Eu era o filho de Natsuki Kenichi, Natsuki Subaru.
Minha vida era perfeita na infância. Eu tinha os pais mais incríveis, o pai mais perfeito do mundo e eu era capaz de acompanhá-lo sem problemas. Pois era rápido, pois era inteligente, pois era o melhor entre todos aqueles ao meu redor. Igual ao meu pai. Eu conseguia me ver me tornando igual a ele, poderia me tornar alguém tão incrível quanto ele.
Mas... logo pessoas mais inteligentes, habilidosas e melhores apareceram.
Por isso eu desesperadamente tentava conseguir a atenção de todos. Fazendo coisas que ninguém mais faria, seguindo em frente nos caminhos mais perigosos que aqueles que não tinham coragem de seguir. Pois eu queria manter aquela atenção, porque eu queria manter o olhar de todos sobre mim. Tudo para ser igual ao meu pai perfeito.
Mas... logo me vi sozinho.
Sem ninguém querendo ficar perto de mim, ninguém querendo falar comigo. Todos se forçando quando eu entrava para conversar com eles. Até me lembro quando entrei em uma festa de aniversário de um colega meu porque pensava que tinham se esquecido de me convidar, mas não, e depois disso, quase nunca, melhor, nunca mais fui convidado para alguma festa de aniversário ou evento dos meus colegas. Mais me afundava na minha solidão, no meu isolamento pelos meus erros.
E quando cresci, quando entrei em uma nova escola. Eu pensei que poderia recomeçar. Até comecei a ler, ver, animes, mangas, etc., e encontrar coisas que pudesse me conectar com as outras pessoas, mesmo que só um pouco. Tudo com a mesma personalidade e atos que meu pai, que ainda era meu grande exemplo para o tipo de pessoa que queria me tornar.
Mas... novamente me vi naquela situação.
Não importa o quanto eu tentasse, não importa o quanto me esforçasse, não importa com quem eu tentasse me enturmar. Não tinha ninguém. Não havia uma pessoa sequer naquela escola que me queria por perto, não tinha nenhuma pessoa que queria como um amigo ou coisa parecida.
Eu era um fracasso. Um fracasso como estudante, um fracasso como pessoa. Um fracasso como filho.
Não conseguia me tornar igual ao meu grande pai: Kenichi Natsuki.
Eles ainda eram carinhosos comigo, ainda me tratavam bem, ainda cuidavam de mim como sempre fizeram. Ainda me tratavam bem, mesmo eu sendo um filho inútil. E o pior? Mesmo que não quisesse, sabia que eles faziam isso por realmente me amarem. Eles me amavam mesmo eu sendo um inútil fracassado, me amavam mesmo quando eu não era capaz de fazer nada de maneira perfeita, me amaram mesmo quando eu desisti de tudo para me tornar um preguiçoso preso no meu quarto.
E eu não queria isso. Queria que eles ficassem com raiva de mim, queria que eles me odiassem. Queria que eles me chamassem de inútil e me forçassem a me esforçar. Mas eles foram carinhosos, foram pacientes. Eles eram carinhosos e queriam acreditar em mim, mesmo quando eu demonstrava nenhum pingo de potencial para ser igual ao meu pai.
Não importava o quanto tentasse, não conseguia.
Não conseguia seguir em frente, não conseguia prosseguir, não conseguia me tornar a figura perfeita do filho que eu sabia que eles mereciam. E me irritava o quanto eles me amavam. O quão sortudo eu era de tê-los comigo, o quão abençoado foi nascer de pais tão incríveis e compreensíveis que poderiam simplesmente me descartar quando não me quisessem mais e começarem de novo.
E minha inutilidade me levou até aquela noite. Quando fui comprar alguns mantimentos para mais uma maratona dentro do meu quarto, só para eu ser atropelado por um caminhoneiro bêbado.
Um fim patético para o filho de Kenichi Natsuki.
E eu... queria que eles não chorassem por mim... queria que eles seguissem em frente e tivessem um novo filho, uma nova chance de terem um filho que fizesse jus a quão incríveis eles são... queria pensar que eles não ficaram tristes por mim...
Porque eu odiaria pensar que fui à dor deles. Porque eu era um filho inútil em vida e não queria ser um fardo mesmo na morte.
Esse era quem eu fui... Natsuki Subaru.
