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História Royals - Carta da Mudança


Escrita por: airallis

Notas do Autor


SUPRISE, BITCH! Okay, eu sei que tem um total de zero pessoas pra ler nessa hora mas vou fingir que tá todo mundo aqui.

Eu tô sentindo que tinha umas coisas pra dizer, mas esqueci de todas agora. Então, só vou falar que, lembra que eu tinha dito para algumas de vocês que esse negócio de Regina + Rebeldes não ia dar em algo tão ruim? Pois é, a prova disso estará neste capítulo mesmo, e só tenho a dizer a seguinte palavra:

FINALMENTE!

Quando terminarem vão entender o motivo de eu ter ficado tãão animada! Beijo no suvaco de todas, boa leitura ❤ (e boa noite).

Capítulo 31 - Carta da Mudança


Fanfic / Fanfiction Royals - Carta da Mudança

"Você não precisa chegar no fundo do poço para saber que lá não é o seu lugar"

— Breno Kaeru



Adentraram o estabelecimento perigoso, enquanto o caçador a levava em direção à mesa de comidas.

— Graham — disse ela —, eu não gostei. Quero ir embora.

Ele continuava segurando forte sua mão, atravessando as pessoas barulhentas, fingindo que não a escutava, porque não era possível que havia tido tanto trabalho para trazê-la ali e, no fim das contas, ela nem ao menos aceitasse ouvir o que tinham a dizer.

Pararam depois da mesa de cerveja barata e começaram a conversar perto, tentando fazer os outros não perceberem a insegurança da visitante. Alguns passavam e olhavam curiosos, pois sabiam que era ela a estranha.

— Vamos esperar aqui. Ele logo virá falar com você.

— Ele quem? — indagou nervosa.

— O líder.

— Líder?! — exclamou.

Regina logo sentiu o cansaço da caminhada bater. Curvou um pouco as costas e apoiou a mão na mesa, com os pés inchados doendo e um mal estar se aproximando.

— Preciso me sentar — disse baixo, com as mãos tremendo.

Além dos sintomas inoportunos da gravidez, o medo de ser reconhecida por aquele povo a deixava desesperada. Só queria sair logo dali e arrumar um lugar para se esconder.

Humbert arranjou rapidamente uma cadeira e a pôs ao lado da amiga, que se sentou e suspirou, pensando que a caminhada de volta poderia ser ainda mais difícil do que a de ida.

— Você está bem? — ele perguntou após se ajoelhar ao lado dela.

Mills não respondeu, apenas começou a observar com mais atenção o ambiente de pessoas torpes e esquisitas, de comportamento exagerado e vulgar. As vozes altas faziam sua cabeça doer e a irritação aumentar. Pôs a mão na boca, tentando tampar no mínimo uma parte do rosto.

Graham acabou cumprimentando algumas pessoas que estavam perto e as apresentou a Regina, que queria sair correndo a cada vez que ele dizia “ah, venha conhecer a French”.

Houveram, antes de se separar, alguns passeios de carruagem aberta, mas não foram tantos. Mesmo assim, alguns dos camponeses puderam vê-la. Só podia pedir a Deus que ninguém ali tivesse tido essa oportunidade.

Quando os conhecidos do caçador deram um tempo, ela se levantou da cadeira e começou a pedir respostas às suas dúvidas.

— Aquelas pinturas — iniciou ela. — Por que vocês têm aquilo?

O rapaz deu mais alguns goles em seu copo de alcoólatra e respondeu pacientemente:

— Para que possamos lembrar quem são nossos verdadeiros inimigos.

Mills encarou-o durante um tempo, empenhando-se para não demonstrar em que nível estava o seu choque.

— Por que eles são os inimigos?

— Você não vê? Não é óbvio? — Depositou o copo sobre a madeira. — Por que acha que sofreu tanto durante sua gravidez? Por que acha que não havia outra moça para ajudá-la? E por que eu passo a maior parte do dia fora, trabalhando? São eles, Regina — falou e apontou para as obras. — É a realeza quem tira de nós e usa consigo mesma, em mais ouro, mais imóveis, mais diversão...

A moça preferiu se manter em silêncio. Discutir um assunto aparentemente tão importante para ele não seria a coisa mais inteligente a fazer. Levantou-se minutos depois, tentando se sustentar sem a cadeira.

— Veja, ali está ele — Graham disse e apontou para um homem de quarenta e cinco ou cinquenta anos.

O senhor caminhou normalmente. Atravessou o evento e Regina pensou que, se fosse para ser reconhecida, não teria mais para onde fugir. Era inevitável tentar se esconder ou disfarçar àquela altura.

— Boa noite, Graham. Boa noite, senhorita — o tal líder disse. — French, certo?

A jovem assentiu, estática.

— Muito prazer, sou George Hill, o líder do grupo. Líder dos Rebeldes, melhor dizendo.

Regina permaneceu encarando e se perguntou quantos dos seus guardas, quantas das suas criadas, das suas cozinheiras e quantos dos seus jardineiros aquele homem alto e troncudo havia matado. E desde quando os matava.

Se perguntou se teria estado no ataque em que Robin quase morreu e se tinha alguma aproximação com o menino que a própria havia sacrificado. Aquele que fora o responsável por abrir um buraco na cabeça do Rei com uma pedra.

— Meu sobrinho lhe disse alguma coisa sobre nós? Os quadros? — Observou Humbert por um momento, e este assentiu, com as mãos para trás. — Está assustada, Srta. French?

— Senhora — murmurou, cética por ouvi-lo chamar seu colega de quatro de sobrinho.

— O que?

— Senhora — repetiu, lembrando-se da história da viuvez. — Sra. French.

— Oh, é claro! Eu peço perdão.

George tinha o rosto liso, era pardo, de costas larga, mas não necessariamente acima do peso. Vestia roupas escuras e seus cabelos grisalhos estavam um pouco maiores do que deveriam.

— Posso acompanhá-la até outro lugar para conversarmos melhor? — ele perguntou e estendeu o braço na direção dela, que rapidamente o aceitou.

Os três começaram a andar até mais perto das esculturas das faces reais, onde um raso desenho seu estava localizado. Sentaram-se num sofá confortável, com Regina no meio. Graham sabia que era a hora de se calar e deixar que seu tio apresentasse sua versão.

Sobrinho. Isso só podia ser mais um dos efeitos colaterais do carma da sua vida, pensava a camponesa.

— Está de quantos meses? — o mais velho perguntou após tomar nas mãos uma caneca de cerveja.

— Sete.

