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História Rebel Heart - Confidence


Escrita por: MillyFerreira

Notas do Autor


☞ Desculpem-me qualquer erro. Boa leitura!

Capítulo 33 - Confidence


Fanfic / Fanfiction Rebel Heart - Confidence

Hit me up late, always be blowing up my phone
(Você me liga tarde, meu telefone fica sempre tocando)


I'm lying awake wondering why I'm still alone
(Estou acordada pensando por que ainda estou sozinha)


Lord knows I am sinning, please forgive me for my lust

(Deus sabe que estou pecando, por favor, perdoe minha luxúria)


Sending pictures back and forth, babe, I'm craving your touch

(Mandando fotos o tempo todo, amor, anseio por seu toque)


Cantei cada letra da música com força, dançando e rebolando pelo quarto com uma escova na mão, imaginando ser um microfone, enquanto dava o meu show particular. A verdade era que eu estava muito feliz, radiante era a palavra certa. Nada poderia tirar o sorriso do meu rosto. Puta que pariu, a sensação era boa demais! Parecia que o sangue corria mais quente pelas minhas veias, distribuindo adrenalina e energia por cada célula do meu corpo.

Pulei em cima da cama e cantei:


You're my new obsession

(Você é minha obsessão)


Let go of any hesitation

(Deixe para trás qualquer hesitação)


Baby, be my new addiction

(Querido, seja meu novo vício)


Intoxicate me gently with your loving

(Intoxique-me gentilmente com seu amor)


You got me so high

(Você me deixa tão louca)


Pull me closer into you and watch our bodies intertwine

(Puxe-me para perto e veja nossos corpos se entrelaçarem)


I feel so alive

(Eu me sinto tão viva)


You know what I'm thinking of

(Você sabe no que estou pensando)


Got me dreamin' 'bout that sexy dirty love (sexy dirty love)

(Você me faz sonhar com aquele amor sexy e safado) (amor sexy e safado)


Sexy dirty love (sexy dirty love)

(Amor sexy e safado) (amor sexy e safado)


Sexy dirty love (sexy dirty love)

(Amor sexy e safado) (amor sexy e safado)


Sexy dirty love (sexy dirty love)

(Amor sexy e safado) (amor sexy e safado)


A porta do meu quarto abriu de repente, revelando um Isaac de sobrancelhas juntas e testa franzida.

— América? — Ele chamou, mas quando seus olhos pararam em mim em cima da cama, seu rosto se contorceu em uma careta engraçada. — Você enlouqueceu?

Abri um sorriso e apontei para ele.

— Canta comigo, vamos lá: Now you're teasing me and I can't help but do the same, whispering through your phone, now you're driving me insane. It's like you're getting off messing with my sanity, hang up, come on over, let's play out this fantasy…

— O que deu em você hoje?

Peguei um travesseiro e arremessei em direção a porta.

— Sai daqui!

Isaac fechou a porta e o travesseiro bateu contra a madeira, e depois seu rosto voltou a aparecer, contorcido de diversão e confusão.

— É melhor você descer logo antes que a mamãe te coloque num hospício — zombou ele.

— Ela pode fazer o que quiser, eu estou muito feliz! — Joguei-me na cama e a mesma rangeu com o meu peso caindo sem freios contra o colchão macio e caro. Meu sorriso era tão grande que eu sentia minhas bochechas doerem de tão salientes. Eu estava pouco me fodendo.

— Tá legal, posso saber o que aconteceu para a senhorita estar tão feliz? — perguntou ele, intrigado.

— Fecha a porta quando sair — cantarolei, ignorando sua pergunta.

— Não conta então. — Murmurou em tom sarcástico e fechou a porta com um clique suave.

Virei-me de bruços e agarrei o travesseiro, meu coração estava tão leve agora, eu me sentia flutuando como se minha alma estivesse fora do corpo, sobrevoando por um caminho de flores e folhas laranjas de outono. Era insano estar amando. Amando de verdade. Achei que tinha amado antes, mas eu estava enganada: eu descobri que era amor quando soube que estava disposta a dar a minha vida por aquele a quem meu coração pertencia. Deitei a cabeça sobre o travesseiro e declarei, com os olhos queimando em um brilho que fluía de dentro de mim:

— Eu também te amo, Justin.

Fiquei mais um pouco na cama escutando a playlist aleatória do pendrive conectado no meu notebook, e decidi levantar quando meu estômago roncou em protesto e fui para o banheiro ao som de Wouldn’t Change a Thing, deixando a porta aberta para poder escutar. Que é? Eu também tive meu momento Disney e amava/amo Camp Rock. Despi-me e entrei debaixo do chuveiro com a letra da música na ponta da língua. Eu já mencionei alguma vez que eu amo Demi Lovato? Pois é, eu amo.

Voltei para o quarto, depois do banho, enrolada numa toalha, meus pés guiando-me de um lado para o outro em movimentos eletrizantes ao som do remix de Finesse , e me perdi dentro do closet no momento seguinte, as paredes abafando o som, mas ainda dava para ouvir e cantarolar junto. Escolhi um short de tecido mole estampado e uma camiseta preta, e depois de calçar os chinelos e prender o cabelo num coque folgado, desci para o primeiro andar da casa e juntei-me à minha família na sala de estar, o almoço já estava sendo servido.

— Que cara é essa? — indagou Amélia quando me sentei entre ela e Isaac.

— Quê? — Olhei para ela, confusa.

Ela se inclinou na minha direção, afagando o queixo.

— Andou passando algum creme novo no rosto? Sua pele está radiante — disse ela.

— Sabe como é, é natural — dei de ombros, com meu ar egocêntrico.

— A sua irmã tem razão, filha — reforçou mamãe. — Está com um brilho diferente no olhar.

— Cantante… — Isaac resmungou.

Apenas dei de ombros e me inclinei sobre a mesa para encher o meu prato. Mamãe tinha feito macarrão com almôndegas, o cheiro estava incrível, ela era a melhor cozinheira que eu conhecia — exceto quando fazia o bolo de carne. Mastiguei pacientemente sem muitas interferências na conversa alheia, apesar de, uma hora ou outra, tentarem arrancar a verdade de mim.

— O que tem no sábado? — Intrometi-me, prestando atenção repentinamente na conversa.

— A sua mãe vai fazer um jantar para o Isaac apresentar a namorada, e Amélia, o namorado, à família — papai respondeu com o rosto um pouco contorcido, ele era muito protetor quando o assunto se tratava das suas filhas.

Olhei para Isaac e depois para Amélia.

— Vocês estão namorando? — perguntei.

— Eu conheci uma pessoa na faculdade — disse Amélia.

— Eu já te contei sobre a Lena, então… — Isaac deu de ombros.

— Nossa. — Resmunguei.

— É, maninha, você está bem atrasada — zombou Amélia.

— Eu não estou atrasada — defendi-me. — Eu também tenho alguém, se quer saber. — Deixei escapar sem querer, e quando me dei conta era tarde demais, e encolhi os ombros quando a atenção de todos se voltaram para mim e o silêncio parecia me engolir. — Que é? — Tentei tratar do assunto com irrelevância, mas eu sabia que minhas bochechas estavam vermelhas pela intensidade que elas queimavam.