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Eu era Subaru, uma das Armas Definitivas da Vila.
Minha vida nunca foi perfeita na minha infância onde eu nasci. Pois desde o momento que ganhei consciência dos meus arredores percebi que nunca seria feliz de verdade com aqueles que me rodeavam naquela época. Quase ninguém era como eu? Não, ninguém era como eu.
Como um Oni de três chifres, nasci como a maior anomalia que já nasceu. Maior até do que minha Nee-Sama, que nasceu com dois, pois era um ser que nunca antes foi registrado.
Sendo assim, fui tratado diferente, fui tratado como se meu nascimento determinasse que eu faria somente coisas gloriosas e minhas habilidades sempre seriam perfeitas. E eu tinha que manter isso. Porque fui ensinado dessa forma, porque fui educado para acreditar que eu deveria ser assim. Um ser perfeito para representar nossa raça. Mas era muito solitário, era horrível.
Porque ninguém me compreendia, porque ninguém via nada além de uma simples arma perfeita. Ninguém parecia querer ver nada mais do que isso. Eu mesmo acreditava ser somente isso.
Até conhecer Rem e Ram.
Enquanto Ram era alguém que poderia me identificar, Rem era diferente. Rem nasceu com um único chifre e menor do que a maioria dos outros Onis. Alguém que sobreviveu somente pela proteção de sua irmã gêmea. Foi assim como as conheci, era assim que as via. Até compreendê-las melhor. Porque era tão solitárias quanto eu, eram tão pouco amadas quanto eu.
Uma que era para ser uma arma perfeita e outra que era vista como um inconveniente.
Mas acho que se fosse ver sobre importância em outras áreas, desde aquela época, Rem era a melhor de nós. Pois mesmo sem chifres extras, era capaz de realizar tarefas mais eficientes do que nós; se dedicava mais do que jamais me dediquei — ou me pediram para me dedicar —; e mostrava ser capaz de fazer tudo aquilo que se dispunha a aprender com total concentração. Alguém que ninguém tinha expectativa, mas era talentosa em várias áreas que mesmo nós, prodígios abençoados, não éramos.
Eu sentia um pouco de inveja dela por isso.
Porque nascer como “perfeito” não valia a pena, não quando todos esperam tanto de você e sente que não quer viver para corresponder as expectativas das pessoas que só se importam com seu talento, não você em si. Por isso eu acho que comecei a gostar tanto dela. Rem era alguém incrível, habilidosa, capaz de realizar as coisas sem a necessidade de algum poder especial de nascença, e uma garota extremamente... fofa para dizer o mínimo.
Então aconteceu.
O ataque do Culto das Bruxas. Vários cultistas atacaram nossa vila, atacaram nosso povo. E eu nada pude fazer mesmo com minhas habilidades. Pois quando vi as pessoas morrendo, vi os horrores que aqueles seres causavam, vi o sangue, eu acabei perdendo meu controle. Usando meus três chifres.
Quando dei por mim, eu não estava mais lá. Minha vila tinha sido destruída isso pude compreender mais tarde mesmo estando distante dela, e imaginei que Rem e Ram tinham morrido.
E foi quando conheci Mazeran Suwen, um comerciante.
Ele me acolheu em sua carruagem quando me viu na estrada, me levou para sua casa em sua cidade natal, me apresentou a sua família, me alimentou, me vestiu. Pude conhecer sua família. E ele cuidou de mim com carinho como se fosse membro de sua família, mesmo sem termos o mesmo sangue. E... foi o melhor momento de minha vida.
Mesmo sem Rem e Ram que eram as melhores pessoas da vila que nasci, aqueles momentos foram preciosos para mim. Pois não esperavam nada demais de mim.
Eles me educavam, me ensinavam o que sabiam, me deram chances para tentar ser mais do que uma Arma Perfeita. E sinceramente? Eu sinto que pude mostrar habilidades quase iguais da Rem! Limpando a casa, ajudando na comida, ajudando as lavas as roupas, ajudando nos negócios como recebendo as pessoas, etc. Framir, minha “mãe”, até me elogiava por minha dedicação quando cozinhei alguns pratos de carne com a minha maravilhosa criação: Maionese, um molho especial que desenvolvi com base em memórias de coisas que não entendia — mas agora compreendo.