— Acha que consegue nos ajudar?

— Ajudar? — perguntou já se imaginando invadindo um certo Castelo e destruindo tudo o que visse pela frente.

Sinceramente, nunca faria isso!

— Ah, posso ver que não sabe de tudo. Pois bem, vamos começar... Do começo.

Ele não aparentava ser alguém agressivo ou mal caráter. Tinha o mesmo aspecto sociável do sobrinho, por mais que o segundo roubasse grávidas nas horas vagas.

— Estamos aqui em manifestação. Todos nós. — Deu um gole e fez uma cara estranha, mas logo voltou a dar atenção à visitante. — Há uns trinta e cinco anos, pelo menos, que nos rebelamos contra a realeza. Desde o início do reinado do Rei Leopold e da Rainha Ivy.

Regina logo identificou os nomes dos seus falecidos sogros que haviam morrido num ataque rebelde.

— Eles eram cruéis. Matavam e cobravam como nenhum outro Reino. Eram dois loucos ambiciosos que definitivamente não sabiam governar — Hill acrescentou. Mills sabia de tudo isso. — Nenhum súdito os admirava ou apoiava. Todos nós, sem exceção, não víamos a hora de que morressem, pois não mudariam nunca. Então, um dia, meu pai se reuniu com alguns amigos e conhecidos e começaram a manifestar por mudança. Leopold e Ivy mataram metade deles à tortura, como resposta.

A mais nova ouvia atentamente, se acalmando cada vez mais, desejando poder saber logo de toda a história e sentar-se calmamente com Robin – ah, Robin – e começar a analisar como poderiam resolver o problema.

Espere... O que estava pensando?

— Meu pai saiu vivo e espalhou a notícia sobre o acontecimento. Eu e meu irmão mais velho éramos adolescentes na época... Enfim. Ele conseguiu revoltar e encorajar cada vez mais pessoas, mais famílias, não apenas homens, mas mulheres também. Qualquer um que estivesse insatisfeito com o constante perigo que vinha justamente de quem deveria nos proteger. Os guardas nos atacavam sem motivo, abusavam de seu poder, era horrível — proferiu olhando ora para a festa, ora para a visitante. — Se tornaram um grupo médio, com alguma ajuda de outros camponeses, do Reino vizinho. Fazíamos trocas. A luta deles à nosso favor e nós proporcionávamos parte da nossa matéria-prima.

Humbert permanecia quieto. Ouvia o tio contar pela milésima vez aquela história e desejava que sua amiga aceitasse fazer parte daquilo.

— Começaram os ataques. Precisávamos matar Leopold e Ivy ou eles matariam cada um de nós a sangue frio. Ficamos anos e anos lutando contra esses dois monstros, até que, um dia, demos sorte. Pegamos os dois e os destruímos — falou devagar. Aquilo estava voltando a assustar a moça que agora imaginava o que seus sogros passaram na mão dos assassinos. Não que os pais de Robin não fossem assassinos, mas... Bom, era complicado. — Rei Robin devia ter vinte anos quando isso aconteceu. Estava casado há algumas semanas e ele e a Rainha Eva foram coroados na semana seguinte ao massacre. Comemoramos e podíamos apostar que o novo Rei seria diferente e que todo o pesadelo tinha acabado. Mas estávamos enganados.

Um frio subiu pela espinha da mulher quando ele se aproximou e pronunciou a última frase. Se George ofendesse Robin na sua frente, ela seria capaz de abrir mão da pose fingida e lhe dar um tapa na cara. Além de matar os pais do seu marido e fazê-lo sofrer, ainda se achava no direito de falar qualquer coisa sobre ele? Que fosse para o inferno!

— Esse Rei atual foi melhor, isso é inegável. As formas brutas, as constantes execuções e os ataques a nós por pura diversão acabaram. Quando alguém comete algum crime, recebe a pena justa. Porém, não foi perfeito. Percebemos que nossa situação econômica não mudava. Quero dizer, estava péssima no reinado de Leopold e Ivy, mas não evoluiu tanto quanto desejávamos no de Robin. Foi aí que alguns rebeldes começaram a trabalhar dentro do Palácio. As mulheres conseguiam um emprego mais útil, o de criada. Significa que teriam direito de andar por todos os cômodos do Castelo e acompanhar o que de fato era a vida da realeza. Achávamos que teríamos uma condição de vida melhor, num lugar decente, e era para ter sido assim. Tudo começou a mudar do dia para a noite. Robin e Eva se casaram, Leopold e Ivy morreram, novos reis, a princesa Zelena se casara com o Duque Hades e Felipe Eldorado foi eleito primeiro-ministro. Era tudo diferente. Estávamos em outras mãos, mas nada acontecia. Até que as criadas que faziam parte do nosso grupo encontraram documentos que provavam o desvio de dinheiro. Deram um jeito e trouxeram para nós. Não estava completo e por isso não havia o nome do corrupto, mas era óbvio que o ladrão era Robin. E esse não foi o único que elas encontraram. Houveram mais e mais, então decidimos retomar os ataques. Dois ou três anos foram suficientes para fazer Sua Majestade vir até aqui e conversar sobre isso com meu irmão, que havia se tornado o novo líder depois da morte do nosso pai, por um dos guardas da realeza.

— Eu sinto muito, Sr. Hill — Regina disse sem ter certeza se estava sendo sincera. Apesar de que era possível que estivesse.

— Obrigado, querida — o homem respondeu. Então, completou: — Robin e meu irmão, Mark, começaram a discutir tudo o que não estava bom. Foram dias de encontros e negociação, para que ambas as partes saíssem ganhando. Foi aí que nossa vida começou a melhorar. De repente, reformas estavam sendo feitas nas aldeias, os impostos abaixaram, havia mais emprego, mais segurança, mais informação... Mas não ficaram boas apenas para nós. Ele teve paz e, além disso, sua esposa engravidou da menininha. — Ele disse e apontou para o quadro da princesa. — Branca de Neve.

Regina engoliu em seco, tentando agir naturalmente como se ouvisse uma história absolutamente normal.

— Ficamos por dois anos em paz. Até que, um dia, o desgraçado nos virou as costas.

Quase deu-lhe um empurrão por falar assim de seu marido. Recordava-se do dia seguinte ao seu casamento, depois do jantar, quando Robin e ela conversaram sobre os rebeldes e o Rei contara sua versão.

— Veio conversar conosco e pediu que entendêssemos porque o muito que estava nos dando estava prejudicando várias outras áreas. Começou a querer explicar com, você sabe, aqueles termos diplomáticos, claramente querendo nos passar a perna. Infeliz!