Papai foi o primeiro a se pronunciar:

— Você está namorando, filha?

— Er… — olhei para o meu prato, futucando a comida com o garfo. — Não. Quer dizer, não sei, é complicado.

Arrisquei erguer a cabeça e todos me olhavam boquiabertos.

— América, isso é muito… bom. — Disse mamãe, voltando para a realidade. Seus olhos chegavam a brilhar de entusiasmo. — Quem é o rapaz? Por que não traz ele aqui no sábado também?

— É que… bem… não é a hora certa ainda, sabe? Hum, er, estamos indo com calma. Por favor, não forcem a barra, eu não quero, bem…

— A gente entende, filha — mamãe me tranquilizou. — Leve o tempo que quiser. — Ela me ofereceu um sorriso doce, e eu tinha certeza que minhas bochechas estavam nas mesmas condições do meu cabelo.

— Tenho certeza que é o fotógrafo gostoso — Amélia provocou.

— O quê? — Lancei um olhar de ódio para ela, amaldiçoando aquele sorrisinho que ela carregava no canto da boca.

— Eu vi o seu mural de fotos e…

— Você andou xeretando o meu quarto? — exclamei.

— Ei, ei, ei, por favor, não quero brigas na hora do jantar — mamãe interferiu. — Vamos respeitar o tempo da Meri, ok? Se ela não quer falar sobre isso agora, não vamos perguntar sobre isso agora, estamos entendidos?

— Sim, mamãe — meus irmãos responderam em uníssono.

— Ótimo.

— Obrigada. — Murmurei, voltando a atenção para o meu prato, depois de olhar, de soslaio, para a expressão inquisitiva do meu pai. Eu tinha certeza que a conversa não acabou ali.

Mais tarde, trancada na proteção das paredes do meu quarto, meu telefone tocou em cima da cama, era Easton.

— Easton, aconteceu alguma coisa? — perguntei preocupada.

— Eu é que pergunto — sua voz surgiu abafada do outro lado da linha. — Você saiu daqui feito um furacão, dizendo que ia matar o Justin ou sei lá o quê, fiquei preocupado…

— Eu estou bem, Easton.

— Não… fiquei preocupado com ele. Deus me livre da sua ira do cão!

Soltei um risinho e deixei o meu corpo cair contra o colchão.

— Você não socou a cara dele, socou? — perguntou ele.

— Pode apostar que sim.

— América! — repreendeu-me, me fazendo soltar mais uma risada. — Jesus!

— Ele mereceu.

— Mas que diabos aconteceu?

— Ele queria conversar comigo, a gente acabou brigando por telefone e eu fui encontrá-lo… Bem, antes que ele falasse alguma coisa, eu soquei a cara dele — respondi, sorrindo ao ouvir seu riso em seguida. Era tão bom fazê-lo rir quando ele estava tão fraco…

— Estou imaginando a cara de idiota do Justin. Você é a mulher mais maluquinha que eu conheço.

— E você me ama desse jeito — ergui a sobrancelha involuntariamente.

— É, eu amo.

Abri um sorriso.

— Mas falando sério agora… Vocês não brigaram de novo, brigaram? — Seu tom era apreensivo agora.

Prendi o fôlego por alguns segundos e depois soltei em um suspiro sonhador.

— Ele disse que me ama, Easton — o sorriso tornou a rasgar o meu rosto.

Do outro lado da linha, eu sabia que ele tinha prendido o fôlego também.

— Puta que pariu! — berrou, e logo depois, murmurou: — Desculpe, mamãe.

Soltei um risinho.

— Caramba, América, como você está?

— Como eu estou? — testei a pergunta com um sorriso nas palavras. — Eu estou, puta que pariu, eu estou muito feliz!

Foi a sua vez de rir.

— Vocês estão namorando agora? Assumiram um relacionamento? Meu Deus!

— Er, não.

— Não? Como assim não?

— O Justin me magoou muito, East. Quero que ele soe até o último segundo.

— Entendo o que você quer dizer. Isso é muito malvado da sua parte. Mas você sabe que não vai aguentar por muito tempo, né?

Abri um sorriso.

— É, eu sei, mas ele não precisa saber disso, certo?

— Você é muito cruel — ele riu. — Por favor, não faz nenhuma merda, não aguento mais essa ladainha. Se vocês não ficarem juntos pra valer dessa vez, eu mesmo trato de dar um tiro em vocês dois.

Achei graça.

— Pode deixar, mocinho.

— Eu… — ele fez uma pausa e depois suspirou. — Mas já? Só mais um segundo… — bufou de irritação, estava falando com outra pessoa. — Ok, ok, já estou indo… Meri?

— Em carne e osso.

Ele suspirou.

— Preciso ir. Vão me cedar para dormir… de novo.

— É necessário, East — lamentei. — Você sabe que é.

— Eu estou melhor — retrucou.

— Mas não cem por cento. Não queremos levar outro susto, não é?

— Chata.

— Eu também te amo. — Zombei. — Eu vou desligar agora, vou deixá-lo descansar. Amanhã, depois da escola, eu passo aí para te ver, ok?

— Se eu disser para você ir para casa não vai adiantar mesmo, então, até amanhã — disse ele, sarcástico.

Dei risada.

— Mas não ache que está livre de mim, quero saber dessa história direitinho — acrescentou.

— Sim, senhor! Mais alguma coisa, ó soberano?

— Vai se ferrar, América! — resmungou.

Soltei um risinho.

— Boa noite, East.

— Se cuida. — Ele encerrou a ligação.

Deixei o celular em cima da mesa de cabeceira e rastejei-me até o travesseiro, afundando a cabeça no mesmo depois de trazer o edredom para cima do meu corpo. Estiquei o braço e desliguei o abajur. Meus olhos pesaram na escuridão e deixei que o sono me levasse com um leve sorriso no rosto, sabendo que sonharia com Justin pelo resto da noite.

                                    ≈ ≈ ≈

Tentei não ser esmagada pela multidão que tentava passar ao mesmo tempo pela porta e segui, com a atenção voltada para o celular em minhas mãos, para a minha mesa. Escorreguei para a minha cadeira, distraída, até que, pelo canto do olho, algo reluzente me chamou a atenção. Ergui o olhar do celular a tempo de ver uma linda tulipa vermelha ao lado de um bilhete. Olhei ao meu redor, em busca do responsável por aquilo, mas eu sabia que ele não estava por perto. Abri um sorriso, voltando-me para a mesa, sabendo exatamente de quem se tratava, e segurei o cartão de textura delicada. A sua caligrafia era insubstituível, e ele não precisava assinar para me mostrar quem era, sua identidade estava nas suas palavras.

A distância permite saudade mas nunca o esquecimento, por mais longe que você esteja, sempre estará no meu pensamento.”

Um sorriso embasbacado tomou conta dos meus lábios, o mesmo que me perseguia desde sua declaração de ontem. Suas palavras eram tão doces quanto necessitadas, ele precisava de mim, assim como eu precisava dele. Era extremamente reconfortante. Segurei a única flor, a maciez das pétalas massageando meus dedos, uma lembrança de que ele sempre estaria ali para mim.

