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História Sangue de Demônio - Linha de frente


Escrita por: Desdemonia

Notas do Autor


"No fim do mundo ou na última coisa que vejo, você nunca está voltando para casa"
The ghost of you - My Chemical Romance

Capítulo 6 - Linha de frente


Fanfic / Fanfiction Sangue de Demônio - Linha de frente

I

O blindado que os carregava balançava em um ritmo nauseante enquanto atravessava a fronteira nublada de Jezero. Ao seu lado, Sasuke parecia recitar um mantra em um idioma estranho, talvez latim, enquanto corria os dedos pálidos pelo IA-2 em seu colo. Suigetsu olhou para os outros companheiros, todos em um completo silêncio que o fazia ter vontade de lançar uma piada para tirá-los daquele vácuo mórbido em que se encontravam.

— É a consciência. — Sasuke o tirou de seus devaneios, como se soubesse o que estava pensando.

— Consciência? O que quer dizer com isso? — Suigetsu não sabia ao certo se desejava saber.

— Aqui estamos, uns sessenta e cinco homens... — Pousou as duas mãos sob o fuzil e olhou pensativo para o colega. — Neste exato momento muitos estão pensando “quantos de nós vão voltar para a base?” ou, quem sabe, “quem de nós irá voltar?”.

— Sua sinceridade me assusta, Sasuke.

— A verdade assusta. — O olhar ônix do rapaz escureceu, dando espaço para uma expressão enigmática em seu rosto. — Me diga uma coisa, Hozuki...

— O que quer saber? — Tirou um canivete da bota preta e a passou pelo solado emborrachado do calçado.

— Você vai morrer virgem? — O olhar de Sasuke, antes sério, dava espaço para uma descontração que destoava o clima do ambiente.

— Mas que merda de pergunta é essa, Sasuke? Quem disse pra você que eu sou virgem?

— Você tem cheiro de virgem. — Riu. — Acho que o mais próximo do pecado que você chegou foi quando viu os tornozelos de uma de suas professoras freiras.

— Mas que diabos, Uchiha! — Sasuke fingiu-se ofendido, embora achasse curiosas as afirmações do amigo. Ele tinha uma espécie de habilidade em fazer afirmações assertivas. — Mas e você, senhor próximo sucessor, não pensa em ter algum compromisso?

— Meu compromisso é com todas as mulheres — Abriu um sorriso exageradamente grande, mas o Hozuki sabia que estava mentindo descaradamente.

— Aposto que está calejado. Saiba que uma hora vai ter que dar um herdeiro ao seu reino, não sabe? Então, mesmo que por convenção, um dia o seu pai vai te obrigar a se casar.

Sasuke fez uma expressão pensativa. Com a cabeça, Suigetsu acompanhou o olhar do rapaz, parando instantaneamente sob o rosto do soldado de olhos exóticos com uma faixa branca e vermelha no braço, o sinalizando como médico.

— Neji Hyuuga? — Suigetsu sussurrou, quase em cochicho ao ouvido de Sasuke. — Uchiha, você é gay?

— Mas é óbvio que não, Hozuki! — Sasuke o censurou, embora achasse graça da indagação inocente do novo amigo. — Esse cara...

— Eu sei, noivo da princesa do meu reino natal. É um cara bonitão e de sorte, afinal.

— Você acha? — Sasuke olhou para o médico, desafiador, quase em deboche.

— Não me diga que você... Ah, não pode ser, Sasuke! Você manchou a honra de nossa princesa?! — Suigetsu se escandalizou.

— Mas em que século você vive, Hozuki? Ora, as mulheres não são mais vistas como prêmios ou conquistas. Se a princesa queria se divertir, ela tinha total direito de explorar dos prazeres pecaminosos do mundo.

— Sasuke, você é um cara terrível.

— Eu sei que sou terrível, mas sou legal. Não sou?

— Você nunca vai me ouvir dizer isso. — O empurrou pelo ombro.

 

II

 

O blindado deu uma cambaleada e aos poucos os barulhos ruidosos das lagartas de condução pararam de soar. Sabiam que a hora derradeira finalmente havia chegado.

— Lembra-se do treinamento de formação de ontem? — Sasuke o indagou, preparando o fuzil.

— Seguir para a esquerda com nossa metade do esquadrão, em assalto, prostrar-se em segurança até a certeza da falta de ameaça, aguardar as forças navais descerem os veículos de combate com os fuzileiros e seguir.

— Muito bem. — Sasuke o encorajou. — Sucesso.

— Sucesso. — O respondeu.

— Em posição de retirada! — O comandante gritou de dentro da cabine de observação. — Área provavelmente limpa, mas o cuidado deve ser redobrado. Motoristas, os navios estão em posição para descarregar. Boa sorte, soldados!

As portas do veículo se abriram e as fileiras de soldados saíram para lados opostos. Suigetsu correu com rapidez, escoltado pelo Uchiha e por Jeremias, empunhando seus fuzis. O vento frio da noite açoitava as faces dos soldados que corriam em um silêncio quase pleno. Ao horizonte, tendo provavelmente recebido a confirmação para o desembarque, uma rampa descia da balsa, liberando tanques que cortavam as margens da beira do mar Argúnio e iam de encontro com a terra plana e árida em que se encontravam.

— Parece tudo tranquilo. — Jeremias disse. — Mas precisamos ser rápidos.

— Um ataque aéreo pode nos surpreender. — Sasuke completou.

Os três, assim como outros trios de homens, seguiram em direção aos tanques liberados pelos navios. Suigetsu e os rapazes seguiram para o último a ir de encontro à praia, subindo rapidamente e assumindo o controle do carro de combate.

— Soldado Franchesco, fuzileiro do carro. — Apresentou-se com uma rápida continência, saindo do local do condutor.

