram de fome e dor.]
[Emilia: ——]
[Subaru: Intitular-me igual a eles... incapazes de proteger as pessoas que estão perto de si e o maior feito deles nesses últimos 400 anos foi a eliminação de UM único Arcebispo, enquanto eu consegui permitir e eliminar uma das três grandes bestas quanto outro Arcebispo. Um Arcebispo que teria massacrado todos vocês e então tudo teria sido extremamente pior para todos no mundo por um problema que nem você seria capaz de compreender por ser “inocente” demais para compreender.]
A citação de “inocente” foi algo dito em um tom tão completamente cheio de malicia e um desdém que magoou ainda mais o coração da meio-elfa.
[Subaru: Pior ainda... Eles viram você ser insultada daquela forma e o que fizeram? Nada. —— Aquele babaca do Julius me ofendeu, ofendeu o Al, dizendo que nós não poderíamos ser cavaleiros. E os nobres e um daqueles do Sábio te atacaram com insultos cruéis. Mas ninguém fez nada. Nem você fez nada, para defender-nos ou a si mesma em meio a algo tão degradante. Se é ofensivo um plebeu se proclamar um Cavaleiro, quão ofensivo deveria ser um nobre atacando uma Candidata a ser o próximo governante desse país? E ainda sou o que estava errado em protegê-la daqueles insultos? Caso fosse por me dizer um Cavaleiro, foi porque eu não sabia o real peso... o peso de ter que ser um bando de arrogantes que se vestem bonito e não intervém para ajudar os outros a menos que tivesse algo a ganhar.]
Os olhos dele ficaram vazios quando ele falou as próximas palavras.
[Subaru: E você? Simplesmente me deixou lá sem nem ao menos deixar-me explicar direito o que eu realmente estava sentindo. —— Talvez tenha sido idiota dizer que eu fiz tudo por você, como se você fosse alguém indefesa. Mas eu estava errado? Sinceramente, porque acontecem tantas coisas ruins quando você está perto e eu não estou lá para resolver. Que eu fiquei preocupado que fosse algo assim acontecer. —— Definitivamente; Minhas razões foram egoístas. Porque eu queria me sentir útil, queria me sentir importante, queria mostrar-me para você na chance de ganhar um lugar no seu coração. Eu não tinha ninguém. Fora você, as pessoas nessa mansão e na vila, eu não tenho nada além disso. Pois nem posso voltar para minha casa e para os meus pais. E por isso tentei me prender a única pessoa que para mim era alguém confiável... pois, sim, idealizei você como alguém que estaria lá para confortar-me em meio a tantas coisas ruins.]
Ela percebeu como as palavras dele soaram mais tristes nas últimas palavras ditas.
[Subaru: Eu te ajudei a recuperar o que você perdeu, salvei sua vida, salvei as pessoas que você mostrou-se incapaz de proteger sozinha e te defendi frente á pessoas que te atacavam com crueldade só pela sua aparência. E fiz porque parte de mim queria se sentir uma espécie de herói... e outra porque me importava profundamente com você como algo mais do que só idealismo. —— Mas você simplesmente me abandonou. Deixou-me quando eu precisava de você, pois a única coisa que fiz foi simplesmente querer ajudá-la. E até voltei para fazer isso de novo! Caramba! Percebe o quão ferrado isso é?! Eu tive que voltar de novo para salvar as pessoas da sua incompetência! E você ainda quer ser uma Rainha?! QUE TIPO DE RAINHA NÃO DÂ UMA CHANCE PARA ALGUÉM QUE JÁ FEZ TANTO POR ELA?!]
A raiva enfim transpareceu para fora do jovem de cabelos negros, que fez a garota recuar um pouco. Assustada com a súbita explosão. E mesmo que ela fosse fisicamente mais forte, como mais experiente em combate, como mais poderosa com sua magia; ela sentiu a força que vinha da raiva ameaçadora dele e da fúria daqueles olhos.
[Subaru: Então se você quer saber por que eu voltei?! —— Não voltei porque queria ser um herói para você, se é o que estava pensando. Não. Voltei para salvar as pessoas da Vila de Arlam, voltei para salvar Ram porque sabia o quão triste Rem ficaria se ela morresse, porque Roswaal ou você não seriam capazes o bastante para os defender, e vim para mostrar meu ponto para você e para todos aqui. —— Sem mim para limpar suas bagunças, você seria só uma líder incapaz com pilhas de corpos aos seus pés. —— A partir deste momento; Não se preocupe mais comigo agindo com tanta intimidade ou me proclamando como um cavaleiro de armadura brilhante e não se preocupe comigo te tratando como se fosse uma figura sem defeitos. Ficarei aqui até o Ros-Chi voltar. Caso ele escolha me demitir, irei embora sem nenhuma pendência. Pois foi o verdadeiro dono dessas terras que me expulsou. Caso ele escolha que eu fique, vou ficar.]
Ele se virou e voltando a ficar de costas para ele.
[Emilia: S-Subaru...]
[Subaru: Vou servir como mordomo até lá, Emilia-Sama. Não precisa hesitar em me pedir coisas do tipo. Mas não me chame mais de Subaru, na minha terra natal, o primeiro nome só é usado para aqueles com intimidade. —— Pode me chamar de Natsuki ou de mordomo ou de qualquer coisa. Só não me trate mais como se fossemos amigos próximos ou sequer como conhecidos amigáveis. Sou apenas um simples mordomo... que limpa todas as bagunças dos meus chefes. Tenha uma boa noite, Emilia-Sama.]
Dita as últimas palavras com um tom polido de respeito forçado, ele começou a andar pelos corredores. Deixando-a sozinha para refletir sobre suas palavras. Os olhos de Emilia ficaram marejados antes de começarem a derramar algumas lágrimas, triste. As palavras do garoto perfuraram o coração dela mais profundamente do qualquer outro insulto já lançada contra ela em sua vida por aqueles ao seu redor.
As palavras gentis, o olhar terno, o tom amável que ele tanto usava com ela.
Ela percebeu naquele corredor que tudo aquilo estava perdido, que ela talvez nunca mais pudesse receber tudo o que perdeu antes. Tudo porque ela acreditou naquele dia que; Subaru estava arriscando-se demais por ela, dando-lhe um tratamento especial que ela nunca quis ou achou merecer vir de outra pessoa e viu tudo o que aconteceu de ruim com ele como sua única e exclusiva culpa.
Ele agora via o que ela antes viu. Mas ele viu mais nela, viu o egoísmo em ser incapaz de lidar com algo e simplesmente o deixar para trás pelo próprio desejo egoísta mesmo ao ver o desespero dele naquela cama.
Agora?
Emilia se viu em um estado pior do que antes. Pois a única pessoa que não desgostava de sua aparência além de Puck, agora a tratava como se fosse só um peso morto a ser carregado e salvo de si mesma e de seus erros.
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