1. Spirit Fanfics >
  2. Sangue de Demônio >
  3. Quente e ganancioso, como meu temperamento e seus ciúmes

História Sangue de Demônio - Quente e ganancioso, como meu temperamento e seus ciúmes


Escrita por: Desdemonia

Capítulo 3 - Quente e ganancioso, como meu temperamento e seus ciúmes


Fanfic / Fanfiction Sangue de Demônio - Quente e ganancioso, como meu temperamento e seus ciúmes

I

 

O sol ardia contra as pálpebras sensíveis de Karin, que havia escolhido o final daquela manhã para caminhar pelos jardins do castelo. Havia tido emoção o suficiente ao lado do irmão mais cedo, e caminhar parecia ser a melhor escolha para a se fazer enquanto não fosse hora de cumprir o compromisso com o pai.

— O mal de sermos iguais é nunca saber quando está por perto. — Sua reclamação se perdeu em meio ao tom de voz.

Com as mangas da camisa arregaçadas na altura do cotovelo, Sasuke abria uma cova com esmero para ali depositar a muda de rosas que havia trazido consigo no dia anterior.  Era de uma cor exótica, um rosa que nem mesmo a ruiva havia visto em toda sua vida.

— Se continuar plantando uma roseira toda vez que vier ao palácio, logo não haverá caminhos limpos para se passar. — Karin lançou um olhar afetuoso ao irmão.

— Elas as viu e desejou no mesmo instante. — Sasuke manteve os olhos nas próprias mãos.

— E, se ela quer, ela tem. Assim sempre foi e assim sempre será. — Karin rodeou o chão fofo, desvencilhando-se dos ramos altos das roseiras mais velhas que ali faziam morada há anos. A moça sabia, pelo mais da metade de todas elas haviam sido plantadas pelo irmão.

— O que está fazendo aqui? — Sasuke a encarou e a pergunta foi o suficiente para disparar um gatilho na mente afiada da garota.

Sasuke não estava ali à toa, plantando inocentemente roseiras.

— Karin, poderia fechar a boca por alguns momentos?

E foi assim que percebeu o que estava acontecendo.

Treinada, a ruiva fechou os olhos e apurou a audição. Sasuke realmente não estava ali somente brincando de jardinagem.

“... só achei que fosse uma boa oportunidade de passarmos um tempo a sós, já que, como a senhorita sabe, iremos nos unir em matrimônio”.

Aquela voz... Karin reconheceu na hora a entonação suave como uma pluma de Neji Hyuuga e, não obstante, os passos pequenos e ritmados de Sakura ao seu lado.

        — Então é por isso que está aqui. — Os lábios da moça formaram uma linha fina. Gostava da ideia daqueles dois juntos tanto quanto Sasuke.

— Ele a convidou para caminhar pelo castelo. Quer estreitar laços. Tsc... — Sasuke terminou de firmar o caule da roseira que cuidava em solo acolhedor. Era uma sorte que as plantas não morressem em contato com suas mãos, já que era o que acontecia quando ela tocava coisas vivas tão delicadas. — Ele fez o movimento.

—O movimento?  — Karin emergiu de seus devaneios sobre plantas mortas.

— Ele não a quer apenas como uma esposa de fachada. — Sasuke jogou a pázinha para o lado, perdendo o controle da própria irritação.  — Ele está querendo desenvolver algo além com a desculpa de que viverão para o resto da vida juntos. — Levantou-se de uma vez. — Bobagem, é o que eu digo. Sakura jamais seria capaz de amá-lo.

— Mas ela é meio que obrigada à isso, não é? — Karin colocou-se ao lado do irmão quando seus olhos vislumbraram as duas silhuetas ganhando forma na outra extremidade do palácio. – Não acha que seria mais saudável para vocês dois acabarem com isso de uma vez? Esse casamento da princesa está lhe consumindo de um jeito que eu jamais vi qualquer um definhar.

— Eu a tive primeiro, Karin. — Sasuke encarou o par, que caminhava lado-a-lado. Karin conseguia sentir a pele do irmão começar a ferver.

— Engraçado como são as coisas, né? Mesmo em um reino matriarcal, as princesas ainda são obrigadas a se casar para garantir que haja uma nova geração futura. — Abaixou-se para pegar umas poucas folhas mortas do chão. — Enquanto nós, criaturas profanas de todo o mal que se alimetam do sexo, tanto nos importamos com quem vamos pra cama. Aliás, uma ressalva para este “nós”.

— E você já vai começar outra vez...

