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História Sangue do Dragão - A Mulher de Cabelos Escuros


Escrita por: Dragonqueendany

Capítulo 3 - A Mulher de Cabelos Escuros


Fanfic / Fanfiction Sangue do Dragão - A Mulher de Cabelos Escuros

O corpo de Kinvara desintegrava sobre a mesa de mármore onde antes estivera o corpo morto de Daenerys. Gradativamente as cinzas  reivindicavam a Alta Sacerdotisa do Templo Vermelho de Volantis, a devota mais poderosa de R’hllor. O fogo a manteve bela e jovem por longos anos e agora o seu fogo se apagou. Era isso que me aguardava também? - Aisha se perguntou. 

Foi com um pouco de desconforto que recordou a maneira como Kinvara morreu. Daenerys bebeu tudo. Enquanto a vida de Kinvara se esvaia, Aisha nunca se sentira tão impotente em toda sua vida. Ela só podia olhar e se lamentar em silêncio pela mulher que lhe ensinará tudo na vida, desde que ela era uma criancinha suja e esfomeada que foi levada para viver no templo de Volantis.

Um outro lado seu no entanto, entendia bem a necessidade de Kinvara de trocar a sua vida pela a de Daenerys. A fé dela no senhor era inabalável e a de Aisha também. Kinvara a ensinara a ser assim e ela era grata todos os dias por isso. Sua fé a mantinha aquecida nos momentos mais difíceis. A ajudava a pensar.

Olhou para a chama acesa no archote ao lado da cabeça de Kinvara e tentou olhar a maneira com a qual ela dançava e os segredos que contava. 

Kinvara havia ficado inquieta desde que Melony retornara a Volantis após sua longa jornada pelas terras do poente. Ela havia contado sobre as coisas que vivera e o rei que arruinara. Kinvara havia escutado seus erros em silêncio, a preocupação deixando seus olhos cada vez mais escuros. Mesmo assim ela não levantou sua mão ardente contra Melony. Ela a acolheu e lembrou a ela que aquele tinha sido os caminhos que o Senhor havia trilhado para ela. Que ela precisava estar naquela muralha para assegurar que o lobo voltasse dos mortos. 

Melony estava convencida do grande mal que avançava sobre a terra. Ela havia visto uma lâmina de aço escuro e olhos cinzas em suas chamas. Kinvara concordara com aquilo. Gelo e fogo estavam enfim se movimentando lado a lado e Kinvara sabia que aquela era a única chance de sobrevivência de todos, mas ela ainda parecia preocupada com o resultado. 

Ela ajudou Melony a fortalecer os seus poderes e a enviou de volta para Westeros, onde eles a conheciam como Melisandre de Asshai. As duas sabiam que aquela seria a última vez que se veriam e que Melony não poderia falhar mais uma vez.

Os dias se passaram, o frio cresceu sobre o mundo e os dragões haviam prevalecido sobre o servo do grande O Outro. Mas Kinvara seguiu inquieta. Desde então ela passou dias e noites compenetrada nas chamas da pequena lareira em seus aposentos, tentando desesperadamente descobrir novos segredos. 

Um dia quando Aisha entrou no quarto, Kinvara agarrou seu braço completamente descomposta e assustada. Aisha se lembra de sentir o tremor nas mãos dela. Ela nunca havia a visto assim. 

- Eu entendi... - ela falou - Um dragão prateado virá para cá arrastado por uma sombra alada.... É assim que termina. 

Aisha não entendeu, tentou falar com ela mas Kinvara voltou a se sentar enquanto balbuciava palavras sem sentido.

- O frio quer o meu fogo. É assim que tem que ser. Eu falei com Melony... Eu vi a montanha de gelo... Uma árvore gelada que se movia em meio as minhas chamas, lançando uma escuridão pesada sobre o mundo enquanto respirava com suas raízes grossas. As raízes estão enterradas por debaixo do chão. Na escuridão. Cada vez mais fundas sobre a terra, condenando a todas nós. 

- O que significa?

- Que a rainha dragão pode estar a caminho. Ela irá cair e todos nós cairemos com ela. 

- Daenerys ganhou...

