História Recíproco - Capítulo 9

O "grande dia" chegara com uma manhã de clima ameno, o sol mal nascera e a vila já estava em polvorosa, todos comemorando mais um ano e esperando ansiosos a queima de fogos que teria depois do por do sol. Acordou com o telefone tocando incessantemente na sala, uma preguiça dominava seu corpo e a mantinha pregada na cama, embora já não houvesse mais tensão em seus músculos, estava decidida à continuar deitada ignorando o toque irritante, porém parecia que o aparelho explodiria de tanto tocar, definitivamente quem estava ligando não tinha intenção de desistir. Levantou reunindo toda a coragem que não tinha e caminhou a passos arrastados até a sala onde encontrou, sem nenhuma surpresa, o Uchiha sentado na poltrona sem se importar com o toque estridente do aparelho.
- Porque você não atendeu??
 A voz saíra rouca e mais falha do que desejara, mal conseguia abrir os olhos por conta do sol que iluminava a sala.
- A casa não é minha.
 O tom neutro poderia ser tido como uma provocação, mas acordou com um humor tão leve que preferiu ignorar as alfinetadas, que vinham acontecendo com frequência, e caminhou até o aparelho que continuava tocando desesperadamente, atendendo-o
- Alo.
*- Bom dia Testuda. Tô ligando só pra avisar que vamos nos encontrar lá na festa às dez para preparar o almoço e terminar de arrumar as coisas.
- Vão passar aqui pra pegar as coisas??
*- Não. Poe esses homens pra carregar e não esquece de levar roupa, duvido que dê tempo de voltar em casa pra tomar banho, vamos ter que nos arrumar lá.
- Ok porquinha.
*- Certo. Tchau.
- Tchau.
 Olhou o relógio na parede da cozinha, ainda faltava tempo para arrumar as coisas, mas já estava totalmente desperta, mesmo que voltasse para a cama não conseguiria dormir mais. Caminhou para a cozinha decidida à preparar um café da manhã caprichado, mesmo que o almoço fosse farto era melhor estarem bem alimentados para encarar o dia longo e divertido que teriam. Colocou a chaleira no fogo e foi arrumando a mesa com as louças, pães e biscoitos. Abriu a geladeira pegando alguns tomates para preparar um suco, já estava tão acostumada à rotina de ter suco de tomates sempre à mesa que começava à apreciar também a iguaria.
 Logo a chaleira estava apitando avisando que a água já fervia, arrumou os utensílios para o café na pia e foi até o armário para pegar o pó, porém mal abriu a porta essa foi fechada com brusquidão. Sentiu duas mãos fortes segurarem seus pulsos obrigando-a a virar seu corpo e pressionando-a contra a bancada sem soltá-la nem um só vez.
 Os olhos negros a olhavam num misto de raiva e desejo, sentia o corpo firme pressionado contra o seu, o perfume dele invadia sua mente deixando-a inebriada e poderia perder os sentidos ali nos braços dele, o calor característico dominava seu corpo e quando ele se curvou até os lábios tocarem seu ouvido todos os pelos do seu corpo se arrepiaram.
- O que você está fazendo Sakura? O que você pensa que está fazendo?
 Jurava que ele podia ouvir as batidas fortes de seu coração quando voltou a fitá-la, o cenho franzido, indagativo. Sabia o porque de ele estar perguntando aquilo, desde a volta do loiro não haviam sequer conversado sobre o que aconteceu, apenas mantido tudo como se nada houvesse acontecido, mas aquilo o cansava, consumia e ele precisava de respostas.
- Sasuke-kun, eu...
- O que você vai fazer Sakura? Até quando vai fingir que nada aconteceu?
- Eu vou resolver isso hoje, agora por favor, ainda não podem nos ver juntos.