— Sasuke, como é que você abandona sua própria natureza por causa de uma mulher? Eu não consegui acreditar no que vi hoje! Arranjamos a garota, ela estava mais do que interessada e consentindo, e você simplesmente me pede pra colocá-la para dormir, pois não ia transar com ela! — Karin despejou sua frustração de uma vez. Estava com aquilo entalado há algumas horas. — Se alimentar dos sonhos de alguém não é a mesma coisa que sugar a energia vital delas, idiota!

— Karin, isso é um problema meu. — Cruzou os braços e se manteve impassível.

—Quando foi a ultima vez que levou alguém para a cama com excessão da princesa de Jezero?

— Não é da sua conta.

— É por isso que está sofrendo desta forma por aquela garota. — Karin persistiu. — Faça a sua escolha, Sasuke. Só não a atormente com sua possessividade quando não está disposto a tomá-la como sua rainha.

— Ela não quer ser a minha rainha. Quer que eu seja o seu rei. — Grunhiu, recolhendo os materiais de jardinagem que havia trazido aos canteiros do jardim. Naquele momento o olhar de Sakura e o dele se cruzaram e a princesa virou-se abruptamente.

Estava sendo insensivel, se deu conta disso. Tinha a mesma natureza que o irmão, mas jamais esteve em sua pele para compreender o que se passava dentro de sua humanidade. Talvez fosse o local em que estavam, ou o quão forte o lado humano dele estava querendo se tornar enquanto privava-se da própria origem nefasta...

Eles haviam se visto pela primeira vez ali, naquele mesmo jardim que, quase uma década atrás, não era adornado por tantas roseiras. Fugaku estava em viagem diplomática e havia trazido junto dele esposa e filhos para conhecer os novos aliados de seu reino.

Sakura estava entre as flores, se esforçando para recuperar uma mudinha de rosa que não tinha mais forças para lutar.

— Talvez devesse deixá-la ir. — Foi a primeira coisa que Sasuke disse à princesa de Jezero.

— Talvez devesse cuidar dos seus assuntos. — Ela rebateu, astuta. Sequer voltou seus olhos ao príncipe.

A planta estava morta, estava prestes a desistir, mas não daria o braço à torcer depois da sugestão do outro.

Aquele gesto de rebeldia, ao invés de ofendê-lo, o deixou encantado.

Naquele dia duas coisas tornaram-se indubitáveis na dinâmica entre os dois. Sasuke sempre levaria à ela uma nova rosa para seu jardim e ela sempre estaria em seu quarto no início da madrugada.

 

— Esse idiota não sabe o risco de vida que corre tendo você como rival.  — Karin se deu por vencida. Sabia que nada que disesse à Sasuke iria mudá-lo.

“É um gesto de extremo cavalheirismo de sua parte” A voz de Sakura parecia vacilante durante a conversa nada agradável. Sabia que Sasuke estava espreitando. “Não sabemos como as coisas serão, não é mesmo?”.

Antes de deixá-la em suas acomodações, princesa, gostaria de lhe fazer uma pergunta e, por toda gentileza que há, me diga se estiver sendo um intrometido desagradável”.

“Pois bem...”

Sasuke cruzou os braços, aguardando o que vinha. Sequer se deu o trabalho de descer a manga da camisa e Karin se preocupou em pegar de seu ombro o paletó antes que fosse por terra.

“Você e o Princípe Fernweh são bastante íntimos e não é preciso muito para qualquer um perceber” Introduziu a pergunta que Karin e Sasuke sabiam que viria. “Estaria eu entrando no meio de algo com este casamento entre nós dois, Milady?”.

Um silêncio mortal.

“Não, não está” Sakura respondeu com firmeza. Ninguém poderia, mas Karin e Sasuke conseguiam ouvir seu coração bater desesperado contra o peito. “Essa intimidade que enxerga é fruto de quase uma década de amizade e nada além disso, Conde Hyuuga. Agora, se me permite, estou indisposta e quero ir para meu quarto”.

Foi o suficiente para o rosto de Sasuke furtar o tom profundo da rosa mais rubra daquele jardim. Seus olhos tornaram-se o verdadeiro inferno e os lábios em linha fina eram capazes de matá-lo sufocado se ele tivesse a necessidade de respirar.

— Sasuke, agora não. — Karin segurou o braço do irmão. Iriam voltar para o palácio por outra entrada. — Temos um compromisso com nosso pai e tudo o que você precisa é dar justificativas sobre o ódio que está sentindo à ele.

 

II

 

— Pensei que tinha educado vocês dois. — O general apontou um bastão de madeira maciça para os filhos.

— Papai, nós chegamos no horário combinado. — Karin o encarou, séria.

— "PÃPÃÃII, nôs chegâmos na hôra cêrta". — A imitou com uma voz extremamente zombeteira, embora parecesse ainda intimidador. — Se eu digo onze horas, vocês devem estar dez e cinquenta no local combinado.

