“Pessoas mentem o tempo todo. Damos respostas vagas às perguntas difíceis. Não falamos sobre o que realmente nos aflige. Muito pelo contrário, olhamos dentro dos olhos alheios e dizemos: “Está tudo bem”, ainda que a dor venha nos cortar em pedaços ou a solidão nos esmague aos poucos.
Pessoas mentem todos os dias. Para os seus amigos, namorados… Para as suas famílias. Mas a pior mentira que contamos, é para nós mesmos. Por isso, algumas vezes, demoramos para perceber… Que a verdade estava na nossa frente o tempo todo, só não queríamos acreditar.”
POV - Deidara
Eu sentia uma dor cortante por todo o meu corpo e a minha cabeça latejava como se estivesse prestes a explodir. Abri os meus olhos, vendo um quarto completamente branco e vazio. Ao tentar falar, senti o gosto amargo se estender pela minha língua… Parecia como ferrugem, mas eu poderia jurar que era sangue.
_ Finalmente… - A voz baixa atraiu a minha atenção. _ Achei que fosse dormir a noite toda.
_ Pro… Professor?! - Olhei para Hidan, que estava confortavelmente sentado em uma poltrona com um livro preso as mãos. _ O que faz aqui?
_ É uma longa história, mas vamos começar pelo que você se lembra… - Disse ao se levantar e pegar um copo com água.
_ Pouca coisa, eu estava no estacionamento e um cara apareceu… - Menti, corando-me. _ Acho que era um ladrão, eu não sei…
_ Ele parecia ser mais do que um ladrão. - Me entregou a água, se sentando na beira da cama. _ Na verdade, parecia te conhecer muito bem.
_ O que ele disse?! - Exclamei em um tom desesperado.
_ Ele não disse nada demais… - Fingiu certo descaso. _ É que eu sou um bom observador.
_ Bom, nós nos conhecemos… - Afirmei, envergonhado. _ Mas me diga, professor, porque você ainda está aqui?!
_ Eu te trouxe para cá, achei justo ficar até a sua alta pela manhã… - Respondeu entrecortado, como se ele estivesse criando a resposta perfeita.
_ Algum amigo meu sabe?! A Sakura sabe?! - Perguntei, bebericando a água.
_ Claro, ela estava comigo no momento em que te encontramos. Eu pedi que ela ficasse e contasse tudo para a direção… - Falou se levantando e indo abrir um pouco a janela. _ Não faz muito tempo desde que ela me ligou perguntando sobre você e querendo trocar o turno para vir para cá, mas eu disse que era melhor eu cuidar disso.
_ Sério?! - Franzi o cenho, curiosamente. _ Eu não entendo, nós nem somos próximos…
_ Mas você ainda é o meu aluno. - Falou com naturalidade.
_ Isso é verdade… - Disse, vendo ele abrir um sorriso tremendamente bonito.
_ Como se sente? - Hidan perguntou, recostando-se no batente da janela.
_ Dolorido… - Respondi, fazendo uma careta que o mais velho achou hilária.
_ Amanhã você se sentirá melhor, eu garanto… - Cruzou os braços, olhando a vista pela janela. _ Olha, eu liguei para o seu pai…
_ Espera, o que?! - Cerrei a mandíbula, imaginando o que aquele velho não deveria ter falado. _ Porque fez isso?! Quer dizer, mesmo sabendo que eu sou de maior?!
_ Eu não sei, me desculpa… - Suspirou. _ Eu só imaginei que talvez ele se preocupasse…
_ Ficou desapontado quando ele não se preocupou?! - Rebati com sarcasmo.
_ Não, eu fiquei furioso. - Disse ao se aproximar.
_ É, por um tempo eu também fiquei… - Falei, me encolhendo na cama. _ Então, ele comprou um apartamento no centro para mim e depois foi embora do país. A última coisa que ele me disse foi para não arrumar problemas, que o dinheiro continuaria chegando.
_ E aí, um professor qualquer liga para ele e conta que você tomou uma surra no estacionamento da Universidade… - Ironizou. _ Que professor babaca, não é mesmo?!
_ Ao menos ele parecia ter as melhores intenções… - Gargalhei, sentindo todo o meu corpo doer.
_ Isso com certeza… - Hidan parou do meu lado, mexendo cuidadosamente no meu cabelo.
_ Nossa, você deve estar cansado, não é mesmo?! Porque não vai descansar um pouco, eu estou bem… - Falei, sentindo o meu rosto queimar ao perceber o rumo que a situação estava tomando.
