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História Saron de Sangue - Fios cinza como prata


Escrita por: RivaMika55

Notas do Autor


Essa história é tão, TÃO importante para mim que eu estou muito radiante mesmo de finalmente a estar postando aqui... Vocês não tem noção, eu realmente quero que ela fique perfeita, cada um dos capítulos e estou muito feliz que finalmente vocês poderam a ler <3
Eu quero imensamente agradecer a TKGANG por ter feito uma capa e banners tão lindos e perfeitos, muito obrigada pelo tempo que você gastou para fazê-la, ela ficou muito melhor do que eu imaginava, obrigada mesmo.
Eu quero agradecer a minha marida linda Vkookpudim por estar sempre me apoiando e chutando minha bunda pra escrever, essa, assim como todas as minhas outras fics são para você. Eu quero dar um beijo e agradecer demais a Thaís por ter me dado amor no docs e por ter lido essa história antes de muitas pessoas, por ser uma pessoa tão maravilhosa que sempre me ajuda com meus plots. Te amo.
Eu quero agradecer MUITO a Vdream por ter betado esse capítulo, por ter consertado cada errinho e por ter deixado essa história melhor. MUITO obrigada, Fabi.
(Meninas do grupo, finalmente essa fic saiu do forno né? Amo vocês!)
Eu espero que vocês gostem do que vão ler.
Ela é +18 e terão cenas que não é aconselhável que pessoas menores de idade leiam.
Até o próximo capítulo ><

Capítulo 1 - Fios cinza como prata


Fanfic / Fanfiction Saron de Sangue - Fios cinza como prata

Ano 1200 depois da Lua Vermelha. 

Castelo dos Kim’s. 

 

Balançou os cabelos cinza enquanto ajeitava o colete de couro preto. Inclinou um pouco o corpo e pegou o broche com o brasão de seu clã; uma Saron verde acompanhada de duas espadas dentro de uma lua vermelha. Colocou o objeto preso no colete e se olhou mais uma vez no espelho cercado por uma moldura grossa de ouro. Passou a língua nas presas afiadas e sorriu enquanto saía do quarto e rumava em direção à escadaria dourada do castelo absurdamente grande, no qual morava há quase 200 anos. 

Era frio. Tudo ali era e sempre seria frio, e mesmo que mil velas fossem acesas, não parecia adiantar nem um pouco. Assim que a sola de seu sapato tocou no piso de linóleo, um trovão tremeu todo o céu enquanto os flashes de raios eram exibidos através dos vidros perfeitamente limpos das janelas. 

— Senhor Taehyung — Baekhyun curvou-se para o mais alto enquanto sorria um pouco ao segui-lo, mesmo que mantendo uma distância de quase dois metros de seu senhor. Os fios pretos do rapaz estavam perfeitamente repartidos e as roupas que vestia eram bem mais simples que as do vampiro de olhos vermelhos, que tinha um caminhar ereto e atento.

 — Onde eles estão? — Perguntou rapidamente, nem mesmo olhando para o outro, que mantinha a postura completamente disciplinada, tal como foi muito bem ensinado para que servisse ao grande clã dos Kim. Atravessou o extenso salão e começou a andar pelo corredor pouco iluminado, apesar da parede direita ser apenas uma imensa janela que mostrava a chuva forte que caía do lado de fora. 

Fazia três dias que apenas chovia, todo o distrito de Gangnam estava sofrendo com aquilo e poucas coletas de sangue estavam sendo feitas. Talvez fosse sobre aquilo que o clã estava querendo tratar com Taehyung, talvez fossem pedir para que o acinzentado fosse checar as reservas e doações pessoalmente... Baekhyun, na verdade, nunca sabia dizer corretamente o que as reuniões do Kim poderiam significar, mas uma pequena parte de si sempre temia aquilo.

— Na sala índigo, senhor, — respondeu firme, vendo a presença marcante do vampiro o qual servia ficar ainda mais dominante do que já era. A sala índigo significava que o assunto era interno, algo que os 8 teriam que resolver entre si. 

Mais preocupante ainda. 

— Todos realmente estão lá? Heechul voltou? — Soltou outra pergunta, parando em frente à porta de aço pintada de um azul bonito e raramente visto que continha diversas safiras e turquesas cravadas. Odiava entrar naquela sala, era sempre ali que suas dores de cabeça começavam e seu nível de estresse e cansaço era extrapolado com força. 

Realmente, não era muito fãs dos assuntos do clã. 

— Sim, todo o clã principal está ali, senhor — respondeu também, mantendo-se parado, olhando para os fios cinza ficando ainda mais compridos conforme os dias iam passando. Perguntava-se quando o imortal iria pedir para cortá-los outra vez. 

— Tudo bem — comentou, abaixando levemente a cabeça enquanto soltava um suspiro como força de expressar seu cansaço, e não como uma forma de pôr para fora o ar que, na verdade, nem exista em seus pulmões. — Vá ao meu quarto e limpe as bolsas de sangue que tomei ontem — comentou em um sussurro rouco, virando apenas a cabeça para olhar o mais baixo, que o servia há quase 15 anos. — Quando terminar, espere uns 10 minutos e depois apenas venha aqui e me chame, diga que é uma emergência com as minhas regiões de Seul e Daegu — piscou para o servo, que manteve um sorriso pequeno no canto dos lábios. Já faziam aquele mesmo truque há anos. — Só me tire dessa sala, Baekhyun… 

— Sim, senhor — curvou-se outra vez, escondendo um pequeno sorriso no canto dos lábios. Voltou a manter a postura ereta e virou-se de costas para seu mestre, caminhando até o local que fora instruído para limpar.

Taehyung passou a língua pelas presas outra vez e abriu a porta. Entrou, observando os diversos pares de olhos vermelhos como rubi serem direcionados para si. 

Namjoon tinha um sorriso convencido no canto dos fartos lábios e aquilo definitivamente não era um bom sinal. 

[...]

Busan. 

Casa Jeon. 

 

Jogou o vaso no direção do irmão mais velho. 

Não reconhecia aquela força que estava mostrando ter e muito menos a coragem que brilhava em seus olhos. Talvez a irritação e o ódio que sentia fossem responsáveis por aquela atitude violenta que estava tendo. 

Mas era assustador, ter coragem para fazer aquilo, desafiar seu irmão daquela maneira... Era estranho, mas, ainda assim, um pouco aliviante. Seu corpo tremia em certa euforia, mas seu coração estava cheio de medo. 

— Não! Não! Não! Não vou me casar, Jongin! — Jeongguk gritou, olhando para outro vaso e o pegando nas mãos antes de jogá-lo em direção à figura quase da mesma altura que si, alguns anos mais velho nas costas e nas expressões em seu rosto. — Você tem alguma noção do que está me pedindo? Tem noção de como isso vai arruinar minha vida? 

— Sua vida está resumida em doar sangue para o banco e continuar virgem porque rejeitou cada uma das nossas propostas de casamento para você! — Rebateu com força e irritação. — Por quanto tempo achou que isso fosse durar, sinceramente? Sua mente ainda parece ter doze anos, garoto. 

— Eu não vou casar com um vampiro! — Rebateu choroso, fungando alto enquanto recuava dois passos, deixando que o medo e a tristeza agora assumissem todo o seu corpo, ficando absurdamente magoado por saber que sua própria família seria, sim, capaz de fazer aquilo consigo. De alguma forma, já deveria ter esperado por tal coisa, mas mantinha esperanças de que tanto seu irmão quanto seu pai tivessem um pouco de compaixão — Um vampiro matou minha mãe Jongin, não vou me casar com um — o mais novo falava, entorpecido em sua própria angústia, balançando a cabeça de forma negativa rapidamente, olhando para o mais velho, que passou a mão pelos fios negros como os seus, soltando um suspiro cansado. 

— Vai se casar com quem eu mandar — a voz forte de Jihan, seu pai, falou de forma rude, abrindo as portas da sala e caminhando a passos irritados para sua própria mesa de madeira maciça. O homem tinha o poder de travar o corpo de Jeongguk inteiro, ele tinha o poder de o fazer temer até mesmo respirar de forma errónea e receber alguma punição por aquilo. — Seja vampiro, humano ou mendigo! 

Yangsoo, quarta esposa de Jihan, entrou na sala também. A mulher com longos cabelos negros segurava a mão do pequeno Jungsu, o irmão de 5 anos de Jeongguk, de forma nada delicada. 

Contendo a fungada dolorida que queria soltar, Jeongguk apenas abaixou a cabeça e deixou mais duas lágrimas escorrerem. 

— Sim, senhor. 

— Ótimo, agora vá arrumar as suas coisas, no próximo sábado será o casamento, quanto antes melhor e os Kim já aceitaram nosso trato, você irá ser preparado pelas servas dele, como eles pediram — nem mesmo olhou nos olhos do mais novo quando disse cada uma daquelas palavras, folheando algo em suas pastas enquanto dava a ordem de forma natural, como se estivesse apenas mandando Jeongguk ir se arrumar para irem passear no grande jardim que tinha ao redor da casa. Aquilo realmente lhe partiu o coração. 

Sábado seria dali a 3 dias e os Kim eram o clã cujo um dos membros havia matado sua mãe. Queria profundamente entender como seu pai poderia fazer uma coisa como aquela, como poderia ter o sangue tão frio a ponto de fazer algo como aquilo. 

Engoliu em seco, querendo chorar ainda mais, porém o faria apenas quando estivesse no seu próprio quarto, sozinho. 

— Sim, senhor... — Sussurrou, curvando-se para o homem e saindo da sala enquanto sentia o olhar dos demais presentes ali queimando em suas costas. Sabia que nenhum era de pena.

— Hyung! — A voz infantil de Jungsu lhe chamou no mesmo momento em que as mãos pequenas e quentes seguraram a sua, a boquinha lhe mostrando um sorriso quase sem nenhum dente. — Vamos brincar, hyung? — Pediu aumentando o sorriso e começando a andar apressado, chamando o mais alto. Jungsu estava completamente alheio a todas aquelas coisas, não parecia perceber a gravidade das coisas que estavam acontecendo e muito menos o olhar derrotado do mais velho. 

Jeongguk sentiu seu coração se aquecer, mesmo um pouquinho, por conta daquela inocência. Abaixou-se e pegou o garoto no colo, apertando-o em seu braços enquanto ia carregando-o até o seu próprio quarto, passando por todos os corredores bem iluminados, já que tudo se encontrava em uma grande escuridão por conta da chuva, que não parava de cair, e das nuvens negras que cobriam todo o céu que um dia já fora tão azul e limpo quanto as águas do porto de Busan. 

Abriu a porta e Jungsu já pulou de seu colo, correndo apressado com suas perninhas curtas e vestidas pela calça de couro escuro, indo até a prateleira com algumas moedas de ferro de cada reino que um dia já sonhara em visitar. Holanda, Suíça e Grécia estavam em sua lista. Todos países fora da Ásia. 

Foi até o próprio guarda roupa feito com madeira de orvalho e tirou de lá os dois baús grandes de madeira e cobre. Ainda nem acreditava que realmente estava fazendo algo como aquilo. Até pouco tempo atrás apenas ficava em seu quarto, estudava e doava sangue para o banco nos dias certos, sem pagar nenhuma multa. 