— Bom, eu vou indo. Estou vendo que o general aí tá com um péssimo humor. — Karin disse ao irmão.

— Quando é que ele está de bom humor? — Sasuke cruzou os braços.

— Nem pensar, Lady Karin. A senhorita vai ficar aqui. — O pai ordenou.

— Pra quê? Pra assistir você derrubar o Sasuke no chão?

— Isso... — O soberano olhou para a espada em sua mão e o atirou para a filha. — E também para lutar contra ele.

— Pra quê isso, Papai? Quem vai para a guerra é o Sasuke! — Olhou indignada para o pai.

— Agora não é pai, é general! — A corrigiu. — E não é porque o Sasuke vai estar em um campo de batalha que você não precisa saber se defender. Uma mulher como você precisa estar preparada para liderar um exército se eu precisar que o faça. Preciso do Sasuke na linha de frente, mas de você ao meu lado se algo der errado.

Karin e Sasuke se entreolharam. A confiança do pai geralmente era inabalável, mas as últimas palavras proferidas denunciavam algo que os deixou tensos. Se existia alguém que entendia de guerra e morte, com certeza seria um demônio como ele.

— Sasuke, escolha uma espada e fique em posição. Karin, você começa.

Sasuke tirou o blazer e caminhou até o arsenal de espadas dos mais variados metais que pudessem forjar armas de guerra; a leve, porém encorpada, parecia a lâmina ideal para lidar com a situação. Enquanto ele escolhia, Karin juntou as extremidades inferiores de seu vestido e os amarrou, formando uma espécie de bermuda, com os nós bem atados dos lados das pernas brancas.

— Seis segundos para posição inicial. — O General anunciou. Seus olhos brilhavam com a intensidade de ver os filhos pondo em prática tudo o que os havia ensinado no decorrer dos anos. — Karin, posição de ataque... Podem começar.

Karin dobrou o joelho esquerdo, pondo todo o peso de seu corpo na silhueta altiva. Sua espada longa carmesim cintilava na extensão de seu braço pálido. Estava pronta para encontrar qualquer brecha na posição de defesa do irmão. Não era o tipo que esperava para lançar um ataque, mas sabia que com Sasuke era diferente. Ele conhecia todos os seus movimentos.

— Não tenham pressa... Combate corpo-a-corpo é uma valsa de habilidade e percepção. Movimentos esbaforidos transmitem medo diante do adversário.

Sasuke mantinha-se flexionado, estendendo a espada longa com as duas mãos paralelas ao corpo. Qualquer que fosse o movimento da irmã, sabia que deveria derrubá-la antes que se enchesse de confiança.

Com um movimento ágil de beija-flor, Karin girou com a espada, depositando todo o peso do corpo no golpe contra a defesa do irmão, que a amparou com um passo firme para frente. Em sua mão, a extensão de aço tremeu por todas as fibras, mas se ater aos detalhes o deixaria vulnerável para o próximo golpe aéreo e ainda mais preciso em direção à sua cabeça.

— Se não segurar direito essa espada, sua irmã irá destruí-lo junto com a sua cabeça, Sasuke! — O general gritou do outro lado da arena.

Defendendo-se do terceiro ataque, Sasuke se atirou no chão, dando uma rasteira na irmã. Com a graça de um rouxinol, a moça cravou a ponta da arma no chão e se impulsionou no ar, livrando-se do golpe rasteiro do irmão.

— Então você quer brincar, né? — Karin olhou o irmão, ainda equilibrada sob a estrutura firme de sua arma.

— O golpe do Sasuke é válido. — O pai a lembrou.

Pisando firme, Karin soltou o peso do corpo impulsionando o pé em direção ao joelho do irmão, que por pouco não foi atingido. O rapaz rolou pelo chão de terra e agarrou a arma da irmã, a derrubando no chão. Em frações de segundos se pôs em pé, acima da irmã, e com forma usou as duas espadas em cada mão para atingi-la em dois golpes pesados.

Sasuke já imaginava os hematomas crescendo no rosto da irmã.

Sem nenhuma vontade de se render, Karin amparou com as mãos uma das lâminas e impulsionou as pernas contra o tronco do irmão, o derrubando um metro de distância pela violência do baque em seu peito. A ruiva tomou para si as armas no chão e as girou nas mãos, caminhando até o irmão, que já a aguardava em posição.

— Já chega! — O general os interrompeu. — Já vi o que precisava. Os dois ainda conseguem se virar. Karin, recomponha-se com este vestido, e Sasuke, venha até aqui.