Pela primeira vez não prestei atenção na aula, minha mente estava divagando para muito longe, para o momento em que me jogaria em seus braços e sentiria a maciez dos seus lábios. Eu precisava ser forte, se não seria a vítima da minha própria mente que criou algum tipo de necessidade cruel por um único e exclusivo par de olhos. Quando finalmente o sinal bateu indicando a hora do almoço, agarrei a mochila depois de guardar o cartão e enfrentei o mar de pessoas pelos corredores, animados pelo segundo turno do jogo de futebol que aconteceria depois das aulas. Guardei minhas coisas dentro do armário e deixei a rosa presa em um elástico sobre a parede metálica ao lado do pequeno espelho, agradecendo mentalmente por Rosie ter decorado meu armário com utensílios úteis quando eu tive preguiça de fazê-lo.

— Bom dia, gente — cumprimentei o meu casal preferido tentando disfarçar a decepção de não encontrar Justin sentado ali.

— Bom dia, Meri, vai ficar para o jogo hoje? — perguntou Eggsy.

— Não, não vou ficar. — Respondi.

— Como tá o Easton? — perguntou Rosie.

— Um pouco melhor — retraí o canto da boca.

— O que aconteceu com o Easton? — Eggsy se intrometeu, curioso.

Rosie apenas segurou o queixo do namorado e beijou os seus lábios, e depois voltou a atenção para sua bandeja. Eggsy olhou para ela e depois para mim, confuso, mas não fez mais perguntas, deixando o assunto de lado. Ele era o meu amigo, mas eu não podia falar sobre uma dor que não era minha, eu precisava respeitar o espaço de Easton, antes de tudo.

— Estou com fome — olhei para a cantina e depois voltei-me para Eggsy com um sorriso pidão. — Eg, você sabe que eu te amo, né…

— Não, nem vem, não vou ser um dos seus capachos — ergueu a mão em rendição como se estivesse recuando.

— Por favor — fiz biquinho. — Não é elegante deixar uma dama com fome enquanto você está com a bandeja cheia de comida.

— Pede para alguém do time de futebol, eles estão te comendo pelas costas agora — desdenhou.

Não fiz questão de olhar.

— Eg — choraminguei mais uma vez.

Ele olhou nos meus olhos e disse:

— Não.

Bufei de raiva.

— Espero, do fundo do coração, que engula essa comida do jeito certo — disse eu em tom ameaçador enquanto me erguia da cadeira, e ele riu do jeito divertido e jovial de sempre.

— Também te amo, baby — debochou e logo depois caiu na gargalhada quando lhe mandei um dedo do meio.

Entrei na fila para pegar o meu lanche, e abri um sorriso ao perceber uma presença familiar ao meu lado logo em seguida, o perfume incendiário tomando conta de toda a estrutura do meu corpo.

— Dia ruim? — perguntou ele.

Virei o rosto para encarar o seu olhar leve, tentando não me perder em toda aquela imensidão de castanho.

— Por quê? — questionei.

— Ora, não tem ninguém pegando a sua comida…

Dei risada.

— Olha, eu até tentei, mas seu primo é um mal-educado.

Justin abriu um sorriso divertido.

— Só existe uma mulher a quem ele vai servir — respondeu, referindo-se a Rosie. — E eu também — acrescentou olhando nos meus olhos.

Por um momento, me perdi na imensidão dos seus olhos, embasbacada pela força da sua declaração. Voltei ao mundo real depois de balançar a cabeça e desviei o olhar para poder pegar o suco de caixinha e arrastar a bandeja para o lado.

— Er, então, pode me dizer onde arranjou aquela flor? — Olhei para ele com um sorrisinho.  

— Flor? Que flor? — fez-se de desentendido, e abriu um sorriso divertido quando lhe lancei um olhar de tédio. — Ela estava se destacando no jardim do campus, sabe, não tinha ninguém olhando, então…

— Justin! — repreendi-o. — Você sabe que não pode pegar as flores de lá, se pegassem você…

— “Se” é um termo muito incompleto, ruivinha.

Resmunguei e carreguei minha bandeja, e ele veio logo em seguida, alcançando-me para andar ao meu lado.

— Então você decidiu virar o Sr. Romântico agora? — debochei.

— Eu sempre fui romântico com você — ele se defendeu.

— Isso quando não estava dando uma de babaca, né… — provoquei.

— Podemos enterrar esse passado? — murmurou. — Eu disse para você ontem e vou repetir agora: quero fazer as coisas do jeito certo desta vez, quero fazer dar certo para a gente, juntos.

Parei no meio do caminho e ele fez o mesmo, olhando fundo nos seus olhos, suas palavras me causando um leve arrepio na nuca. Sempre que eu olhava nos seus olhos, ainda mais depois de uma declaração como essa, parecia que o mundo parava ao nosso redor e existisse apenas nós dois em nossa bolha particular. Voltei a andar deixando-o para trás, o coração parecia que ia estourar feito um balão de tanta felicidade, e ele assumiu a posição ao meu lado no minuto seguinte, o que era reconfortante, como se ele nunca fosse sair do meu lado, como se estivesse sempre por perto.

Contudo, não houve nenhum comentário sobre nossa mudança drástica de humor quando ocupamos nossos devidos lugares na mesa. A conversa fluiu normalmente, as brincadeiras, e até fui pega de surpresa com o toque da mão de Justin na minha por debaixo da mesa. Não olhei para ele, mas retribuí o carinho. O sinal tocou indicando o início do jogo, as últimas aulas foram suspensas.

— Vamos. — Justin tentou me puxar pela mão, mas travei meus pés no lugar, fazendo-o voltar para o mesmo lugar com uma expressão confusa.

— Não vou assistir o jogo hoje. — Disse eu à guisa de explicação. — Eu emprestei o meu carro ao Zac, preciso estudar um pouco, então… — dei de ombros.

— Não é um pouco injusto que você e sua irmã tenha um carro e ele não? — Justin questionou.

— Não é culpa minha se ele quis o dinheiro que seria do carro dele para guardar na poupança — defendi-me. — Ele quer comprar um apartamento. — Acrescentei.

— Ah. — Justin parecia surpreso.

Olhei por cima do ombro dele.

— Olha só, os garotos do time de futebol estão te chamando, acho melhor você ir — avisei.

Ele não fez questão de olhar.

— Eu vou te levar para casa — emendou.

— Justin…

— Qual é, o jogo não vai ser mesmo sem suas gracinhas sobre a camisa grudada naquilo que os garotos chamam de abdômen definido — ele zombou, fazendo-me abrir um sorriso divertido.

— Você tem mesmo certeza?

— Claro. Vamos.

Justin passou o braço ao redor dos meus ombros, a proximidade me fazendo prender o fôlego, mas eu não podia pedir para ele se afastar, e nem queria. Caminhamos assim, abraçados, pelos corredores da universidade. Apesar de ainda chamarmos atenção, as pessoas estavam mais acostumadas com meu lance com Justin. Afinal, não éramos namorados nem nada ainda, eu mesma impus a condição de irmos com calma, mas pelo que parecia, ele estava lidando com isso melhor do que eu, pois não tentou nenhuma vez me beijar, como eu queria que ele fizesse.