Nunca fez nada de errado para ninguém, nunca machucou ou magoou alguém, sempre foi o aluno que seus professores desejavam, o filho que seu pai exigia, o irmão que os dois mais novos precisavam… E agora estava condenado a um futuro como aquele, casar-se com um maldito vampiro que odiava com todas as suas forças. 

— Hyung! Não! Eu soube — Jungwoo entrou em seu quarto de forma apressada, gritando enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto, chocando seu corpo pequeno com o de Jeongguk enquanto continuava a chorar — sem você aqui o Jongin vai ficar brigando com a gente, você é o único que me dá atenção, hyung, por favor, não vai, hyung, por favor. 

Engolindo a vontade de chorar mais uma vez, o mais velho apenas respirou fundo antes de baixar seu corpo e abraçar Jungwoo, de apenas 13 anos. 

— Jungie, se eu não for, como você vai ser o homem da casa? — Perguntou baixinho, passando seus dedos pelos fios pretos de seu cabelo, mexendo na franja que ele insistia em deixar comprida. — Eu tenho que ir, e aí você vai ter que ficar no meu lugar, vai ter que cuidar do Jungsu... 

— Mas você não quer ir, eu ouvi o Jongin hyung dizer que não achou que fosse agir daquele jeito quando soube que ia ter que partir — rebateu fortemente, surgindo com argumentos que não tinha como Jeongguk rebater realmente. — A ama Nayeon me disse que sente muito pela sua partida, eu vi ela jogando fora os vasos quebrados, hyung! Não mente pra mim, hyung! 

Os olhos quase tão negros quanto os seus estavam desesperados. E Jeongguk realmente odiava aquilo. Deixar Jungwoo e Jungsu sozinhos era uma das coisas que mais lhe deixava aterrorizado. Seus irmãos não mereciam ter Jongin ou Jihan para cuidar de si, nem mesmo Yangsoo era apta para aquele serviço. Cuidar dos mais novos era seu dever desde sempre e ele amava aquilo profundamente, era a única parte boa de sua vida, a única na qual ainda fazia valer a pena viver naquela casa. E, agora, estava deixando os dois para trás, nas mãos das mesmas pessoas que realmente o estavam vendendo como um animal ou tapete caro. 

Dava-lhe vontade de vomitar. 

— Sabe que o papai as vezes faz coisas que achamos não serem legais, mas sabe que não podemos desobedecer — passou os polegares pelas bochechas avermelhadas com certa suavidade, respirando fundo e mantendo-se forte para não chorar na frente dos garotos. — Eu vou, sim, mas vou voltar, vou fazer de tudo para sempre estar com vocês, prometo isso, — esticou o braço para puxar Jungsu sentado em sua cama para que o garoto fosse para o seu colo. Abraçou os dois meninos — quando eu puder, vou tirar vocês dois daqui, vocês vão ficar comigo, eu juro. 

Os dois pequenos o abraçaram com força, escondendo seus rostos no pescoço pálido do mais velho. Jeongguk sabia que Jungsu, na realidade, não estava entendendo muita coisa, mas agora era menos inocente do que antes sobre a situação. 

Acariciou os fios pretos de seus cabelos e olhou para os baús em cima de sua cama, ainda teria que enchê-los com todas as suas coisas... 

Também fechou os olhos. 

[...]

Estrada de Ferro. 

 

Poderia dizer que estava nervoso, mas aquilo seria muito pouco para realmente explicar o que estava sentindo. Queria vomitar e até mesmo pular daquela droga de carruagem que o levava até o castelo dos Kim. 

Era sábado, um lindo e ensolarado sábado depois de dias de muita chuva. Ironicamente, sentia como se o universo estivesse rindo absurdamente da sua cara, zombando da triste situação na qual se encontrava. 

Seu pai estava ao seu lado, sério a todo momento, não lhe dando nenhuma palavra de conforto, mas não era como se o mais novo realmente tivesse se iludido, como se algo daquele tipo fosse realmente acontecer. Na realidade, nem ia se surpreenderia caso o homem literalmente o chutasse para fora da carruagem e lhe mandasse manter um sorriso grande nos lábios finos que, naquele momento, eram mordidos com força. 

Era o dia de seu casamento. 

O dia em que ia dar seu corpo para outra pessoa e deixaria de ser um Jeon para ser um Kim. Um maldito Kim daquele clã desprezível que tomava conta da Coreia do Sul e tinha o título de mais poderoso da Ásia. 

Quis cuspir na cara de seu noivo. 

Na verdade, se entrasse ali, nem saberia qual dos homens com presas era aquele que ia lhe levar para o altar. Homem... Aparentemente, o vampiro tinha preferência por homens... Imaginava, caso fosse hétero: teria realmente que dar seu corpo para um homem fazer o que quisesse, mesmo que gostasse e sentisse apenas atração por mulheres. 

Não queria chamar aquilo de sorte, estava mais para uma piada de mau gosto. 

— Chegamos, milordes — o cocheiro, que Jeongguk nem sabia o nome, falou de forma respeitosa, saindo de seu posto e indo até a porta ao lado de Jihan. Abriu-a segundos depois, curvando-se para o homem respeitado que seu pai era. 

Um dos “lordes” de Busan. Mas aquele título era uma grande piada, Jeongguk bem sabia. Não existiam lordes humanos, todos eram vampiros e aqueles títulos eram apenas para que a raça mais fraca se sentisse como se realmente fossem importantes naquele mundo perigoso. 

Era patético de certa forma, o jeito como muito frisavam aqueles títulos com orgulho quando, na verdade, deixavam mais claro do que nunca que eram o que eram apenas porque um vampiro os permitiu ser aquilo. 

— Tudo bem — Jihan comentou baixo, saindo de dentro da carruagem e caminhando, sem esperar por Jeongguk, pela trilha de pedras bonitas que dava até a entrada do castelo. 

Assim que o mais novo saiu, observou toda a arquitetura bonita e grandiosa do lugar, cada tijolo bem colocado, cada falta de economia na hora de colocar as peças grandes de ouro, prata e outras pedras preciosas ali, mesmo do lado de fora. Chegava a ser grosseiro uma coisa daquelas. Eram muitas cidades que tinham uma economia tão pequena e naquele castelo estava a solução de seus problemas. 

Bufou, levemente irritado. 

Estava gostando menos ainda daquilo. Já conseguia prever o grande ódio que ia sentir de seu marido. 

Continuou observando as torres altas com bandeiras vermelhas como sangue balançando nas pontas, janelas em algumas laterais; nem sabia dizer qual o tamanho daquele lugar. O grande brasão dos Kim estava ali, erguido há quase 10 metros de altura, possuindo o tamanho um pouco maior que a carruagem chique na qual estavam. 

Uma Saron minuciosamente esculpida estava ali, sem dúvidas a cor verde vivo era resultado das gemas de esmeralda cravejadas nela. Espadas gigantes e douradas estavam atrás da flor e pareciam presas dentro da lua vermelha perfeitamente enfeitada com o que deveriam ser rubis. 

— Vamos logo, Jeongguk! — Jihan gritou forte, sem fazer cerimônia alguma, olhando-o com certa irritação. Dois homens grandes saíram de dentro do castelo, caminhando em silêncio até as carruagens e pegando os baús. Cada um segurou um, como se não pesassem absolutamente nada. 

Não conseguiu não arregalar minimamente os olhos redondos e negros. 

— Ah, meu mais novo e já tão querido filho — um dos vampiros apareceu sorrindo largo, vestido com um roupão verde esmeralda enquanto caminhava até eles, abrindo os braços e deixando que seus cabelos claros balançassem com o vento que soprava. 

Ao seu lado, havia seis humanos, todos segurando barras de ferro que sustentavam uma grossa lona para proteger o tal vampiro do sol. Os humanos não expressavam nada em seus rostos, estavam completamente passivos diante daquela situação. Nem mesmo raiva o moreno identificou em seus olhares. 

As cinturas eram cobertas por tecidos vermelhos que iam até seus calcanhares. Os pés estavam calçados com sandálias de couro simples e correntes de ferro circulavam seus pescoços; não em demonstração de aprisionamento, apenas como forma de enfeite para os homens que asseguravam que o vampiro não fosse tocado pelo brilho do sol. 

E Jeongguk não fazia a mínima ideia de quem era aquele, mas o achava feliz demais com aquela situação e isso já o fez detestá-lo. Queria empurrá-lo em direção ao sol e vê-lo queimar, mas, se fizesse tal imprudência, apenas estaria acabando com sua vida e ia deixar seus irmãos completamente sozinhos. Não poderia fazer aquilo. 

— Senhor Kim — Jihan curvou-se, fingindo uma educação e respeito que claramente não tinha com ninguém além daqueles dos quais desejava obter alguma coisa. 

Kim. 

Era realmente alguém do clã.

Jeongguk sabia que inúmeros vampiros viviam naquele castelo, e mesmo que o clã se denominasse Kim, nem todos tinham aquele sobrenome, mas apenas os oito membros reais do clã — e não apenas os vampiros criados ao longo dos tempos de forma irresponsável — eram Kim’s de fato. E saber que estava diante de um deles fez a espinha do mais novo congelar e seu coração parar por alguns segundos. 

O homem o abraçou de forma inesperada e fez com que o de fios pretos de repente desse um pequeno pulo por conta do susto. Engoliu em seco quando sentiu os braços frios circularem sua cintura e segundos depois se afastarem. 

Agora, o sol nem batia em si; estava protegido por aquela lona perfeitamente segurada para proteger aquele que deveria ser bem importante. 

— Nosso Taehyung tem muita sorte de possuir você —, aumentou o sorriso em seu rosto, pegando o pulso pálido e o levando até o nariz, cheirando com vontade a área em que suas veias estavam à mostra. Jeongguk congelou no lugar, assustado com a possibilidade de que o homem o mordesse ali mesmo.  

Infelizmente, aquela seria sua realidade dali para frente, medo de que levasse uma mordida a qualquer segundo. 

— Realmente seu cheiro é tão bom quanto seu pai afirmou — sussurrou com certa malícia, beijando o interior do pulso do moreno por alguns segundos a mais que o recomendado. Afastou-se assim que completou o ato estranho e passou uma das mãos pelos próprios fios de cabelo, jogando-os para trás enquanto o vento os bagunçava um pouco mais. 

— O noivo não virá vê-lo? — Jihan perguntou sorridente, obviamente querendo ver o porte do homem sobre o qual jogaria Jeongguk em cima. Engoliu em seco quando o vampiro nem se voltou, continuando a avaliar Jeongguk, cada centímetro de sua pele, cada fio de cabelo, cada mínimo detalhe que pudesse enxergar como qualidade ou defeito.

— Nosso amado Taehyung está resolvendo assuntos no momento, mas deixou tudo pronto para que seu filho seja devidamente bem tratado — a resposta dada de forma desinteressada pelo vampiro pareceu irritar Jihan de algum modo, o fazendo franzir o cenho e manter uma expressão desgostosa no rosto. 

Era como se o homem realmente desejasse que o filho sofresse, que estivesse prestes a se casar com um homem rude e que o tratasse mal, apenas para poder sentir-se bem e feliz com aquilo. Era horrível, Jeongguk sentia-se cada vez pior, o estômago embrulhando mas a cada segundo.

O Kim não pareceu perceber aquilo, mantendo os olhos vermelhos em Jeongguk, deixando que seu sorriso gengival continuasse presente naquele encontro, mostrando o quão empolgado estava com aquele casamento. 