— Soldado Hozuki. — Repetiu o gesto. — O branquelo de cabelos negros é o soldado Uchiha e o negro forte é Jeremias, ambos fuzileiros. — Os dois repetiram o cumprimento de respeito. — Jeremias, assuma a torre de observação até chegarmos. Franchesco irá assumir o posto de fuzileiro. Sasuke, fique na parte traseira do veículo e fique atento se houver aproximação terrestre de infantaria.

— Positivo.

Aos poucos uma fileira de tanques se formou, saindo de fora das margens da praia e seguindo o carro de transporte para a zona afetada. Ali, mesmo protegidos pelo blindado de seu tanque, o barulho de bombardeios começavam a soar, distantes, o que foi o bastante para levar o estômago de Suigetsu ao chão.

 

III

 

— Estamos chegando. — Anunciou Jeremias, duas horas após traçarem o terreno surrado e detonado de terra batida. — Já posso ver tanques e infantaria aliada se preparando para completar a tripulação dos carros de combate. Ao Norte parece ter uma base de feridos.

— Então já sabem? — Franchesco questionou os dois infantes. — Assim que pararmos, vocês precisam seguir a pé.

— Sim. — Sasuke confirmou.

— Orarei por vocês. — O Hozuki fez uma reverência, que foi respondida por todos, menos Sasuke.

— Vamos, Jeremias. — Sasuke o chamou. — Iremos dar cobertura para vocês e logo que estiverem com a tripulação completa, assumiremos nossos lugares como infantes e seguiremos com vocês para evitar aproximação inimiga.

Do visor do motorista, Suigetsu viu os dois companheiros descerem em um salto e seguirem em marcha na frente com os fuzis em mãos. A medida em que caminhavam, os horrores da guerra mostravam suas faces. Explosões e munição iluminavam a noite escura que os rodeava, como uma celebração mórbida de fogo. Enquanto avançavam, os gritos dos soldados feridos começavam a ficar evidentes, sendo diferenciados às exclamações raivosas daqueles que ainda se mantinham de pé, combatendo.

Prostrados estrategicamente em uma trincheira rasa, os novos tripulantes, extremamente bem treinados para este momento, correram em direção ao tanque para assumir suas funções. Junto deles, um grupo de aproximadamente oito soldados se uniram a Sasuke e Jeremias, compondo assim a infantaria de proteção do T-14.

— Tropa inimiga ao sul! — Jeremias anunciou.

Aparentemente o inimigo fazia um avanço estratégico pelos flancos, tentando tomar as bordas e os cercar. Soldados corriam, surgindo por entre os tanques e se lançando frente ao inimigo, descarregando suas munições e gritando sua ira contra aqueles que ousavam tentar invadir Jezero. Os corpos marcavam presença aos montes, sendo incontáveis os membros separados e estraçalhados pelo chão. Suigetsu temeu por alguns momentos a possibilidade de estar passando por cima de algum colega moribundo, mas foi forçado a tirar o pensamento da cabeça quando percebeu a aproximação de um infante próximo ao tanque.

— Ataque de infante! — Gritou Franchesco.

Suigetsu sentiu o coração congelar e os olhos secarem pelos milésimos de segundos de tensão que existiram entre a aproximação do soldado inimigo e Sasuke, que descarregou uma boa quantidade de tiros no rapaz. O amigo olhou de volta pelo visor do motorista e Suigetsu pode gravar para sempre em sua memória a face pálida tingida de vermelho; os olhos negros foscos de alguma emoção que ele jamais seria capaz de identificar. Era felicidade? Adrenalina? Sasuke estava lambendo o sangue em sua face ou era sua imaginação o enganando? Não, não poderia se ater aos seus delírios. O amigo o estava orientando a seguir junto ao pelotão infante para ganhar terreno.

O Uchiha corria em uma distância de um metro à frente do tanque, tendo ao seu lado mais dois colegas e coordenando os restantes posicionados aos flancos do carro de combate. O barulho de tiros e ataques conseguiam ser mais altos que os estalidos excruciante das lagartas condutoras; mesmo assim, o avanço era constante, com uma tripulação que não se permitia se afogar em temor.

— Tanques inimigos avançando! — Jeremias gritou. — Uchiha, Spinner... Aproximação furtiva!

Os três correram, ligeiros, por entre os ouriços de aço e os infantes dos flancos do carro de combate assumiram a proteção frontal. Suigetsu passava por tudo o que estivesse em seu caminho, livrando-se de qualquer remorso que envolvesse mutilações e moribundos; iria se preocupar com isso depois. A torre do tanque disparava sem parar e fazia a estrutura de aço do blindado tremer sob seus pés. Os outros tripulantes gritavam comandos ordenados uns para os outros, tentando combinar o ataque da infantaria aliada ao seu poder de fogo.

— Mas que diabos... — Suigetsu arregalou os olhos.

Jeremias e o outro soldado chamado Spinner corriam de frente para o tanque inimigo, que tentava mirá-los, sem sucesso, com o canhão. Era questão de tempo para que a torre sacasse uma arma de poderio mais eficiente.

— Puta que pariu... — Franchesco olhou sem acreditar. — O Uchiha é maluco!

Com uma velocidade sem precedentes, Sasuke escalou como um bicho o tanque, evitando as lagartas de aço do tanque inimigo. O tripulante da torre estava pronto para defender o seu carro; em mãos um fuzil tão potente quanto o que ele próprio carregava a tiracolo.

Era o fim do soldado Uchiha. A tripulação quase toda estava de acordo com isso.

— Mas que caralhos é aquilo que o Sasuke está fazendo? — Suigetsu exclamou enquanto via o amigo ser metralhado no meio do peito.

 



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