Mas tudo pareceu desaparecer quando colocamos nossos pés do lado de fora, e de repente, o sol cortante que preenchia o céu pareceu se esconder entre as nuvens dando lugar para uma camada cinza se espalhar rapidamente. Meu coração disparou no peito e o sangue do meu rosto desceu todo para os meus pés. A adrenalina me atingiu com força; meus olhos estavam paralisados. Era como se eu estivesse revivendo o passado, sendo puxada para os meus dias mais cinzas e sombrios. A sensação de nostalgia foi inevitável. Tudo dentro de mim tinha virado gelo, uma nevasca turbulenta jogada contra o meu coração que tentava cruzar a tempestade, mas tudo que via pela frente era uma imensidão branca de um enorme vazio.

— América? — Justin chamou, o tom de voz preocupado, ao perceber que eu estava paralisada ao seu lado, atônita. Ele olhou na direção em que eu olhava e depois voltou a me encarar. — Quem é ela?

Virei o rosto para ele, o horror habitando em meus olhos, e pude ver o quanto ele estava apreensivo. Eu apertava o seu braço ao redor dos meus ombros com muita força, como se estivesse segurando em uma barra de madeira pela minha própria vida.

— América, que cara é essa? Você está me assustando. — Ele sussurrou.

— Me espera um segundo — pedi com meu timbre de voz, o coração sobre a sola do sapato.

Justin me segurou.

— O que foi? — Ele olhava no fundo dos meus olhos agora.

Engoli em seco e sussurrei:

— Apenas um segundo… Eu estou bem — afirmei, apesar de não ser verdade.

Justin avaliou o meu rosto com cuidado, ele sabia que eu estava mentindo. Aos poucos, ele foi me soltando devagar.

— Eu te espero aqui. — Disse ele; era o voto de confiança que eu pedi.

— Tá. — Minha voz falhou, mas tentei recuperar a compostura no segundo seguinte.

Olhei novamente para a mulher que estava parada no estacionamento, sua estrutura parecia mais um fantasma para mim, um fantasma do passado. Fazia tempo que eu não via o seu rosto, os olhos azuis que me faziam beirar o precipício da minha própria dor, tudo nela me fazia lembrar dele. Eram tão parecidos… Afinal, o que ela estava fazendo aqui? Por que estava olhando para mim daquele jeito? Fazia tanto tempo… Eu era um poço de nervosismo, confusão, medo e angústia enquanto caminhava até ela, tendo o cuidado para não fraquejar e desabar de joelhos ali mesmo naquele chão de concreto, era como se minha alma estivesse encolhida dentro do corpo, meu coração tinha sumido e deixado um enorme vazio.

— América. — Sua voz doce, mas melancólica, testou o meu nome quando parei à sua frente.

— Audrey. — Meu tom era seco.

— Já faz tanto tempo…

— É — meus olhos arderam. — Muito tempo.

Ela fez uma pausa e retomou o fôlego, seus olhos não tinham cor.

— Você está mudada, eu quase não te reconheci, esse cabelo… — observou em tom risonho, mas sem qualquer humor.

— É, eu mudei, sim; o cabelo, o meu jeito, tudo… E você sabe bem o por quê. — Não consegui disfarçar o desgosto e a dor na minha voz.

— Sinto muito, América. Sinto muito mesmo. — Ela me olhou, triste.

Contorci a boca, olhando para o lado, tentando manter a calma. Não, ela não tinha culpa, mas ainda assim, olhar para o rosto dela era o mesmo que olhar para o rosto dele.

— O que você quer? — Fui dura.

— Eu preciso falar com você, América.

— Já está falando. — Fiz uma pausa, olhando dentro dos seus olhos. — Seja lá o que quer que tenha vindo fazer aqui, seja lá o que tenha para me dizer, eu não quero ouvir.

— Não, espera! — Audrey segurou o meu braço, impedindo-me de sair andando e me fazendo voltar para o mesmo lugar. — Por favor, espera… Só me escuta, por favor. — Suplicou com a voz quebrada.

— O que você quer, Audrey? Causar-me mais sofrimento? Já não basta tudo o que o seu irmão me fez passar? — despejei as palavras com raiva, vendo seu olhar se desmanchar em tristeza.

— Eu não sou o meu irmão. — Ela sussurrou. — Mas estou aqui a pedido dele — acrescentou, fazendo-me empalidecer.

— Ele… ele…

— Ele ainda está na cadeia — ela deduziu os meus pensamentos, fazendo-me soltar o fôlego. — Ainda tem alguns anos de pena para cumprir.

— Não vou sentir pena do Jared, Audrey. E nem de você. — Devolvi, amargurada.

— Mas eu não fiz nada — ela se defendeu.

— Não fez nada? — exclamei, incrédula. — Você e a sua família acobertaram o Jared quando ele me agrediu, vocês esconderam ele da polícia, vocês contrataram o melhor advogado do país para livrá-lo da culpa… Será que não entende? Foi como se vocês estivessem me agredindo também — duas lágrimas escaparam, quentes, a raiva queimando sobre elas a medida que escorriam por minhas bochechas.

Audrey encolheu os ombros.

— Ele é o meu irmão, América… Fazemos tudo pela família — ela ergueu os olhos, brilhantes de tanta culpa, o mesmo olhar quando estivemos cara a cara em um tribunal há um ano atrás.

— Era só isso? — perguntei, dura.

Ela respirou fundo.

— Ele quer falar com você — respondeu ela, deixando sua verdadeira intenção transparecer, deixando-me, no mínimo, pasma.

— O quê? — Eu não podia acreditar.

— Eu sei que é difícil para você, América, mas ele está mudado. O Jared passou por muita coisa também, ele…

— Não. — Dispensei suas explicações, balançando a cabeça negativamente. — Para.

Audrey olhou para mim e engoliu em seco.

— Ele só quer o seu perdão.

Dei risada uma única vez, desprovida de qualquer humor, os olhos queimando em lágrimas cheias de memórias.

— O que ele fez não tem perdão — disse eu entredentes, meu rosto queimando em raiva.

— Tudo nessa vida tem perdão, América. Cabe a nós perdoar ou não — seu timbre de voz falhou. — É difícil para mim estar aqui agora, olhar para o seu rosto depois de tudo o que lhe causamos, mas eu estou aqui, de fato, porque também preciso do seu perdão. Já faz um ano que não consigo colocar a cabeça no travesseiro sem pensar na sua dor.

Fechei os olhos com força, tentando bloquear as lembranças daquela noite, mas elas me atingiam de todos os lados, com profundidade e força.

— Você pode pelo menos ouvi-lo, você não é obrigada a perdoá-lo, ao menos ouça o que ele tem a dizer… Por favor — suplicou.

— Eu não sei se consigo — respondi em um timbre de voz. — Não sei se sou forte o suficiente para olhar mais uma vez no rosto da pessoa que destruiu a minha vida e levou tudo de mim.

