Harry Potter não esperava Teddy Lupin na sua casa naquele momento. Sentado à cozinha e tomando um café forte para manter-se firme, o antigo "Eleito" estava alheio a tudo que acontecia a seu redor. Até ouvir um barulho alto — mas que não lhe incomodava em nada, já que estava acostumado a bruxos aparatando — e se virar para ver seu afilhado transtornado entrando em sua casa.
Harry olhou para a expressão de Teddy e levantou-se no mesmo instante. Ele parecia prestes a surtar: o cabelo bagunçado, olhos arregalados e a pressa com a qual se moveu até Harry o evidenciavam. Mas, principalmente, o que mais preocupou o homem foi os cabelos em tons de branco bem claro, o que acontecia quando Teddy estava muito preocupado.
— Padrinho, você não vai acreditar! — e, falando num fôlego só, muito corriqueiro, continuou — Houve um assassinato em Hogwarts. Tio Ron quer você lá agora mesmo.
O peito de Harry doeu, mas ele agradeceu a Merlin por não ter sido a cicatriz.
Nenhuma grande tragédia havia acontecido em Hogwarts desde o final da Batalha, em 1998. Era uma notícia completamente inesperada.
O Potter respirou fundo. Seus filhos estavam em Hogwarts nesse momento. O incômodo no seu interior voltou, mas não é como se tivesse deixado-o alguma vez.
Ele gritou por Ginny e então virou-se para Teddy.
— O que aconteceu?
— Acabamos de receber a denúncia. Uma garota caiu da Torre de Astronomia. Selene Greengass, o nome dela...
— Por Merlin! — disse Ginny, aparecendo no cômodo. Os cabelos ruivos estavam curtos, nos ombros, e ela tinha nos braços um caderno e uma caneta. Provavelmente, estava escrevendo seu artigo da semana para o Profeta Diário — Como ela caiu?
— Foi empurrada — explicou Teddy. Ele tirou as mãos de dentro da jaqueta de couro de dragão — Os aurores estão se movendo para lá. Abriram a rede de flú do escritório do Diretor para que os autores chegassem mais rápido.
A menção ao novo Diretor arrancou de Harry uma carranca, mas ele nada disse. Assentiu para Ted e caminhou até a sala, tirando da estante o pó. O afilhado o seguia junto a Ginny, que tinha um olhar preocupado e já conjurava um patrono para mandar uma mensagem, provavelmente a Hermione.
— Vá na frente — disse Harry, entregando a vasilha para o Lupin.
Teddy havia se formado há 4 anos. Hoje, é um auror junior no Ministério e trabalha junto a Ronald, que assume o cargo de Chefe entre os aurores. Harry estava na equipe. Havia sido o Chefe por um bom tempo, mas cansou-se depois de um período. A vida de Salvador talvez não fosse mais para ele.
— Tio Ron quer você lá — continuou o Lupin, antes de entrar na lareira — Denunciaram o corpo há cerca de cinco minutos. Ele foi assim que notificado e me mandou para cá.
No segundo seguinte, ele já havia gritado "Hogwarts" e sumido nas chamas.
Harry virou-se para Ginny antes de ir, lhe oferecendo um sorriso de conforto.
— Cuidado — murmurou ela, como todas as vezes — Dê oi para as crianças por mim.
— Certo — Harry respondeu e inclinou-se para deixar um beijo na bochecha da esposa. A ruiva lhe sorriu, atenciosa, e o Potter se adiantou.
Com um bolo esquisito na garganta, ele gritou:
— Hogwarts!
Foi embalado pelas chamas e logo estava no escritório do Diretor, na escola que foi sua casa por muito tempo. No entanto, aquele lugar já não lhe parecia o mesmo dos tempos de Dumbledore nem dos de Minerva. Damen Venderus, o novo Diretor, era muito diferente do que os anteriores haviam sido — e Harry, pessoalmente, não gostava nada disso.