 Afastar ele foi mais difícil do que imaginara, o frio que pareceu ter se apossado de seu corpo quando ele se afastou só aumentou a certeza que ela já tinha, precisava do calor dele, era viciante. Concentrou-se em terminar os preparos do café da manhã enquanto o moreno lhe observava sentado na mesa, sempre com a mesma expressão impassível. Logo o sensei também apareceu, como sempre, acompanhado do livrinho pervertido, e só quando a mesa já estava completamente posta apareceu Naruto, ainda bocejando.
 O café foi silencioso, algo comum nos últimos tempos desde que o clima no apartamento ficou tenso e nublado. Logo estavam pelas ruas em direção ao distrito Uchiha carregando as inúmeras sacolas com tudo o que seria necessário para o almoço. Das ruas enfeitadas com bandeiras mal se via o céu, havia música por toda parte e o clima fraternal dominava à todos e até mesmo o moreno sentia a paz de estar em casa novamente.
 Praticamente todos já estavam lá, divididos nas inúmeras tarefas, cada qual terminando de ajeitar um detalhe aqui ou ali. Mesmo antes de subirem os degraus da parte de trás da casa já podiam ouvir os risos e fofocas vindos da cozinha e, como se para confirmar as suspeitas, ao entrarem logo viram uma garrafa de sakê sobre a bancada.
- Yo minna. Finalmente chegou hein Testuda, logo a gente ia ter que jantar porque não ia dar tempo de fazer o almoço.
- Cala a boca porca, eu tô no horário.
- Tá. Tá. Meninos deixem as coisas ali na mesa e podem ir, ainda tem muito o que fazer lá fora.
 Logo os garotos saíram a rosada agarrou a amiga pelo pulso a arrastando discretamente dali enquanto deixava as demais mulheres organizando os materiais para iniciarem o preparo das comidas. Chegaram à uma despensa pequena e Sakura tratou logo de empurrar a amiga pra dentro e entrar e trancando a porta em seguida para garantir o máximo de privacidade à conversa das duas.
- O que foi Testa, sua louca.
- Porca, o Sasuke veio falar comigo hoje.
- Idiota, vocês moram na mesma casa por enquanto, bizarro seria se ele não falasse.
- Não Ino. Ele veio falas comigo... Sabe... Daquilo...
- Aff, vai começar essa história de novo? Eu já disse que não quero mais saber.
 A loira já havia aberto a porta e estava saindo quando foi novamente puxada pra dentro.
- Não porca, escuta. Eu vou resolver isso hoje.
- Hoje, hã? Parece que o Sasuke-kun finalmente te convenceu né?
- É hoje. Mas não é por causa do Sasuke, na verdade eu já estava pensando nisso a algum tempo, mas o que importa é que vou dar um jeito.
- Vai contar para o Naruto tudo que aconteceu então?
- Não! Não seja louca, não posso fazer isso com ele. Vou apenas terminar, só isso.
- Sério Testa?? E qual desculpa você vai dar pra ele por querer terminar justo agora que o Sasuke voltou à vila?
- Ah... Sei lá... Não sei. Vou pensar em alguma coisa.
- Mas de hoje não passa. Senão eu juro que espalho pra todos que você é uma vaca.
- Você não faria isso e relaxa porca. Eu vou resolver isso hoje, de uma vez por todas.
- Bom mesmo.
 Voltaram para a cozinha e logo puseram-se à trabalhar a panela de arroz no fogo enquanto temperavam a carne e o peixe que seria posto na churrasqueira que os garotos estavam montando no jardim, haveria também tempurá e uma salada caprichada, especialidade de Temari. Todas trabalhavam conversando animadas quando o assunto passou a ser o relacionamento amoroso delas, Temari passou bons e longos minutos reclamando do quanto o namorado era preguiçoso e antes que o assunto chegasse até ela a rosada, desesperada para encontrar uma saída para aquilo tratou logo de desviar o foco.
- E você Hinata-chan?? Já tem alguém no seu coração??
- E-eu... E-eu... Com licença.
