História Sakura: o primeiro beijo - A Aula no hotel

 Tomoyo havia trazido a van, as roupas, o gravador, mas não conseguiu ter o mesmo cuidado em filmar Syaoran como havia feito com Sakura, pois se esqueceu de trazer a câmera. Passou a tarde inteira dançando e revisando os passos com Sakura. Como Li praticava artes marciais, seria menos difícil pra ele compreender os conceitos da valsa, afinal já deveria ter visto alguma vez na vida os passos da dança e já tinha um pouco de coordenação motora.

Depois do jantar foi até o hotel onde estava hospedado o rapaz:

– Oi Shoran, tá pronto pra dançar?

– Tou sim, mas confesso que estou meio tenso, apesar de já ter visto alguns passos de valsa.

– Que bom! Acho que com você vai ser mais fácil do que com a Sakura; a Sakura não conhecia nadinha de valsa…

– Vai ser muito difícil?

– Que nada! Eu passei o básico pra ela e pra você eu também vou pedir o básico; Shoran será que nesse hotel tem algum salão de festas?

– Tem sim, tem um logo ali; vamos falar com o gerente pra ver se ele deixa a gente usar o salão.

– Vamos sim! Eu também preparei uma roupa só pra você Li-kun! Você vai ficar lindo que nem a Sakura ficou…

– A Sakura ficou bonita é? – Pergunta Li, com a cara vermelha.

– Claro que sim! Afina você é o par dela, e eu não poderia excluir você disso…

– Não é só questão de ser o par…

– Entendo Shoran, tem a questão do beijo, mas eu vou fazer de tudo pra que ele saia ainda essa semana; a Sakura não pode deixar passar essa oportunidade!

– Tomoyo… não é nada chamativo não né?

– Que nada Shoran! É um smoking lindo que eu fiz só pra você; pra ela eu fiz um vestido vinho que ficou uma graça!

– Ficou uma graça é? – Pergunta Shoran, com o rosto vermelho, imaginando Sakura de vestido.

– Não precisa ficar assim Shoran, vocês dois têm muito em comum; até ficam envergonhados com as roupas que eu faço não sei por que…

– É meio difícil de explicar…

– E então Shoran, eu não vou falar mais; não quero estragar a surpresa que eu tou preparando; vamos?

– Ah sim, vamos.

Os dois conversaram com o gerente do hotel e ele permitiu que ensaiassem no salão de danças até as dez, a hora em que se encerram as festas no hotel. Tinham três horas para praticar. Dentro de si Shaoran ficava com uma ponta de ansiedade de se imaginar dançando com Sakura naquele festival; era a primeira vez que dançavam juntos, como um casal, como um par. E também seria a primeira vez eu beijaria alguém, “se ousasse” como diz o poema da poetisa de Tsubasa. Essa junção de sentimentos em um mesmo coração fazia o rapaz ficar nervoso naquela sessão de dança com Tomoyo; como se portar? Como agir? São perguntas que fazemos todas as vezes que nos deparamos com os maiores obstáculos que a vida nos impõe, mas cabe a nós mesmos e não aos outros trazer as respostas para esses problemas. E Shaoran conhecia isso muito bem.

– Shoran, antes você vai ter que vestir essa roupa que eu fiz especialmente pra você; você tá tão suado que acho melhor você tomar um banho; o que a ansiedade não faz não? – Pergunta Tomoyo.

– Eu entendo a sua preocupação, mas…

– Vai lá Shoran, toma um banho rápido de cinco minutos e depois volta aqui.; eu vou preparar tudo pra nossa aula…

– Mas e o tempo?

– A gente ainda têm três horas pela frente; vai sem medo Shoran; depois eu quero conversar com você.

– Tá certo.

O bruxinho pegou o elevador e foi até o seu quarto se banhar e vestir o smoking que Tomoyo tinha feito. Depois de vinte minutos ele apareceu. Era um smoking preto, com o blazer cinza e a gravata cor de vinho. Enquanto Shoran se arrumava, Tomoyo preparou o gravador, selecionou as faixas de valsa no CD e fez uma ligação, avisando as guarda-costas pra pegar ela às dez e trazer uma “coisinha” às nove horas:

– Ficou lindo Shoran, mas não tão lindo quanto a Sakura ficou!

Shoran se limitou a ficar vermelho.

– Não fica assim, não fica nervoso; respira fundo e vamos lá!

Shoran respirou fundo e esboçou um sorriso com os lábios. Da mesma forma que Tomoyo havia feito com Sakura, ela fez com Syaoran; como Syaoran praticava artes marciais, tinha mais “gingado” do que Sakura e aprendeu os passos rapidamente, errou pouco a postura e os passos de dança, mas ao longo daquele tempo manteve a cara fechada de sempre e a rigidez do seu corpo era notável:

– Shoran, dá um sorriso…

– Não é por nada não Tomoyo, mas… sabe…

– Você nunca dançou com uma garota antes?

