-“Joe me contou” – a voz de Andy soa pelo celular – “Eu sinto muito, cara”.
-Eu sei. Não está sendo fácil para mim.
-“Onde você está? Está em casa”?
-Não, estou no parque com a Charlotte. Ela está brincando com o Barney na grama. Em casa não está um clima muito bom para uma criança de dez anos.
-“Cara, isso é horrível. Como você soube”?
-Ele me contou. O próprio Pete me contou.
Patrick observa a menina brincar com o cachorro. Estava sentando em um banco debaixo de uma árvore. O loiro suspira.
-“E o que você pretende fazer em relação a isso”?
-Nada.
-“Nada”?
-Eu não o culpo, Andy. Eu também já fiz isso, lembra? Eu só... Só quero cuidar de mim por enquanto.
-“Claro. Sempre que precisar pode contar com a gente”.
-Obrigado, Andy.
-“Tchau”.
-Tchau.
Patrick desliga o celular e o coloca no bolso. O loiro suspira mais uma vez. Em sua cabeça, milhões de pensamentos.
Pete ouve a porta se abrir, Charlotte entra com Barney e juntos, sentados na sala, conversam sobre o passeio. Patrick sobe as escadas sem dizer nada.
O moreno preparava o almoço, mas sua preocupação com o loiro o deixava distraído que acaba cortando o dedo. O moreno abre a torneira e deixa a água limpar o sangue, o contato gera um ardor no machucado.
-Toma – Pete olha. Patrick estava do seu lado com um band-aid e algumas folhas de guardanapo de papel.
Pete não se mexe. Patrick pega sua mão de um jeito delicado e limpa o excesso de água e de sangue com as folhas do guardanapo. Depois, tirando as fitas protetoras do band-aid, o loiro faz o curativo.
-Obrigado – Pete agradece.
Patrick apenas junta as folhas sujas e as jogam no lixo sem dizer nada. Depois, pega um copo e o enche de suco que encontrou na geladeira.
-Você não quer me ajudar com o almoço?
-Eu tenho coisas para fazer – o loiro responde – Quero adiantar algumas coisas na empresa antes de operar.
Pete suspira. Patrick havia saído da cozinha.
-Achei você! - diz Charlotte entrando no escritório - Papai está chamando para almoçar.
A menina se aproxima, Patrick a coloca no colo.
-O que você está fazendo?
-Só estava vendo algumas fotos da gente – Patrick responde enquanto passa para a outra foto.
-Esse dia foi legal – diz a menina apontando para a foto onde ela estava na praia abraçada ao moreno – Ainda tenho as conchinhas que a gente pegou na areia.
Patrick sorri.
-A gente poderia ir de novo, o que acha?
-A gente não pode.
Patrick estranha a resposta da menina.
-Por que?
-Porque você está doente – Charlotte passa para outra foto. Patrick abaixa o olhar, não queria que a menina pensasse assim, ficaria tudo bem – Você não vai deixar o papai cuidar de você?
-Bem... – a pergunta o pegou de surpresa – Eu acho que... Seu pai já faz muito por mim. E... É uma coisa muito delicada, então eu quero que ele apenas seja o meu marido nesse momento.
-Você também precisa de um doador?
-Não. Eu só vou precisar passar por uma simples cirurgia, não é tão grave assim. Eu vou ficar bem, meu amor, e a gente vai poder ir à praia outra vez.
Mesmo com a notícia, Charlotte não fica muito feliz. A menina deita a cabeça sobre o peito do loiro.
-Eu te amo, papai. Promete que vai ficar tudo bem?
Patrick acaricia seus cabelos. Queria ter a certeza antes de responder.
-Eu prometo.
Patrick jogou vídeo game com Charlotte a tarde toda. Apesar de estar em outro sofá, era como se Pete não existisse. Após o jantar, o loiro lavou a louça e recusou a ajuda do moreno. Em seguida, foi para o escritório.
Pete se senta na cama, estava sozinho no quarto. Patrick estava sendo duro, mas nada que não estivesse no direito de fazer. Estava magoado e decepcionando como havia dito. O loiro entra no quarto de repente.
-Eu só vim pegar uma roupa – o loiro explica enquanto escolhe algo para vestir.
-A gente pode conversar?
-Eu estou cansado – Patrick dá a desculpa.
-Não – Pete se levanta – Você está me ignorando, Patrick. O tempo todo. Eu só quero conversar com você, eu quero saber o que você está sentindo...
-Agora você está com tempo para me escutar? Porque quando eu queria falar com você, você simplesmente me deu as costas e teve suas próprias conclusões.
Pete se cala. Patrick estava certo. O loiro fecha a gaveta sem escolher a roupa.
-Já que você quer mesmo me escutar, tudo bem. Eu estou com câncer e não sei se isso pode me matar ou não. Eu tentei te contar inúmeras vezes, tentei me aproximar de você e dizer a verdade, mas tudo o que você acreditou foi na mentira que você mesmo criou. E apesar disso, eu não culpo você. Sei que você teve todos os motivos para me trair, eu aguento isso, Pete, mas o que eu não suporto é que você não se importou comigo. Eu mudei e você nem se quer notou, não veio até mim e perguntou se algo estava acontecendo comigo. Me desculpa, mas parece que você só quis sexo comigo esse tempo todo.
-Não, eu não quis só sexo. Eu te amo, Patrick, você sabe disso – o moreno diz choroso.
-Só que você não demonstra isso. E eu não estou falando por causa da traição, mesmo estando decepcionado com isso, eu estou falando que você ainda não confia em mim. E esse não é o único problema, Pete... É ainda mais difícil quando você tem algo que pode te matar. É difícil olhar nos olhos da sua filha e admitir que está doente e ouvi-la dizer que não podemos ir à praia porque eu vou para o hospital.
-A Charlotte disse isso?
-Ela é só uma criança, não teve a intenção – Patrick lambe os lábios, seus olhos estavam cheios, mas o loiro não derruba nenhuma lágrima – Eu estou carente, Pete. Não quero enfrentar isso sozinho, mas eu não quero o doutor Peter, eu quero o meu marido Peter. Eu quero aquele homem que eu casei, o mesmo homem que eu amo... Eu não preciso que você seja o meu médico e sim, o meu companheiro. Não foi fácil para mim acreditar que eu estou mesmo doente e muito menos inventar cada desculpa para você, eu ensaiava dizer isso todos os dias na frente do espelho, mas quando você olha para mim, eu simplesmente perdia a coragem. Foi difícil ficar longe de você mesmo estando na mesma casa.
Pete abaixa a cabeça. Se sentia humilhado por ter tratado tão mal o loiro.
-Então, até que você decida ser meu marido, eu vou dormir no quarto de hóspedes.
Patrick pega a primeira camiseta da gaveta e sai do quarto. Pete enxuga as lágrimas dos olhos.
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