 Num instante a Hyuuga estava ali na cozinha cortando palitinhos de cenoura e no instante seguinte já corria pela casa em busca do banheiro mais próximo. ajoelhou-se na frente do vaso e pôs todo o café da manhã para fora. Já havia alguns dias que estava com enjoos que pioravam cada vez que ficava nervosa, levantou-se sentindo seu corpo tremer pelo esforço e debruçou-se na pia lavando sua boca e rosto, passou também um pouco da água fria na nuca quando alguém apareceu na porta a qual ela sequer se lembrara de fechar.
- Hinata-chan, você está bem?
- S-Sakura-chan, e-estou bem.
- Certeza? Você está pálida e tremendo. Venha, vamos para um dos quartos, vou te examinar.
 Subiram as escadas indo parar num dos inúmeros quartos do corredor, não haviam móveis, mas apesar da bagunça da reforma tudo estava limpo, haviam deixado as bolsas ali e a rosada tirou de dentro da sua uma toalha de banho que estendeu no chão, pegando em seguida uma muda de roupas dobradas para que a morena pudesse usar de travesseiro.
- Deite aqui, vou te examinar.
- S-Sakura-chan... O-obrigada... N-não foi nada, apenas não tomei café da manhã hoje, mas já estou melhor.
- Bom, menos mal. Deite um pouco e tente descansar, vou ver se acho algo para você comer em meio àquela bagunça, ok?
- O-obrigada.
 Logo que ficou sozinha foi até sua bolsa que estava no canto do quarto junto às das outras garotas e abrindo-a tirou a jaqueta laranjada de dentro. Estava decidida à devolvê-la, era difícil desapegar dela, do cheiro dele que ainda impregnava a peça de roupa, o mesmo cheiro que a acalmava. Abraçou a jaqueta ali e chorou, porque no fundo, de uma forma ou de outra sabia o porque de não se sentir bem, o porque de passar mal, e tinha medo, mais do que jamais teve em toda sua vida, temia porque simplesmente não sabia o que fazer.
 A rosada chegou à cozinha onde as garotas já estavam conversando animadas novamente, cada qual ocupada com sua tarefa. Começou a procurar em meio às inúmeras sacolas algo que pudesse preparar rápido para a amiga comer, acreditava que ela não tivesse tomado café da manhã o que justificaria o mal estar repentino. Encontrou perdido em meio à tudo um pote de rámen instantâneo, sabia que Naruto havia trazido para que pudesse fazer uma boquinha antes do almoço e agradeceu mentalmente ao loiro por isso, colocou a panela no fogo e voltou a preparar as comidas da festa enquanto esperava a água levantar fervura.
- O que houve com a Hinatinha hein Testuda?
-Pelo que parece ela não tomou café d manhã hoje. Estou preparando um rámen que Naruto trouxe para ela, já que o almoço ainda vai demorar.
- Ah sim. Você também não anda legal do estomago né Testa? Seria estresse?? Ansiedade?? Hã?
- Não se acha muito intrometida Porca??
 Deixou a amiga rindo sozinha enquanto voltava à pia onde abriu o potinho de rámen e despejou a água fervente, porém logo o vapor subiu sentiu seu estomago embrulhar e uma subita vontade de vomitar invadir seu corpo e assim saiu dali às pressas percorrendo o mesmo caminho que a morena havia feito anteriormente até o banheiro enquanto escutava Ino gritar ao longe, na cozinha.
"- Mas que merda está acontecendo aqui hoje hein? Tá todo mundo passando mal. Isso tá pior que um hospital, agora só falta ser contagioso."
 Logo levantou-se, mas a fraqueza e a tontura fizeram com que se sentasse sobre o vaso, agora fechado. Um sentimento de tensão lhe invadiu o corpo e a fez arregalar os olhos assustada. Sabia que não estava bem de saúde à um tempo, mas ainda não havia passado tão mal daquela maneira e julgava que fosse tudo por conta do estresse e tensão causados pela volta do companheiro de time e todos os acontecimentos que se sucederam, porém agora outra possibilidade se apresentava de forma clara à sua frente e a colocava em verdadeiro pânico.
