Washington, DC, EUA — 16h01min
Sakura Haruno
— E, para dar o toque final... — apertei o botão e todas as luzes se acenderam. — Uau!
Sasori, ao meu lado, passou a mão pelos meus ombros enquanto observava o telhado da imensa casa. Já Itachi, ao meu outro lado, sorriu de canto, orgulhoso do nosso árduo trabalho. O moreno passou a mão na testa, como se estivesse limpando um suor imaginário.
— Ufa! Terminamos depois de quase setenta anos de faxina — comentou o ruivo, apoiando o queixo sobre minha cabeça. — Nunca pensei que me tornaria faxineira por um dia.
— Mas ficou mesmo muito bom. Sakura... fico começando a duvidar se você é médica ou arquiteta.
Sorri orgulhosa de mim mesma e toquei a mão de Sasori, mordendo o lábio inferior ao ver o quão incrível eu era.
— Acho que sou os dois.
— E convencida também, senhorita Haruno.
— O que os demônios costumam comer?
— Sei lá, sangue, osso humanos... — Sasori deu de ombros e Itachi concordou. — Mas a carne dos anjos do céu é uma delícia.
Empurrei-o e arregalei os olhos, que já começaram a marejar.
— Ah, meu deus! Ela está chorando — Sasori caiu na risada, acompanhado de Itachi. — Vem cá, amor, a gente não come isso!
— Seus problemáticos.
Quando as risadas cessaram, o Uchiha pareceu lembrar-se de algo, arregalando os olhos e abrindo a boca.
— As fantasias!
— Sério?! Vocês usam fantasias? — perguntei, confusa.
— Claro, isso deixa as coisas bem mais divertidas — Itachi piscou.
— Então vamos comprar, ainda dá tempo.
§
Olhei no espelho e a vendedora atrás de mim deu um sorriso de orelha a orelha, mostrando o quanto eu havia ficado bonita ao lado de Sasori — ela também lançava uns olhares nada legais para ele. Entortei o canto dos lábios, dizendo que fantasias de vampiros eram clichês demais. Tudo bem, Sasori pode ter ficado uma perdição com as presas falsas — mesmo que não precisasse delas —, mas eu me achei feia.
— Vou deixar vocês à vontade — disse a vendedora, indo embora ao notar nossa conversa telepática.
— Você não está feia, Sakura! Eu gostei bastante, na verdade.
— Claro que não! Olha esse vestido! Eu estou muito magra — rejeitei, me virando e me olhando no espelho enquanto apontava os defeitos. — E qual é a desse salto?! Não vou nem poder andar, olha o tamanho disso.
— Quem diria... O temível Akasuna no Sasori tentando convencer a namorada de levar a fantasia de vampira — Itachi apareceu, risonho. — Tá bom?
Olhei-o, estava lindo como sempre — só não mais que o ruivo. Vestia a roupa do coringa, porém, sem o cabelo verde, preferiu natural; um Coringa modificado.
— Eu adorei! — bati palmas.
— Continua a mesma merda — Sasori revirou os olhos. — Qual é a desse batom?
— Cala a boca, tá bem desenhado! Nunca viu a boca do Coringa, não?
Meu namorado riu e balançou a cabeça, sentando-se no banco do provador, claramente entediado.
— Eu vou de padre — concluiu Itachi, mudando de ideia. — Assim poderei casar vocês dois.
Ia rebater, mas achei a ideia magnífica. Dei um pulo, quase caindo e quebrando o pé, mas não deu nada. Como se uma lâmpada tivesse se acendido em cima da minha cabeça, comecei a sorrir como uma maluca e olhei para Sasori, que demonstrava não estar entendendo nada.
— Que tal nós irmos de noivos fantasmas? Daqueles bom legais mesmo, sabe? Bem real.
— Por mim tudo bem, tem fantasia disso?
Itachi riu e revirou os olhos.
— Eu posso ir de padre, se quiserem — sugeriu. — Acho uma boa.
— Também gostei da ideia — falei.
— Moça, você tem fantasia de noivos fantasmas e de padre das antigas? — perguntei.
Ela sorriu como se eu estivesse com muita sorte.
— É uma das mais realistas — puxou-me para os fundos da loja. — Parece até de verdade, não?