Na verdade, foi a época que o Porto das Névoas entrou em crise. Locksley havia revelado isso no tal jantar.

— E o que aconteceu? — Mills perguntou, mesmo que já soubesse exatamente como a história terminava.

— Ele matou meu irmão — disse George. — O filho da mãe matou o meu irmão e ainda teve cara para dizer que foi ele quem o atacou primeiro, e que estava se defendendo.

Robin contara isso também, e se mostrou muito envergonhado e com remorso do que precisou ser feito. Mas era o tal homem ou ele.

— Depois disso, houve uma crise, fruto das coisas que ele roubava de nós, é claro. Voltamos a atacar, como um claro pedido de que voltassem a nos proporcionar a vida de antes. O que esse homem fez como resposta? Aumentou os impostos novamente, recrutou aldeões para o exército e limitou muitos dos nossos privilégios. Novos rebeldes começaram a trabalhar lá e descobriram que ainda estavam desviando dinheiro, roubando uma quantia absurda. Desde então, atacamos quase todos os meses. Eles têm em torno de sete à dez ataques por ano. Tudo o que queremos são nossos privilégios de volta.

Hill finalmente parou de falar, e a gestante se sentiu obrigada a dizer alguma coisa, mesmo que tivesse medo de que a palavra errada saísse da sua boca.

— Mas... Eles sabem que continuam pedindo por isso? Eles... Quer dizer, o Rei Robin... O que fazem quando o encontram nesses ataques? — indagou como se não soubesse de nada.

— É claro que sabem! — George exclamou. — Não é óbvio para eles? Claro que é. E não, não encontramos Robin ou qualquer membro da família real durante os ataques. Eles têm algum esconderijo que nunca conseguimos achar.

— E se encontrassem? O que fariam? — a moça questionou curiosa.

— Provavelmente mataríamos assim como fizemos com Leopold e Ivy — falou, causando um arrepio no corpo da outra. — E talvez pouparíamos a princesa.

— Por quê?

— Achamos que talvez ela possa fazer algo a respeito quando se tornar Rainha. É claro que nessa idade não poderia, mas um dia... Além do mais, sem Robin, a tal Regina Mills e Branca de Neve, os próximos na linha de sucessão são o Duque Hades e a Duquesa Zelena, e sinceramente, não quero ser governado por um estrangeiro que, sem dúvidas, não nos reconheceria como seu povo, não estaria disposto a mudar algo por nós — disse pensando no cunhado do Rei. — A Duquesa, que a essa altura seria Rainha, poderia tentar fazer alguma coisa, mas, cá entre nós, que tipo de poder uma Rainha tem nesses assuntos?

Vou mostrar a você que tipo de poder uma Rainha tem quando eu mesma entrar naquele Castelo e descobrir quem está com as mãos no dinheiro do meu povo, seu súdito ingrato e ultrajoso, pensou ela, e, ao mesmo tempo, se perguntou por quê estava agindo como se ainda possuísse uma coroa na cabeça.

— Talvez não seja óbvio — ela falou enquanto mantinha contato visual. — Digo, que é o que querem. Os tais privilégios. Talvez o Rei pense que só querem vingança.

Hill soltou uma risada leve e sarcástica, o que não deixou de irritar a mulher que o acompanhava.

— Ele sabe, Sra. French — disse, seco, como se bastasse.

— E nunca parou para pensar que talvez ele não estivesse roubando nada de vocês?

Essa era, sem dúvidas, uma história mal contada. Locksley nunca desviaria dinheiro, afinal. Primeiramente, por seu caráter, e, em segundo, jamais sacrificaria anos de paz e arriscaria a vida da filha, esposa e irmã por algum ouro que não mudaria em nada seu modo de viver.

— Há documentos que provam. Há roubo — falou, sem querer acrescentar mais nada.

Reparando bem, parecia que estava inventando toda a história de corrupção para manipular as pessoas e mantê-las ao seu lado. Parecia que era tudo uma grande e bem planejada e ensaiada mentira. Mas por que iria tão longe? Talvez por vingança. Talvez, apenas talvez, George e Regina pudessem ter mais em comum do que imaginavam. Da mesma forma que ela se submeteu a fingir ser quem não era e mentir até não mais suportar, à procura de vingança, Hill também poderia estar fazendo isso. Buscando exatamente a mesma coisa pela morte do pai e do irmão. A do mais velho, foi responsabilidade do Rei, já na do mais novo, fora o próprio que fizera o trabalho.

Regina observou seus olhos cansados e estudou sua expressão, sentindo pena e um leve desejo de consolá-lo para que aceitasse o que havia acontecido e pudesse seguir em frente.

O líder só poderia estar mentindo. Não existia a menor opção de Robin roubar algo, que outras opções restavam?

— Meu... — Parou de falar no instante de notou que as palavras “meu marido” estavam prestes a sair de sua boca. Deus, como tinha saudade de chamá-lo assim. — O Rei veio aqui tentar conversar com vocês e conseguiram entrar num acordo muito amigável, por sinal. Por que, dessa vez, vocês não vão atrás dele? Por que não vão atrás de um novo acordo?

— Não há acordos. Ele foi claro quando disse que não poderia continuar fazendo tanto, mas, Regina, consegue ver que tudo isso é uma desculpa para continuar tirando tudo de nós, que não temos nada? — questionou com o cenho franzido, não entendendo o porquê da relutância da moça.

— Apenas acho que pode haver outra explicação.

— E qual seria? — Sua expressão era, mais uma vez, sarcástica. Sentia pena da pobre moça grávida que queria encontrar o “lado bom” ou como quer que chame quem defende ladrões.

Mills não respondeu. Desviou o olhar e voltou a observar a mediocridade daqueles que deveriam estar do lado dela, mas muito pelo contrário.

Quis se levantar e fingir que aquela noite nunca havia existido. Sinceramente, mal conseguia raciocinar sobre tudo o que ouvira. Pelo visto, os rebeldes não eram exatamente os vilões da história. Provavelmente George era, mas não eles, de forma geral. O que queriam além uma vivência com um pouco mais de qualidade?

Regina havia sentido o que eles sentiram durante a vida toda. Seus meses morando na aldeia, contando moedas que não valiam quase nada, sendo tomada pela dor em cada músculo, por dias, lidando com o infindável cansaço... Sabia pelo menos uma parte do que precisavam passar, e se perguntou como conseguiam sobreviver por tanto tempo.

