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História Saint Seiya: Sob o Sangue do Escorpião - Minos


Escrita por: Draconnasti e Katrinnae

Notas do Autor


O cerco ao Santuário prossegue cada vez mais sangrento, e um poderoso inimigo se mostra para enfrentar qualquer um que surja na sua frente. Enquanto isso, Antares corre em socorro às Amazonas, porém seu oponente não parece disposto a deixá-la ter sucesso.

Capítulo 39 - Minos


Diante do corpo destroçado de Nyctimus, Íficles aguardou com alguma impaciência para ver se o traidor se levantaria novamente. Precisava ir ao encontro de seus subordinados, que havia deixado fazendo a guarda do Santuário. Estava preocupado, pois um de seus tenentes ainda estava gravemente ferido. Receava que os acontecimentos envolvendo o ex-Cavaleiro de Lobo abalasse a moral dos demais, obrigando o Cavaleiro de Leão a ser mais presente. Contudo, algo ali o incomodava.

Não via qualquer sinal de inimigos, nem sentia suas presenças ali, mas seu instinto dizia que aquele lugar ainda tinha uma grande ameaça escondida.

– Merda! Saia de onde quer que esteja, seu maldito covarde! – Bradou o leonino, virando-se e olhando para todos os lados. – Posso sentir o seu fedor daqui!!!

Saltou para o lado bem a tempo de desviar de uma rajada de vento vinda de um templo destruído à sua direita. A lufada carregou o Espectro derrotado no chão, fazendo com que se chocasse violentamente contra uma parede em ruínas e fosse soterrado nos escombros. O Leão Dourado olhou na direção do ataque, e viu uma figura saindo do edifício sagrado.

Sua Súrplice era negra e de grandes asas, fazendo-o parecer ainda maior do que já era. Tinha um caminhar calmo, sem a mesma afobação de muitos outros servos de Hades a quem Íficles derrubou enquanto se dirigia para aquele lugar. Podia ver os cabelos prateados pendendo pelo elmo e cobrindo parte dos detalhes dourados no gorjal de sua veste.

O homem estranho parou bem à sua frente, erguendo a cabeça e permitindo que o leonino contemplasse surpreso aqueles olhos dourados e serenos. “N-não pode ser!!!”, pensou sentindo o suor frio escorrendo pela sua testa.

Um semideus.

Hades tinha um semideus em suas fileiras, assim como Athena também tinha.

Sua postura sugeria a calma que mostrava e não havia qualquer sinal de seu Cosmo, porém o leonino sabia que não podia baixar a guarda. Sua veste não era igual à dos demais, pois cobria muito mais de se corpo, além das grandes asas. Algo gritava em sua cabeça para que tomasse cuidado com aquele homem.

– Sua cautela é prudente, Cavaleiro. Inteligente, eu diria, levando em conta quantos guerreiros valorosos perdem suas vidas por conta de uma ação impensada. – O inimigo falou com a voz aveludada de quem passou muito tempo lidando com palavras.

Tinha um sotaque familiar, de alguma terra distante da Ática. Não era micênico como ele, muito menos espartano. Alguém a quem conhecia falava de um modo parecido, mas não conseguiu lembrar quem de imediato.

– Me elogiar não irá impedir que eu o parta no meio, Espectro maldito! – Bradou o Leão Dourado.

– Eu sei que não, Leão Dourado de Micenas. – O outro falou, causando surpresa em seu oponente. Isso fez com que um sorriso maldoso surgisse em seus lábios pálidos. – Mas imagino que seja astuto o bastante para saber que eu não serei tão dócil ao ponto de permitir que atinja seu intento, não é mesmo? – E ergueu uma mão suavemente. – Ambos pretendemos fazer algo, mas apenas um de nós irá conseguir. Resta apenas saber quem... embora eu já tenha uma boa ideia de quem...

Íficles estranhou ao perceber seu próprio braço acompanhar o movimento feito pelo homem a sua frente. Tentou abaixá-lo, porém não conseguiu. Sentiu que algo o impedia.

– Mas que merda...! – Bufou de raiva, lutando para se libertar do que quer que fosse.