— Hum, isso é bom — resmungou, claramente descontente. 

O vampiro — mostrando-se animado demais para o gosto de Jeongguk — tomou seu braço para si, começando a andar em direção ao castelo de forma simples. O moreno sentia a frieza daquela pele na sua, lhe causando arrepios e certos medos. Nunca tinha entrado em contato direto com uma das criaturas da noite. 

Os humanos os acompanharam, tapando o sol pelo caminho em que os dois iam percorrendo. Jeongguk sentia sua pressão baixar. Nunca estivera tão perto e de forma tão íntima de um morto vivo. 

Nem mesmo nos Bancos de Sangue era daquele jeito. 

— E-eu — respirou fundo para gaguejar na hora de fazer a pergunta que queria, observando como o Kim tinha parado de andar e agora olhava em seus olhos, esperando para ver o que Jeongguk iria dizer. — E-eu ainda vou precisar frequentar o Banco de Sangue? 

O local referido era onde, a cada três meses, todos os seres humanos deveriam doar sangue; mulheres doavam 800ml e homens, 1L. Os nomes eram dados e havia um ranking dos dez melhores sangues coletados, avaliados em aroma, gosto e temperatura. 

Quanto mais doce o aroma, melhor. 

Quanto mais gostoso o sabor, melhor. 

Quanto mais quente o líquido, melhor. 

Os nomes que ficavam no ranking recebiam algumas moedas de ouro para continuarem saudáveis, era uma forma de recompensa pela doação — que era obrigatória —, sendo ela apenas 5 moedas de prata, uma quantia completamente absurda. Jeongguk sabia que os sangues coletados eram engarrafados e vendidos entre os vampiros; uma forma de passar o tempo ou apenas lhes tirar do tédio, o moreno não sabia dizer. 

Mas seu nome estava sempre em segundo lugar do ranking de toda Busan, e em 

terceiro de todo o país. Imaginava que seu pai também usara daquele argumento para convencer o clã Kim a aceitar o casamento. 

— Não, meu querido — passou a ponta dos dedos pelos cabelos escuros de Jeongguk, tirando-os de cima da sobrancelha dele. — Seu sangue agora só vai pertencer à Taehyung, e a ele apenas. 

Voltou a andar calmamente, subindo os degraus da grande escadaria com estátuas de bonitas mulheres e felinos selvagens. Antes que as grandes portas fossem abertas, o vampiro parou e chegou para o lado, puxando Jeongguk para que ficasse perto de si. O moreno olhou para seu pai, que nem as escadarias tinha subido, ficando a observar os dois à distância. 

— Não me esqueci de você, senhor Jeon. Aqui está o pagamento do nosso acordo — o Kim comentou, um pouco mais alto que o esperado, olhando para o progenitor do humano, que abriu um largo sorriso. 

Ao mesmo tempo, o portão foi aberto e um vampiro alto saiu por ele. Era um homem alto, bem mais alto que Jeongguk, e sustentava uma expressão de bem poucos amigos. Os fios castanho claros estavam bagunçados e os olhos eram completamente vermelhos. O colete de couro e a calça feitos do mesmo tecido eram as únicas roupas que vestia, deixando todos os impressionantes músculos de seu corpo em bastante evidência, ainda mais porque carregava duas bolsas de pele de algum animal que Jeongguk não soube identificar. 

— Aí estão as suas duzentas moedas de prata e cem de ouro pelo garoto — o vampiro falou com seriedade, como se o negócio estivesse oficialmente sendo fechado, nem mesmo esperando que o casamento tivesse acontecido. Mesmo já aguardando algo como isso, Jeongguk não pode evitar que seus olhos marejassem enquanto via o próprio pai guiar o vampiro maior para a carruagem, colocando a bolsa de dinheiro dentro da mesma e não olhando para o moreno um segundo sequer. — Estaremos esperando o senhor para o casamento daqui algumas horas, — o Kim manteve um olhar malicioso enquanto falava, jogando a cabeleira para trás segundos depois e puxando Jeongguk para o interior do castelo. 

[...]

O garoto nem teve tempo de apreciar ou ver de forma mais detalhada o interior do castelo, logo Jeongguk foi arrastado para subir as escadarias que davam para o sul, e depois virar a oeste, cruzando diversos corredores com pinturas de vampiros ao longo dos anos e, no meio daquelas imagens, o moreno se perguntava qual delas seria a do seu marido. 

Ele sabia que vampiros nunca revelavam a idade na qual se transformavam, contavam apenas a idade que possuíam a partir de suas transformações — coisa que era altamente confidencial, ninguém nunca soube como de fato as criaturas da noite conseguiam transformar os humanos. 

O outro Kim que estava consigo assim que entraram havia sumido, e outros diversos vampiros já haviam passado por eles, olhando-o de forma suja ou inebriados pelo cheiro de seu sangue. Mas eram os dois vampiros que seguravam seus pulsos que o preocupava de verdade, e seu medo ficou ainda maior quando pararam na frente de uma porta completamente prateada, o símbolo dos Kim estava cravado ali, mesmo que não tivesse as cores vivas como o brasão exposto no exterior do castelo. 

— Esse é o quarto que o nosso senhor, seu noivo, escolheu para você — um dos vampiros mais baixo, de fios pretos e olhar gentil nos olhos vermelhos, lhe disse com certa animação. Jeongguk realmente duvidava que seu marido tinha escolhido aquele quarto para si, parecia bem pouco provável, mas ainda assim fez a única coisa que pensou ser aceitável. 

Balançou a cabeça positivamente enquanto forçava — e quase não conseguia — um sorriso no canto dos lábios. 

A porta foi aberta, mostrando um local espaçoso onde diversas peças de roupa estavam penduradas por correntes presas ao teto, todas sendo perfeitamente mostradas. Prateleiras de metal mostravam os produtos naturais que eram usados apenas para sanar a vaidade dos mais nobres humanos que realmente tinham recursos para pagar por coisas daquele tipo. Mas ali havia uma abundância sem igual, até mesmo do tapete vermelho de quase quatro metros quadrados todo ocupado por pares de sapato ou botas de couro... 

Do outro lado, em frente à longa janela de vidro segurado por finas barras de ouro, Jeongguk viu uma mesa exibindo as mais bonitas jóias, cordões, anéis, pulseiras, gargantilhas, brincos e outros acessórios.

Todo o local era iluminado por três lustres de prata com diversas velas já acesas. A cada dois metros, suportes também de prata estavam fincados na parede, sustentando velas grossas acesas. 

— I-isso tudo é dele? — Olhou para os vampiros. Os dois deveriam ter cerca de um metro e setenta de altura, aparências jovens, talvez tendo sido transformados antes mesmo de completarem 19 anos, maior idade na Coreia. 

— Isso é tudo seu, senhor —, o de fios castanhos respondeu baixo, olhando em seus olhos, mas Jeongguk desviou o olhar; não conseguia encarar orbes tão vermelhas como aquelas, lhe dava nervoso. Fazia Jeongguk querer socar cada um deles e chorar de medo, imaginava se tinham sido olhos como aqueles que sua mãe viu por último antes de ser morta. 

— Meu? — Estreitou os olhos, focando nas diversas roupas à mostra. Devia ter quase cem, e nem se surpreenderia caso o número fosse maior. Abriu a boca por alguns curtos segundos antes de engolir em seco, observando o vampiro de fios negros caminhar até uma porta de madeira escura, mesma cor que as paredes, abrir e entrar sem hesitar. O outro vampiro continuava a lhe encarar, provavelmente achando que Jeongguk não havia gostado de nada que havia ali — Perdão, mas eu nem sei o nome de vocês... — Sussurrou, levando a mão até a nuca, apertando o local sem fazer muita força enquanto sentia-se absurdamente deslocado com aquilo. Um impulso grande de querer pular pela janela estava quase o dominando. 

— Meu nome é Dokyeom — o de fios castanhos respondeu baixo — o outro é Kangin, nós fomos escolhidos pelo senhor Taehyung e pelo senhor Seokjin para arrumá-lo.

Balançou a cabeça positivamente, engolindo em seco quando o de cabelos pretos, Kangin, voltou com uma caixa na mão. 

— O senhor vai querer tomar banho em qual banheira? O senhor Taehyung disse para deixar-lhe as três disponíveis. 

— E-eu tenho que escolher uma banheira? — O mais alto perguntou, confuso, estreitando os olhos enquanto ia a passos calmos até a porta que Kangin abrira, entrando no outro cômodo e vendo todo o local; chão, parede e teto cobertos por um piso completamente brancos. No centro do lugar havia três banheiras, uma de bronze, uma de prata e uma de ouro. Não apenas banhadas, mas realmente feitas daqueles materiais de muito valor. Uma mesa de vidro continha dez pilhas com dez toalhas brancas de um lado e, do outro, mais produtos de beleza e higienização. 

O tal vampiro que o levaria para o altar realmente queria garantir que Jeongguk passasse pela máxima higiene possível antes de se casarem e aquilo o assustava um pouco. Se o homem era tão exigente mesmo, seria difícil agradá-lo e o moreno já imagina infelizes cenários onde iria acabar apanhando caso fizesse algo que fosse do desagrado do outro. 

— O senhor é completamente depilado? — Dokyeom perguntou sem pudor, fazendo com que Jeongguk deixasse seus olhos arregalados. — Seokjin nos instruiu a cuidarmos desse detalhe. 

— Não completamente — sussurrou a resposta, sentindo as bochechas ficarem quentes por conta da absurda timidez que sentia. Queria sair correndo, mas nem mesmo tinha um lugar de fato para ir. Estava sozinho, literalmente largado à mercê das criaturas da noite. 

Os dois vampiros se entreolharam e Kangin caminhou para fora do lugar. 

— Vou pegar um sofá... 

Dokyeom olhou para Jeongguk, sorrindo enquanto forçava uma simpatia que nem tão cedo iriam conseguir em retorno do mais alto. 

— Nós vamos ser completamente cuidadosos, senhor, não se preocupe. — A voz suave falou com mais gentileza do que o moreno esperava, se tratando de um vampiro. Temia muito todos eles, ainda os achava monstros sanguinários sem alma, e os poucos sorrisos que recebera hoje não iriam mudar isso. 

Um deles matara sua mãe, tinha ódio daquela raça, embora conseguisse disfarçar perfeitamente bem. Respirando fundo, apertou sua própria nuca outra vez, o nervosismo tomando conta de seu corpo conforme sua mente já ia formulando tudo o que iria acontecer dali a poucos minutos. 

— Pode escolher sua banheira para enchermos, senhor, e tire suas roupas — Kangin falou sem mostrar muito esforço na voz, apesar de estar carregando uma poltrona vinho para dentro do lugar. O objeto não estava no quarto, então o vampiro havia ido até outro lugar pegá-lo. 

Olhou para as banheiras; mesmo tendo um status bom dentro da comunidade humana, Jeongguk nunca tivera uma banheira daquele tipo, as que possuía em casa eram de ferro e não tão largas como aquelas. 

Começou a desfazer o laço de seu colete. 

[...]

Choi Seungcheol, esse era o nome do primeiro vampiro registrado na história de toda a humanidade. O homem que foi tocado pela Lua Vermelha quando a mesma estava em seu maior ápice e logo seus olhos adquiriram a mesma cor e seu desejo por sangue começou, levando-o a atacar todos os humanos normais que via pela frente, começando um verdadeiro banho de sangue.