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 Tenten havia lhe trazido rámen instantâneo, o qual ela devorou sem pensar duas vezes, e lhe contara que Sakura também havia passado mal, uma noticia que apenas fez seu nervosismo aumentar ainda mais, tantas dúvidas, tantas perguntas rondando sua mente, tantos 'talvez'. Sentia-se completamente desnorteada e perdida, desejando com todas as suas forças poder desaparecer. A jaqueta laranjada estava mais uma vez guardada dentro da bolsa e a necessidade de devolvê-la aumentava dentro de si, de repente, ante a possibilidade de que aquilo que temia para si estivesse acontecendo também com a rosada, verdadeira namorada de Naruto. Sentia uma culpa imensurável, precisava de afastar dele e de tudo aquilo uma vez por toda, e o que quer que acontecesse, ela daria um jeito, de uma forma ou de outra.
 Desceu à escada e saiu pela porta da frente, evitando passar pela cozinha e ter de enfrentar mais uma vez a rosada e as outras garotas. O espaço da festa estava incrivelmente lindo, na rua deserta uma longa mesa onde seriam dispostas as travessas de comida estava coberta com uma toalha florida, ao lado uma churrasqueira já acessa fazia a fumaça negra do carvão subir em espirais, no gramado que ficava em frente à casa vários tapetes com almofadas foram espalhados, para que todos pudessem sentar, comer e conversar. Muitos já haviam chegado e os mais novos já corriam e brincavam com a bola, sendo seguidos por Akamaru e curiosamente alguns dos cachorros de Kakashi que pareciam aproveitar o calor para relaxar, rodas de conversa já se formavam enquanto lanternas eram penduradas para garantir total iluminação mesmo depois que a noite caísse, Shikamaru trouxera mais uma vez o enorme gramofone e Kakashi andava de um lado ao outro com sua câmera fotografando tudo e todos, a alegria contagiava aquele lugar antes encoberto pela tristeza.
 Encontrou Naruto numa conversa acalorada com Lee, gritavam algo sobre o fogo da juventude e correr envolta da vila, era engraçado como ambos eram extremamente competitivos e sabia que aquele dia mal estava começando e muita bagunça ainda iria acontecer, aos poucos sorriu, como queria se sentir feliz ali, fazer parte daquilo, parte dele, mas se sentia tão deslocada, como uma mera telespectadora. Parou Kiba que passava por ali e pediu para que ele avisasse à Naruto que ela precisava falar com ele, sabia que o companheiro de equipe jamais desconfiaria, afinal acima de qualquer suspeita ela e o loiro eram apenas amigos, como todos ali.
 A tarde entrou e o relógio já marcava duas horas quando finalmente o almoço ficou pronto e as meninas puderam se arrumar, enquanto os garotos cuidavam da carne na churrasqueira, revezaram-se para usar o único banheiro que funcionava, sendo que Sakura foi a primeira à usufruir da água gelada, e Hinata ficou por ultimo.
 Já estava sob a água à pelo menos dez minutos deixando que ela lavasse seu corpo e alma, pensava na sucessão de incertezas e inseguranças que sua vida se tornara forçando-se à não se deixar dominar pelo medo. A água fria enrijecendo seus músculos e arrepiando sua pele naquele dia de brisas quentes, sentia-se vazia e perdida, não sabia o que faria depois. Saiu do banheiro da suíte enrolada na toalha e foi em direção à sua bolsa deixada no canto da sala, as garotas já haviam saído à um tempo e o silencio dominava toda a casa o que significava que todos já estavam no jardim se divertindo, abriu a bolsa e mais uma vez viu a jaqueta dele ali, à espera para ser devolvida, a tirou delicadamente da bolsa e a abraçou sem se importar que seu corpo úmido umedecesse o tecido alaranjado, apertou-a forte sentindo o cheiro dele pela ultima vez quando sua mente foi tomada pelas lembranças daquela noite, as sensações que ele lhe causara.
