História Sedentos - XXVII - Lutando

Washington, DC, EUA — 00h00min 

Sakura Haruno 

Tudo desaparecia como em um passe de mágica. Deidara estava sumindo, Itachi estava sumindo, Sasori estava sumindo e, por fim, eu estava sumindo. Um som ensurdecedor assaltou meus ouvidos e imagens atingiram minha mente de uma forma angustiante. Eu vi as lágrimas de todos, vi o desespero nos olhos de Sasori, vi o medo na feição de Deidara, vi a raiva nos lábios de Itachi... E não consegui fazer nada à respeito. Não pude tocar os ombros de cada um e dizer que ficaria tudo bem ou sorrir reconfortante. 
Porque eu estava desaparecendo. 
Os meus rastros, as minhas lágrimas, os meus sorrisos, a minha existência... estavam sumindo. 
Eu me vi ali, ajoelhada na grama úmida entre Deidara e Sasori. Eu vi a mão do homem que eu mais amara suja de sangue. 
E eu não conseguia entender. 
Havia um... buraco no meu estômago. 
Então as lágrimas queimaram minha pele mais uma vez; eu estava confusa. Sasori se afastou, ainda segurando minhas mãos e, depois de chamar por tantas vezes o meu nome, ele soltou-a. 
E tudo escureceu. 

§

Eu me via chorar sobre a tela do celular enquanto tentava desesperadamente chamar atenção dos meus pais. Mas eles não falaram comigo naquele momento, o momento em que eu mais precisei de ajuda. Então, com toda a confusão se profundindo em minha mente, eu bati o carro. 
Olhei aquela adolescente que, mesmo não parecendo, transbordava vida e esperança, seguir seu sonho de se tornar uma médica respeitada, enfrentando a devastadora chuva e, mesmo com as pernas bambas, procurando o ferido. E o viu ali, caído em frente ao carro. 
Era um sujeito encapuzado e não fazia o menor sentido ajudá-lo aquela hora; seria estupidez. Mas não para aquela garota que almejava ser reconhecida por todos em sua carreira. Então, com toda a coragem que já lha faltara tantas vezes, pegou a lanterna e foi vê-lo. 
E ele não estava mais lá. 
E ela riu de si mesma. 
Estaria tão bêbada? 
Não.
"Se vríka", foi o que dissera para ela. 
Meus olhos brilharam, a cabeleira ruiva era inconfundível. Akasuna no Sasori... Aproximei-me do vidro e pude ver a feição irritada e confusa da menina, quase rindo com isso. Mal sabia ela que isso mudaria drasticamente. 
"Eísai mou". 
O que significava aquilo? 
"Te encontrei", "Você é minha". 
Eu sabia, mas ela não. 
Por isso aquela Sakura Haruno empurrou-o e foi embora. E ele sorriu, ela estava marcada. 

...

Novamente a garota dos cabelos rosas caminhava por um beco em Nagoya: seus pais morreram. Com as mãos nos bolsos, desviando das caixas, morrendo de frio, amedrontada por causa dos gatos pretos e amaldiçoando-se mentalmente por não ter pego um bis de seu primo. Portanto, nesse estado critico, ela acabou por tomar um belo susto e encontrar um belo rapaz. Um que já conhecia. Mas valia à pena suprir suas vontades presentes com desejos passados. 
Por isso beijou Uchiha Itachi. 
"Eísai mou". 
Então sua vida se tornou um verdadeiro inferno. 

... 

Vidas começam, vidas acabam. Vida, morte, vida, morte; é um ciclo sem fim. E a daquela menina acabou de uma forma que pôde preservar sua existência. Ela não estava vivendo, seu coração não batia, embora sentisse-o em algum lugar de seu peito. Especialmente quando estava perto de Sasori, o anjo que sucumbiu-se as trevas e a mais densa escuridão. Especificamente quando tocava-o e era tocada.
Portanto, por mais que fosse resistir à isso, ela também se sucumbiria... ao amor.

...

Então, quando aquilo já não cabia mais em seu coração morto ou em sua mente vaga, resolveu compartilhar com o responsável por aqueles sonhos macabros e aquele sentimento que, muitas vezes, parecia revoltante. 
"Eu não sou o cara certo para você."
Seu coração morreu mais uma vez, quebrando o ciclo; ela pode sentir ser esfaqueada por dentro. As palavras pareciam lâminas, que faziam seu interior chorar sangue. Sofreu, estava tão morta que não entendia o próprio significado. E não deveria ter, mesmo. 
Vi a garota recolher o resto de dignidade que ainda lhe sobrara e tentar, com um sorriso torto apontando para si mesma, juntar as partes daquele coração quebrado. 
Ela queria quebrar o ciclo novamente, ansiava a morte. Queria simplesmente ser tomada pela escuridão e nunca mais sair de lá. Não seria uma grande surpresa morrer por fora; já estava no mesmo estado por dentro. 

...

Ele a salvou... Uchiha Sasuke foi um tremendo traidor, porém, ainda assim, se importou o bastante para atravessar um continente e procurar sua amada. Para o ódio infernal de Sasori, Sasuke a salvou. E, por causa desse ódio, ela teve que deixar o Uchiha novamente e ir embora. 
Recebeu mensagens, é claro, mas mentiu em todas, dizendo que estava bem. Amargurada com tudo aquilo, teve a audácia de sorrir novamente. 
E suas mensagens para Sasuke pararam de ser mentiras. 
Estava realmente feliz. 
Afinal, Sasori a amava e viera buscá-la. 

...

E, deus, por fim, aquela imagem que não poderia sair de minha mente nunca mais. Eu vi a garota corar debaixo do ruivo e, naquele momento, meu coração começou a bater forte. Ele olhava-a com o mais verdadeiro sorriso e levava-a ao paraíso. Tudo aconteceu naquela cama de hotel, a cama que tinha uma cabeceira fraca batendo na parede. A cama que atormentara o sono de Itachi e alimentara a paixão da daquele casal.

Estava naquele carro. 
Estava naquela rua. 
Estava naquele castelo. 
Estava submersa nas águas. 
Estava no alto do prédio. 
E, de repente, foi abraçada.
Acolhida. 
Estava naquela cama de casal, apaixonada. 

...

Sasori ainda era um garotinho assustado que precisava de amor. Ainda, mesmo se controlando às vezes, era tão imaturo quando uma criancinha. E Sakura não deixaria aquele ruivo cabeça-oca por nada naquele mundo; como ele costumava dizer: existiriam na eternidade. Foi porque eu via gentileza e amor no coração de Akasuna no Sasori, que abri meus olhos.