_ Bom, ainda são seis e quinze… - Disse, se afastando ao olhar o relógio preso ao pulso esquerdo. _ Eu vou em casa tomar um banho, você precisa de alguma coisa?
_ Só deixe a luz do banheiro acesa quando sair… - Respondi, aninhando-me nas cobertas.
_ Tudo bem, eu deixarei… - Afirmou sem entender.
Eu me virei na direção da janela, fechei os meus olhos e fingi estar dormindo, pelo menos até que ele saísse. Droga, ele era o meu professor e isso deixava um clima estranho no ar…
“As mãos tocavam-me o dorso e se dirigiam pelo pescoço, até encontrar os meus lábios. Era uma carícia seca e pouco prestativa, mas eu podia sentir meu corpo gelar…
_ Achei que não faria mais isso comigo… - A voz de Obito era arrogante como de costume. _ Pensei até que estivesse com nojo de mim.
_ Por que você faz isso comigo?! - Perguntei com dificuldade, sentindo os seus dedos pressionarem a minha língua.
_ Porque você é a minha putinha… - Respondeu, rente a minha orelha. _ E no final do dia, eu sou o único que vai te querer.
_ Isso é mentira… Eu… Eu não quero mais isso… - Choraminguei sobre os lábios alheios.
_ Não diga isso, Deidara… - Senti a sua mão puxar-me os cabelos. _ Você não pode se livrar de mim.”
Acordei suado, sentindo as lágrimas escorrerem soltas pelo meu rosto. Do lado de fora, o vento forte e insistente, deixava claro que se tratava de uma daquelas tempestades persistentes da estação. Olhei para a poltrona, notando que Hidan ainda não havia retornado. Provavelmente estava preso no trânsito, já que a cidade parava com uma simples garoa, o que dizer de um temporal…
_ Droga… - Praguejei, limpando o meu rosto e me obrigando a levantar.
Depois de alguns minutos sentado na cama, eu consegui impulsionar o meu corpo o bastante para ficar de pé e com certa dificuldade, chegar até a janela. Nesse momento, ouvi o barulho da porta e me virei, vendo Hidan trajando um sobretudo preto, com seus cabelos meio úmidos e um guarda-chuva na mão. Exatamente como chegava nas aulas, a eterna postura de um professor.
_ Achei que ainda estaria dormindo… - Falou, colocando o guarda-chuva de lado e vindo me ajudar. _ Eu queria ter conseguido chegar mais cedo, assim a chuva não teria te acordado…
No momento em que ele se aproximou, eu me senti ainda pior. Como se eu não fosse merecedor de tais cuidados. O que eu estava pensando?! Só estava no hospital, porque me deixei levar novamente pela conversa de um homem que tinha como vocação me machucar…
_ Porque você está fazendo isso?! - Perguntei, tentando ao máximo não chorar na frente dele. _ Eu… Eu não mereço… E você mal me conhece, mas continua aqui…
_ Bom, você sempre chega dez minutos adiantado para as minhas aulas, isso mostra que é responsável. Nunca ficou com uma nota vermelha, acho que também é bastante inteligente. Costuma questionar qualquer que seja o tema apresentado em sala, sendo a cara de alguém que se esforça para aprender sobre tudo e qualquer coisa… - Dizia, enquanto fechava a janela. _ Eu posso não saber sobre a sua vida pessoal, os seus traumas ou sonhos, mas conheço você, Deidara.
Foi de repente, a gente se aproximou em uma troca de olhares e eu me arrisquei a dar um passo em direção aos seus lábios. O beijo tinha gosto de sereno e hortelã, como se ele já estivesse preparado para o que estava para acontecer. A minha urgência era desajeitada, mas o seu autocontrole era completamente profissional.
_ Deidara… - As mãos foram de encontro aos meus ombros, segurando-me com relutância. _ Não desse jeito…
_ Porque?! - Sussurrei sobre os seus lábios.
De olhos fechados, eu ansiava por mais investidas dele. Era inebriante a ponto de me fazer esquecer da dor, dos ferimentos, do Obito e até mesmo das nossas posições sociais. Todavia, ainda éramos aluno e professor…
_ Você está ferido... - Constatou. E era óbvio que ele não falava dos meus machucados.
_ Mas eu preciso disso... - Murmurei.
_ Eu não sou gay… - Disse, me fazendo parar completamente e analisar a situação.
_ Espera… - Me prendi à expressão alheia, tentando processar o que ele falou. _ Tá de brincadeira?!
_ Não. Quer dizer, essa é a primeira vez que eu estou sentindo isso por um cara… - Ele proferiu as palavras com tranquilidade e isso só fez piorar a minha postura completamente entregue de minutos atrás.