 As lágrimas já começavam a marejar seus olhos e a bile subia por sua garganta enquanto apertava a jaqueta o máximo que seus braços permitiam, sem querer se desapegar das lembranças, quando o som da porta se fechando a tirou bruscamente de seus pensamentos fazendo-a virar-se num sobressalto somente para encontrar alguém que não esperava.
- N-naruto-kun.
- Yo, Hinata.
 Levantou-se e só então se deu conta de que, além de estar abraçada com a jaqueta do loiro, ainda estava somente de toalha o que a fez corar e virar-se de costas para ele, deixando a jaqueta de lado e pondo-se à procurar na bolsa sua roupa. Vestir-se sem tirar a toalha não foi uma tarefa fácil o que acabou por arrancar risadas do loiro e deixar a Hyuuga irritada e constrangida.
- Está rindo do que?
- Desculpa Hina-chan, mas tudo o que você está tentando esconder eu já vi.
 Seu rosto corou, mas dessa vez não de vergonha e sim de fúria, sentia o sangue em suas veias ferver, ele estava sendo um idiota completo, nada parecido com o garoto doce e alegre que ela amava, afinal o que ele tinha na cabeça para achar que ela seria um brinquedo pra ele, ele era comprometido. Agarrou a jaqueta que estava caída no chão a amassando em suas mãos e com toda a raiva e mágoa reúnidas em si jogou-a na cara dele, partindo em seguida em direção à porta enquanto ele estava estático por conta do impacto, entretanto teve sua fuga frustrada quando ele segurou seu pulso.
- Hina-chan...
- Qual o seu problema?
- O que?
 As lágrimas já rolavam soltas por seu rosto, sentia seu coração espremido em seu peito, a mágoa dominava todo o seu ser e sentia uma vontade imensa de dar um soco na cara dele, o que ironicamente a fez lembrar-se de Sakura.
- Qual o seu problema Naruto? Esse não é você, não foi por esse Naruto que eu me apaixonei. Você está sendo só um idiota.
 As palavras saíram de sua boca como facas o acertando e quando a incredulidade dominou o rosto dele ela se desvencilhou de suas mãos saindo em seguida do quarto e batendo a porta com força. Desceu as escadas e pôs-se à procurar um lugar em que pudesse se acalmar sem que ninguém visse ou a incomodasse, até que lembrou-se de um dos cômodos do andar inferior, deveria ser um escritório e ficava sob a escada da sala, onde estavam guardando os materiais da reforma, ficou lá um tempo inspirando e expirando tentando controlar a vontade de chorar ou desmaiar, tentando suprimir todos os sentimentos que a afogavam, ouviu ele descer as escadas e sair pela porta da frete batendo-a em seguida, só depois de algum tempo saiu da casa pela porta da cozinha.
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 Ela deixou-o no quarto sozinho ainda segurando sua jaqueta, havia a visto abraçada com a peça de roupa, esta ainda úmida pelo contato com o corpo da morena que havia recém saído do banho. Sentia-se um completo idiota, sujo e indigno. A verdade é que não sabia o que estava fazendo quando foi até ali, apenas deixou-se dominar pela ansiedade de vê-la e ouvir sua voz quando o amigo o avisou que ela precisava falar com ele, desejava tocá-la, sentir mais uma vez a maciez da pele, saborear mais uma vez dos lábios, inalar mais uma vez o perfume.