Olhei a fantasia do manequim, sentindo a presença dos dois atrás de mim. Um vestido até os pés, levemente armado, com rendas e marcas de sangue. Também tinha um rasgo na saia, como se fosse bem antiga. A do noivo era um terno com botões e um estilo de gola mais alta, que certamente ficaria bom em Sasori. E, por fim e não menos importante, a maravilhosa fantasia da padre que cairia perfeitamente em Itachi.
— Bem, iremos levar essas — concluí e a mulher sorriu ainda mais.
— E lá se vai o meu dinheiro — Sasori choramingou.
§
A festa estava ótima, eu estava reconhecendo os amigos dos dois que chegavam, até que, um braço me puxou com certa força, fazendo-me quase cair sobre o corpo do rapaz. Com a cabeça no peitoral dele, pude ver alguns fios loiros, então arregalei os olhos e encarei seu rosto.
— D-deidara?! — quase gritei, paralisada.
— Veja se não é a flor de cerejeira, Haruno Sakura? — sorriu malicioso e mordeu o lábio inferior. — Está linda com essa roupa... Que tal irmos para um lugar mais reservado?
— M-mas como...? — falei, aflita. — V-você é um...?
— Um o que? — ele boiava, olhando para todos os lados. — Esse pessoal é bem divertido, mesmo que eles tenham uns costumes bem realistas.
Foi aí que eu percebi: Deidara não fazia ideia de de todos alia eram demônios — com exceção de mim, que era um anjo. Respirei fundo e, no meio de todas aquelas pessoas que dançavam ao macabro som que tocava alto, puxei o loiro para fora. Olhei de relance para Sasori, que conversava com Itachi em um dos degraus da imensa escadaria. Então, seus olhos castanhos pararam em mim e eu joguei Deidara no chão sem me importar com o amanhã, sorrindo nervosamente.
"Vem pra cá", fiz a leitura labial para descobrir o que ele dizia.
"Vou no banheiro, já volto", falei, esperando ele ler meus lábios também.
Sasori voltou a conversar com Itachi e eu apenas puxei o loiro do chão, que massageava a bunda, e saí em disparada para fora do lugar. Minha respiração descompassada se fazia presente no momento, ignorando as reclamações de Deidara por eu tê-lo jogado no chão.
— Corra, está bem? — avisei, antes de puxá-lo para a varanda da casa, que estava vazia e possuía uns pilares grossos onde dava para se esconder caso alguém chegasse. — O que está fazendo aqui?
— Ah... bem, meu expediente na livraria já acabou e como hoje é Halloween, resolvi procurar uma festinha para ir — deu de ombros. — O resto do pessoal quis ir para o bar que o Sai trabalha, mas eu estou cansado de ir para aquele lugar. Então eu foi passear por aqui, onde a minha avó mora, e vi essa casa cheia de coisas de Halloween.
Bati na própria testa e vi ele juntar as sobrancelhas em confusão. De repente, quando eu fui abrir a boca, dois homens apareceram, fumando uns cigarros.
— E—
Tapei a boca de Deidara e me escondi junto com ele, atrás de um dos pilares. Os dois pareceram não ouvir nada e continuaram conversando.
— Fiquei quieto e não se mexa — sussurrei e ele assentiu, mais confuso ainda.
Saí de trás do pilar com um sorriso nervoso e gentil ao mesmo tempo, vendo os dois demônios retribuírem.
— A festa está boa? — indaguei, pegando na saia branca do vestido.
— Com certeza, senhorita Haruno — um deles respondeu, dando uma tragada no cigarro. — Aliás, estão todos comentando que essa fantasia sua é uma realidade, afinal. Você não irá casar mesmo com o Sasori? Parecem bem apaixonados.
Corei ao máximo e meu olhar começou dançar de um lado para o outro no chão.
— Oh, agora vejo a beleza de um anjo de Deus — o outro comentou, sorrindo gentilmente. — Vamos, Minato!
— Claro — disse o loiro. — Até, senhorita Sakura.
Eles voltaram para a casa depois que o moreno, que mantinha o cabelo preso em um rabo-de-cavalo, fechou o isqueiro.
— O que diabos foi isso? Senhorita Haruno? Anjo de deus? — Deidara saiu de trás dos pilares me bombardeando de perguntas. — Favor explicar.
