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História Sempiterna primavera - Sobre tempestades, lembranças e novos cultivos


Escrita por: ukiye

Notas do Autor


quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?

é meio estranho terminar uma fic com mais de um capítulo, eu não tava acostumada com isso djsadghsadj.
como com o primeiro capítulo, a betagem foi fruto do esforço do meu amorzinho @morphoria, muito obrigada por ter dedicado tanto tempo em me ajudar com essa fic. <3

também queria agradecer a @Amehi, @Ellkie e a @daeho que deixaram comentários tão lindos no capítulo anterior, derreti que nem manteiga com todo o amor que vocês me deram e deram a essa história. vocês são incríveis e eu nunca vou saber lidar com tanto amor!!

de qualquer forma, aqui estamos! boa leitura. ♡♡♡

Capítulo 2 - Sobre tempestades, lembranças e novos cultivos


Hyunjin sabia como estufas funcionavam, mas não conseguiu deixar de levar um susto com a atmosfera abafada e contrastante da construção de vidro; hesitou um pouco antes de entrar, mas Yerim virando para trás apenas para chamá-la ao estender a mão foi muito efetivo para a garota. Ao se aproximar, a mão ainda estendida foi convidativa para que Hyunjin a segurasse mais uma vez. Entrelaçaram seus dedos.

Não era exatamente a maior construção do mundo, mas certamente era mais espaçosa do que Hyunjin esperava para uma estufa remota nas tangentes da cidade. O que não a surpreendeu, porém, foi a adorável bagunça de folhas e pétalas que era ali dentro.

Tomava cuidado para não acabar tropeçando nos potes de terra com etiquetas e nomes devidamente organizados, seguindo para onde Yerim a guiava. No canto oposto à entrada, a florista estendeu-lhe um regador roxo.

“De novo isso?”, Hyunjin protestou.

“Você veio passar um tempo na casa da avó que ganha a vida com uma floricultura, o que você esperava passar os seus dias fazendo?” Ela tinha um ponto. Encostando o indicador no beicinho de Hyunjin, Yerim a deixou um pouco constrangida, a cara ardendo nas extremidades de sua bochecha. “Só toma cuidado com os temperos.” Ela apontou para uma baixa mesa de madeira encostada na parede de vidro. “Eles gostam de um pouco menos de água.”

Yerim também explicou que teria que sair um pouco para dar uma olhada no gerador da estufa — parecia que ele estava nos seus últimos dias, mas as plantas precisavam da ventilação — certificando-a que já voltaria. Na realidade, foi bem mais rápido que Hyunjin esperava; apesar do susto que levou quando o gerador foi ligado, ela sorriu quando Yerim voltou em passos rápidos para dentro, sorrindo grandiosamente.

“Você deve tá me dando uma sorte nunca antes vista, neta da Jihyun!”, exclamou antes de se jogar de braços abertos em cima do corpo de Hyunjin, que riu, mas ficou meio indignada com o apelido ainda ser recorrente. Não reclamaria, sabia que isso poderia piorar a situação, então só aproveitou o abraço — apesar da hesitação em correspondê-lo.

Quando Yerim tirou seu rosto do ombro de Hyunjin, elas se olharam por alguns breves segundos, e Hyunjin só conseguia pensar em como talvez Yerim fosse o próprio Sol, porque não entendia como era tão natural o brilho de uma pessoa. Ela constrastava completamente com as nuvens reunidas lá fora.

“Seu apelido agora vai ser amuletinho, o que acha?” Hyunjin observava seus lábios sempre tão sorridentes pronunciarem aquelas palavras, mas respondeu:

“Acho que você só bola apelido tosco.”

“Isso foi cruel!” As palavras indignadas, porém, não combinaram com a risada alta que soltou entre as palavras. Acabou empurrando o corpo de Hyunjin levemente para longe do seu para fingir uma certa pirraça, mas a morena, inconsciente de seu ato, acabou puxando-a para perto mais uma vez, risonha. Notou seu próprio ato somente quando sentiu a respiração quente da florista contra seu pescoço mais uma vez, mas, agora, retribuiu o gesto de carinho, cobrindo-a com seus braços e deitando sua cabeça sobre a de Yerim.

A pose foi cortada, porém, quando a de cabelos roxos levantou seu rosto perigosamente próximo dos lábios de Hyunjin; nenhuma risada mais foi soltada, nenhum outro som era ouvido. Mesmo com o coração meio desesperado, Hyunjin parecia meio anestesiada, perdida demais no sistema solar dos olhos de Yerim. Perguntava-se se seus lábios eram doces como amoras ou se a envenenariam como as orquídeas, e só havia um jeito de descobrir isso…

A descoberta, porém, ficaria para outro dia. Com o primeiro sinal de trovoada, Hyunjin saltou no lugar, encolhendo-se de vergonha após ouvir as risadas altas da florista.