– Acho curioso como alguns guerreiros ainda cometem o erro de subestimar seus adversários, perdendo tempo com conversa em vez de fazer alguma coisa de fato. Não pensou que eu realmente ia ficar parado, olhando para você até que notasse minha presença? – Questionou o Espectro, erguendo a outra mão. Ascendeu seu Cosmo negro, fazendo o chão pavimentado trincar sob seus pés. – Muito distraído para um leão e para alguém do mesmo sangue de um Herói…

– Seu filho da…!!! – O leonino esbravejava, quando foi atingido por um golpe de seu próprio punho, com violência o suficiente para arrancar-lhe sangue.

– Tenha modos! – O outro o censurou, fingindo um ar severo e mantendo as mãos erguidas. – É um guerreiro, mas não deixou de ser um príncipe! Ou por acaso Micenas foi tomada por bárbaros vulgares nos últimos anos? Héracles permitiu que sua terra natal decaísse tanto assim?

– Me deixa em paz, maldito!!! – O Leão voltou a urrar, se debatendo para se libertar do que quer que estivesse manipulando seus movimentos. – Lute como um homem! Sem artifícios! Apenas no braç...!

Por um instante Íficles sentiu engolir aquelas últimas palavras, assim como o ar começava a faltar enquanto sentia o aperto no pescoço. Em uma reação natural de levar as mãos à garganta, mas até mesmo isso lhe estava sendo negado, sentindo como se algo estivesse por baixo do gorjal da Armadura de Leão, enforcando-o.

– Que lástima! – Desdenhou o oponente com um sorriso. – Achava que os Cavaleiros de Athena fossem mais educados fazendo jus aos títulos que possuem, mas acho que me enganei. Talvez seja misericordioso de minha parte acabar de uma vez com isso e cumprir meu intento nessas terras o quanto antes. – Lamentou-se de maneira cínica e movendo um dedo, fazendo o Cavaleiro expelir sangue pela boca.

A visão de Íficles escurecia rapidamente, na medida em que sua face se avermelhava. Podia sentir algo afundar em sua carne, cortando-a e fazendo o sangue descer lentamente pelo pescoço. Os olhos lacrimejavam sem que ele tivesse ideia daquilo que o estava estrangulando.

O inimigo se deliciava com aquele momento, girando o dedo erguido enquanto sorria, como se enrolasse algo nele. Via o guerreiro a sua frente sufocar e se debater violentamente, no mais puro desespero. Lamentou apenas não ter mais tempo para prolongar aquela tortura. De súbito, fechou a mão e puxou o braço para trás.

Tão rápido quanto, um disco cortou o ar e se enterrou pela metade no chão, no espaço entre os dois homens. O leonino caiu no chão, como um saco de trigo largado de forma brusca, em tosse convulsiva. Os pulmões doíam ao permitir a entrada do ar carregado de morte e ruína, mas ainda assim era bem-vindo.

O sorriso do homem de olhos dourados deu lugar à surpresa, olhando para aquela arma presa ao chão. Um escudo de ouro envelhecido e de aparência impecável, ligado por uma corrente sólida feita de Cosmo. Deixou seu olhar seguir por aquela luz forte, até a mão de quem a segurava.

Nikandros de Libra o encarava friamente, enquanto se aproximava a passos lentos.

– Achei que Cavaleiros seguiam uma regra de não se intrometer em lutas que não lhe dizem respeito. – Falou o Espectro se voltando para ele, que não tirava os olhos de suas mãos, aparentemente vendo o que estava acontecendo ali. – Por outro lado, estava realmente entediante. Quem sabe não possa deixar isso mais interessante?

– Lutar com você diz respeito a mim, “Rei” Minos. – O libriano respondeu, cuspindo no chão após pronunciar o nome de seu oponente com tanto desprezo. – Eu esperei ansiosamente por isso, seu maldito.

No chão, terminando de se recompor, Íficles não conseguiu evitar o choque. “Rei Minos?! Esse maldito é o famoso Rei Minos de Creta?!”, pensou, erguendo o olhar para aquele estranho.

– De fato, já faz algum tempo… Quantos anos? Dez? Vinte? Duzentos...? O tempo no Submundo passa de forma diferente à desse mundo... – Minos falou, com uma voz aveludada, fazendo uma discreta vênia. – Creio que desde a morte de meu corpo mortal.

– Bastante tempo, “Majestade”. – Libra replicou, encarando-o. – A morte caiu muito bem, conservando a sua cara doentia.