— Você está olhando para mim agora, não está? — Audrey retrucou, fazendo-me abrir os olhos e encará-la sem qualquer emoção nos olhos, mas só eu sabia o caos que se formava dentro de mim. — Eu sinto muito, América. Sinto muito mesmo. Eu ouvi sobre você nesse um ano que passou, escutei o quanto estava mudada e diferente, mas não imaginei que fosse tanto… Você, com certeza, não é mais aquela menininha doce e inocente, agora eu vejo algo maior em você: força. Está mais dura, mais determinada e segura de si, e isso é bom, mas lamento que tais circunstâncias tenham feito você alcançar essas qualidades. Mas eu sei que ainda existe bondade e compaixão dentro de você. Sei que ainda pode ouvir o que o meu irmão tem a dizer.

— Você não tem o direito de achar que sabe o que posso ou não fazer — devolvi, amargurada, machucada e arrasada.

Ela enxugou os olhos, limpando as lágrimas acumuladas.

— Eu sei que não mereço, que nenhum de nós merece, mas se ainda não for tarde demais para ter o seu perdão, eu gostaria de… — ela encolheu os ombros, envergonhada pelas atitudes do passado.

Abri a boca para despejar um milhão de ofensas em cima dela, a fim de machucá-la, de pisá-la e humilhá-la, mas algo se reacendeu dentro de mim, me fazendo engolir as palavras. Eu não seria eu se fizesse isso. Passei tanto tempo me martirizando pela dor, sofri, fui pisoteada sobre um chão frio e duro, permiti-me ser levada pela correnteza da mágoa e do rancor, não quis lutar a minha própria batalha e me rendi antes mesmo de ir à guerra. Mas para quê, afinal? Isso não me tornava mais forte, afinal. Ter sido quem eu fui só me fez mais fraca e covarde. Ela tinha razão: ainda existia bondade dentro de mim. E não era uma cor rebelde de cabelo que mudaria isso. Não era atitudes grosseiras e imprudentes que me livraria da chama da esperança que brilhava dentro de mim. Eu não podia evitar, eu nasci assim. E ali, diante de toda aquela situação inusitada, eu percebi uma coisa: não se tratava de perdoá-la ou perdoar o Jared, se tratava de perdoar a mim mesma. Eu queria me libertar da dor, mas não podia fazer isso se não libertasse a mim mesma. Chega de dor. Chega de sofrimento. Chega de erros. Eu queria ser feliz, queria esquecer o meu passado e levar isso para toda vida como uma lição, e se para isso eu tivesse que ficar cara a cara com o Jared novamente, eu o faria.

— Eu a perdoo, Audrey — cedi, fazendo-a me olhar com surpresa nos olhos. — Não por você ou pelo Jared, mas por mim — emendei.

Ela acenou com a cabeça.

— Obrigada, América.

— Adeus, Audrey. — Virei-me para ir embora, mas ela me chamou mais uma vez, fazendo-me voltar para o mesmo lugar.

Ela tomou uma lufada de ar antes de falar.

— Por favor, ouça o que ele tem a dizer.

Olhei para ela, impassível, mas não disse uma palavra. Virei-me sobre o próprio eixo e retomei o meu caminho até a porta da universidade, onde Justin ainda me esperava com um olhar alarmado, preocupado e sério demais. Ele não precisava saber o que estava acontecendo para entender a situação. Eu queria correr para os seus braços, o único lugar onde eu ainda me sentia segura. Ele desceu os degraus antes que eu pudesse subir as escadas, e ergui o meu olhar marejado para ele.

Justin segurou o meu rosto entre as mãos com carinho e me olhou com tanta doçura que esqueci a dor por um momento. Ele era a minha tábua de salvação.

— Tá tudo bem? — Ele perguntou, e naquele momento, olhando nos olhos dele, não pude me segurar: deixei minha testa cair contra o seu peito com meu rosto contorcido em uma expressão de choro e ele me abraçou em seguida, beijando o topo da minha cabeça da forma mais gentil e carinhosa que podia. — Está tudo bem, ruivinha. Eu estou aqui com você.

— Ai, Justin… — chorei. — Eu tentei tanto acertar…

Ele me apertou mais um pouco no calor dos seus braços.

— Quem era aquela mulher? — perguntou cauteloso, fazendo-me afastar dos seus braços apenas para ter espaço para limpar minhas lágrimas.

Limpei a garganta, enxuguei o meu rosto e recuperei a compostura, tendo a oportunidade de ver o tamanho da apreensão em seus olhos.

— Audrey — respondi. — Irmã do Jared — acrescentei.

Justin travou o maxilar e sua expressão ficou extremamente dura.

— O que ela queria? — quis saber, nem um pouco amigável.

Funguei.

— Ela trouxe um recado… do Jared.

Seu rosto ficou vermelho de… raiva.

— O que ela disse para você, América? O que aquele cara quer? — Já não existia controle em seus olhos, e engoli em seco.

Respirei fundo.

— Ele quer me ver.

Justin deu alguns passos, inquieto, e depois voltou para o mesmo lugar, passando a mão pelos fios loiros, quase castanhos, em claro sinal de nervosismo.

— Ei, calma…

— Calma? — Ele exclamou. — Você está mesmo me pedindo calma, América? Esse cara, ele… ele… argh!

— Eu sei, mas…

— Me diz que você não vai vê-lo, América — ele me encarou por um segundo, ele já sabia a resposta. — Você não pode fazer isso — disse ele, horrorizado.

— Você não pode decidir isso por mim — devolvi, irritada.

— Você já esqueceu o que ele fez com você, hum?

— Não, não esqueci, e é por isso que eu tenho de ir.

Ele passou a mão no cabelo mais uma vez.

— Você não pode perdoá-lo, América, ele… ele não merece uma chance de se explicar — retrucou com as linhas do rosto apertadas e rígidas, ele estava tentando fazer de tudo para mudar a minha decisão.

— Bem, você também não merecia um segunda chance para se explicar, mas eu a dei — respondi com a voz afiada, vendo sua expressão se transformar em um mar de amargura.

— São situações completamente diferentes — resmungou. — Eu não te agredi e jamais faria isso, é inaceitável que você me compare à ele — agora eu podia ver a mágoa transparecer em seus olhos.

— Eu jamais te compararia à ele, Justin — tentei consertar o meu erro, afinal, era a pura verdade. — Você continua agindo como se não confiasse em mim. — Tentei me retirar, mas ele segurou o meu braço, me fazendo voltar para o mesmo lugar e encará-lo com uma cara amarrada.

— Ei, espera — ele suspirou. — Não confunda proteção com falta de confiança. — Seu olhar suavizou um pouco. — Eu me preocupo com você, sei o quanto esse assunto te machuca, e tudo o que menos quero é te ver magoada.

Encarei a sinceridade em seus olhos, tentando não derreter por dentro. Quando eu me apaixonei tanto assim? Eu realmente não sabia ao certo, mas quando me dei conta, já estava assim, caidinha por ele.

— Você não precisa me levar se não quiser — disse eu, por fim.

Justin me olhou, derrotado.

— Tem mesmo certeza de que é isso o que você quer? — perguntou para ter certeza.

— Não. — Respondi, sem fôlego. — Mas é isso que precisa ser feito.

Ele suspirou mais uma vez.