Jeongguk nem sabia há quanto tempo aquilo de fato tinha acontecido ou se era apenas uma lenda para lá de fantasiosa contada para fazer as crianças dormirem ou obedecerem seus pais. Mas o moreno sabia que foi Park Hyungsik quem estabeleceu o primeiro império vampiro da Ásia, dominando os humanos e escravizando-os para exercerem seus vários desejos e prazeres. 

Diversos reinos entraram em guerra quando outros países passaram a fazer o mesmo, e logo o Antigo Mundo entrou em caos total. Pelo que todos sabiam e estava registrado nos livros ancestrais, a guerra do Antigo Mundo durou mais de 400 anos e, depois disso, outra Lua Vermelha apareceu no céu, chamando por mais filhos na noite e aumentando suas forças. Todos os países e reinos foram se reconstruindo conforme os vampiros queriam que os humanos fizessem, transformando o mundo no que ele era atualmente. 

Um homem tomou controle de toda a Coreia e se firmou como vampiro mais forte do Oriente. Seu nome quase não é falado, apenas porque praticamente ninguém sabe, mas seu sobrenome, Kim, tomou força, e logo o clã nasceu de forma assustadora, fazendo todos os adversários tremerem.

Há 1200 verões atrás, os anos passaram a ser contados a partir do momento em que a Lua Vermelha voltou a aparecer, e há mil rumores de que o Kim estava lá, estabelecendo aquela nova lei junto com outros clãs de vampiros e um único representante humano. 

No fim de tudo, as guerras vampiras não destruíram apenas uns aos outros; bilhões de humanos pereceram e logo um sistema melhor foi pensado e executado para que os vampiros pudessem se alimentar e os humanos não acabassem extintos naquele processo. 

Jeongguk realmente não sabia o quanto daquilo era mentira ou não, mas de todo modo, tinha certeza absoluta que os vampiros eram poderosos e era completamente estúpido enfrentar qualquer um deles. Tinha certa sorte de estar com um dos vampiros daquele clã, temia que se fosse vendido para um clã pequeno, os próprios Kim os dizimassem e ele mesmo acabasse sendo vendido outra vez, como um mero objeto. 

Os dinheiros e seus valores passados sumiram, os status e modo de vida humano que eram do Antigo Mundo já não existiam mais. Tudo era novo de acordo com o que os vampiros queriam que fosse. Uma família humana só era poderosa porque um vampiro permitia aquilo.

O dinheiro — moedas de ouro, prata e bronze — passaram a ser distribuídos de forma precária e cada um tinha que lutar todo dia para manter seus bens. 

Por ordem dos Kim, tanto a Coreia e seus outros países vassalos tinham uma forma de colocar valor nas moedas. 

Moedas de Bronze permitiam comprar pão e coisas mais simples, como uma fruta ou outros produtos alimentícios. 

Moedas de Prata podiam ser trocadas por roupas, itens de casa como mesas, guarda roupas ou camas. 

Moedas de Prata pagavam pessoas, compravam casas, territórios e jóias preciosas, bem como itens de valor mais caro. 

15 moedas de Bronze valiam 1 de Prata. 

10 moedas de Prata valiam 1 de Ouro. 

40 moedas de Ouro davam para comprar jóias mais custosas. 

Parando para se pensar sobre o valor o qual seu pai havia lhe vendido, não sabia determinar se era alto ou não. Desconhecia o acordo completo que o vampiro e o progenitor haviam feito, mas, infelizmente, do mesmo jeito seu coração se magoava por saber que seu pai tinha recebido apenas 300 moedas ao todo. Esperava que pelo menos fosse 500, no mínimo. 

Mas pelo menos ali estava tendo coisas, mesmo que absurdamente exageradas, estava tendo mordomias e cuidados que não esperava receber.

— C-como ele é? — Jeongguk soltou baixo, já dentro da banheira de prata que estava com água morna e espuma até seu pescoço, sendo apoiado por uma toalha perfeitamente colocada na borda da banheira. Sentia-se importante. 

Kangin massageava seu cabelo devagar enquanto Dokyeom limpava suas unhas, cortando-as e tirando pedaços de pele minúsculos ao redor. O processo de depilação havia sido doloroso e completamente vergonhoso, mas teve que reconhecer que os dois foram absurdamente cuidados consigo, como se achassem que Jeongguk era tão frágil que pudesse desmanchar feito areia. 

Estava confortável daquele jeito, realmente confortável. Poderia ficar ali para sempre, mas sabia que logo aquele curto sonho iria se transformar em um longo pesadelo. 

— Seu noivo, senhor? — Kangin perguntou, sem parar com a massagem que fazia. Jeongguk balançou a cabeça positivamente, prestando atenção se os dois vampiros iriam trocar alguma espécie de olhar que denunciava que deveriam ser cuidadosos ao responder ou apenas teriam que falar o que poderiam ter ensaiado anteriormente. 

Mas nada daquele tipo aconteceu. Os dois apenas continuaram concentrados em suas funções. 

— Nós quase não sabemos nada sobre ele. De fato, é um dos membros que mais carrega a fama de solitário e discreto entre os vampiros — foi Dokyeom quem respondeu, sem parecer temer o que aquelas palavras poderiam causar a ele como punição. Jeongguk apenas engoliu em seco, imaginando que tipo de sádico dominante o Kim deveria ser, ocultando-se sempre e fazendo diversas coisas em segredo. 

Sentiu sua cabeça começar a doer. 

— Ele também é um dos poucos que possui servos humanos — Kangin comentou, sem se preocupar de estar dando aquelas informações. Ou estavam confiando rapidamente no moreno ou apenas não temiam de forma alguma o que ele poderia fazer. 

Jeongguk acreditava quase com certeza que se tratava da segunda alternativa. E, por mais que quisesse disfarçar, sua curiosidade o fez se mover na banheira, desejando mais informação sobre o que escutara. 

Humano? O Vampiro bebia sangue deles? Ele os escravizava de forma cruel? 

— Como assim? — Perguntou baixo, não querendo transparecer muito o quão curioso estava, mas acabou apenas arrancando um risinho de Dokyeom, que levantou-se para ir cuidar de sua outra mão. 

— Séculos atrás, era mais comum que os oito principais tivessem mais servos humanos, mas isso mudou depois de um tempo e apenas alguns possuem esse hábito ainda — Kangin explicou calmamente. — E não são como bolsas de sangue, ou escravos sexuais, são apenas servos normais — esclareceu a pergunta antes que Jeongguk quisesse tirar aquela dúvida. 

— E e-ele tem muitos? — Mordeu o lábio e tentou controlar a respiração, falhando miseravelmente. 

— Apenas um, Byun Baekhyun, é o servo mais fiel do castelo. — Dokyeom respondeu com outra risadinha — começou com 11 anos e agora está prestes a fazer 26, se não me engano. 

Jeongguk não teve como não arregalar os olhos redondos e virar-se bruscamente para o vampiro, que lhe olhou nos olhos e acabou obrigando o mais alto a desviar o olhar, desconfortável. Não podia acreditar que crianças começavam a trabalhar ali, fazendo sabe-se lá o que. 

— Desde que veio, Baekhyun tornou-se intocável graças a Taehyung, os dois são realmente próximos...

Os dois transavam... Jeongguk já conseguia se imaginar tendo sua lua de mel na cama onde o marido tinha transado com meio mundo, incluindo o servo fiel... Não tinha como ser mais trágico e não tinha como lhe deixar mais enjoado. 

Esperava profundamente que seu pai tivesse uma passagem direta para o inferno por conta do que o estava fazendo passar. 

Não falou mais nada, voltou a permanecer em silêncio enquanto era bem cuidado pelos outros dois, resmungando em sua mente sobre como na realidade não havia conseguido tantas informações como queria e não havia tido pista alguma sobre a aparência do vampiro... Já o imaginava extremamente horrendo, já que nenhum dos dois vampiros havia dito algo sobre ele ser belo ou ter algum traço de elegância. 

Mesmo que também não tivessem dito nada sobre o mesmo ser feio, bruto ou sanguinário... 

Continuava no completo escuro. 

Assim que o banho terminou, os dois menores começaram a secar seu corpo, tudo de forma lenta e cuidadosa. Um robe longo e preto foi colocado em seu corpo e, andando junto com os vampiros, Jeongguk voltou para o cômodo com várias peças de roupa penduradas. 

— Nossa tradição diz que o vampiro deve usar verde, cor da Saron em nosso brasão, e o humano deve usar preto — Kangin começou a explicar de forma baixa, enquanto passava os olhos vermelhos pelas peças de roupa, avaliando qual seria a melhor para vestir o garoto. — Preto representa o fim e o início para nós, na escuridão onde prevalecemos perante a raça inferior, mas, quando morremos, também somos jogados na escuridão, pagando pelos nossos pecados e imortalidade. O humano vestir preto representa a morte de sua antiga vida, e o nascimento da nova. Você será um de nós, e sendo marido de um dos Kim líderes, você terá ainda mais privilégios... 

Seu estômago embrulhou no mesmo segundo, fazendo-o ter náuseas. Não queria nada daquilo, mas sua mente lhe implorava para parecer feliz, tinha que demonstrar pelo menos alguns poucos sinais de que sentia-se honrado, mesmo que quisesse fugir. 

Deu um sorriso pequeno para os dois vampiros, que nem o olhavam. Sentiu-se idiota. Dokyeom estava começando a olhar as jóias bem expostas ali. 

— Creio que assim como seus olhos e seu cabelo, o preto vai lhe cair muito bem — Kangin elogiou de forma educada, sendo mais gentil do que o esperado com toda aquela preparação. — Achei! — o vampiro pegou diversas peças de roupa e as deixou próximas a Jeongguk, que já retirava o robe.  

De forma calma, Kangin o vestiu com uma túnica preta feita de linho. Não era tão longa quanto as que já tinha visto, mas ia até suas coxas. A calça de couro preta foi colocada depois e apenas algumas partes da túnica ficaram por dentro da calça. 

Dokyeom foi até ele, colocando em sua cintura um cinto fino de correntes de ouro; diversas pedras negras pendiam na lateral, a corrente indo até seus joelhos, onde mais pedras a adornavam. Olhou admirado para aquilo, era bonito, nunca tinha visto um acessório como aquele. 

— Pedras turmalinas negras, senhor. O senhor Namjoon viu uma pintura sua e encomendou cada uma das jóias que você vai usar hoje — Dokyeom explicou, observando a curiosidade brilhar nos olhos negros do mais alto. 

— Ah, entendi — soltou em um sussurro surpreso. 

Meias brancas cobriam e botas negras, do couro mais bonito, refinado e bem feito que o moreno já vira foram calçados em seus pés. A ponta do cadarço tinha um pingente; uma Saron feita de prata. 

Tudo transmitia riqueza. 

As mangas de sua túnica foram ajeitadas e pulseiras pretas colocadas em seus pulsos pálidos. 

— Essas pulseiras são de quê? — Perguntou baixo, observando Dokyeom se afastar um pouco para pegar um colar grosso e cheio de elos, igualmente negro. 