– Oh! Vejo que ainda guarda algum ressentimento por mim… Isso me entristece muito, sabia? – O Espectro fingiu-se magoado. – Ser rei não era fácil, sabia? Sacrifícios eram necessários...

– Sacrifícios convenientes não? – Nikandros cuspiu, vendo o outro confirmar, e isso o fez sentir a calma que cultivava se esvair.

– Todos somos sacrifícios convenientes de alguém, meu caro rapaz. – O oponente rebateu sem perder o semblante calmo na face pálida. – Será que eu preciso mesmo lembrá-lo disso?

Não, sabia que não era necessário, pois nunca havia esquecido disso. Talvez a lição mais importante que aprendeu em sua vida. Ainda sentia toda a dor que aquele homem tinha causado.

Rei Minos I de Creta, filho de Zeus e da princesa Europa da Fenícia. Casado com Parsífae, filha de Apollo [01] e uma grande feiticeira.

Seu povo o amava, tinha-o como justo e sábio, mesmo com seus caprichos. Baniu os irmãos, semideuses como ele, de Creta por ter sido contestado quanto ao seu suposto direito divino de governar e porque um deles era ainda mais popular. Perseguia aqueles que atraiam sua atenção, amores ou desafetos, o que terminava por trazer-lhes mortes agonizantes. Sempre que precisava tomar alguma decisão importante, se dirigia ao Monte Ida, onde permanecia por algum tempo, a despeito da urgência da situação.

Mesmo depois do que fez ao filho bastardo de sua esposa, continuou a ser ovacionado pelos cidadãos cretenses. A pobre criança fora arrancada do seio da mãe ainda cedo e torturada na prisão até ser lançada dentro do fantástico Labirinto que mandou construir para ele. Ouviu dizer que mandou decepar a cabeça de um touro negro e costurar no corpo já crescido da criatura, com grossas linhas de tripa de carneiro, de modo que parecia de fato ter nascido daquela forma.

Transformou aquela criança em um espetáculo cruel para sua corte, vendo-a lutar por sua vida, até que a sanidade se perdesse e finalmente encarnasse o personagem que era obrigado a interpretar.

– Não sei quanto a você… – Disse Minos, trazendo Nikandros de volta àquela realidade. – … mas tenho um objetivo aqui e não desejo perder mais do meu precioso tempo.

– Que coincidência! Eu também tenho um objetivo e não quero mais perder meu tempo olhando para o seu focinho. – Disse o libriano, colocando-se em guarda. – Íficles, essa luta é minha e eu vou matar quem interferir nela.

Leão cerrou o punho com força, contudo não estava disposto a discutir naquele momento. Ainda tentava entender como o Espectro teria manipulado seus movimentos e o estrangulado daquela forma. Se ficasse, talvez não tivesse outra oportunidade de sair dali. Além disso, certamente havia outros lugares da vila precisando de um Cavaleiro de Ouro para ser o herói.

– Quer tanto assim morrer, cretense? Eu atenderei a sua vontade… – Falou o leonino, se colocando de pé. – Não venha pedir ajuda depois. – E deu as costas, se retirando, e dando graças aos céus que alguém iria fazer aquilo.

Minos apenas acompanhou a saída humilhante do Cavaleiro Dourado de Leão de maneira desdenhosa, voltando-se para o Cavaleiro de Libra mais adiante com seu sorriso cínico.

– E então? – O Rei falou, quebrando o silêncio breve, arqueando o semblante. – Diga-me suas intenções comigo? Jogar discos? – E riu.

Ao ouvir isso, Nikandros puxou a corrente de Cosmo, fazendo com que seu escudo retornasse para o braço, e sorriu malicioso.

– Depende. Você vai ser um bom cão e vai correr atrás, para trazê-lo com seu rabo abanando? – Ele quis saber, puxando uma espada de sua Armadura Sagrada. – Eu tenho seis tipos de escolhas para fazer.

– Isso será divertido! – Disse o oponente, arregalando os olhos dourados, e abrindo um largo sorriso. Por fim, esticou o braço, jogando a palma da mão para cima, chamando-o para junto dele.