- Não, não é isso, eu já dancei com a Meiling antes, mas… eu me sinto meio sem jeito com você… acho que ainda mais com a Sakura…

– É aí que você tem que confiar em você Shoran. Não precisa ficar assim na minha frente e na da Sakura, é nessas horas que você tem que se soltar; você tá indo bem Shoran, mas essa timidez toda tá te atrapalhando um pouquinho…

– Eu sei disso, mas acho que é uma coisa minha isso…

– Shoran, relaxa, relaxa. Você está com pessoas de confiança. É só fazer e se deixar levar pelo momento, pela música faça apenas e não pense que você está comigo ou com a Sakura…

– Tem alguma dica pra isso?

– Esqueça de tudo Shoran, apenas esqueça e se concentra nos seus passos… eu vou tentar.

Syaoran aplicou o conselho de Tomoyo e começou a se esquecer que estava tendo uma aula de dança, que estava em um salão, que Tomoyo estava lá, apenas pensou em si mesmo e naqueles passos; se deixou levar pelo ritmo da dança, por seus passos, pelo ritmo da música, e então sua dança começou a fluir. Fluiu tão naturalmente que Tomoyo não resistiu em perceber e elogiar:

– Tá magnífico Shoran! Agora podemos descansar um pouco.

– Pode ser, acho que eu me cansei um pouco… vamos parar por um instante.

– Eu vou te trazer uma água; tá com fome Shoran?

– Não, eu jantei antes de você chegar…

– Eu também, mas eu preparei um lanchinho pra gente. Espera aqui tá, e não sai daqui.

– Tá bom. Vou esperar.

Enquanto Tomoyo saía para pegar a água e os lanches, um carro chegou até o hotel trazendo uma pessoa especial:

– Que bom Sakura! Você ainda tá usando o vestido que eu fiz!

– Pois é, é mais porque você pediu; a gente tá no hotel do Shoran não é?

– Sim Sakura, vem aqui comigo.

– É que eu tou com vergonha Tomoyo…

– Que nada Sakura; ele é seu “namorado”, se você tiver vergonha de se mostrar pra ele pra quem então você vai se mostrar?

– Eu sei, mas é a primeira vez que eu danço com o Shoran…

– Vocês têm que se preparar Sakura. Vocês não vão dançar bem se não praticarem o bastante juntos; vamos, ele tá te esperando…

– Mas sabe o que é Tomoyo, é que…

– “Que” nada Sakura! Pega aqui na minha mão e vamos lá! É feio a gente deixar alguém esperando Sakura…

– Ai ai ai ai ai; Hoe! – Sakura faz uma cara de encrencada.

– Sakura, você sabia que fica linda demais com essa cara de encrencada?

– Tomoyo-chan…

As duas foram até o salão do hotel, onde Shoran estava esperando. Tomoyo entrou primeiro.

– Eu demorei muito Shoran?

– Não, não, eu só fiquei repassando os passos…

– Eu tenho uma surpresa Shoran…

– Uma surpresa… ha! – Syaoran tem um piripaque ao ver Sakura com aquele vestido vinho. A cardcaptor reage da mesma forma. O rosto dos dois ficam vermelhos. Ficam assim durante uns dois minutos e Tomoyo apenas sorri dos dois, fechando os olhos. Tomoyo quebra o gelo:

– Deixa de ser bobos! Se você ficam com vergonha um do outro agora eu não sei quanto a mais tarde…

– Não precisa me explicar não Tomoyo…

– Eu sei Sakura; mas agora vocês vão dançar pra mim. Eu vou ser a plateia. Vou colocar o CD no começo. Você vai ser o guia Shoran. Sua mão vai ficar no ombro da Sakura. Vai lá Shoran!

Apesar do comando de Tomoyo, Shoran custou a se aproximar de Sakura.

– Para de ser bobo Shoran… vem até aqui… – Diz Sakura, morrendo de vergonha. Syaoran riu com o que Sakura diz e se aproxima da garota. Põe as mãos no ombro de Sakura, altura dos cotovelos e pega em sua mão direita, estendendo-a. Sakura faz o mesmo com Shoran, segurando em suas costas.

– Lembre-se pessoal, Postura é tudo! Cotovelos na altura dos ombros, pés alinhados com os ombros, braços bem estendidos e nada de caminhar com as mãos nas costas do Shoran, Sakura! É só segurar as costas dele!

– Pode deixar Tomoyo! – Diz confiante a cardcaptor.

– Ótimo. Vou colocar o CD pra tocar.

Antes de começar a música, Syaoran diz algumas palavras para Sakura:

– Você ficou linda Sakura com esse vestido.

– Você também ficou bonito Shoran nesse terno…

Os dois sorriem, a música começa e os dois se põem a dançar. No começo erram um passo o outro, mas a medida em que se acostumam com a dança, com o dançar juntos, a timidez desaparece e os dois apenas sorriem. Ora com os dentes a mostra, ora com os lábios fechados e esticados, ora estreitando os olhos, ora com eles bem vivos ou abertos, cara vermelha ou não. Os dois, com aquela dança, produziam um círculo mágico, impenetrável a qualquer mal que os quisesse lhes atingir naquele instante. O desejar bem de ambos um para o outro mantinha a segurança do local, dos dois, produzindo um relaxamento da tensão presente em seus corpos, em seus espíritos. Ficaram tão tranquilos que o momento tão esperado poderia acontecer a qualquer instante. Estava próximo das dez horas e o gerente poderia aparecer, mas até lá Tomoyo tinha a certeza de que tudo estaria consumado até la. Sentiu-se orgulhos pelo plano dar certo.