— Não era para você estar aqui — praguejei, irritada. — Volte para casa!
— E acha que irá me obrigar? Pode parando por aí, senhorita Haruno — disse, sarcástico.
— Deidara, eu preciso que vá agora! Não me pergunte o porquê, apenas vá!
Ele cruzou os braços e bufou, estreitando os olhos.
— Por quê?
— Droga! Você tem problema de audição? Eu não acabei de dizer que não era para me perguntar o porquê?
— E você acha mesmo que vai me expulsar de uma festa dessas sem dizer o motivo? Nunca, nunquinha!
Respirei fundo e comecei a tentar inventar qualquer coisa.
— Eles vão matar um animal selvagem para fazer ritual... Budista! — fiz um careta com a asneira que eu acabara de dizer.
Era óbvio que ele não ia acreditar em algo tão estúpido.
— Budista?! Claro, porque o Buda iria querer uma coisa dessas! — revirou os olhos. — Desembucha logo, Sakura, o que está havendo?
— Gosta de brincar de verdade ou desafio? — ele assentiu, com os olhos brilhando. — Então, eu te desafio a sumir daqui!
Desesperada e tentando não cair um tombo com a saia longa do vestido, comecei a empurrá-lo para o meio do nada.
— Anda! Onde está o seu carro, Deidara?
— Eu vim de nave espacial — cruzou os braços outra vez, fincando os pés no chão para resistir dos meus empurrões descontrolados. — Quer mentir? Vamos mentir!
Bufei e bati o pé.
— Vamos, saia daqui, colabore, é para o seu próprio bem!
— Meu próprio bem?! Você não é a minha mãe, Sakura, eu me resolvo! — cuspiu as palavras e virou as costas.
— Deidara! Não entre nessa casa!
— Oh! O som está muito alto, não consigo te ouvir! — gritou como uma criancinha, desatando a correr.
— Que porra é essa? — uma voz terrivelmente conhecida ressoou atrás de mim, fazendo até mesmo o loiro para e se virar. — Eu não costumo acreditar nas vozes dentro de mim... mas ela me dizem que você é amigo do Sai.
Arregalei os olhos e me virei para trás na mesma hora, vendo exatamente quem eu não queria ver.
— Sasori... — sussurrei e toquei seu braço, mas ele se soltou correndo em direção à Deidara. — Para!
Estávamos atrás da casa, então não teria problema de ouvirem muitos barulhos, ainda mais com a música alta. Porém, mesmo assim, eu estava desesperada. E fiquei mais ainda quando Sasori o socou bem no rosto, fazendo o loiro cair na grama.
— C-cara! E-eu não fiz nada! — gritou, colocando as mãos na frente do rosto para que o ruivo não o machucasse.
— Mas o seu amigo fez, e vai pagar por isso! — berrou, irado.
Os olhos de Sasori estavam completamente vermelhos enquanto as presas brancas e afiadas já saíam de sua gengiva e miravam o pescoço do garoto abaixo de si.
— Pare, Sasori! — implorei, correndo até os dois. — Por favor, ele não tem nada haver com isso!
Então senti braços me segurando; era itachi, com uma cara nada boa.
— Não tem o que fazer... ele explodiu em raiva, você só vai se machucar se interferir — explicou, tentando me afastar enquanto eu me debatia ainda mais. — Eu também não consigo lidar com fúria do Sasori... Querendo ou não, ele é mais forte do que eu.
Dei uma bela cotovelada na barrida do Uchiha, que me soltou e caiu para trás.
— Como assim não tem o que fazer?! — berrei, indignada. — Ele não vai matar ninguém! E eu vou impedir!
O sangue escorria pela boca de Deidara enquanto eu corria para perto deles, ouvindo os pedidos desesperados de Itachi para que eu me afastasse. E eu só pude me concentrar naquela cena.
— Sasori!
Então tudo pareceu acabar. Aquela casa, aquele gramado, aquelas pessoas, acabou. Apenas conseguia me enxergar abraçada à Sasori, ao passo que seus olhos se arregalavam e as mãos cheias de sangue seguraram as minhas.
— Ele não tem culpa...
Então fui perceber... o sangue nas mãos de Sasori era meu.
— Sakura!
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