— Se esta é sua decisão, eu… — respirou fundo — mesmo não concordando, eu te apoio mesmo assim.

Sentar novamente na garupa da moto de Justin me causava uma leve sensação de paz. Parecia que fazia anos que estive aqui, com os cabelos sendo jogados ao vento, com ele entre minhas pernas e meus braços apertados ao redor do seu corpo. Eu podia sentir o seu corpo reagir ao meu toque, mais leve, mas ainda um pouco inseguro. Eu estava dividida entre a sensação boa de ter Justin em meus braços e o gosto amargo em minha boca ao tentar me preparar para o momento que viria a seguir. Eu estava nervosa, era verídico, e Justin pareceu ter percebido isso, pois a cada semáforo que ele parava, repousava sua mão sobre a minha como um claro sinal de conforto. Nenhuma palavra foi dita. E nem precisava. Seu toque me dizia tudo.

— Chegamos. — Ele murmurou quando paramos em frente ao presídio, seu anúncio me causando calafrios e um nó na barriga.

Desci da moto e abracei a mim mesma enquanto encarava o prédio de estrutura firme e sombria, que mais parecia uma prisão de segurança máxima, para os piores criminosos existentes. Parecia que o sol não brilhava naquela parte da cidade, mesmo que ele estivesse marcando presença no céu azulado. Uma profunda sensação de tristeza me invadiu, como se eu fizesse parte de todo aquele cenário. Eu não podia negar: tudo isso fazia parte do meu passado, de quem eu já fui, o responsável por quem eu me tornei hoje. Audrey tinha razão: eu estava mais forte, segura de mim, só não queria que tais circunstâncias me fizessem alcançar tais objetivos.

Senti o toque de Justin em meu ombro como uma forma de conforto e olhei para ele parado ao meu lado.

— Tem mesmo certeza disso? — Ele reforçou, me fazendo soltar um suspiro.

— Eu já estou aqui, não vou voltar — respondi.

— Essa não precisa ser a única opção — insistiu.

— Não vou desistir agora. — Dei minha última palavra e mesmo que seus olhos transmitisse tamanha hesitação, ele acenou com a cabeça uma vez, concordando. Tomei fôlego e emendei: — E eu preciso fazer isso sozinha.

Ele olhou para mim, incrédulo.

— Entrar lá? Sozinha? — Ele não estava acreditando.

— Estaremos monitorados o tempo todo, não vamos ficar sozinho, eu vou ficar bem — tranquilizei-o, segurando cada lado do seu rosto, forçando-o a olhar para mim. — Esse é o meu passado, Justin. Não quero envolvê-lo nisso. Eu só quero esquecer… Mas para isso, eu preciso enfrentar os meus medos sozinha, e só assim poderei ser feliz de verdade.

Justin olhou no fundo dos meus olhos e cobriu minha mão em seu rosto com a sua. Segurou-a e levou até os lábios, depositando um beijo sobre o dorso. Do jeito que ele estava me olhando, eu sabia que ele queria me beijar, e estaria mentindo se dissesse que não queria o mesmo. Contudo, eu sabia que estaria erguendo minha bandeira branca muito rápido, então, antes de deixá-lo finalizar o ato, virei o rosto para o lado, fazendo seus lábios acertarem o canto da minha boca.

— Justin…

— Eu sei, eu sei — ele se afastou com um suspiro. — Ir com calma, eu já entendi — cedeu, derrotado.

Abri um sorriso amarelo.

— Até porque, beijo na frente da prisão é super romântico — brinquei em meio a tensão, fazendo-o rir, mas tão rápido quanto seu sorriso apareceu, ele sumiu, e seu olhar se tornou mais sério e duro.

— Se precisar de ajuda, grite o mais alto que puder, eu vou te encontrar em qualquer lugar — era uma promessa, não existia nenhum pingo de hesitação em seus olhos.

Apertei os lábios numa linha fina e respondi:

— Já volto.

Deixei Justin para trás e alcancei a porta de entrada depois de dar alguns passos. Fui revistada da cabeça aos pés, e quando fui liberada, fui instruída a ir até a recepção para poder me informar sobre Jared e saber se ele podia receber visitas no momento. As paredes que rondavam todo o espaço eram pesadas, apesar das cores leves que encobriam a recepção. A mulher do outro lado do balcão, usando um uniforme azul pesado e um olhar duro, me deu permissão para ir adiante e pediu para que um policial me acompanhasse até uma suposta sala. À medida que íamos nos aproximando, os corredores iam ficando cada vez mais escuros e gelados, fazendo-me encolher dentro do próprio corpo. Eu sentia calafrios, um gosto ruim se apossava da minha boca enquanto eu continuava atônita, sem a mínima ideia do que fazer ou dizer quando chegasse a hora.

— Senhorita — a voz grossa do policial, mas gentil, me fez despertar e olhar alarmada para ele. — É aqui. Sente-se e espere, já traremos o prisioneiro para que possa vê-lo.

Engoli em seco e olhei para dentro da sala enquanto ele segurava a porta.

— Não se preocupe — disse ele, chamando minha atenção novamente, oferecendo-me um sorriso despercebido, mas ainda assim, uma forma de conforto. — Não a deixaremos só nem um segundo.

Olhei para ele, tensa, e ofereci um sorriso amarelo. Cautelosamente, dei alguns passos para dentro da sala, encolhendo os ombros cada vez mais. A sala não era pequena, mas era fechada o suficiente para parecer sombria. Havia uma mesa quadrada no centro dela, com duas cadeiras, uma de cada lado, uma de frente para a outra. Luzes fortes iluminavam todos os cantos da sala, mas mesmo assim, não deixava de parecer tão escuro quanto um abismo profundo. Sentei-me em uma das cadeiras, de costas para a porta, e levei um pequeno susto que me fez encolher ainda mais quando ouvi o clique da porta ao ser fechada, eu estava sozinha.

Eu era um metro e sessenta e cinco de puro nervosismo sentada sobre uma cadeira nada confortável. E tudo pareceu piorar quando ouvi o clique da porta novamente, desta vez, sendo aberta, e prendi a respiração ao perceber que não estava mais sozinha. Não tive coragem de olhar para trás. Dois policiais armados surgiram no meu campo de visão e se posicionaram feito uma estátua na parede de fundo, um em cada canto. Senti todo o meu corpo se retesar quando ouvi passos atrás de mim, mas meu olhar continuou paralisado, encarando o imenso vazio, sentindo-me gelada de repente. Foi então que meu coração começou a bater mais forte quando ele surgiu, algemado, diante da minha visão, usando um uniforme laranja típico de presídios, acompanhado de um policial que o guiava pelo braço, e com um empurrão, deixou-o sentado à minha frente.

Ergui o olhar cuidadosamente, ficando cara a cara com o semblante fantasmagórico a minha frente. O meu passado. A minha dor. O meu sofrimento. Tudo resumido em uma só pessoa. Nossos olhares se encontraram com uma conexão indesejada entre fogo e gelo, causando a mais pior das agonias. Ele continuava o mesmo, mas ao mesmo tempo tão mudado… O bronzeado que ele costumava a ter não existia mais, dando lugar à palidez, seguida de manchas mais escuras causadas pelas olheiras e alguns hematomas recentes, tanto que havia um linha fina no sentido horizontal em seu nariz, e um pequeno corte no canto da boca. O cabelo castanho estava mais curto e os olhos transmitiam uma cor totalmente apagada e opaca, diferente do azul cristalino que eu costumava a apreciar.