— As pulseiras são de diamante negro, senhor, fazem par com os anéis do colar que o senhor também vai usar. A cada seis anéis, uma corrente pequena de diamante sustenta uma pérola negra — Kangin explicou baixo, continuando a ajeitar os mínimos detalhes de sua roupa e, após ouvir aquilo, direcionou seu olhar para Dokyeom, que vinha em sua direção segurando o tal colar mencionado. 

Era pesado. Quando o grande colar foi colocado em seu pescoço, seus ombros abaixaram um pouco por conta do peso, tudo aquilo lhe dava um aspecto poderoso, mas tinha um certo custo. 

Anéis enfeitaram seus dedos e uma gargantilha aparentemente simples foi colocada em sua garganta. Era gelada e, depois de franzir levemente cenho, um dos vampiros lhe contou que a gargantilha tinha pequenas partes feitas de seda e outras com linhas de ônix. 

Seu cabelo foi penteado, as sobrancelhas bem desenhadas, pedaços finos de carvão marcaram os arredores de seus olhos. Um broche médio com o brasão dos Kim foi colocado em seu peito, bem do lado esquerdo, na parte certeira onde seu coração ficava. 

As botas foram limpas pelo que pareceu ser a décima vez e sua calça foi mexida e remexida sem parar. O fizeram andar e analisaram cada gesto do garoto, instruindo-o sobre como caminhar, o que fazer, como falar, em quais momentos se curvar... Era como se tivesse voltado para as aulas de etiqueta nas quais seu pai lhe colocara apenas para que não ter que tomar conta do filho. 

Depois do que pareceu horas, Dokyeom sorriu, mostrando as presas. Estranhamente, aquela era a primeira vez que o moreno às via. 

— Não vamos passar colônias no senhor, o seu cheiro é o melhor perfume... 

— Obrigado... — Conseguiu soltar a palavra entalada na garganta — obrigado por tudo isso...

— Apenas seguimos ordens, senhor — Kangin comentou baixo, colocando-se na frente do mais alto. Os dois vampiros o analisaram uma última vez antes de limparem as gargantas — E o senhor está pronto agora. Quando o sino tocar, você saberá que o casamento vai começar, já lhe contamos como a cerimônia é, o senhor apenas tem que deixar que o senhor Taehyung faça tudo. 

— O senhor será acompanhado pelo seu pai, ele já deve ter chegado — Dokyeom sussurrou antes de caminhar até Jeongguk e ajeitar seu cabelo uma última vez. Voltou a afastar-se — Sua família também já deve estar aqui — sorriu sem mostrar os dentes, formando apenas uma linha simples com os lábios rosados — Beba o vinho, não faça careta na hora da mordida e se curve para os Kim líderes. 

— Quem fará a cerimônia mesmo? — perguntou antes de sentir seu coração acelerar, as pernas estavam começando a ficar bambas e não queria passar a vergonha de desmaiar, temia que fossem beber todo o seu sangue caso aquilo acontecesse ou que, mesmo inconsciente, o casassem e o tal Taehyung acabasse consumando o casamento. 

— Não existem homens com poder para unir pessoas e muito menos para unir homem e vampiro, então o nosso líder supremo e governante do clã, senhor Heechul, irá casar vocês dois — Kangin explicou — Casamos para unir o sangue, não para buscar alguma aprovação de algo divino — foi mais manso ao dizer aquela última parte. 

Jeongguk sabia que vampiros eram completamente céticos e não tinham uma religião, muitos até mesmo debochavam das crenças humanas, permitiam apenas uma igreja em cada cidade e a fé praticada ali dentro se dava de forma geral. 

Havia cantos para católicos, cristãos, budistas, muçulmanos; tudo dentro da mesma igreja. Já houvera diversas brigas entre pessoas por religiões, um desrespeitando o outro, impondo sua fé sobre a do outro e a confusão sempre aumentava a cada semana. Mortes aconteciam apenas porque ninguém percebia que estavam fazendo humanos ficarem contra humanos. 

O último incidente datado havia sido dois anos atrás, no distrito de Ilsan, onde a briga foi tamanha que os vampiros apenas juntaram todos os que já haviam matado “em nome da fé” e os queimaram vivos dentro da igreja. 

Por um ano inteiro, Ilsan ficou sem igreja ou local apropriado para as pessoas depositarem a fé, mas a lição monstruosa foi aprendida e nunca mais houve registro de mortes causadas por conta de brigas religiosas. Jeongguk desaprovara completamente o ato, mas, posteriormente, ficou contente por poder ir praticar sua crença sem ninguém lhe apontando o dedo ou tentando mudar o que acreditava. 

— Tudo bem — sussurrou, soltando levemente o ar de seus pulmões. — Não esperava mesmo que vocês fossem unir alguém que compraram a um ser imortal de forma correta perante a Deus — soltou um suspiro pesado, arriando os ombros, não conseguindo conter as emoções. — Afinal, casamento exige amor e respeito antes de tudo, e eu nem mesmo conheço meu futuro marido…

Em silêncio, os dois vampiros mantiveram suas expressões vazias, os olhos vermelhos vivos o encarando mais alguns segundos antes de se curvarem e se retirarem do quarto, deixando Jeongguk completamente sozinho. 

[...]

As badaladas dos sinos faziam seu coração ficar mais pesado. As jóias estavam mais pesadas. O ar lhe faltava e as roupas pareciam que iam rasgar com qualquer mínimo movimento que fizesse. 

As badaladas ficavam mais e mais altas a cada segundo e o suor começava a escorrer pela sua testa. Kangin e Dokyeom iam matá-lo se vissem aquilo. 

A porta do cômodo onde estava foi aberta e a figura de um humano apareceu. Olhos negros encararam seu rosto e lhe deram algum conforto; quis chorar. Queria ver seus irmãos, queria abraçá-los, ouvir suas vozes sempre doces, queria desesperadamente. 

— Boa noite, senhor Jeongguk, vou lhe acompanhar até o seu pai — a voz soou gentil, e o olhar que o homem lançou parecia gritar que ele entendia o que estava acontecendo em sua mente, compreendia que aquele era o pior momento de sua vida, a evidência eram os olhos redondos e marejados de Jeongguk.  

Balançou a cabeça positivamente e caminhou até o humano mais baixo. Todos eram baixos ali, aquilo o irritava. 

Seu braço foi segurado e logo estava caminhando pelo corredor escuro. A noite surgira e o moreno nem havia percebido, tamanho seu foco em apenas pensar em como iria lidar com tudo aquilo, como iria se preparar para as coisas na qual ainda teria que passar. Sentia-se enjoado outra vez. 

Virou para outro corredor e logo estava próximo a uma escadaria, mas sabia que ainda não conseguiria ser visto. Já podia ouvir vozes e isso o arrepiava. 

O outro humano parou, virando-se para ajeitar seu cabelo de forma calma, passando a ponta dos dedos suaves e quentes pela testa. Estava limpando seu suor. 

Estava naquele lugar a poucas horas e já sentia saudade do toque de peles quentes. 

— Assim que descer as escadas, estará na presença de muitos vampiros que irão testemunhar o casamento, não chore na frente deles, alguns sentem prazer doentio com isso, mas Taehyung não — falou firme, mantendo o maxilar trincado. — Apenas faça como Kangin e Dokyeom devem tê-lo instruído e mostre o máximo de respeito para com os Kim’s líderes. 

Afastou-se segundos depois, curvando-se de forma vaga.

— Espere, qual o seu nome? 

— Baekhyun, senhor — sorriu antes de ir embora, fazendo os olhos do garoto se arregalarem brevemente. Queria ter xingado ou pelo menos tido um surto de coragem para ir até aquele humano e o confrontado sobre a relação que ele tinha com seu futuro marido, mas sua mente ficou apenas nublada com a visão de seu pai se aproximando.

Jeongguk o olhou dos pés à cabeça, torcendo o nariz antes de puxar-lhe o braço de forma grosseira para que os dois estivessem lado a lado. 

— Não chore, Jeongguk! Não seja um maricas! — seu pai rosnou baixo e irritado enquanto soltava as palavras rudes próximo ao ouvido do filho, apertando um pouco mais o braço do garoto. — Devia se sentir feliz por estar aqui e não no Candace. 

O mais novo parou no mesmo lugar, olhando assustado para o progenitor completamente indiferente. 

Candace era o palácio no qual habitavam Cortesãos e Meretrizes, todos ensinados a se portar perante os vampiros e satisfazê-los sexualmente. Em outras palavras, Jihan havia pensado na possibilidade de dar seu filho para ser um escravo sexual de vampiros ou acompanhantes dos mesmos em algum evento importante que pudesse vir a ocorrer. 

Não teria mais nome e viveria sua vida em prol de cuidar do corpo para satisfazer os senhores de olhos vermelhos como sangue... Rasgava-o de dentro para fora saber que seu pai havia pensado em lhe dar como uma peça de roupa para um lugar como aquele, mas apenas optou por vendê-lo, ganhando um lucro logo de cara, já que, quando alguém entregava outra para o Candace, a pessoa recebia duas moedas de prata por serviço feito. Já quando as pessoas iam por conta própria, acreditando que valia a pena se ter uma vida como aquela apenas para sentir o prazer de uma mordida durante o sexo, se ganhava uma moeda de prata. 

O mundo não era como nos livros fantasiosos que lia para Jungwoo ou Jungsu antes dos dois dormirem; o mundo existia para prover prazer aos vampiros que os dominavam. 

Aos monstros imortais que vagavam por toda a terra. 

— Me desculpe — sussurrou, abaixando a cabeça e voltando a ser escoltado pelo progenitor, que ainda o olhava com certa irritação. 

Os dois, em completo silêncio, deram apenas mais seis passos até que finalmente estavam caminhando em frente à grande escadaria do castelo. Não era a principal escadaria que já tinha visto ali, já passara pela maior assim que chegara e fora levado para aquele quarto onde recebera cuidados. 

Parou de respirar por alguns segundos.Observava os diversos pares de olhos vermelhos direcionados para si. Sentia como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros perfeitamente cobertos. 

 — Jeon Jeongguk, da casa Jeon, filho de um dos lordes humanos de Busan, dono de parte do comércio do Porto Azul de Busan — um dos vampiros comentou, sem emoção, focando apenas nos vampiros parados ali embaixo. E todos aqueles olhos vermelhos brilhantes estavam apenas focados no garoto humano que suava frio, assustado demais. 

Desceu as escadas cobertas por um grosso tapete branco, com o Brasão dos Kim no centro; degrau por degrau, cada vez mais próximo de todos aqueles que tinham a pele fria e os olhos vermelhos. 

Eles tinham fechado um espaço de aproximadamente 15 metros com cortinas pesadas e douradas, cercando o local com mesas de madeira maciça, deixando o centro vazio. A arquitetura era estranha, iluminada por tochas firmemente cravadas no chão, cravejado de prata. 

Havia uma grande mesa na frente, com nove cadeiras, oito sendo ocupadas pelos verdadeiros líderes Kim. Jeongguk se perguntava qual daqueles seria seu marido. 

As mesas mais curtas, nas laterais, eram ocupadas por outros vampiros, que o olhavam com extrema atenção, alguns lambendo os lábios e outros apenas levando cálices de ouro até a boca; Jeongguk nem tinha dúvidas de que estavam cheios com sangue. 