Um brilho atravessou os olhos de Kinvara.

- Sim e não. O coração humano é falho de muitas maneiras egoístas...Basta saber como testá-lo.

- Melony...

- Todos nós falhamos. 

Um silêncio pesado caiu sobre o quarto. Os pelos dos braços de Aisha se arrepiaram.

- Não deveríamos tê-los deixados por contra própria, gelo e fogo. A balança está desequilibrada. Eles estão prestes a colidir.  – Ela parecia avaliar todas as possibilidades.

- O que você quer que eu faça?

- Por enquanto nada. É tarde. Temos que esperar... O momento certo - Ela olhou para as chamas com intensidade - Precisaremos recompor as nossas forças... Assim como ela. Se eu estiver certa, quando chegar a nossa hora, R'hllor lhe mostrará o que fazer, eu tenho certeza. Você também terá um papel e saberá o momento de agir. 

Kinvara permaneceu em sua busca por respostas até o momento em que a sombra alada pousou suas asas enormes sobre o pátio do templo reivindicando o fogo dentro dela. Ela havia contado tudo a Aisha, o máximo que conseguiu revelar. Enquanto ela olhava as chamas, Aisha e Benerro ficaram incumbidos de encontrar respostas nos livros antigos escritos na Velha Valíria. Os Valirianos eram mestres em feitiçaria com fogo, aprendemos muito com eles no tempo em que a cidade franca existia. Muitas coisas se perderam no fogo que consumiu Valíria, é verdade, mas vamos precisar de seu conhecimento. Tudo o que pudermos alcançar. Eu preparei você para isso, e só agora eu entendo o motivo - Kinvara confessou no dia em que os dragões caíram em Westeros.

Uma mão em seus ombros arrancou Aisha de suas divagações.

- Os servos foram convocados - Benerro parou ao lado dela, diante da mesa onde o corpo de Kinvara se desintegrava lentamente em minúsculos pedaços de cinzas - Estamos prontos para recebê-los e escolher um nova chama que nos guiará em nome do Senhor.

- Ela sempre será a nossa chama. - Falou para o silêncio do templo e para as cinzas que restaram de Kinvara.

- Sim. - ele sussurrou. 

- Precisamos enviar sacerdotes para Westeros. Pelo menos um em cada região. Precisamos preparar as coisas para a Rainha dragão, era o desejo de Kinvara.... Precisamos lembra-los do que ela fez por eles indo lutar no grande campo de gelo. Escolha pessoas que falem bem o idioma comum e que consiga se misturar entre os mais pobres... Ouvi dizer que eles odeiam estrangeiros. 

- Eu já tenho algumas pessoas em mente.

Aisha apenas assentiu.

- Ela ainda está com o dragão?

Dessa vez foi Benerro quem assentiu. Aisha o deixou velando o que sobrou de Kinvara e andou até o pátio aonde permanecia o dragão. O ar no grande templo tinha o mesmo cheiro de sempre, fumaça e fogo, o mesmo cheiro reconfortante que ela aprendeu a amar desde que era uma garotinha aprendendo a ler os segredos das chamas. Você precisa olhar com atenção - Kinvara sempre repetia. 

Era o que Aisha estava tentando fazer agora enquanto se aproximava do dragão. O ar cheirava a fogo e a fumaça, mas também carregava o falso cheiro daquela primavera. Fora do templo, as flores brotavam sem vontade nas árvores e entre o canto de esperança dos pássaros, a escuridão ainda se agarrava fria a toda vida que tentava se reerguer contra ela. Um arrepio atravessou seu corpo quando ela enfim chegou no pátio. 

Na manhã seguinte a chegada de Daenerys,  todos no templo viram a enorme figura de Drogon, que causou uma enorme comoção. Ele estava de mal humor desde então, mas os sacerdotes do templo o olhavam fascinados. Fogo feito de carne. Era isso que ele era. Uma dádiva da Antiga Valíria. Uma herança dos dragonlords de outrora.