Não eram os vilões. Sabia que precisava se envergonhar por não ter sido capaz de olhar por todos. O que estava fazendo, afinal, que não teve tempo para olhar mais longe, para quem realmente precisava da sua ajuda? Seus meses na realeza teriam sido assim, tão inúteis? Que tipo de Rainha não cuida de todos? Não protege a todos? Robin não estava ali sozinho, ele não tinha olhos por todos os lugares, e se houve algum detalhe que deixara passar, era obrigação dela ter percebido.

Abaixou a cabeça, sendo atingida pelo constrangimento por ter deixado seus súditos precisarem passar por coisas e viverem em situações tão horríveis. Teve receio de si mesma ao lembrar de que, quando Kristin e depois Robin falaram com ela sobre os rebeldes, sentira medo. Esse era, na verdade, a última coisa que deveria ter sentido. Possivelmente, se tivesse, desde o início, tentado contatá-los, mostrar que a nova Rainha vinha em busca de paz, ela não precisaria estar ali naquele instante, não teria sofrido tanto em relação à falta de recursos durante sua gravidez, Robin nunca teria quase morrido e os ataques teriam acabado.

Podia ver agora o tipo de Rainha que era: Medíocre e egoísta.

— O que acha de tudo isso? — Graham perguntou, tirando-a dos devaneios.

Estudou seu rosto, lembrando-se de que era sobrinho do homem mais velho. Mas, se George era irmão de Mark, o líder que Locksley havia matado...

— Você... É filho do Mark, o penúltimo líder?

Humbert contraiu os lábios, os transformando numa linha fina, e assentiu devagar, amedrontando-se com o que poderia estar passando pela cabeça dela.

Então, era isso. O homem que Robin matou tinha um filho que cresceria, roubaria grávidas e passaria o resto da vida tentando matá-lo ao lado do tio louco.

— Precisamos de pessoas, Regina. Por mais que esse não seja o único grupo, quero dizer, há outros em aldeias mais distantes. Porém, nos dias de ataques, todos nós nos encontramos e vamos juntos.

O que aquele caçador estava dizendo? Tinha mais gente? Muito mais gente?

— Mas nem todos aqui são da parte do ataque — George acrescentou. — Há os que saem à procura de armas, os que constroem armas, os que proporcionam a comida para quando voltamos do Palácio, há também os que cuidam de nossas feridas, e assim por diante. Essa festa é só algo que fazemos às vezes para não perdermos a fé e descansarmos um pouco.

Um grupo no meio do barracão começou a gritar e Mills se assustou, pensando ter acontecido alguma coisa. Contudo, era apenas um jogo. Sabia que deveria ir embora daquele lugar de uma vez.

— Não é a única grávida entre nós, embora seja uma das poucas — o mais velho revelou. — Achamos que talvez possa aprender a construir alguns arcos, flechas, lanças... Ou ajudar em relação à comida. É algo extremamente importante todas as vezes que voltamos. Além disso, será recompensada, claro. Tudo o que roubamos do Palácio é dividido num salário maior às pessoas que vão atacar e outro um pouco menor para os que ficam com os preparativos para quando retornarmos, ou... Você sabe. Qualquer outro afazer.

George e Graham trocaram um olhar por um segundo, e exalavam do mesmo sentimento de preocupação sobre a reação da mulher para tudo aquilo. Aquela resistência.

— Depois que o bebê nascer e se passar algum tempo, poderá deixá-lo aos cuidados da minha esposa. O papel dela é tomar conta das crianças de quem está trabalhando conosco. Isso, se quiser, obviamente. Mas então poderia aprender a lutar e nos acompanhar nos ataques. O que acha? — disse George.

Mills mordeu os lábios ressecados, nervosa por não ter nenhuma resposta para uma situação como aquela.

— O dinheiro de quem trabalha montando armas é o triplo do que ganhava trabalhando para minha avó, French — Humbert deixa claro. — E, se produzir muitas e bem feitas, pode aumentar ainda mais.

Ela esfregava as mãos, sem conseguir perceber o suor pelo nervosismo. Sair de lá, só isso. Sair.

— Pense no bebê — o rapaz voltou a falar.

Tentava chantageá-la emocionalmente, empurrando-a numa missão suicida usando o próprio filho como arma. Claro que montar uns arcos e flechas não seria perigoso nem cansativo, mas depois disso, precisaria adentrar o Palácio e caçar as pessoas que mais amava no mundo para matá-las. Eles não aceitariam “não” como resposta.

— Pense no dinheiro — Humbert acrescentou.

George observava sem entender como uma jovem que estava desesperada por condições — segundo seu sobrinho — conseguia precisar pensar antes de aceitar. Era uma chance única, e ele dificilmente abria as portas tão facilmente como abriu para a morena.

— É perigoso — ela disse, apenas.

— Perigoso para mim? Para Graham? Com certeza. — o velho contou. — Mas para você? De forma alguma.

Mills procurava incansavelmente algo que pudesse dizer para fazê-los aliviá-la do compromisso e a deixassem seguir a vida normalmente, como se nunca os tivessem conhecido.

— Tem alguma pergunta, Regina? O momento de fazê-las é agora — disse o caçador.

— Graham, eu... Eu não sei... — Fitou o mais velho. — Preciso de tempo para pensar.

Hill permaneceu encarando-a, quase odiando seu sobrinho por ter trazido esse tipo tão inseguro de gente para dentro do seu covil. Levantou-se sem dar respostas e pôs as mãos na cintura, enquanto não tirava o olhar ameaçador de cima de Humbert.

— Regina... — disse o mais novo, sabendo o que o tal olhar significava. — Pelo amor de Deus, não há o que pensar.

A Rainha contraiu os lábios e abaixou a cabeça se perguntando em quanto tempo estaria em casa. Se é que conseguiria voltar.

— Desculpe, Sra. French, mas de fato não há o que pensar. Ninguém que tenhamos recrutado ficou tão inseguro quanto você, por estar justamente passando por uma situação difícil. Achamos que serviria para o grupo. — Encarou o parente mais uma vez. — Todavia não posso deixá-la ir embora sem uma resposta. Só quero ressaltar que nenhuma pessoa até hoje negou participar, por isso nunca tivemos problemas tão grandes assim. Digo, em relação à confidencialidade e lealdade. Seria muito arriscado permitir que voltasse para casa sabendo de todos os detalhes enquanto não está do nosso lado. — Seu olhar ameaçador havia sido transportado para ela. — Na verdade, eu não admitiria isso. Quer dizer, a senhorita tem conhecimento de tudo agora, ou seja, não posso deixar que passe por aquela porta sem ter compactuado conosco. Não posso, simplesmente.