— América. — Ele sussurrou, parecia fascinado com a minha visão bem ali em sua frente.

Engoli em seco e forcei a minha voz não falhar quando eu disse, secamente:

— Jared.

Ele piscou freneticamente.

— É você mesma.

— Sou eu. — Não deixei meus olhares transmitirem os meus turbilhões de sentimentos.

— Nossa você está tão… mudada. Tão bonita…

Olhei para ele com amargura.

— Parece que não foi apenas eu que sofri mudanças, não é mesmo?

Ele esticou os lábios num sorriso sem mostrar os dentes, minúsculo e amarelo.

— Infelizmente essa é a minha realidade agora… Audrey falou com você?

— É, ela falou. — Fiz uma pausa, tentando manter o controle para agir de maneira racional.

— Que bom que veio.

— Não por vontade própria, acredite — desdenhei, fazendo-o me olhar com o peso da culpa. — A sua irmã consegue ser bem insistente, mas… Estou aqui para pôr um fim de uma vez por todas nessa história.

— Eu sei que eu…

— Destruiu a minha vida? — cortei-o antes que ele pudesse começar a ladainha, fazendo-o me encarar surpreso e engolir em seco. — É, foi exatamente isso o que você fez. Você me fez encarar uma realidade muito diferente do que eu imaginei para mim, Jared. E acredite, não foi só a cor do meu cabelo que mudou — olhei para ele de forma dura, fazendo-o encolher sobre o assento.

— Consigo notar — disse ele baixinho, como se falar fosse difícil para ele. — Sinto muito, América.

Dei risada uma única vez, sem humor.

— É fácil se arrepender agora, não é? — Senti meus olhos arderem. — Você não pode mudar o que fez, Jared. Sabe o quanto é difícil estar aqui na sua frente agora?

Jared encarou os meus olhos, e me recusei a reconhecer a dor que habitava nele.

— Eu sinto muito tê-la feito passar por todo esse sofrimento, América — lamentou. — Hoje eu percebo o quão estúpido eu fui.

— Quando é tarde demais. — Emendei em tom azedo.

Ele se debruçou sobre a cadeira, desconfortável.

— Nunca é tarde para o perdão, América. Eu sei que não tenho direito de pedir nada, mas é isso que preciso de você. Eu nunca vou poder viver em paz sem o seu perdão — suplicou com a voz quebrada e os olhos marejados.

Respirei fundo. Massageei o rosto com as mãos, cansada, machucada o suficiente por um dia. A cota de decepções já havia sido esgotada há muito tempo, não tinha espaço para caber mais nenhum intruso. Tornei a olhar para ele, seus olhos estavam ansioso pela minha resposta, mas acima de tudo, pacientes. Apoiei os braços sobre a mesa e inclinei-me sobre a mesma para poder encarar o seu rosto mais de perto. Eu precisava colocar tudo a limpo agora.

— Por que você estava comigo então? Eu não entendo.

— Eu amava você — ele respondeu com cuidado.

— Não — balancei a cabeça negativamente.

— Sim — ele retrucou, desesperado para me fazer acreditar em suas palavras. — Amei, sim. Te juro.

— Quem ama não faz o que você fez, Jared — mordi o lábio inferior com tanta força que poderia cortá-lo a qualquer momento. Minha dor era aguda demais, eu precisava me segurar em alguma coisa.

— Tem razão — ele não discordou. — Eu fiquei louco, América, eu estava insano… — fez uma pausa e engoliu em seco, os olhos horrorizados, assombrados pelas lembranças que também me cercavam. — Quando nos conhecemos, eu te amei, sim. A sua inocência e bondade me fascinava, eu queria mantê-la por perto, sempre. Mas depois de um tempo, senti algo mudar dentro de mim… E de repente eu não sentia mais nada. Nem por você, nem pela família, nem por mim ou por ninguém. Eu estava oco. Vazio. Eu estava desesperado tentando me encontrar, envolvi-me em problemas fúteis e acabei me tornando um monstro com você. E-eu… aquele não era eu. Eu não sei explicar a raiva que eu senti naquele momento, acho que tive um surto psicótico, pois tudo o que eu queria era machucar alguém, descontar a raiva… E acabei fazendo isso com a primeira pessoa que surgiu em minha frente… — ergueu o olhar para o meu e engoliu em seco — você.

Continuei encarando-o com um olhar inquisitivo, apesar da dor que suas palavras causavam em meu peito. De qualquer forma, era como se todas as cartas estivessem sobre a mesa. Eu precisava ouvir tudo aquilo, eu precisava aceitar a realidade e assim seguir em frente sem o peso que carreguei por muito tempo nas costas.

Ele continuou:

— Quando eu a vi estirada no chão, machucada, machucada por mim — suspirou —, continuei não sentindo nada. Eu a deixei para trás sem nenhum remorso, América, sem nenhuma preocupação ou culpa. Naquele momento, eu não era humano, eu não tinha sentimentos. E se você tivesse morrido, não faria diferença para mim naquele momento. — Jared encolheu os ombros com as próprias palavras que foram o suficiente para demonstrar o horror em meus olhos. — Quando você me denunciou para a polícia — continuou com o tom cada vez mais baixo — eu fiquei possesso. Eu me escondi, minha família me ajudou, e estava tudo certo para eu poder sair país. Eu só precisava pegar as minhas coisas e ir embora. Mas não. Eu não estava satisfeito, eu precisava sentir algo… E foi então que fui atrás de você na sua casa e encravei aquela faca em seu peito. — Seu rosto ficou vermelho e ele fechou os olhos com força, tentando engolir o nó na garganta que se assemelhava ao meu. — Mas naquele momento eu senti algo — sussurrou. — Quando você me olhou nos olhos com as mãos cobertas de sangue e as lágrimas molhando o seu rosto, foi só aí que me dei conta do que eu estava fazendo. Foi aí que eu me encontrei. Que percebi quem eu era e quem eu tinha me tornado. Mas não importava mais, eu já tinha feito toda aquela merda, eu não tinha só acabado com a minha vida, como a sua também — abriu os olhos a tempo de ver uma lágrima escorrer solitária pelo canto do meu olho.

Enfiei a língua entre os lábios, tentando raciocinar direito e absorver suas palavras ao mesmo tempo.

— Se você estava passando por problemas, não era mais fácil ter se aberto comigo? — questionei.

— Eu realmente não sei porque não pedi ajuda, eu simplesmente não tenho explicação para o que fiz — disse enquanto dava de ombros lentamente. — Mas eu me arrependo tanto, América… tanto, tanto, tanto — sussurrou com a voz entrecortada e as lágrimas escorrendo. — Eu passei esses trezentos e sessenta e cinco dias vendo o sol nascer quadrado, e não houve um momento sequer que não pensei em você, na sua dor. Eu estive a ponto de enlouquecer aqui dentro, tentei me matar várias vezes e…

— Você tentou se matar? — Exclamei, horrorizada, e segui o seu olhar até seus braços sobre a mesa, vendo as cicatrizes que se estendiam dos seus pulsos até onde eu não podia ver debaixo da manga longa da camisa.