Apesar do fascínio pelo dragão, os sacerdotes foram inteligentes o suficiente para manterem uma distância segura de Drogon. Ele era ameaçador. Abria suas grandes asas, deixava fumaça escapar entre seus dentes. Ele reivindicou o pátio para si e ninguém ousou confrontá-lo. Mas ele ficou inquieto, mais arisco conforme as horas se arrastavam e a mãe dele não aparecia para vê-lo.

Aisha sentiu a corrente de fogo que parecia evaporar dele. Era melhor não arriscar. O templo precisava ser preservado e ninguém fora do templo deveria saber que ele estava ali. Na noite que ele chegou, sua presença e rugido foram engolidos pela noite e pela tempestade. Nada mais garantiria essa segurança e Aisha estava disposta a deixá-lo confortável para evitar pânico na cidade e para evitar que a visita do dragão ao templo vermelho se espalhasse. 

Pediu a Benerro que trouxesse Daenerys. Ela dormia enquanto ele a carregava. Entorpecida pela porção que Aisha havia preparado com cuidado. Ela estava quebrada, então Aisha estava permitindo que ela absorvesse as coisas devagar até que ela estivesse menos quebradiça... Sempre que a Rainha Dragão acordava, ela se afogava num sofrimento tão doloroso de assistir que Aisha tinha preferido deixá-la desacordada por enquanto. 

Agora ela dormia profundamente repousada contra a enorme pata de Drogon. Ele parecida satisfeito consigo mesmo. Cheirava o corpo de sua mãe. Estava atento a respiração suave que escapava do peito dela. Seu corpo quente e escamoso a envolvia e às vezes Drogon a escondia em suas asas e se enrolava em torno dela protetoramente. 

Aisha lembrou dos olhos dela quando ela acordou da morte. Olhos vermelhos como os do dragão. Vermelhos como os de Kinvara. O fogo dela agora vivia dentro dessa rainha e o dragão não perdeu de vista sua conexão com ela nem mesmo quando ela se foi e ele foi deixado para trás. Estão conectados, esses dois...Ele a manteve perto o suficiente para Kinvara trazê-la de volta ilesa... Se é que isso seja possível. 

Observou como Daenerys parecia melhorar na companhia do dragão. Ela parecia voltar de fato a vida. Sua pele ganhava uma cor  mais corada, diferente do cinza doentio que ela tinha quando acordou. Os cabelos prateados se tornavam menos quebradiços e os lábios passaram do azul para um tom vermelho provocativo.  De muitas maneiras, ela parecia um dragão. Lembrou-se da expressão reptiliana que o rosto dela assumiu quando Aisha a ajudou a entender sobre a maneira com a qual ela morreu. Ela parecia desolada e também com ódio dela. Se Daenerys pudesse cuspir fogo como seu dragão, Aisha tinha certeza que teria morrido ali. 

Como Drogon, ela era extraordinária e assustadora na mesma medida. Causava fascínio entre os sacerdotes, principalmente quando eles percebiam a maneira com a qual o fogo aumentava e se alimentava na presença dela, sobretudo quando ela estava inconsciente do comportamento dele.   

Mas Aisha conseguia ver o buraco profundo aberto na alma dela. Uma mancha escura que se espalhava enquanto Daenerys ressoava e flutuava perdida em sonhos. Mas ela conseguia ver o vazio e a solidão na qual ela estava enterrada. Ela estava sozinha no mundo. Apenas ela e o seu dragão. Os únicos vestígios remanescente dos orgulhosos dragonlords da Antiga Valíria. Os últimos Targaryen e os últimos dragões.  A chama de ambos por um fio. Brilhando fraca contra a escuridão. Preciso mostrar a ela o caminho. Mostrar  que ainda não acabou. Que ela ainda tem um motivo.

 


Notas Finais


Um capítulo dedicado para nos apresentar um pouco Aisha e exaltar a natureza dragão e Targaryen da nossa rainha, que de forma nenhuma deveria ser confundida com vilania ou loucura. É apenas o que Daenerys é em essência. Ser um dragão não deveria ser ruim e tornar isso pejorativo foi uma das piores coisas que o programa fez para sujar a Casa Targaryen e Daenerys, na minha opinião. Quem ama essa casa como eu, sabe.


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