— Ela não contaria a ninguém, Hill — Graham tentou argumentar.

— Eu não teria tanta certeza.

Regina engoliu em seco. Então era isso. Ou aceitava fazer parte dos rebeldes, ou George a... Machucaria? Mataria? Foi o que pôde entender por “seria muito arriscado permitir que voltasse para casa sabendo de todos os detalhes enquanto não está do nosso lado. Não posso deixar que passe por aquela porta sem ter compactuado conosco”. Ele seria capaz de ferir uma mulher nas condições dela? Oh, claro que seria. Era um assassino profissional, pelo visto, o que a fazia pensar que teria piedade da amiga do seu sobrinho? Uma barriga? Ah, por favor...

— Não me entenda mal, Sr. Hill — ela iniciou. — Só tenho medo de acontecer alguma coisa com meu filho. Os guardas não poderiam nos encontrar? Não nos machucariam?

A expressão dura daquele que permanecia de pé começou a suavizar, como se procurasse entender o lado dela.

— Há muitos de nós vigiando lá fora, Sra. French. É um outro encargo. Se algum oficial começa a se aproximar, eles vêm correndo avisar, o que nos dá tempo de correr e nos esconder. Mas eles geralmente não vêm para essa parte da floresta, justamente por ser muito fechada e escura. E de dia, bem... De dia isso não passa de um casarão abandonado. Ninguém vem aqui senão para reuniões e comemorações.

Mills assentiu, entendendo melhor. Ajeitou a postura e decidiu que o melhor a fazer era fingir estar de acordo, ou pelo menos começar a fingir que estava mudando para o lado deles. Precisaria dar um jeito nisso depois, porque dizer “não” naquele instante poderia lhe custar a cabeça.

— Eu sei que está sendo procurada — George acrescentou. — Teria proteção também. Estamos construindo uma colônia há alguns quilômetros, apenas para rebeldes. Eu diria que sessenta por cento dessas pessoas moram lá, incluindo a mim. É longe, mas pelo menos não precisaria ficar escondida dentro de um quarto, como está na pousada da minha mãe.

E foi aí que se lembrou de Granny, e então constatou que havia sido esposa do pai de George e Mark, o primeiro líder dos rebeldes, dos tempos de Leopold e Ivy.

— Os guardas nunca passam por lá?

— Não, principalmente porque é considerado um espaço pertencente ao Reino ao lado. Estamos um pouco para lá do limite do Porto das Névoas.

A moça assentiu mais uma vez, sentindo o bebê mexer e chutar sua barriga, como se quisesse ir embora tanto quanto ela. Fez uma expressão de dor que não recebeu tanta atenção dos homens ao redor, o que foi bom por lhe dar mais tempo para pensar.

— Por que estão oferecendo isso a mim? — indagou ela.

— Estamos precisando de pessoas, Sra. French. Nem todos voltam após um ataque.

Mills estudou sua expressão valente e irrefutável, pensando que poderia ter sofrido muito ao decorrer de todos os anos, por conta dessa busca por uma vida melhor e por vingança. Tinha que parar de ter tanto medo e ter mais compaixão. Na verdade, deveria ter cuidado dele. Inferno! Por que não havia feito isso?

Virou o rosto na direção de Graham, que parecia ser mais amigável, no momento, e sorriu.

— Eu aceito — disse e pensou que parecia o tipo de resposta que se dá depois de ter sido pedida em casamento. Reformulou: — Eu quero fazer parte dos rebeldes.

George soltou o ar que segurava e relaxou os ombros, mas não tanto quanto Humbert, que, além disso, a abraçou e sussurrou um “obrigado” nervosamente ao ouvido, e ela soube que se tivesse negado a proposta de Hill, tanto ela quanto ele sofreriam consequências.

Eles conversaram um pouco mais e Regina passou a aceitar tudo o que o mais velho dizia, sem pensar duas vezes. Já havia decidido o que ia fazer. Morar na tal colônia? Claro, por que não? Construir armas e cozinhar? Sem dúvidas! Deixar seu filho aos cuidados de uma estranha? Com certeza. Atacar o Palácio quando o bebê não estivesse necessitando de sua presença a cada duas horas? Sem problemas! Já parecia amar sua elite e viver por ela, sem dúvidas ou restrições, como se fosse a melhor decisão de sua vida.

Com um pouco de felicidade forçada, ela conseguiu convencer os rapazes e outras pessoas que foram conversar com ela. Não foi difícil, e logo começou a dizer que estava muito cansada e sentindo algumas dores. Sem demora, George a liberou, mas não antes de fazê-la olhar em seus olhos e jurar não contar nada daquilo a ninguém, ou então sofreria consequências. Regina jurou, mas debochava por dentro. Não sabia ele que ela era o tipo de mulher que desejava fazer crianças sofrerem? Oh, sim, com certeza ficaria calada sobre tudo aquilo... Claro.

Graham a acompanhou de volta para o albergue antes da festa terminar. Chegaram em casa e se trocaram, enquanto ele fazia perguntas sobre o que ela havia achado disso e daquilo, e a moça dava apenas respostas positivas, mostrando ter aprovado cada detalhe.

Humbert se deitou, mas Regina disse novamente que estava com falta de ar por conta da barriga e ele aceitou que dormisse novamente no sofá, sem desconfiar. Afinal, ela havia reclamado disso algumas vezes durante a noite.

Ficou sentada, tentando dormir, mas a lembrança de tudo o que havia acontecido naquela noite não permitia que fizesse isso. Estava impressionada e assustada, calculando o que faria em seguida. Graham começou a roncar levemente e ela soube que estava num sono pesado. Não pôde se segurar e decidiu dar início aos planos. Sentou-se numa cadeira frente à pequena mesa de madeira e, com os materiais de Graham, escreveu uma carta para Kristin, alertando sobre o que estava acontecendo e qual seria sua posição em relação à isso.

Quando terminou, algumas horas depois, já estava quase amanhecendo. Seu corpo estava exausto e não havia descansado sequer um minuto. O bebê chutava e ela tampava a boca para não acordar o caçador com qualquer barulho. Depois que a tinta secou, ela dobrou em algumas partes e tacou-lhe num envelope pequeno e bege. Mesmo que tivesse ficado um pouco pesado pelo tamanho da carta, ela acreditava que seu pombo-correio poderia suportar.