Em uma mesa um pouco mais isolada estava Jongin, seu irmão, tão meticulosamente vestido para a ocasião que dava náuseas. Jungsu, no colo de Yangsoo, estava com um sorriso inocente nos lábios; a mulher sustentava uma cara de nojo, olhando para os lados e nem disfarçando seu desconforto. Jeongguk tinha a leve impressão de que ela estava desconfortável por ter sido obrigada a vir, assistir ao garoto se casar, e não porque estava em um castelo cercada de vampiros sanguinários. 

Jungwoo estava ao seu lado, adoravelmente sentado na cadeira e o olhando de forma melancólica. Daria qualquer coisa para pegar as mãos dos dois garotos e correr com eles para o mais longe possível. 

Assim que desceu todos os degraus, viu melhor o rosto de cada um dos vampiros ali presentes, todos o olhando com certa animação. Conseguiu ver o vampiro loiro que o recebeu assim que chegou ao castelo, viu suas roupas brancas iguais ao cabelo bem hidratado. 

As únicas coisas de cor nele eram as jóias vermelhas e azuis que usava por todo o corpo, mas o que chamava sua atenção era o sorriso gengival que ele lhe dava. O homem estava sempre sorrindo, Jeongguk não conseguia entender, desde pequeno ouvia um ditado sobre os Kim. 

Após a morte de sua mãe, passou a ser cuidado pela ama Kwon. A mulher sempre fora muito cuidadosa e lhe dava o conforto que necessitava todos os dias por conta da falta de sua mãe. Lembrava-se perfeitamente da noite em que, antes de dormir, perguntou qual deveria ter sido a reação do vampiro ao matar sua mãe no porto de Busan. Percebeu que a mulher não quis prolongar o assunto, então Jeongguk soltou apenas uma breve afirmação pincelada com ódio: “Ele devia estar sorrindo”. 

Recordava do olhar que a velha senhora Kwon lançou para si antes de balançar a cabeça negativamente e suspirar. 

“Os Kim não sorriem. O dia em que um Kim sorrir, sangue pingará dos céus.”

Após aquilo, passou a ouvir muito mais essa frase em seus dias, como se aquilo fosse realmente um ditado sobre a família de vampiros mais poderosa do oriente. 

Mas aquele homem sorria tanto para si, seus olhos também o faziam, seu corpo frio lhe dava a impressão de que também sorria. Era estranho, e vampiros fazendo coisas estranhas apenas aumentava ainda mais o seu medo. 

Sentindo seu estômago embrulhar, foi percebendo a ausência de música e de comida, não havia nada ali que se assemelhava a um casamento de verdade. Era como se o moreno estivesse apenas sendo leiloado para o vampiro mais rico daquela área fechada do castelo. 

Sentia-se como um dos objetos caros que eles tinham. E sabia que seria daquele jeito até o resto de sua vida, um mero objeto nas mãos do homem que iria casar.

— Do clã Kim, Kim Heechul, Líder Supremo e Soberano do castelo de Saron e dono de todo o Oriente — o mesmo homem falou, e os olhos perfeitamente pintados de  Jeongguk ficaram com quase o triplo do tamanho quando o vampiro loiro se levantou, ainda sorrindo para si. 

O vampiro maior havia lhe recebido e o moreno nem teve ideia daquilo. Ficou diante da presença da criatura da noite mais temida dos últimos séculos e nem mesmo agiu como deveria. Fora apenas um cachorrinho assustado perante o loiro, fez perguntas para ele e ficou analisando seu robe. 

Sabia que ele era realmente um dos Kim, mas nem sequer passou pela sua cabeça que aquele homem pudesse ser o líder de fato. Sua aparência e fisionomia eram completamente diferentes do esperado. Não tinha os braços fortes ou a cara de monstro que imaginou que teria; Heechul apenas parecia um homem alegre que gostava de perturbar os outros e falar coisas impróprias nos locais errados.

Engolindo em seco, curvou-se para ele. 

— Do clã Kim, Kim Yongsun  — apresentou o nome com firmeza e logo a vampira de olhos vermelhos e cabelo rosado se levantou. A mulher o olhava com frieza enquanto mantinha a postura completamente soberana, deixando claro até para as velas acesas que ela era absurdamente poderosa e Jeongguk não chegava a ser um pobre ratinho perto da mesma. O decote grande de seu vestido vermelho fazia sua pele parecer ainda mais pálida e o tecido obviamente caro combinava perfeitamente com os olhos. 

Levantando um pouco mais o queixo, pousou as mãos cercadas de anéis na cintura fina, levantando uma das sobrancelhas escuras e perfeitamente desenhadas. O ar ficou mais pesado por conta daquele olhar e o moreno já preocupava-se sobre conseguir respirar ou não até o fim de tudo aquilo.

Curvou-se para ela. 

— Do clã Kim, Kim Kibum — apresentou o outro. O vampiro da ponta, ao lado de uma das cadeiras vagas, ficou de pé. Não só os olhos, como os lábios, também estavam vermelhos como sangue, e era bem provável que o que estava em sua boca fosse isso mesmo. 

O cabelo era quase raspado, mas tinha a cor laranja chamando bastante atenção, de forma que fazia Jeongguk achá-lo o mais tranquilo dentre os demais. Era difícil saber se ele tinha mais brincos em suas orelhas ou mais cordões em seu pescoço, mas o garoto nem perdeu tempo contando as peças de ouro. A roupa marrom era simples, vestes largas demais para o tamanho de seu corpo, mas ele conseguia ser bonito e ficar bem nelas.

Jeongguk reparou rapidamente naquele ponto, todos eram incrivelmente bonitos, tal como parecia ser a exigência para ser um vampiro. 

Curvou-se para ele. 

— Do clã Kim, Kim Namjoon — chamou o nome do vampiro de fios arroxeados e pele bronzeada, que se levantou, mantendo o cenho franzido enquanto o olhava, os lábios grossos em uma perfeita linha reta. Os olhos bem desenhados pareciam analisá-lo, não apenas vendo como seu corpo era bonito debaixo daquelas roupas, a pele pálida com veias que ficavam bem à mostra; era um olhar diferente que ele sustentava em seu rosto, como se estivesse abrindo sua alma para poder ver tudo o que havia ali. O vampiro mais alto que Jeongguk parecia tentar entender sua mente, como se realmente pudesse ler seus pensamentos, desvendar o que ele sentia com tudo o que acontecia. Jeongguk sentiu-se mais desconfortável ainda com isso, exposto demais, as pernas voltando a tremer. 

A veste dourada era simples, caindo por seu corpo, apenas pano em cima de mais pano. Mas Jeongguk conseguia ver as pedras de ouro cravadas ali, toques sutis de riqueza que se faziam presentes.

Curvou-se para ele. 

— Do clã Kim, Kim Taehyung — chamou pelo vampiro, que se levantou mais rápido e mais animado que os demais até então. E o garoto não pode deixar de notar que tanto o vampiro Namjoon quanto Yongsun olharam de soslaio para ele, reprovando o comportamento que este demonstrara. A pele pálida fazia com que o tecido azul claro ficasse ainda mais chamativo. Os olhos vermelhos piscaram para Jeongguk e logo ele jogou a cabeleira castanha quase mel para trás, relaxando o corpo.

Os fios longos o faziam parecer mais jovem do que Jeongguk realmente acreditava que ele fosse.

Taehyung era o nome de seu noivo, então era ele. Aquele era o vampiro com o qual ia se casar. 

Todos até ali mostravam-se realmente mais jovens que o esperado, mas tudo se devia ao fato de que eles tinham sido transformados ainda jovens e aquela aparência iria se manter por toda a eternidade.

Com os olhos vermelhos grudados em Jeongguk como se fazer aquilo fosse a maior diversão de sua existência, o homem mostrou as presas à distância por um curto segundo. 

Curvou-se para ele. 

— Do clã Kim, Kim Hyuna — chamou a de fios alaranjados. O cabelo claramente sedoso ia até a cintura fina e bem marcada pelo cinto grosso de bronze, que sustentava o vestido também laranja cheio de aberturas, mostrando diversas partes de sua pele gelada.

Na mão esquerda, segurava uma taça do que parecia ser cristal ou algo do tipo, Jeongguk não conseguiu identificar com perfeição, mas era a única que se recusava a parar de beber enquanto ficava de pé. Tal atitude já fez o moreno temer a possibilidade dela ser uma sanguinária. 

Os lábios e olhos vermelhos eram também os que mais demonstravam possível agressividade vindo de sua parte e aquilo fez a espinha do moreno congelar. Nem a conhecia, mas já estava temendo aquela vampira muito mais que os demais. Sentia em suas células que ela poderia significar problema e isso o preocupava, já que sua situação já estava bem ruim.

Curvou-se para ela. 

— Do clã Kim, Kim Seokjin — chamou pelo de fios pretos e curtos, o olhar mais gentil que o dos demais até o momento. A sensação que teve quando o vampiro de ombros largos se levantou foi a mesma de quando Kangin e Dokyeom cuidaram de si, poucas horas atrás. Era um tanto quanto reconfortante estar sob a mira daquele olhar, bem diferente dos outros, até mesmo de Heechul. Apesar dos sorrisos, Heechul parecia planejar algo; já Seokjin apenas queria se mostrar gentil, mesmo sem dizer ou fazer nada.

Os lábios grossos e rosados repuxaram para o lado de forma mínima, mostrando para Jeongguk e para os demais que estava sorrindo, feliz com o evento. As vestes prateadas e marrons eram as mais formais, estava bem arrumado e exalava mais poder e postura que o próprio líder do clã. 

Curvou-se para ele. 

— Do clã Kim, Kim Taehyung — Jeongguk franziu o cenho, confuso — Noivo deste casamento. 

O homem de fios cinza como prata se levantou e manteve o olhar sangrento em Jeongguk, fitando seu rosto enquanto mantinha o maxilar trincado e a expressão completamente fechada no rosto bonito.

O cabelo comprido cobria as orelhas, a pele amorenada como ouro velho era coberta por uma blusa de seda de um verde claríssimo; por cima desta, um casaco curto na medida perfeita marcava seu peitoral, feito pelo mesmo material que a blusa, porém de um verde mais forte, como uma esmeralda. Uma capa quase branca pendia de seus ombros, presa por uma fina corrente de prata. O vampiro trajava uma calça da mesma cor que a capa, com algumas espirais nas pontas e diversas jóias também presas nas vestes, como já era de se esperar. 

Taehyung vestia verde, a cor que os dois outros vampiros tinham lhe contado que ele iria usar. Teria sido bem mais fácil se Jeongguk lembrasse daquele detalhe e o procurasse logo, já saberia de cara quem era o noivo, mas nem havia se atentado àquilo. 

O mesmo se afastou da cadeira na qual estava sentado, ao lado de uma das cadeiras vazias, agora o mais novo já devia imaginar que aquele era o seu lugar, sentar-se-ia ali. 

Engoliu em seco enquanto via o vampiro se aproximar cada vez mais, congelando seu corpo e deixando o local mais frio do que já era. Queria apertar o braço de seu pai, queria descontar o nervosismo em algum lugar, queria pedir ajuda e suporte ao progenitor do seu lado, mas sabia que nunca conseguiria isso. Era completamente inútil; como esperar calor e afeto de uma pedra. 

Viu os olhos bem desenhados ficarem ainda mais próximos conforme se afastava da mesa principal e seguia em sua direção, as pupilas vermelhas cravadas em Jeongguk, em nenhum momento as pálpebras abaixavam, indicando que piscava; estava atento.  Postura ereta, passos firmes nas botas de couro similares às de Jeongguk. 