Ele abriu a porta e desceu as escadas. Onde antes era uma Gárgula havia se tornado um imponente Hipogrifo.
Harry adiantou-se para sair do Castelo e ir em direção ao local que Teddy havia lhe informado. O encontrou na metade do caminho e, juntos, seguiram com pressa.
A cena não era a melhor. Havia uma garota no chão quase que no mesmo lugar que, muitos anos antes, Dumbledore esteve.
Alguns estudantes tentavam olhar o que estava acontecendo e o barulho de conversas era alto. Alguns funcionários do Ministério tentavam despachar a onda de crianças e adolescentes, mas o caos era gigante e não era fácil fazer todos cooperarem. Ao mesmo tempo, alguns bruxos erguiam feitiços de proteção para que a zona do crime não fosse comprometida por ninguém.
— Senhor Potter, Lupin — cumprimentou um dos mais novos bruxos do batalhão, Tulio Wolly — Estamos isolando a cena aqui em baixo e lá em cima. Tem rastros de luta na Torre e o corpo está no chão, completamente arrasado... Perturbador...
A cabeleira preta da garota estava coberta de sangue, assim como todo o resto. Tinha um rosto pacífico, apesar de toda dor que pôde ter experimentado.
Harry nunca a tinha visto antes, mas lembra de James, seu filho mais velho, ter comentado alguma coisa.
Ele ouviu gritos altos que ultrapassaram o barulho das conversas e criou uma onda de choque entre quem os escutava. Eram tão desesperados que o Potter levantou o olhar e um novo aperto tomou conta do seu coração. Ele inspirou e soltou mais uma vez, se perguntando porque não havia tomado seu remédio de manhã. Teria evitado essa dor crescente no peito.
— NÃO! DEIXE-ME VÊ-LA! SELENE! ME SOLTE! — gritava uma menina, o rosto repleto de lágrimas. Tinha os cabelos ruivos e longos, e lutava nos braços de um garoto para conseguir chegar até o corpo. Harry reconheceu James Sirius e teve o impulso de ir até eles, mas foi parado por uma mão no seu ombro bem no momento em que a garota tentava usar a varinha para chegar até o local. Um auror a segurou antes que a jovem pudesse realizar algum feitiço.
O Potter então virou-se e o aperto em si pareceu afrouxar ao ver Ron Weasley, seu melhor amigo há quase 30 anos.
Ronald sabia encarar situações difíceis impressionantemente bem. Hermione costumava dizer que a Guerra o deixou com um sangue mais frio e um senso de responsabilidade gigantesco, mas ambos sabiam que parecer forte era a maneira que Ronald tentava lidar com tudo — e agora ele conseguia.
— Oi, Harry — murmurou, olhando do moreno para o corpo. Não disse nada por meio segundo, até começar a dar as informações de que o amigo precisava — Foi encontrada por dois alunos, há uns treze minutos. Correram para chamar um professor e encontraram a professora Sinistra chegando nos portões. Ela mandou o aviso para o Ministério. Eles estão sendo interrogados agora, queremos saber se viram alguém — e então moveu o dedo para mostrar as crianças sendo interrogadas num canto. Estavam visivelmente muito assustadas. A professora, ao lado delas, tentava continuar centrada, mas o lábio tremia e os olhos estavam cheios de lágrimas.
Ron entrou na área limitada, Harry o seguiu, abaixando-se para verificar o corpo de perto.
— Mandei fecharem tudo após constatar que ela havia sido empurrada. Há marcas de briga na Torre. Ela também parece ter sofrido agressão — apontou para os ferimentos — O castelo está sendo verificado, todos professores sendo chamados... Ocorreu durante o primeiro final de samana em Hogsmeade, então veremos quem não foi para o povoado. Não podemos duvidar de ter sido um aluno...
— E a varinha dela? — perguntou Harry, vendo alguns aurores retirarem o corpo da jovem. Seria levado ao legista imediatamente.