_ Fala sério?! - Me afastei, transtornado. _ Onde é que eu estava com a cabeça?! Eu… Eu sou muito idiota…
_ Deidara, eu sinto muito… - Esticou a mão na minha direção, mas se perdeu do toque.
_ Olha só, eu realmente quero ficar sozinho… - Disse, dando de ombros e observando a chuva pela janela.
O suspiro aborrecido de Hidan, foi como um soco no meu estômago. Ouvi, então, os seus passos sobre o carpete, pouco a pouco se desvencilhando dos meus e pelo vidro a sua silhueta me abandonou. Foi então que a porta bateu e novamente, eu me encontrava sozinho.
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POV - Sakura
Dizem que não temos controle sobre os nossos próprios corações. Sentimentos podem mudar sem aviso. O pânico pode fazer um coração bater tão forte quanto o amor… Mas ambos também conseguem fazê-lo parar, frio, dentro do peito.
Naquele ápice de segundo, quando meus olhos viram a sua imagem em quase completa nitidez, o barulho alto da bandeja batendo no chão de ladrilhos coloridos e o olhar triste de Itachi em um silencioso pedido de desculpas, me fizeram congelar. Uma lágrima desceu em meu rosto e eu não soube ao certo o que fazer. Na verdade, eu nem sei se algo poderia ser feito.
_ O que aconteceu, Itachi?! - Sasuke perguntou, olhando na minha direção.
_ Deixa que eu ajudo! - No momento em que Sasori se levantou, Itachi o cortou em um gesto seco, se abaixando imediatamente ao meu lado.
_ Ela sem querer derrubou a bandeja… - Ele respondeu a pergunta do irmão, me olhando profundamente. Só então, eu pude perceber que Sasuke não tinha visto o que aconteceu. Ele não tinha visto nada.
_ Droga, me trouxe para outro lugar cheio de incompetentes?! - O mais novo resmungou e eu não conseguia parar de encará-lo.
_ O que aconteceu aqui?! - Lee chegou com uma vassoura e um pano para me ajudar.
_ Foi um acidente… - Sasori disse, novamente se levantando.
_ É o trabalho dela, Sasori… - Sasuke falou, bufando. _ Se ela não sabe fazer, não deveria estar aqui.
_ Chega, Sasuke! - Itachi exclamou, fazendo o mais novo enrijecer a postura.
_ Não dá… - Sussurrei chorando para o Itachi que tentou segurar a minha mão.
_ Ei, Sakura!! - Sasori chamou o meu nome, mas eu só consegui correr para o mais longe possível.
Eu não sei por quanto tempo andei, nem em qual rua estava. Minha única certeza era a de que ele não poderia me seguir, nem mesmo se quisesse. É, estava acontecendo de novo. Engraçado que há três ou quatro semanas, eu havia prometido nunca mais me abalar. E olha só agora, eu não consigo pensar em outra coisa que não seja a minha ruína frente a expressão vazia e pouco amigável de Sasuke Uchiha.
_ Como eu queria desaparecer… - Exausta, eu me sentei em um dos bancos do jardim.
_ Ei, Sakuraaa… - Olhei para trás, vendo a figura de Itachi se aproximar.
_ Ah, não… - Me levantei, andando para longe. _ Cai fora, Itachi!!
_ Não, espera… - Ele parou. _ Por favor, Sakura!
_ O que você quer, ein?! - Me virei na sua direção, furiosamente. _ Já não acha que fez merda o bastante?! Você disse que não voltaria lá, mas voltou… E… E ainda por cima levou o Sasuke… E… Droga, ele está cego?! Que inferno está acontecendo, me fala?! Eu juro que se não me falar, eu vou acabar surtando, porque eu não aguento mais… Eu fugi… Eu fugi e tentei recomeçar, mas nenhum recomeço consegue explicar porque o meu melhor amigo fodeu com a minha vida…
Itachi não disse nada, só veio na minha direção e me envolveu nos seus braços. Foi um abraço apertado, quase sufocante… E era tudo que eu mais precisava. Passei as minhas mãos envolta do seu corpo e me escondi como uma criança. Chorei mais uma vez por motivos que eu não conseguia explicar, senti o meu coração doer muito.
Talvez fosse por não conseguir arrumar algo que eu nem sabia o que era. Por precisar estar bem e não conseguir. Pelas cobranças ou pelo peso carregado e não sustentado pelos meus ombros cansados. Eu chorei pela necessidade de ser alguém e esse alguém não poder ser eu… Chorei, porque infelizmente, eu ainda amava ele… Mais do que poderia imaginar.
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