Quando estavam a um metro de distância um do outro, Jeongguk curvou-se para ele tardiamente, como já deveria ter feito assim que o nome do outro havia sido chamado.

O único som que todos ouviam no meio daquele calar de vozes era da crepitação que vinha do fogo. Todos estavam em silêncio e os sete vampiros líderes do clã continuavam de pé, exibindo seus belos rostos, roupas caras e cordões com o brasão do clã. 

Não conseguia erguer o olhar para Taehyung, era praticamente impossível, então apenas focava em fitar seus ombros, absorver cada detalhe impecável de sua roupa, perceber o momento em que Kim Heechul começou a se aproximar dos dois e tirou seu braço do de seu pai, puxando-o levemente para que ficasse lado a lado com o de cabelos prateados, de frente para os seis vampiros ainda restantes na mesa principal. 

Viu seu pai seguir calado para seu lugar na outra mesa, provavelmente insatisfeito, esperando alguma coisa vinda do líder dos Kim. E saber que os vampiros não pareciam muito dispostos a satisfazer os desejos de Jihan deixava Jeongguk minimamente feliz, satisfeito de alguma forma.

— Esse é um dia realmente importante, o Quinto filho de nosso clã está casando com este adorável humano da casa Jeon, uma das mais importante dentre as famílias humanas — sorriu gengival para Jeongguk outra vez, começando a andar de um lado para o outro como se estivesse fazendo um discurso motivacional e não casando duas pessoas, o que fugia completamente das tradições que conhecia. — Um laço de sangue será feito essa noite e logo Jeon Jeongguk se juntará à nossa família. 

Mostrou as presas, recuando um passo e ficando na frente dos dois. 

O moreno queria desmaiar. 

 — Virem-se um de frente para o outro — Heechul orientou de forma calorosa, sendo obedecido no segundo seguinte. Um homem de cabeleira negra apareceu de repente, entregou uma taça de vidro para o mais poderoso dali e saiu correndo, escondendo-se no meio de todas as cortinas que fechavam o espaço. O líder do clã se aproximou e colocou a taça entre os noivos.

Jeongguk sabia que devia segurar o objeto junto com o vampiro, ele com a esquerda e o Kim com a direita, e assim o fez, sentindo o corpo tremer com o toque gelado da mão alheia na sua. 

Logo uma corrente de ferro foi enrolada entre os pulsos de ambos, embolando-se mais e mais conforme o sorriso de Heechul crescia, provavelmente sentindo certo prazer com aquilo. 

Sabia que o próximo passo seria repetir tudo o que o de fios loiros falasse e logo preparou sua mente para prestar atenção e não parecer tão nervoso ou desesperado quanto realmente estava.

Deixo que você me tome nessa noite escura, hoje e sempre, porque meu sangue e corpo agora pertencem a você — Heechul falou baixinho para Jeongguk, que quis chorar sabendo o significado daquelas palavras. Tudo estava realmente acontecendo. 

O pesadelo era, de fato, real. 

Deixo que você me tome nessa noite escura, hoje e sempre, porque meu sangue e corpo agora pertencem a você — repetiu, sentindo o corpo ser esmagado tanto pelas palavras quanto pelo olhar que sabia que estava recebendo. A mão fria tocava a sua, mas não se mexia, estava apenas ali, parecendo sugar sua alma de pouquinho em pouquinho. Atento, ouviu a última parte daqueles “votos” que teria que dizer. — Agora, eu sou um servo das criaturas da noite. Um servo para o futuro único sangue do meu sangue, Kim Taehyung. 

Heechul abriu os lábios para proferir a frase que o outro deveria falar, mas o vampiro foi mais rápido, tomando o lugar de seu líder e começando a dizer palavra por palavra enquanto não desviava os olhos vermelhos como rubis do rosto de Jeongguk. 

Nessa noite escura, tomo seu sangue e corpo, hoje e sempre, e por toda a eternidade você pertencerá a mim. Serei atento às suas necessidades e não pouparei esforços para matar a quem lhe fizer mal. Agora, eu te permito entrar na minha família e comer na minha mesa, Jeon Jeongguk. 

Assustou-se e se arrepiou com a voz grave que saiu dos lábios daquele com quem estava casando, sentindo o coração acelerar com o tom usado. Era cansado, mas ainda assim forte. 

Pegando uma adaga bonita, Heechul os olhou com ansiedade e, mais uma vez, como fora instruído por Kangin e Dokyeom, o moreno levantou sua outra mão, observando o futuro marido fazer o mesmo. O vampiro líder cortou as palmas das mãos dos dois garotos bem em cima da taça, mas Jeongguk foi o único que chiou de dor quando sua carne foi lacerada e a pele abriu, queimando em ardência. Ele fez uma careta, ouvindo risadinhas dos outros vampiros por isso. 

Detestou-os ainda mais. 

Abaixou a mão quando viu Taehyung fazer isso, e logo a pior parte iria começar. 

Teria que beber daquela taça e deixar que o Kim o mordesse no pescoço, marcando em sua pele a união formada. 

Quase vomitou quando tomou os sangues misturados, quase vomitou quando engoliu o líquido ferroso e quase vomitou quando seu braço foi puxado para que Taehyung bebesse o resto que faltava na taça.

Pela primeira vez, viu-se encarando o rosto do — poucos centímetros — mais alto, as bochechas amorenadas, o nariz simétrico e os lábios bem pintados de vermelho, como seus olhos tão vivos e brilhantes quanto um topázio imperial recebendo o brilho do sol. Era seu sangue que estava naquela boca, deixando o rosto mais vivo e assustador, mas, ainda assim, não o temeu do modo que achou que fosse acontecer. 

Taehyung não tinha o aspecto hediondo e monstruoso que Jeongguk esperou encontrar, o que não significada nada, de qualquer jeito. Agora, tinha mais medo que antes, já que naquele momento não sabia o que esperar do outro, mesmo ele tendo um rosto bonito, talvez o mais bonito presente naquele espaço fechado.

Travou seu corpo quando ouviu Heechul falar como se parecesse confessar um pecado o qual havia gostado muito de cometer: “Pode mordê-lo”.

E, por alguns segundos, seus olhos passaram por todos os vampiros importantes ainda de pé em frente à mesa principal, todos tinham a mesma expressão em seus rostos, claramente ansiosos por aquele momento, como se estivesse aguardando este acontecimento há milênios. 

Fechou os olhos com o máximo de força que conseguiu e sentiu as duas presas cravarem em seu pescoço. 

Por alguns instantes, acreditou realmente que sentiria um pouco de prazer naquela mordida, fantasiou que seu corpo aprovaria o ato e algo dentro de si mudaria, que seria mais receptivo, que acabaria aceitando melhor tudo aquilo porque seu corpo havia criado algum tipo de atração pelo vampiro, coisa que já tinha ouvido muitas vezes como sendo bem normal de ocorrer.

Mas não, aquela mordida não lhe causou nada disso. 

Sentiu os dentes perfurarem sua carne e estranhamente deslizarem para o lado, fazendo com que mais sangue escorresse pelo seu pescoço. 

Quando o Kim se afastou, viu uma mancha de sangue na lateral dos lábios dele, mostrando que ele havia, sim, tomado seu sangue e finalizado a união. 

— Agora, vocês estão, oficialmente, casados! 

Curvou-se, assim como Taehyung. 

[...]

Nada daquilo era realmente como esperava. Kangin e Dokyeom não haviam lhe contado que iria se sentar na mesa principal, ao lado de seu novo marido e do vampiro chamado Kibum. Seu coração estava quase parando, observando o prato de frango simples e a taça de vinho à sua frente. 

De um local que não conseguia identificar de onde vinha, Jeongguk começou a ouvir música sendo tocada, batidas fortes em algum instrumento; não apenas um, mas vários, e logo diversas mulheres e homens começaram surgir, todos vestido com poucas peças de tecido fino e quase transparente, balançando seus corpos com sensualidade no ritmo das batidas. 

Como se cada homem e mulher estivesse tentando seduzir um dos vampiros presentes ali e em passos sensuais, foram se aproximando da mesa principal, ficando de costas para os Kim e abrindo seus braços, mexendo seus quadris como se estivessem fazendo alguma performance única em suas vidas, era sensual e hipnotizante. 

O vampiro Taehyung que fora apresentado primeiro se levantou e foi para o centro do espaço vazio entre todas as mesas. As pessoas não pararam de dançar e, de forma lenta, começaram a se jogar para trás, deitando perfeitamente em cima das mesas, não se importando de estarem sobre os poucos pratos de comida ou derrubando as taças de sangue.  

Todos eles apenas se deitaram como se estivessem prestes a sentir o maior dos prazeres, e logo seus braços foram jogados para trás e todas as bocas com presas afiadas os morderam, com força e sem cuidado algum, começando a sugar todo o sangue que desejavam. 

Havia um rapaz na frente de Taehyung (seu marido), mas o mesmo olhava para o outro vampiro, parado e sorrindo para todos. 

 — Ao meu querido irmãozinho que está casando, quero lhe dar de presente uma apresentação única do meu pessoal — o Kim de fios cor de mel abriu os braços e três vampiros entraram no salão. Duas mulheres absurdamente bonitas, uma loira de olhar sensual e a outra com os fios ruivos e sorriso malicioso. O outro homem que entrou era alto, o mesmo vampiro que havia carregado as moedas de ouro e prata até a carruagem do pai de Jeongguk. Ele estava ali, com os olhos brilhando, a blusa fina e a calça apertada. 

As duas mulheres usavam tecidos laranjados para cobrir as partes íntimas, deixando as laterais de suas coxas bem visíveis. Não demorou muito para que os quatro começassem a dançar, movendo seus corpos conforme a batida mudava e todos os outros vampiros principais continuaram bebendo sangue dos humanos deitados na mesa, gemendo de satisfação. 

Jeongguk olhou rapidamente para Taehyung, que tinha um olhar vago diante da situação, não parecendo muito animado com aquilo ou apenas esperando que toda aquela palhaçada acabasse para ele finalmente transar com o garoto virgem ao seu lado. 

Fungou baixinho, passando uma das mãos pelo nariz ao levar o olhar para os dois irmãos mais novos do outro lado. Jungsu dormia no colo de Yangsoo, que ainda não parecia feliz com a festa, enquanto Jungwoo olhava para baixo, provavelmente detestando tudo o que estava acontecendo também. 

Jongin e Jihan eram os únicos que aparentavam alguma satisfação, felizes por estarem diante dos Kim, comendo em seu castelo quando nenhuma outra família de humanos jamais o fizera. O ego de ambos estava nas alturas e eles sentiam-se altamente importantes. Jeongguk os via como tolos, idiotas que realmente acreditavam que tinham algum privilégio com os vampiros, que eram superiores aos outros da mesma espécie e iguais àqueles de olhos vermelhos. 

Teria rido, se sua atual situação não fosse tão desprezível. 

Assim que a dança do outro Taehyung, do homem alto e das duas mulheres bonitas findou, palmas foram batidas preguiçosamente enquanto o vampiro que orquestrara tudo aquilo parecia radiante, como se tivesse conquistado exatamente tudo o que queria. 