Sentou-se no móvel mais uma vez e pôs a carta embaixo da saia, esperando Graham acordar. Sua cabeça oscilava, quase a fazendo dormir profundamente, mas sabia que não poderia fazer aquilo. Se dormisse naquele instante, acordaria no meio da tarde, e isso não era uma opção. Tinha outras coisas para fazer no meio da tarde. Aguardou pacientemente, até que o caçador acordou e ela fingiu despertar com a claridade da janela. Conversaram um pouco e ele se arrumou, pronto para sair para mais uma caçada. Quando se retirou, Regina vestiu seu vestido e cobriu-se com a capa. Tomou um café amargo que Humbert havia preparado, na intenção de acordar, e saiu do albergue. Pôs o capuz na cabeça e andou o mais rápido possível até o fim daquela rua da aldeia, onde sabia que Jefferson estava hospedado.

Antes, morava na floresta, mas mudou-se para a vila após Kristin pedir. Mills desconfiava de que aquilo poderia não ser apenas amizade, e que o Chapeleiro poderia cultivar sentimentos pela fidalga. Pobre homem, nunca poderia ser correspondido, caso tudo isso fosse verdade.

Ao se encontrar com ele, que era quem cuidava de seu pássaro, já que não havia conseguido inventar uma história para aquilo para contar a Graham, ela adentrou sua pequena casa e pediu que instruísse o animal a enviar a carta para sua amiga. Sem demora, ele pôs o papel nas garras do animal, que saiu voando pela janela, indo na direção que precisava ir.

Assim como ele, essa era a vez da Rainha partir para onde precisava ir.

O pássaro demorou algumas horas para conseguir alcançar o Palácio, o que deu tempo para Regina resolver algumas coisas. Felizmente, quando chegou no Castelo, no horário do almoço, conseguiu deixar o envelope na janela da Dama antes que esta saísse para ir se alimentar.

Kristin segurou-o e abriu sem demora, logo depois de dar um agrado para o pombo e prendê-lo numa gaiola na sua varanda, até que tivesse como enviar uma resposta à sua amiga.

O papel estava um pouco manchado e amassado, mas dava para ler perfeitamente. Trancou a porta do quarto, temendo que seu marido entrasse de surpresa e descobrisse que ela mantinha contato com quem, na visão de todos, era uma traidora. Sentou-se no colchão e começou a ler aquela imensidão de frases.


“Querida Kristin,

Antes de tudo, quero avisar que tenho algo horrível para contar. Se não estiver sentada, peço que faça isso agora.

Antes de ontem fui despedida – não, essa não é a má notícia. Granny disse que meu trabalho não estava rendendo, e não posso discordar dela. Além disso, ela viu alguns cartazes por aí que diziam que eu estava sendo procurada. Na sua última carta, contou que não era Robin quem estava movendo isso. Então, pelo amor de Deus, quem é? Hades, de fato?

Ela disse que eu não poderia lhe dar mais problemas, então além de perder o emprego, perdi meu teto. Fui despejada. Mas Graham me ajudou nessa parte. Conversou com a avó que aceitou que eu permanecesse escondida em seu quarto. Sim, estou dormindo no mesmo cômodo que um homem que não é Robin. Sim, eu também não sei como estou sendo capaz.

Continuando, este meu amigo contou que havia uma forma de eu conseguir dinheiro e proteção, mas que isso me marcaria pelo resto da vida. Kristin, eu estava completamente desesperada e com medo pelo bebê – aceitei. Ele não revelou o que era, até ontem à noite. Eu, ele e outras inúmeras pessoas fomos a um lugar escondido na floresta.

Kristin, minha cara, Graham me levou ao covil dos lobos, levou-me à sede dos rebeldes. Não, isso não é uma figura de linguagem ou algo do tipo, é literal. Eu estive no meio de todos eles. Aquelas pessoas tocaram em mim, se aproximaram, trocaram palavras comigo, mas nenhuma me reconheceu.

Eles têm três pinturas estranhas; uma sobre Robin, outra de Branca mais nova e outra com rasos traços de mim, ainda assim, estou irreconhecível. Têm isso para que possam se lembrar de quem são os inimigos. Estavam festejando quando cheguei, foi estranho. Estava apavorada, não parei de tremer durante um minuto sequer. Só queria ir embora daquele lugar, mas era como se Graham pudesse se meter em problemas se eu fizesse isso.

Aliás, contei que Graham é sobrinho do líder? E contei que passei um longo tempo conversando com o próprio? Ou talvez estivesse apenas ouvindo sua versão dos fatos. George Hill é seu nome. Ele é, aliás, irmão daquele outro líder, aquele que Robin matou.

Kristin, apenas estou revelando estas coisas porque você é minha melhor amiga e por ser a única que tem total conhecimento sobre o que anda acontecendo na minha vida. Além disso, estou decidida a ir embora daqui, e não posso ir sem te explicar o motivo.

Pode, por favor, inventar algo ao meu pai e dizer que estou bem e que eu o amo? Se, por acaso, após essa carta, não tivermos mais contato por pelo menos quatro meses, pode contar toda a verdade a ele? Desde o começo? Desde meu último jantar no Palácio? Não estou me importando com as consequências disso agora. Apenas quero parar de mentir e fingir. É só isso que venho fazendo desde que salvei Branca no dia que nos conhecemos, não? Finjo que quero me casar, finjo que me importo com minha enteada, escondo Rumple, minto para Robin para que ele não descubra minhas sujeiras, meto você em sérias confusões, decepciono a todos, sou um desastre.

Pensando melhor, acho que fiz isso durante toda a minha vida, desde criança. Finjo satisfação, finjo ser alguém que não sou. Meu filho está prestes a nascer e não quero ser uma personagem para ele. Quero ser sua mãe.

Creio que darei trabalho para você, porque sei que tentará me procurar através de Jefferson novamente. Sinto muito por isso, Kristin, apenas não posso fazer parte de um grupo de assassinos, ainda mais destes.

Quando receber esta carta, eu provavelmente estarei arrumando minhas coisas ou comprando alguma comida, então, se tudo der certo e Granny sair do balcão por um minuto, eu irei embora daqui para nunca mais voltar.

Com amor, Regina.”


Estava pasma, com o coração disparado. A notícia caiu feito uma bomba em seu colo e num momento soube que precisava arrumar um jeito de corrigir a situação. Achou que a Rainha ter sido despedida era algo ruim, mas pior era saber que esteve durante um longo tempo, como a própria ressaltou, na presença dos crápulas assassinos.

Deus, será que Regina não tinha noção do perigo que correu? O risco de alguém tê-la reconhecido foi imenso! E Graham, um rebelde? Logo ele que sempre se mostrou o vizinho perfeito, por sinal.