 Era estúpido deixar-se dominar por um desejo que não poderia corresponder, era comprometido com alguém que precisava dele, alguém de quem ele já cuidava a tanto tempo, não por hábito, mas por amor. Sim, ele amava Sakura, talvez não o amor tolo e infantil que tanto anunciava ao ventos antes, mas um amor verdadeiro e diferente, sentia necessidade de protegê-la, de vê-la feliz e segura. Talvez não houvesse de fato uma forma de categorizar e nomear o amor que sentia pela amiga que tornou-se namorada, penas daria tudo para vê-la feliz, daria até mesmo sua própria felicidade.
 Com esse pensamento guardou sua jaqueta na mochila que sabia pertencer à Hyuuga, era uma despedida, mesmo que ela não estivesse ali para ouvir suas palavras, e saiu do quarto indo em direção ao jardim onde todos, inclusive a rosada já o esperavam.
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 O almoço correu com tranquilidade, todos entretidos em conversas banais, contando histórias e rindo, porém o moreno não desgrudava os olhos dela, não que Naruto se desse conta disso, uma vez que estava ocupado demais contando pela milésima vez a história do encontro deles com Zabuza e como a ponte acabou ganhando o nome dele, enquanto o sensei acrescentava um ou outro detalhe, todo já completamente sob o efeito das várias garrafas de saquê que jaziam vazias sob a mesa. A rosada entretanto sabia que ele a observava com seus olhos sérios, porém cheios de expectativa, o que a lembrava do que deveria fazer.
 A tarde caía tingindo o céu de laranja e todos já estavam arrumando o jardim, acendendo as lanternas e pegando mais bebidas, logo o sol iria se por e começaria a queima de fogos que coloriria o céu noturno. Os amigos andavam de um lado ao outro, recolhendo as garrafas vazias a louça suja e as sobras de comida, porém quanto mais o tempo passava mais a rosada se sentia sufocada, por onde quer que andasse sentia os olhares, hora de Sasuke, hora de Ino lhe questionando silenciosamente quando ela iria de fato falar com Naruto, suas mãos suavam e o nervosismo começava a tomar conta quando finalmente o jardim estava arrumado e todos se sentaram para ver os últimos raios de sol no horizonte.
 E munida de uma coragem que viera sabe-se lá de onde ela o chamou.
- Naruto, eu tenho uma coisa muito importante para te falar.
- Eu também tenho algo muito importante para te falar Sakura-chan.
 O sorriso puro que ele lhe oferecia minou por um momento todas as suas forças, trazendo ou mesmo tempo o conforto que ela precisava para concluir aquilo. Naruto era bom e ela sabia disso e sabia que o amava, talvez não como devesse, considerando que ele era seu namorado, mas o amava, um amor diferente, puro, estaria sempre ao lado dele quando ele precisasse e o ajudaria em tudo o que estivesse ao seu alcance, mas não era capaz de fazê-lo feliz, não era capaz de ser sua mulher. Seu peito apertava só de pensar em como o traiu e em como o magoaria com tudo aquilo, terminaria, mas não revelaria o motivo, não podia machucá-lo assim.
- Naruto, é séri-
 Não teve como terminar pois logo o céu, já escuro, iluminou-se em multi cores enquanto o som das explosões reverberava por todos os cantos. O loiro levantou-se em meio ao espetáculo e segurando sua mão ajudou-a a levantar também para logo em seguida ajoelhar-se na sua frente.
 Nesse momento todo seu corpo tremia e o pânico a dominava completamente, já não sentia o sangue em suas veias e um frio absurdo dominou seu corpo fazendo seus lábios tremerem fazendo-a levar às mãos à boca numa tentativa falha de pará-los. Quando ele enfim tirou a caixinha do bolso, abrindo-a, e pronunciando "Sakura, quer casar comigo?" sua mente sequer era incapaz de processar o que estava acontecendo, tudo que ouviu em meio aos fogos e foi o barulho abafado de algo ou alguém caindo de encontro ao chão, os gritos dos amigos tornaram-se tão distantes quando seu corpo amoleceu e a escuridão também a dominou. Havia desmaiado.