Sasuke caminhou até o pai, coberto de fuligem. Os cabelos, antes negros, pareciam brancos pela sujeira do chão. Pelo pouco tempo de combate, estava praticamente em frangalhos.

— Pai... — Sasuke ajeitou a gravata enquanto caminhava até o general. — Se eu vou lidar com fuzis, porque diabos tenho que treinar combate corpo-a-corpo?

— Tem que estar preparado para qualquer coisa. — A irmã tomou a dianteira e o respondeu. — Nunca se sabe quando você vai precisar usar o que tem para se manter vivo.

O pai assentiu, concordando com a observação da filha. Sentia-se orgulhoso, especialmente por enxergar-se através dos olhos da moça.

— Sasuke, ajoelhe-se na minha frente. — O chamou e o filho lhe obedeceu, embora não fizesse ideia do que viria a seguir.

O rei observou calmo o filho, prostrado à sua frente. Com cuidado, pegou de dentro do bolso um punhal de obsidiana e o cravou em linha reta no antebraço direito. Coletando o sangue com os dedos, desenhou um padrão complexo na testa do filho e proferiu uma espécie de mantra com sua voz trovejante:

Et dabo praesidii malum meum sanguinem. Ut hoc propositum oculis morti opponens.— O homem respirou fundo, deixando o ar esvair por suas narinas. — Ex voto reddiderint filii bellum.

Quando terminou, estendeu a mão para o filho se levantar. O ritual de sangue o deixaria qualquer demônio experiente cansado, mas ele fazia questão de proteger o filho de agora em diante. Era uma marca necessária.

— Sasuke, já se sente preparado para ser enviado ao exército?

— Sim senhor.

— E como irá se alimentar por lá? — Karin olhou para o pai, notavelmente preocupada.

— Ele tem duas opções... A básica, que são as meretrizes e moças que se oferecem para divertir os soldados nos tempos de descontração e bailes, ou a mais indicada, que é comer ou beber o sangue das vítimas que ele abater. Fica ao critério, embora festas ocorram com menos frequência que abates.

Sasuke olhou para o pai, um pouco incrédulo. Não havia jamais pensado na segunda opção como uma possibilidade em sua vida, mas sabia que, se ele havia exposto tal condição, então provavelmente poderia ser necessária. E, além de tudo, jamais poderia admitir que a primeira alternativa já não era posta em prática havia muito tempo.

— Agora, me levem para o palácio dos Haruno. — Fez um sinal com a mão para que Karin o auxiliasse a caminhar até o carro de Sasuke.

O rapaz devolveu as armas ao arsenal e foi de encontro ao carro, ligando o o motor e apreciando o ronco manhoso que inundava a arena. Assistiu o pai em uma rara ocasião de fragilidade, sendo amparado pela irmã para se sentar ao banco do carona. Sua fisionomia parecia mais velha que o normal. Porém, a fragilidade presente em seu corpo não ocultou o olhar negro e mortal que lançou ao filho, junto ao intimato:

—  Sasuke, você tem três dias para resolver suas pendências. Você irá junto com o próximo pelotão para a base militar de número 37.

Era uma ordem.

 

III

 

Com todos reunidos da sala de música, Sakura entretinha seus familiares e hóspedes com as notas suaves do piano e sua voz de rouxinol. Não havia qualquer ser naquele cômodo, sendo humano ou não, que não fosse capaz de se comover com a triste canção que narrava o findar de um amor que atravessou eras.

— Heathcliff, sou eu, Cathy… — Sakura cantava baixinho. — ... eu voltei para casa, está tão frio. Me deixe entrar pela janela...

Sasuke sabia, já conhecia o livro ao qual a canção fazia honraria. Era o favorito de Sakura desde a tenra pré-adolescência. A História de amor entre Cathy e Heathcliff havia embalado seu coração sobre a solidez de amores polêmicos e proibidos, como o que nutriam.

— Um final um tanto trágico o do livro, não acha? — Neji se rearranjou ao lado de Sasuke, apoiando o cotovelo em um dos braços do sofá duplo. — Porém, embora Catherine tenha se envolvido com o selvagem do Heathcliff, era Linton que a tinha em seus momentos finais. — Uma risada abafada marcou um assovio por entre os lábios do conde.

— E, mesmo assim, seu coração pertencia à Heathcliff até em seu leito de morte. — Sasuke comentou com calma, se negando a tirar os olhos da mulher que tinha por amada.

— Bom, nós dois sabemos que Heathcliff tem um final trágico em sua própria morte. — Neji manteve o sorriso altivo.

— E também é de nosso conhecimento que antes do próprio Heathcliff , Linton foi primeiro.

— Heathcliff era um demônio, caro príncipe.

— E quem não é, Conde Hyuuga?

               

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...