O libriano avançou com um grito de guerra e a espada em punho. Precisava acabar com aquilo o mais rápido possível, ou terminaria tendo problemas. Estava pronto para desferir um golpe descendente sobre o Espectro, quando percebeu um fio prateado brilhar bem diante de seus olhos, fazendo-o saltar para trás.

– Tsc, Tsc… – Brincou Minos sinalizando negação com o dedo indicador em riste. – Não tão rápido. – E um simples gesto o puxou de volta, levando a mão soltar a espada enquanto o corpo era jogado violentamente contra a parede.

Nikandros foi ao chão, protegendo a cabeça dos escombros que caíram sobre ele. Olhou para o oponente a sua frente, tentando entender quando ele havia conseguido usar seus fios, feitos de pura energia, para manipulá-lo daquela forma. Como a um fantoche.

Sabia que ele podia usar seu Cosmo para aquilo, já o tinha visto fazer isso quando ainda estava vivo, ao trono de Creta. Com um simples gesto de sua mão, pessoas se moviam de acordo com a sua vontade, como bonecos puxados por cordas. A depender de seu humor, podia usar os fios para dar uma grande variedade de mortes. Sua criatividade era bastante conhecida pelo povo. Nunca esqueceu do quanto ele e sua esposa riam diante do sofrimento daqueles que eram afetados pelo seu poder.

– Pode me prender quantas vezes quiser, Rei Minos. – O Cavaleiro falou, se levantando e fazendo seu Cosmo explodir, arrebentando os fios em seus pulsos e tornozelos. – Eu vou destruir suas cordas malditas e vou avançar!

– Mas que interessante…!!! – Surpreendeu-se o Rei, mas também mostrando apreciar aquilo. – Quantas vezes mais poderá fazer isso, Nikandros? Poderá aguentar até que eu esteja entretido e resolva matá-lo de vez? Ou morrerá antes disso?

O libriano podia sentir mais e mais cordas aprisionando-o, sendo não apenas visíveis como pareciam trincar a armadura em incontáveis pontos, e ao contrário de início quando conseguia arrebentá-las, sentia que cada vez mais estava a exigir de seu poder. “É como… se os fios… se tornassem… mais resistentes…?! Como ele pode…”, pensava Libra voltando-se para Minos que ria daquilo, umedecendo os lábios com sua língua como que excitado por aquilo. Os fios antes prateados, tão logo ganhavam tonalidade dourada.

O Cavaleiro ascendeu novamente o Cosmo e tentou se colocar de pé, algo do qual conseguiu com muito esforço, mas podia sentir os fios ali, limitando-o.

– Miserável! – Ele praguejou, olhando diretamente nos olhos dourados de seu inimigo. Tinha um trunfo na mão, mas esperava não precisar usá-lo. Não com ele. – Não se vanglorie tanto disso.

– Não disse que ia me matar, Nikandros? Como pretende fazê-lo se mal consegue ficar de pé, meu caro escravo? Mais uma vez, está fazendo promessas que não pode cumprir? – Questionou o Espectro com desdém, fazendo um movimento de pulso que atirou o Cavaleiro ao chão mais uma vez. – Creio que esteja precisando de uma medida disciplinar, tal como apliquei em sua mãe, por ter puxado os cabelos dourados de minha esposa quando os escovava… – E jogou o braço para um lado.

Nikandros sentiu seu corpo ser atirado na mesma direção que o Espectro apontou, atingindo uma coluna com as costas, fazendo com que todo o ar fugisse de seus pulmões. Engasgou e tossiu tentando respirar, sentindo a cabeça inteira latejar.

Minos se pôs a rir, pois era sempre daquele jeito. Nikandros sempre o ameaçava após punir alguém e terminava sendo punido por seu atrevimento. E o atual Juiz do Submundo tinha um prazer em particular de usar suas cordas de Cosmo contra ele, apertando-as em seu pescoço, enquanto o lembrava de sua condição de filho de uma escrava, concebido em uma noite em que todos os homens da corte haviam se servido de sua mãe. As coisas não pareciam ser tão diferentes mesmo depois de tantos anos. O Espectro moveu os dedos, fechando a mão lentamente, fazendo com que os fios que envolviam o Cavaleiro fossem ficando cada vez mais apertados.

Libra precisava fazer algo rápido, ou terminaria sendo morto.

“Seja água”, uma voz que não ouvia há muito ecoou em sua mente. Ele olhou na direção de seu algoz, tentando se mexer, e sorriu, concentrando o seu Cosmo.