Kristin levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, pensando no que deveria fazer. Se sua amiga saísse mundo à fora, sem rumo, mais uma vez, e grávida de sete meses, o que poderia acontecer? Algo muito ruim, sem dúvidas. Não suportaria andar por muito tempo, e os rebeldes poderiam ir atrás dela. Graham poderia ir atrás dela e veria que estava fugindo. Só Deus poderia saber o que aquela gente faria. E, pelo comportamento deles quando atacavam o Castelo, ela sabia que não seriam nada piedosos.

Num instante a fome passou e ela se esqueceu de que deveria ir almoçar. Apenas decidiu respirar fundo e tomar um copo de água, na busca por colocar as ideias no lugar e adivinhar qual seria a melhor coisa a ser feita. Assim, viu que viveria o resto da vida passando por esses sustos em relação à Regina se não fizesse o que, no fundo, ela sabia ser a coisa certa. Se olhou no espelho por um momento e questionou a si mesma se realmente iria arriscar fazer o que tinha em mente. Se não fizesse, Regina se meteria em problemas irreversíveis em breve. Deveras, não tinha por quê pensar mais.

Saiu do cômodo e subiu as escadas, indo até o terceiro andar. Aproximando-se do quarto do Rei, ela viu a figura insegura e triste de Marian encarando a porta, sem decidir se deveria entrar ou não. Eldorado sequer a cumprimentou. Bate na porta algumas vezes e nada acontece. Como o assunto era sério, ela simplesmente abre a porta, sem ser impedida pelos guardas que obviamente já a conheciam. Procurou Locksley por todo o cômodo e não o encontrou. Saiu novamente, dando de cara com a criada.

— Onde está Robin, garota? — perguntou secamente.

— Se não está aí, então não sei — respondeu simplesmente.

A fidalga quase saiu andando novamente, mas se permitiu parar por um minuto para falar com a empregada que gostava de se fantasiar de Rainha.

— Pensou na proposta?

Marian se lembrou que havia conversado sobre isso com Robin no dia anterior, quando o mesmo a havia negado.

— Pensei, mas minha resposta é não — a mais nova respondeu.

Kristin bufou impacientemente. Passou dias tentando arrumar um jeito de tirar a mulher daquele Castelo para sempre, pois acreditava que o dia a dia ali seria muito mais fácil se ela não estivesse presente. Robin não a mandaria para a rua se não cometesse algum delito grave, por conta do que haviam vivido em relação ao filho que tinha morrido. Sabia que devia algo a ela, algo que pudesse, no mínimo, não piorar a dor que sentiram quando o bebê morreu segundos após nascer. Desse modo, a Dama havia tido a ideia de arrumar um marido para ela. Alguém como Locksley, de preferência, que poderia substituir o que o Rei significava para ela. Obviamente, o amor de Moyes era interesseiro, desse modo, não seria tão difícil encontrar alguém que a satisfizesse financeiramente assim como ele.

— Bom, não tem problema, de qualquer forma — a Dama falou com desdém.

— Como assim? — a moça questionou. — Queria tanto que eu aceitasse isso.

— Não faz mais tanta diferença. Seus dias de glória estão prestes a acabar aqui. — Havia um sorriso malicioso em seu rosto, e ela saiu andando novamente na direção das escadas.

Moyes se desencostou da parede, assustada com o que a loira havia acabado de dizer e começou a correr atrás dela, que andava rapidamente.

— Kristin, espere! — Continuava tentando alcançá-la. — O que quer dizer com isso?

— Não vou estragar a surpresa contando tudo para você, querida.

Regina estava numa situação de alto risco, e já havia chegado no limite. Esse medo em relação ao marido já devia ter acabado. Será que não havia o conhecido suficientemente depois de meses de casamento?

Desciam velozmente e passaram pela sala do Conselho, que estava vazia. Andaram um pouco mais, procurando pelo loiro sumido que não se encontrava nem no salão dos jantares para o almoço. Então, Kristin tomou direção até seu escritório, com Marian ainda correndo atrás dela e fazendo mil perguntas que de forma alguma eram respondidas.

Sem bater, a mais velha adentrou o escritório, flagrando Branca na cadeira do pai, e o próprio em outra ao lado dela, segurando uma pasta e parecendo explicar alguma coisa. A menina se mantinha concentrada, enquanto aprendia mais um assunto para quando fosse assumir a coroa.

Quando as duas entraram, Robin lançou um olhar de reprovação por terem agido de tal forma. Não lhes deu atenção e continuou a falar com sua filha, até que a loira se aproximou da mesa e permaneceu encarando-o até que desse atenção. Incomodado, o homem parou sua explicação e encostou as costas da cadeira.

— Pois não, Kristin?

— Precisamos conversar — falou ela. — Sobre Regina.

Locksley fechou a cara e desviou os olhos, passando a odiar aquele momento e se segurar para não ordenar que a mulher se retirasse.

— Não tenho o que falar sobre ela — deixou claro.

— Talvez você não tenha, mas eu tenho. — Molhou os lábios e se preparou para fazer algo que mudaria tudo. — Temos que falar sobre um segredo dela.

— Ora, mais um? — Marian perguntou. — Essa mulher não cansa de esconder e mentir?

— Cale a boca, garota! Você nem deveria estar aqui — a loira quase gritou para a outra. — Robin, na verdade, não é bem um segredo. Ou... Não sei explicar. Mas, por favor, não encare desse modo — falou tentando aliviar o que estava prestes a contar.

— Eu não sei se quero saber de mais coisas sobre a Regina, está bem? Eu e Branca estamos ocupados agora.

— Você vai querer. Acredite em mim.

— Kristin — a princesa se pronunciou —, é sobre aquilo que conversamos? Aquilo que minha mãe contou e que não podíamos contar pra ninguém?

A loira sorriu e assentiu, gostando da cumplicidade que havia começado a existir entre as duas depois do encontro da pequena com a mãe.

— Espere, do que estão falando? — o homem começou a se interessar.

— Não! Kristin, minha mãe exigiu que não falássemos nada, principalmente para o meu pai! — Branca exclamou, temendo que Mills ficasse magoada com ela por saber que tinha quebrado sua promessa.

— Querida, acredite em mim, às vezes não podemos dar ouvidos às coisas que sua mãe diz.

Robin se levantou da cadeira, começando a se estressar pela forma que estavam conversando, e mudou de ideia num segundo. Na verdade, queria sim saber sobre Regina, sobre o que estava fazendo, com quem estava, se estava bem, se ainda o amava...