Foi perdendo minha vila, o meu povo, e pela gentileza de um homem que não precisava me ajudar quando me viu caído naquela estrada. Foi isso tudo o que me levou até onde estou hoje, onde pude reencontrar Rem e Ram novamente.
E esse é quem eu sou atualmente... Subaru Suwen.
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Naquela paisagem mental, era possível se ver novamente aquelas duas figuras. Não mais seres etéreos e sim suas imagens reais. Um humano usando seu agasalho esportivo e um oni usando seu quimono modificado para si. Os dois se encaravam, olho no olho.
[Natsuki: Você deve estar decepcionado com quem você foi, não é?]
[Suwen: Não. Na verdade, não. Sinto até inveja dos seus pais.]
[Natsuki: E eu da sua força... por mais que eu tenha visto o preço do que significa tê-la...]
Os dois baixaram suas cabeças, cada um com pequenos sorrisos tristes em seu rostos.
[Natsuki: Não agüentava ser incapaz de ser o que pensava que os outros queria.]
[Suwen: Não agüentava ter que ser o que todos queriam que eu fosse.]
[Natsuki: Eu amava meus pais, pois eles eram incríveis. E eu sabia que mesmo que falhasse, eu poderia contar com eles e... me fazia sentir-me pior. Porque eu queria que eu queria que eles me vissem como eu me via... um fracasso.]
[Suwen: Eu não amei os pais que me deram a luz, mas amo os pais que cuidaram de mim. Porque eles não me viam como um ser que deveria representar nossa raça, não deveria ser uma arma perfeita, não deveria fazer de tudo em nome de algo que me isolava... Porque eles me viam como eu e não como ‘aquilo.’]
Ambos disseram um após o outro e começaram a se aproximar.
[Natsuki: Eu... me arrependo de não ter dito para eles o quanto eu os amo.]
[Suwen: Eu entendo. Depois do que você me disse, eu amo mais minha nova... Não, minha primeira família de verdade, depois de Rem e Ram. Eu amo o carinho e a gentileza que me deram e ensinaram a dar aos outros.]
[Natsuki: Eu... me arrependo de não ser capaz de ter sido o filho que eles queriam.]
[Suwen: Todos se arrependem de não serem capaz de atender as expectativas dos outros, mas as vezes, existem pessoas, que ficarão felizes só de terem você por perto, seja você perfeito ou não. E eu pude aprender isso novamente quando vim aqui, quando conheci você. Amo a minha família ainda mais.]
[Natsuki: Eu... queria ter tido a chance de mudar minha vida...]
[Suwen: Quem não quer mudar sua vida? Quem não gostaria deter uma segunda oportunidade? E eu fui abençoado com isso mais de uma vez... Quando você se foi e eu nasci... e quando descobri que mesmo sendo forte, até eu posso perder... e mais do que simplesmente minha vida, mas aqueles que me são importante.]
Os dois estavam frente a frente.
[Suwen: Obrigado, Natsuki Subaru. Pude aprender mais sobre mim do que jamais pensei que poderia aprender mais, e entender algo que nunca pensei ser possível. E graças a você... Amo todos ao meu redor ainda mais! E prometo dizer isso para eles, de novo, de novo e de novo. Porque eu não quero me arrepender no final de minha vida!]
[Natsuki: ——. Entendi. Subaru Suwen, fico feliz de saber que meu outro eu não vai errar como esse Hikikomori vagabundo.]
Ambos riram um pouco, antes de baterem as mãos. Se cumprimentando com um aperto. Sorrindo, encarando um ao outro, com o aperto firme, ambos chegaram na mesma resolução.
O passado não podia ser mudado.
O passado moldou-os em quem são agora.
O passado de cada um eram opostos e mesmo assim os marcaram.
Mas agora, cada um pode compreender o peso que eles levavam. Natsuki Subaru mostrou o peso de uma vida de alguém cuja as expectativas das pessoas estavam em sua cabeça; Subaru Suwen mostrou o peso de uma vida de alguém cuja as expectativas das pessoas realmente estavam sobre seus ombros.
Cada um tinha suas falhas, como cada um tinham suas habilidades. Mas ambos tinham uma coisa em comum: Pessoas importantes que os apoiariam, quer fossem perfeitos ou não. E isso os fez amá-las ainda mais.
Naquele Santuário... o passado tinha sido reconciliado.
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