O sorriso do Rei desapareceu lentamente ao ver o do outro. “O que é isso? Os meus fios...”, pensava o Juiz intrigado com que seus olhos dourados assistiam. Sentiu as cordas folgarem nas pontas de seus dedos, fazendo-o desviar o olhar para elas, em um breve instante. Libra aproveitou a chance. Seu Cosmo explodiu, criando uma rajada de vento que obrigou ao Espectro a se proteger com os braços.

As construções ao redor tombaram com o impacto que se espalhou. Os focos de incêndio próximos se desfizeram como velas apagadas por um sopro. Um urro grotesco se fez ouvir, fazendo um Minos, de olhos dourados e arregalados, se ver diante de uma imensa serpente feita de água.

– M… Mas... o que?! – O Espectro murmurou surpreso. – Um… um dragão [02]?!

✶~~✶✶✶~~✶

Ophiucus ofegava diante de mais um Espectro tombado em convulsões mortais, por suas garras eletrificadas. Já nem sabia a quanto tempo estava fazendo aquilo, exceto que já matou todos ali pelo menos duas vezes. E ainda assim, eles se levantavam, como se nada tivesse acontecido.

– Por que vocês não ficam mortos de uma vez, malditos?! – A Amazona questionou em um rosnado.

Estava cansada e, se tudo continuasse daquele jeito, sua derrota seria uma questão de tempo. Serpens havia caído ao seu lado, mas não tinha certeza se estava morta ou apenas desacordada por conta dos ferimentos e da exaustão. Grou já dava sinais de que também não ia conseguir sustentar aquilo por muito mais tempo.

Ninguém percebeu quando Antares chegou ali, até o momento em que ela fez seu Cosmo explodir e começou a destroçar os inimigos como se fosse um animal raivoso. Abriu caminho até as Amazonas, com suas garras reluzindo tão vermelhas quanto o fogo que queimava as moradas da Vila, e só parou quando chegou a elas.

No chão, os Espectros e Esqueletos atingidos se contorciam, enquanto sua pele criava bolhas de sangue, que estouravam logo em seguida, deixando uma massa viscosa e em carne viva ao redor. Uma agonia sem tamanho que levou alguns deles a tentar arrancar a própria carne na esperança de que aquilo parasse. Aqueles que estavam mais afastados torceram as faces diante dos gritos de dor, tão pavorosos que só tinham escutado algo assim quando próximos dos portões do Tártaros [03].

A presença da Amazona de Ouro impressionou até mesmo às guerreiras sagradas. Algo nela as deixou arrepiadas, como se estivessem diante de alguém ainda pior que seu inimigo. De algum modo, podiam se sentir diante do antigo Cavaleiro de Escorpião, em ferocidade, mas não em poder.

– Vão! – Escorpião falou com voz imperativa. – Esses não vão se levantar tão cedo. Descansem e cuidem de suas feridas, para poderem voltar ao campo de batalha.

– Mas, senhora… – Grou pensou em perguntar como ela poderia ter tanta certeza daquilo.

– VÃO!!! – Ela repetiu, deixando claro que não aceitaria contestações.

Hesitante, Ophiucus concordou, enquanto Grou colocava Serpens nos braços. Procuravam com os olhos por uma rota de fuga segura, uma vez que seus corpos estavam desgastados pelo combate. Estavam naquela luta por muito tempo. Decidiram arriscar o caminho por onde a escorpiana veio e deram seus primeiros passos naquela direção.

Um Espectro fez menção de atacá-las e teve um rasgo feito no rosto, com uma lâmina de Cosmo vermelho e ardente disparado por Antares. Caiu no chão, agonizando ruidosamente, enquanto sentia a carne queimar. Os demais não conseguiram esconder a tensão. Reviveriam quantas vezes Hades julgasse necessário, eram resistentes, porém não eram imunes a dor. E aquilo que estavam presenciando naquele momento era algo bem intimidante.

O som de corpos caindo, fizeram com que a Amazona de Ouro se virasse para ver o que estava acontecendo. Grou e Ophiucus tombaram sem qualquer sinal de que algo estava errado, fazendo com que a escorpiana arregalasse os olhos por debaixo do que restou de sua máscara. E o mesmo aconteceu com os inimigos que as cercavam, exceto um.