Enquanto dançavam, os sorrisos e olhares de Tomoyo eram vivos como o fogo, mas a medida que os dois foram dançando e o tempo foi passando não foi mais possível sustentá-lo e eles começaram a adquirir uma coloração mais moderada até atingir as cores frias. Havia restado apenas um esboço de sorriso e um brilho fraco que seus olhos refletiam das lâmpadas do salão. Por fim Tomoyo olhou pro chão e se levantou, saindo do salão sem ser percebida pelos dois. Andou pelo corredor com passos tímidos, lentos e fracos, pensando consigo mesma “essa é a minha maior felicidade Sakura, te fazer feliz, não importa o que eu tenha que perder no caminho, meu maior desejo é te fazer feliz não importa o quê e só de te ver feliz eu fico feliz também, e essa é a minha felicidade”. Depois que pensou isso, o sorriso começou a esquentar em seus lábios, só de lembrar do sorriso de Sakura naquela noite.

Enquanto caminhava, Tomoyo percebeu que a música que saía do salão parou de repente, e não conseguiu pensar em outro motivo para ela ter parado:

– Ah não são dez horas! – Olhando pro relógio – O gerente já deve ter ido pra lá! – Tomoyo acelerou até o salão de danças para encontrar com os amigos.

Enquanto Tomoyo estava fora, a magia produzia pelos dois fez com que seus corpos se aproximassem. A dança parou e apenas restava a contemplação que um fazia para o outro. Os dois seguraram a cintura um do outro e começaram a olhar um no olho do outro. Os olhares se trocaram a tal ponto que seus lábios, então fechados, se permitiram automaticamente abrir, se preparando para o que estava por vir. Faltavam as cabeças se aproximarem e isso não demorou muito tempo. Os lábios foram chegando um perto do outro, quando, de repente, o gerente entrou:

– Vocês dois, desculpe se eu estou interrompendo alguma coisa, mas são dez horas e eu tenho que fechar o salão. Vocês vão ter outra hora pra fazer isso.

Sakura e Shoran se distanciaram um do outro, não tinham coragem nem de olhar na cara um do outro, nem a do gerente. Ficaram calados. Syaoran foi desligar o gravador enquanto Sakura tentava se recuperar do susto:

– A gente não tava fazendo nadinha não seu gerente… é que, sabe como é né? – Diz a envergonhada Sakura, coçando a cabeça.

Nesse instante, Tomoyo chega:

– Ah não! Eu me lembrei que esqueci a câmera em casa e perdi o momento!

– Não perdeu nada não Tomoyo, a gente não fez nada ainda não… vamos indo. Vamos lá Shoran…

– Ah, ah… ah; vamos…

Os três saíram do Salão e tiveram uma conversa final no hall do hotel:

– Não precisam vir até o meu quarto não gente, podem ficar sossegadas, amanhã a gente se vê não é?

– Claro que sim Shoran, amanhã é o dia do festival, é claro que a gente vai se ver…

– Tá certo então; vai ser bom eu rever a escola, as amizades…

– O Yamasaki-kun pergunta direto de você Shoran! A gente vai te esperar na escola… começa ao meio-dia Shoran e vai até as oito, a gente vai chegar lá as duas, certo Sakura?

– Ah, é claro que sim, claro que sim, a gente vai se divertir bastante Shoran….

– A dança começa as quatro e vai até as seis, eu tenho certeza que vocês vão ser o casal mais belo de todo o festival! Vamos indo Sakura. Tchau Shoran, até amanhã.

– Tchau, Tomoyo.

– Vê se veste o meu smoking tá bom.

– Tá eu vou vestir.

– Eu vou indo Shoran. Gostei bastante da noite que a gente teve, achei que não ia dar certo, mas até que deu, e…

– Eu também gostei bastante de hoje, amanhã a gente repete Sakura.

– Com certeza. Tchauzinho Shoran! – Sakura dá um beijo na bochecha do Shoran, ele fica vermelho, mas não de timidez, e dá um sorriso.

– Tchau Sakura

– Hoje quase saiu, mas amanhã sai não é gente? – Pergunta Tomoyo, enquanto se olham. Os dois ficam vermelhos. De vergonha.

– Tomoyo-chan, não me envergonha não…

– Sakura, eu não resisto! Eu não consigo deixar de encrencar você e o Shoran! Você fica linda Sakura com essa cara de encrencada. – Tomoyo sorri. As duas partem para o carro e acenam para Shoran. Syaoran volta pra o seu quarto, se troca de roupa, deita na cama e fica pensando na noite que teve com a flor de cerejeira, que na sua opinião, só ficou faltando um detalhe pra ficar excelente.