Ele não olhava para mim agora.

— Foram tempos difíceis para mim. — Respondeu com um timbre de voz. — Sim, eu tentei me matar. Quase cheguei a conseguir, mas eu fui socorrido antes que pudesse finalizar o meu ato. Eu tentei tirar a minha própria vida porque eu fui fraco todo esse tempo. Não consegui suportar a dor que causei a mim mesmo e a você. Ela sempre me assombrava à noite, não me deixava dormir… Mas existe uma vantagem de se estar no fundo do poço — ele ergueu o olhar para mim — só existe uma direção para onde você pode ir: para cima. Eu encontrei o meu próprio caminho, América. Ainda não consegui chegar ao meu objetivo, mas estou a caminho dele. Tenho um acompanhamento médico muito bom, e eu fui preparado, emocionalmente, para estar olhando para você agora.

Recostei-me na cadeira, enxugando os olhos das lágrimas que estavam prestes a cair. Jared abriu a boca para falar mais uma vez, mas engoliu as palavras quando a voz grossa de um dos policiais adentrou meus sentidos.

— Vocês só tem mais cinco minutos — disse ele.

A expressão de Jared se espremeu em angústia e ele olhou nos meus olhos, cansado.

— Cinco minutos é muito pouco para o que tenho para dizer — disse ele. — Na verdade, a eternidade não seria o suficiente para eu poder me desculpar. Mas todas as palavras que quero te dizer leva a um único objetivo: o seu perdão. Sei que é pedir demais, sei que você não tem nenhuma obrigação de olhar na minha cara ou até mesmo estar aqui, mas se veio até aqui, isso quer dizer alguma coisa, não é? Quero dizer que me arrependo todos os dias pelo o que fiz, e me arrependerei pelo resto da minha vida, esse erro vai me assombrar até a hora da minha morte, e mesmo que seja difícil de acreditar, eu estou mudado agora. Não se trata do antigo Jared, trata-se apenas de mim, aqui e agora, implorando o seu perdão.

Olhei para ele, bem ali na minha frente, tentando encontrar em seus olhos alguma coisa que desmentisse suas palavras. Mas tudo o que encontrei foi um homem quebrado. Eu não queria me sentir mal por ele, mas lamentava por ele ter estragado sua vida de forma tão imatura. Jared também estragou a minha, mas aos poucos, eu estava conseguindo me reerguer, coisa que talvez ele nunca mais conseguisse completamente. O mundo era egoísta e hostil, cada dia mais estávamos perdendo o amor pelo próximo e por nós mesmos, e a chama da esperança ia se apagando aos poucos. Mas eu não queria ser esse tipo de pessoa que vive com o rancor pendurado no coração, queria ser o tipo de pessoa que perdoa.

— Você tem noção do quanto eu sofri por sua causa, não tem? — Olhei no fundo dos seus olhos azuis e ele assentiu vagamente, os olhos distantes. — Foi o ano mais longo da minha vida, Jared. Além das cicatrizes físicas que você deixou espalhada pelo meu corpo, eu tive que lidar com as cicatrizes da minha alma também. Eu me perdi no caminho que sempre sonhei em seguir, eu estava perdida, mas eu estou aprendendo a me reerguer aos poucos. Não aceitei vir aqui pela Audrey ou por você, mas por mim. Porque eu precisava olhar nos seus olhos e perceber que guardar rancor e ficar me remoendo por um erro seu não vai me levar a lugar nenhum. Você cometeu um erro, e está pagando por ele justamente, assim como deve ser, e isso é o suficiente para saber que o que sofri não foi em vão. Então eu não perdoo apenas você, mas a mim mesma, por ter me martirizado todo esse tempo por um crime que não cometi.

Jared piscou sob os cílios, surpreso, mas ali, cara a cara com ele, eu vi algo renascer em seus olhos. Ele apertou os lábios numa linha fina e a pele do seu rosto tomou uma tonalidade avermelhada por causa das lágrimas de emoção que ele segurava nos olhos.

— Obrigada, América — sussurrou com a voz arrastada por causa do choro entalado, mas extremamente agradecido.

Ergui-me da cadeira quando o policial se aproximou para recolhê-lo. Jared foi forçado a ficar de pé e arrastado até a porta, mas antes que ele pudesse sumir pelo corredor sombrio, chamei-o, fazendo-o parar e olhar para mim novamente, os olhos marejados.

— Espero que consiga dormir em paz de agora em diante — disse eu, fazendo seu rosto se encher de agradecimento e seus lábios se retraírem em um sorriso afetado.

Quando ouvi o clique da porta, meus ombros relaxaram de forma tão intensa que me senti como uma pluma flutuando no ar. Finalmente eu me sentia… livre. Essa era a única palavra que podia resumir tão bem a sensação que se apossou do meu corpo no momento. Eu estava me libertando da prisão que criei ao redor de mim mesma, e agora sim eu sentia que podia seguir em frente sem nenhum obstáculo, eu estava pronta para amar de novo.

Respirei um pouco de ar puro quando coloquei meus pés fora daquele ambiente pesado, era como se eu tivesse passado anos da minha vida lá dentro e, finalmente, estivesse sendo exposta ao sol novamente. Eu me sentia uma nova pessoa, estava orgulhosa de mim mesma por ter sido forte o suficiente para deixar tudo o que achei que conhecia para viver o agora. E o meu agora estava bem ali, parado na calçada com sua moto, com uma expressão inquieta, com os olhos alarmados para qualquer situação fora do normal. Quando nossos olhos se encontraram, seu rosto se encheu de alívio, e o meu coração, de felicidade. Era como se eu estivesse vendo-o pela primeira vez, ali, parado bem na minha frente, esperando-me correr para os seus braços. E foi exatamente isso o que fiz. Sua expressão se encheu de surpresa mas ele reagiu no reflexo e segurou o meu corpo junto ao seu em um abraço apertado, onde eu me sentia realmente segura.

— Tá tudo bem? — perguntou ele, preocupado.

Afastei-me o suficiente para olhar no rosto dele e ver sua expressão confusa para o meu sorriso leve e expressão suave.

— Quer saber? — Olhei em seus olhos. — Eu estou ótima!

Justin avaliou o meu rosto, os olhos hesitantes e o cenho franzido.

— Vamos sair daqui, hum? — sugeri.

Ele não me fez mais perguntas, apenas segurou o meu rosto e depositou um beijo carinhoso em minha testa. Montou primeiro em sua Harley e depois que deixou-a pronta para a partida, sentei-me em sua garupa, fazendo-o olhar para mim mais uma vez por cima do ombro para verificar se não tinha realmente nada de errado. Ofereci um meio sorriso para ele que o fez relaxar entre meus braços e assim, dar a partida.

Eu não olhei para trás, pois estava deixando o meu passado enterrado e lacrado ali, correndo até o horizonte para começar uma nova vida… ao lado de Justin. 


Notas Finais




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