— Jogada na Torre. Conseguimos identificar os últimos feitiços realizados... Ela tentou usar um Immobilus, o que significa que alguém a rebateu, provavelmente com um expelliarmus, e jogou sua varinha para longe.
A garota caiu de corpo para cima, uma posição estranha para quem havia sido empurrada.
— Sr. Weasley, Damen Venderus — Harry moveu o rosto rapidamente, a testa franzida. Ron não parecia muito feliz em ver o novo diretor também, mas apertou sua mão educadamente.
A desavença de grande parte da Grã-Bretanha Bruxa com o homem não era por nada: todos sabiam que a razão pela qual Damen havia ganhado o cargo de Diretor que pertencia a Minerva McGonagall, no ano passado, era completamente inadmissível(para alguns, justa, mas Harry odiava esses comentários e tábua demonstrado sua opinião publicamente diversas vezes).
Mas nenhum deles poderia interferir na escolha dos Governadores de Hogwarts, então a única opção restante era observar cada passo de Damen.
Bem, era seu segundo ano como diretor e um assassinato não era a melhor forma de manter uma boa impressão.
— Sim, sei. O que você tem de informações?
— Tanto quanto vocês, Weasley — respondeu Venderus, com um sorriso fraco, os olhos mirando os bruxos que deixavam os terrenos com o corpo dentro de um carro — Estava em Hogsmeade, cheguei após Madame Pomfrey ter ido me contar o que aconteceu... Oh, Senhor Potter!
Harry levantou-se, estendendo a mão, que foi logo apertada pelo Diretor. A luva de couro de dragão chamou a atenção de Harry, mas Damen já começava a falar antes que o moreno pudesse questionar alguma coisa.
— Entendo se quiserem conversar com os alunos. Detém de toda permissão — Ron revirou os olhos disfarçadamente. Ele não precisava de permissão — Estarei disposto a falar tudo que sei sobre Selene. Temos sua ficha escolar e médica na Sala de Arquivos dos Estudantes.
Ron chamou um dos aurores com a mão.
— Acompanhe Venderus, Kitley, por favor. Vamos precisar saber o máximo possível sobre Selene. Os pais dela já foram notificados?
— Sim — disse Kitley — Dominic Greengass e sua esposa, Hongsim, estão a caminho, assim como a tia da garota, Daphne. Sua irmã foi levada para a enfermaria. A coitada viu a cena, está passando muito mal...
Harry lembrou-se da menina ruiva que gritava a todos pulmões. Ela não estava mais ali, presumia que tivessem conseguido afastá-la. Mas ela não poderia ser a irmã da vítima, já que Selene era visivelmente asiática.
— A melhor amiga da garota, Genevieve, também está na enfermaria — Harry piscou. Certo, a ruiva deveria ser Genevieve. Era um nome muito familiar — Devemos interrogá-las, senhor?
— Não agora — disse Ron — Vamos lidar com a situação aqui, primeiro. A família da vítima deve ter seu tempo. A perícia terminou lá em cima?
— Sim, senhor. Mais marcas de luta foram achadas. O lugar será isolado pelos próximos meses.
— Certo — o ruivo respirou fundo mais uma vez — Precisamos da lista de alunos e professores que foram a Hogsmeade. Peça a Timóteo Guvan, o zelador. A pessoa que fez isso dificilmente é de fora. Mande a equipe ver o quarto da menina, talvez algo lá possa nos dizer quem é o assassino, se ela tiver ligação com ele.
Kitley assentiu e deixou o recinto. Teddy logo aproximou-se, parecendo ainda mais chocado.
— Não acho que foi morta sem motivos — disse Ronald — Parece ser um caso de feminicídio.
Harry assentiu. Seja lá o que fosse, Hogwarts não parecia mais o lugar mais seguro do mundo — mas não que, para Harry, ele já tenha sido.
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