— Do que vocês estão falando? O que estão escondendo? — Locksley exigiu saber, com um dos punhos cerrados.

A Dama umedeceu os lábios novamente e olhou para Branca, mas logo desviou-se para encarar o reinante mais uma vez. Apoiou as mãos sobre a mesa e sua expressão transformou-se em algo como compaixão e suavidade. Precisava transpassar calma, para que Locksley não surtasse.

Sabia que Regina podia odiá-la depois que fizesse aquilo, mas estava disposta a arriscar.

— Robin, sua mulher... Ela...

— Ela não é mulher dele! — Marian vociferou. Estava de braços cruzados, preocupada e odiando todos naquela sala por estarem tão interessados na desgraçada que havia roubado seu lugar.

— Pode ficar quieta, por favor? — Locksley perguntou entredentes, usando um pouco do seu olhar ameaçador para silenciá-la.

Moyes desviou o olhar e se segurou para não bater o pé no chão, em reflexo do seu ódio.

— Continue — o mesmo acrescentou, para a Dama.

— Robin, se lembra das semanas seguintes àquele ataque rebelde em que você ficou gravemente ferido? Aquela época que fomos visitar o pai da Regina? — ela iniciou.

— Lembro, claro — respondeu suavemente, repassando alguns momentos na cabeça.

— E se lembra que, algumas vezes, ela reclamava de dor de cabeça, tontura ou enjoo?

Locksley pensou por um instante e de fato se recordou de alguns momentos em que a ouvira falar disso, mas foram muito poucos, por isso nunca desconfiou.

Mal sabia ele que sua mulher evitava falar sobre isso justamente para que não pensassem em algo que poderia não ser verdade. Como faziam meses desde que se casara e ainda não havia engravidado, Regina chegou a pensar que havia algum problema com ela. Todavia quando os enjoos chegaram, ela teve medo de levantar esperanças para um alarme falso.

— Sim — o loiro respondeu e assentiu. Quando fez isso, ele percebeu.

Dor de cabeça, tontura e enjoo? Oh, Deus, não é possível!, pensou ele. A forma delicada e precavida que Kristin havia dito, e as lembranças de momentos em que aqueles episódios haviam ocorrido... Estava tudo interligado, e... Inferno! Não a via a meses! Aquilo significava... Estava delirando?

— Kristin... Você está dizendo que... — Se calou sem conseguir terminar sua indagação.

Foi algo que sonhou tanto, por tanto tempo, era a tal bênção, o fruto do amor, e podia este ter vindo logo num momento tão ruim?

— Sua mulher estava, ou melhor, está... Grávida.

Locksley não podia piscar, desviar o olhar, respirar ou sentir nada que o tocasse naquele instante. Estava totalmente paralisado, sem fala, imóvel, e nem seu cérebro parecia querer funcionar direito. Havia congelado. Poderia cair para trás se suas pernas não estivessem tão travadas.

Após alguns segundos, com o silêncio reinando e Kristin apavorada, tendo certeza absoluta que Robin ia explodir, o próprio começou a ser capaz de pensar em alguma coisa.

Como ela poderia estar grávida desde aquela época? Como nunca contou? Eles estiveram bem e felizes por tanto tempo, e mesmo assim decidira esconder dele algo que desejava tanto quanto ela? Decidiu esconder uma alegria tão grandiosa? Era uma gravidez! Era um filho! O que aquela mulher poderia estar pensando? Poderia ter escondido tudo por pura maldade?

Locksley estava chocado, com parte de si feliz por ter um bebê novo, um filho com... Ela. Mas metade dele estava odiando-a e querendo gritar na cara da morena como havia sido cruel e desumana por ter lhe tirado a chance de saber da gravidez, por estar lhe tirando os meses de gestação, por querer esconder uma criança que definitivamente não havia feito sozinha. Regina só poderia estar louca para ter tido coragem de fazer isso com quem ela dizia amar tanto. Então, mais uma vez Robin pôde comprovar que ela nunca o amou de verdade. Não teria feito tamanha iniquidade, se amasse.

— Robin, pelo amor de Deus! O que está passando pela sua cabeça? — Marian perguntou totalmente estressada. — Se esqueceu do tipo de pessoa que ela é? Se esqueceu de tudo o que ela desejava fazer com você sabe quem? — Não pronunciou o nome da menina porque, por sorte, se lembrou que ainda estava presente. — Pelo ser humano que Regina é, acha mesmo que essa... Coisa que ela carrega na barriga pode ser seu filho? É um bastardo, Robin! É óbvio!

Sem poder dar uma palavra, o Rei observou a Dama, que o observava arisca, mas triste por estar sentindo um pouco da dor dele por precisar descobrir que seria pai da forma mais lastimosa possível e depois de tanto tempo. Ela negou com a cabeça, dizendo que o que a morena estava afirmando não poderia ser verdade.

Porém, por um lado, Moyes tinha chance estar certa. Depois de quem Mills se provou ser, seria inteligente acreditar de primeira numa notícia daquelas? A voz da racionalidade instruía o Rei a duvidar, mas seu coração já havia acreditado e se conformado com a ideia de que o sonho de ter um filho com a mulher que amava havia se tornado realidade.

— Kristin... O que tem a dizer sobre isso? — ele perguntou com a voz fraca e as mãos tremendo.

A fidalga sorriu sinceramente e Branca a copiou. As duas sabiam que as coisas estavam prestes a mudar.

— Majestade, do fundo do meu coração e com toda a honra e sinceridade da minha alma, posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que a criança não é de outro, senão sua.

As palavras foram como música aos ouvidos do reinante, e ao mesmo tempo que sentia seu coração se despedaçar em mais uma decepção que Regina estava lhe dando, ele se alegrou por dentro, imaginando-a grávida e tendo certeza de que estava linda, por mais que doesse pensar nela de forma tão positiva.

Virou-se de costas, observando a paisagem da janela, todo aquele jardim, os caminhos da pedra, os muros e portões gigantescos ao longe. Olhava na direção do Palácio de Verão, na direção em que sua Rainha e seu filho estavam.

— Robin? — a Dama perguntou. Torcia para que ele pedisse para trazerem Regina de volta.

Lágrimas começaram a surgir timidamente no canto dos olhos do monarca e, olhando para o horizonte, imaginando-a ali, ele soube para onde deveria levar seu coração. Suspirou demoradamente e respondeu à fidalga:

— Vamos encontrar minha esposa.



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