Era estranhamente confuso. Todos eram uma grande incógnita na mente do moreno. 

— Agora — a voz de Jihan chamou sua atenção, lhe fazendo arregalar os olhos e abrir a boca pelo ato inesperado de seu pai ao falar e se levantar, caminhando até os outros vampiros que ainda estavam ali, exigindo com seus olhos escuros que todo mundo prestasse o máximo de atenção no que estava prestes a dizer, — pelo o que eu soube, é tradição de vocês nos raros casamentos entre vampiros e humanos executarem o ato da consumação na frente de todos, e acho que o momento chegou. — Juntou as duas mãos pálidas na frente do corpo e olhou cruel para Jeongguk, feliz de ver o pavor queimando nas orbes redondas do mais novo, que queria chorar mais do que tudo. — Minha família e eu temos que partir daqui a pouco, mas antes queremos testemunhar a veracidade, se o ato irá ocorrer mesmo.  Pode vir aqui, meu amado filho, honre nossa família! 

Tremendo inteiro, Jeongguk segurou o choro por conta daquela humilhação que seu próprio pai realmente o queria ver passando e respirou fundo antes de começar a levantar. Todavia, Taehyung, ao seu lado, ergue-se mais rápido, pousando as mãos grandes em cima da mesa, e começou a andar até Jihan, que apenas o olhava, confuso, buscando em qualquer outro vampiro a explicação para a expressão que o de cabelos prateados trazia no rosto. 

O Kim se colocou ao lado do mais velho dos Jeon, ficando ombro a ombro e mostrando que, além de mais alto, era mais perigoso e carregava uma aura muito superior. 

— Você não é ninguém para pedir algo dentro desse lugar, contente-se com o que já recebeu e se quer partir, vá — mais uma vez, Jeongguk se arrepiou por conta daquela voz, ficando chocado com o que estava ouvindo e observando, pela primeira vez em sua vida, seu pai tremer os lábios por não saber o que dizer, atordoado. 

Gostou daquilo. 

— M-mas a tradição diz que o ato deve ser consumado na frente de todos para ser provado e...

Calou-se assim que a mão esquerda do vampiro pousou suavemente em um de seus ombros e a cabeça do mais alto virou lentamente para ele, deixando todo o ar daquele lugar mais pesado e sufocante. 

— A tradição é o que eu quiser. Eu consumo meu casamento como eu quiser. Se eu disser que está feito, você vai aceitar sem levantar uma só contestação, fui claro? — Fez a pergunta soltando rosnados baixos de irritação, olhando atentamente o homem, que tremeu de medo, medo do vampiro intenso que estava do seu lado. 

— Foi...

— Eu sou seu Senhor, você me deve respeito absoluto, humano — rosnou outra vez. 

— Sim, Senhor, o Senhor foi claro. 

— Ótimo —, soltou de forma baixa e se afastou do homem, retirando a mão do ombro e virando-se para Jeongguk, que estremeceu com o olhar que recebeu. Suas mãos tremiam, as pernas estavam moles e, mesmo sabendo que era impossível, sentia seu coração explodir diversas vezes dentro da cavidade torácica. — Vamos. — Taehyung o chamou baixo e, como se ganhasse vida própria, o corpo de Jeongguk levantou e começou a seguir caminho até o vampiro de fios cinza. 

Engoliu em seco quando passou por seu pai, ignorou o silêncio que reinava por todo aquele lugar e ignorou o olhar que todos lançavam para si e ele conseguia sentir perfeitamente. 

Mordeu o lábio inferior com força ao subir as escadas, seguindo a figura intimidante de seu marido, passando por todos os corredores e subindo mais escadas, percebendo que estava indo para um caminho completamente diferente do que fizera para ir ao quarto cheio de roupas. Provavelmente iam para o quarto do vampiro e Jeongguk teria seu corpo tomado pelo outro, agora que estavam casados e, pelos votos absurdos que tinham feito, Taehyung tinha total posse de seu corpo. 

Ouviu passos atrás de si e viu a figura do garoto que o tirara do quarto e o levara até seu pai mais cedo; Baekhyun. Ele segurava uma caixa dourada e não fez menção de que queria passar por ele, apenas o seguia.

Parou quando Taehyung fez o mesmo. O vampiro abriu a porta escura com o brasão cravado e entrou, Jeongguk engoliu em seco e começou a andar, preparando-se para entrar também. 

— Senhor, aqui — Baekhyun lhe chamou e estendeu a caixa, esperando que o moreno pegasse o objeto para voltar a falar. — É a roupa que o senhor deve usar. 

Jeongguk balançou a cabeça positivamente, já imaginava que fosse algo do tipo. Mordeu o lábio inferior e viu o outro humano ir embora, respirou fundo e entrou no quarto, fechando a porta e prestando atenção na mesa grande no canto do espaço amplo, no guarda roupa médio e na mesa grande com diversos papéis em cima. Sentando diante de tudo isso, Kim taehyung estava. 

O quarto era simples, nada de extravagante como esperava; não havia nem mesmo um tapete sobre o piso liso e perfeitamente limpo. Sentiu-se confuso, mas não faria questionamentos. 

Segurou a caixa com mais firmeza e, mantendo o queixo erguido, caminhou até porta onde deveria ser o banheiro, a abriu e viu um lugar também simples. Fechou e trancou a porta, então começou a se despir, pensando o tempo todo nos irmãos e no fato de que estava aceitando se submeter a tudo aquilo para que um dia pudesse tirá-los da posse de Jihan, para que um dia pudesse salvá-los de seu pai. 

Respirou fundo e não se importou em deixar toda a roupa e jóias jogadas no canto do chão, olhando seu corpo nu e começando a pegar a peça de tecido que havia dentro da caixa. 

Era uma túnica comprida e branca, levemente transparente em algumas áreas, chegava até seus tornozelos e cobria seus braços. Era perfeitamente adequada para seu corpo, o deixando desconfortável e se perguntando como eles sabiam suas medidas exatas ou em como Jihan deveria ter ficado imensamente feliz de revelá-las para que Jeongguk sofresse mais. 

Olhou-se no espelho e lavou o rosto, tirando a pintura de carvão ao redor dos olhos e assoando o nariz discretamente. 

Virou a cabeça e viu a mordida marcada em seu pescoço, não era tão pequena como a que ele vira em outras pessoas que tinham sido sugadas; a sua era diferente. Não apenas dois furos simples, mas um pouco maior. Não sabia dizer se era impressão sua, mas elas pareciam levemente rasgadas para os lados. 

Limpou o local com cuidado, chiando baixinho com a dor no local.

Respirou fundo outra vez e optou por lavar o rosto de novo. Secou-se e preparou-se para abrir a porta e encarar o destino que fora imposto para si. Tremeu os lábios outra vez e lembrou-se dos irmãos mais novos, tocando a maçaneta e pedindo baixinho para que Deus os protegesse até que ele os salvasse de vez. 

Abriu a porta e, sentindo que ia desmaiar, colocou-se na frente de Taehyung, que ainda estava no mesmo lugar, mas agora com uma bolsa de sangue nos lábios. 

Continuou parado pelo que pareceu uma eternidade, mas, segundo o relógio na parede, próximo a uma das janelas fechadas e cobertas com uma cortina pesada, pode ver que tinham se passado apenas três minutos. 

— Er, você… Você não vai consumar o casamento? — Tomou coragem para perguntar, mesmo que de forma baixa e trêmula — N-não vai me tocar? 

Taehyung levantou o olhar, fitando seu rosto com os olhos brilhantes. Tirou a bolsa de sangue da boca e lambeu os lábios lentamente. O olhar parecia cansado, mas, de alguma forma, era sério e preocupado. 

— Você quer que eu te toque? — Perguntou baixo, calmo, levantando apenas uma das sobrancelhas enquanto não piscava. 

jeongguk engoliu em seco, confuso sobre o que responder. Óbvio que não queria ser tocado, nunca. Mas temia dizer a verdade e receber alguma espécie de punição, temia dizer o que realmente queria e ser morto por isso. Estava em uma situação tensa em que cada coisa que falasse poderia resultar na sua morte e aquilo o fazia querer chorar. 

— Pode ser sincero, garoto — Taehyung falou tranquilo, mas a pose dominante não o abandonava por nada. 

— Eu não quero, Senhor — mordeu o lábio inferior com força e abaixou a cabeça, confessando e esperando o que aquilo iria causar. 

— Então eu não tenho motivos para te tocar — o vampiro falou simplesmente, atraindo o olhar confuso de Jeongguk. O moreno abriu a boca algumas vezes, mas nem sabia o que dizer, o que responder àquilo. 

— O casamen...

— O casamento foi feito como sua família e meu clã quiseram, mas eu não vou tocar em você enquanto você não desejar isso. Tomei seu corpo como diz os votos, então eu decido quando fazer algo com ele, e agora te dou o direito de escolher sempre que quiser ser tocado — As melhores coisas que Jeongguk havia ouvido naquele dia foram ditas da forma mais simples possível, como se Taehyung estivesse falando sobre cortar a grama, mas o moreno percebia a total seriedade que queimava nas orbes vermelhas, que agora estava conseguindo encarar por mais de 3 segundos. — Não tema o meu clã, ninguém aqui ousará tocar em você, pode ir dormir, se quiser... 

Estupefato. 

Jeongguk estava completamente estupefato diante daquilo, nem sabia como ia conseguir dormir, mas, optando por ficar quieto com medo de fazer alguma besteira e acabar estressando o outro, caminhou até a cama macia e puxou os lençóis caros para cima de seu corpo, tremendo enquanto sentia o cheiro bom de uva e orvalho que o vampiro tinha. 

Engoliu em seco, olhando para o outro e travando seu corpo quando o mesmo devolveu seu olhar. 

— Quer que eu apague algumas velas? 

Balançou a cabeça negativamente. 

— A cama é ruim? 

Balançou a cabeça negativamente. 

— Aqui cheira mal? 

Balançou a cabeça negativamente.

— Está com frio? 

Balançou a cabeça negativamente. 

— Então me diz o que foi, não vou ficar perguntando! 

— Co-como vou saber que não vai me atacar no meio da noite? — Sentia seus olhos ficando embaçados pelas lágrimas apenas por imaginar algo como isso. Viu o vampiro soltar um suspiro e colocar suas costas para trás, passando outra vez a língua pelos lábios vermelhos.

— Eu prometo para você que não vou fazer isso. 

Sentindo como se não fosse o bastante, ainda assim o garoto balançou a cabeça positivamente e deitou-se na cama, puxando ainda mais os lençóis para cima de seu corpo exausto pelo dia que passara. 

Lutaria para não dormir, manteria-se acordado para ter certeza que nada lhe aconteceria. 

Mas o sono foi mais forte que suas vontades. 

Em poucos minutos, Jeongguk já estava adormecendo na cama confortável do vampiro.


Notas Finais


Se você chegou até aqui, muito obrigada <3
Qualquer dúvida ou pergunta sobre a fic vocês podem fazer aqui https://chat.whatsapp.com/2GILZ8j5gUe03rmBEVdR7I é link do grupo onde eu sempre falo sobre as histórias e acabo soltando uns pequenos spoiler, fiquem a vontade pra conversar lá <3
Também tem Saron de Sangue no Wattpad para quem prefere aquela plataforma para ler:: https://www.wattpad.com/story/200198907-saron-de-sangue-taekook


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