A Súrplice dele tinha asas grandes e majestosas, de um púrpura tão profundo quanto as nuvens de uma noite tempestuosa. As tinha abertas, mostrando uma boa envergadura de lâminas sobrepostas. Parecia ser pouco mais alto que ela, de cabelos curtos e de ondas suaves, bagunçados, a julgar pelo pouco que conseguia ver por causa do elmo que muito lembrava a cabeça de um dragão. Tinha um ar orgulhoso e severo, mas eram seus olhos que prenderam a atenção dela de imediato.

Dourados.

– Confesso que não acreditei quando me disseram que Athena havia permitido uma mulher como um de seus generais, mas agora que a vejo pessoalmente, não sei o que pensar. – Ele falou com certo tom de admiração na voz, notando a máscara quebrada na parte inferior. – Achei que fosse uma mulher simples que adquiriu poder, mas de longe percebo que você não é… comum. Do contrário, Melinoe não teria sido derrotada. – E não disfarçou o olhar de alto a baixo.

A jovem ergueu uma sobrancelha, desconfiada. Não era comum que seus oponentes a elogiassem logo de cara, se é que podia considerar aquilo um elogio. Também não conseguiu identificar qualquer sinal de malícia ou ironia em seu tom de voz, o que realmente a deixou confusa.

– Quem é você e o que fez às Amazonas? – Ela rosnou, optando por não deixar transparecer sua surpresa com ele.

– Eu sou Radamanthys de Wyvern, Estrela Celeste da Fúria, um dos Juízes do senhor Hades. – Ele se apresentou com certo respeito, embora a encarasse atentamente. – E você, pelas atitudes e pela veste, deve ser a única discípula mulher d’O Caçador. Aquela que se esconde por trás do nome Antares, não estou certo?

– Eu não me escondo atrás de nome algum. – A Amazona rebateu com olhar ferino.

O oponente sorriu com aquela resposta.

– Você tem bastante coragem, mulher, mas sinto que teme alguma coisa... Talvez a Besta que habita em você e que, ao contrário de seu mestre, que sempre a assumiu e se orgulha disso. Mesmo que ele não diga isso abertamente aos seus entes queridos. – Disse ele fechando mais suas asas e cruzando os braços.

A jovem o olhou surpresa e, aparentemente seu oponente percebeu isso. Ele sorriu de modo arrogante, fitando-a. A tensão era uma ótima arma para ser devidamente utilizada, e Radamanthys sabia disso muito bem.

– Eu consigo ver através de você. Há uma Besta em seu interior, querendo tomar o controle da situação e destruir tudo ao redor. – O Juiz do Submundo falou, como que duvidasse de sua capacidade de controle. – Eu me pergunto por quanto tempo você irá conseguir reprimi-la. É perceptível que não vai conseguir fazê-lo indefinidamente como gostaria.

– Por tanto tempo quanto for necessário. – Ela replicou, ficando em guarda. – E ainda não respondeu o que fez às Amazonas.

– Suas almas estão na entrada do Submundo, já que meu único interesse aqui é você, jovem Besta. – Respondeu o Juiz, dando um passo à frente, sem desviar o olhar. – Recomendo que seja rápida em me derrotar, ou elas serão consumidas pelos Espectros que eu enviei para não nos atrapalhar. Dê o seu melhor!


Notas Finais


01 – Na mitologia grega, existe uma personificação do Sol chamada Hélio. Alguns o consideram uma divindade olímpica, outros o consideram uma divindade alegórica, e uma terceira vertente considera os dois deuses como sendo um só. Aparentemente, essa última é seguida pelo Kurumada, e por isso tomei a liberdade de atribuir a paternidade de Parsífae para Apollo.

02 – Entre os gregos da Antiguidade, qualquer réptil grande (cobras muito grandes e crocodilos acima do tamanho esperado) seriam chamados de “dragão”.

03 – Quando as almas eram julgadas, elas teriam três destinos: os Campos Elísios para aqueles que foram justos e bondosos em sua vida; a Ilha dos Bem-Aventurados recebia àqueles que tiveram uma vida heróica; e, por fim, o Tártaro para receber aqueles que cometeram crimes hediondos contra a ordem natural, os deuses e os homens.


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