Ela escondia seu rosto por entre os joelhos, mas começava a rir também de sua reação quando ouviu Yerim dizer:

“Você parece um gatinho quanto tá assustada.”

“Por que você me compara tanto com gatinhos? Esse vai ser o meu próximo apelido?”, perguntou ainda meio tímida de como havia-se comportado, mas aliviava a tensão rindo.

“Bem que você gostaria, né?” Yerim a estendeu a mão para ajudá-la a levantar. “Vou pensar no seu caso.”

Mais uma vez em pé, toda sua atenção foi obrigada a se voltar para a chuva pesada do lado de fora, que batia sem dó contra as paredes de vidro da estufa. Felizmente, o vidro temperado e grosso, além da estrutura firme, pareciam aguentar bem a tempestade repentina e irônica daquele dia.

“Nós... realmente estamos presas aqui?”, Hyunjin perguntava observando o vento forte que sacudia os galhos de árvore lá fora.

“Pelo visto…” Yerim parecia tão hipnotizada pelo cataclisma do mundo exterior quanto ela. Após um suspiro meio sôfrego, ela recomendou: “Vamos regar as plantas pra ver se o tempo melhora até terminarmos.”

Pegaram os regadores e se separaram silenciosamente, cada uma cuidando de uma metade da estufa e apreciando o barulho da chuva contra o teto; a princípio, era um som meio amedrontador, estressante por vir de todos os lados, mas com a segurança do ambiente que as protegia, acabou se tornando uma agradável sinfonia da natureza.

“Sabe…”, Hyunjin começou. “Aquele bilhete de ontem, o do buquê, era meio tosquinho também.”

Yerim riu: “É, acho que eu realmente gosto de coisas meio toscas…”

Acabou que, quando elas acabaram, a tempestade sequer dava indícios de estar acalmando-se. Tiveram que debater um pouco sobre o que fariam em seguida: nenhuma das duas queria encarar a chuva lá fora, mas igualmente não queriam ter que ficar esperando por muito tempo a chuva parar, poderia ser que durasse muito tempo; e se Jihyun ficasse preocupada?

Sentaram-se um pouco no chão da estufa, conversaram, testaram o sinal do celular várias vezes, e, em nenhuma delas, ele funcionava, deitaram um pouco, observaram o céu em silêncio... abraçaram-se, e só assim parecia que a ansiedade de Hyunjin de ir embora dali havia-se dissipado completamente. Foi só quando a bateria do celular da morena acabou e o da florista ameaçava ter o mesmo destino, após cerca de uma hora e meia no local, que elas decidiram que talvez não tivessem outra escolha.

Deram as mãos antes de abrir a porta da estufa e foram recepcionadas com um choque térmico que as fizeram arrepiar-se imediatamente. Hyunjin sentiu que não tinha muita escolha senão pôr a mão na frente do rosto para conseguir abrir os olhos, sentindo o vento jogar seu cabelo para longe violentamente; Yerim tinha o guarda-chuva em mãos, mas soube na hora que abri-lo seria uma péssima ideia.

Deu sua mochila para Hyunjin, que a abraçava firmemente com um braço enquanto protegia seu rosto com o outro, e correu para levantar sua bicicleta suja de lama. Tiveram de observar bem seus passos morro abaixo, sentindo todo tipo de terra entrando em seus sapatos, mas não deixavam isso atrapalhar os passos, na medida do possível, acelerados.

Quando, enfim, chegaram em caminhos cimentados, procuraram algum lugar onde a chuva não alcançasse para poder respirar sem água em seus pulmões. Yerim ria alto depois de recuperar o fôlego, e Hyunjin apenas olhava para a rua ainda sem acreditar direito no dilúvio que presenciava com as mãos em seu rosto. Desviando seu olhar para a risada abafada da florista, ela também desabou em gargalhadas.

“Meus sapatos tão nojentos…”, Hyunjin enfim disse com a voz meio abafada pelo som da chuva depois de se recuperar.

“Tira e bota na chuva”, Yerim recomendou e insistiu depois de botar um olhar indignado na outra garota: “É sério! A minha bicicleta tá limpinha, não tá?”

Acabou que ela seguiu o que lhe foi dito e, tirando o desconforto de ter de calçar aqueles sapatos gelados, teve de dar razão à Yerim: a sugestão deu certo.

Abraçou-lhe a cintura depois que decidiram seguir o caminho de bicicleta. A chuva estava bem mais calma, agora ela acariciava a face tranquila de Hyunjin, que descansava o rosto sobre o ombro de Yerim. Aquele havia sido um dia bom.

Yerim a deixou na casa de sua avó e perguntou se Hyunjin tinha a chave, a morena não sabia exatamente se havia sido uma mentira quando ela falou que possuía. Antes de partir para a floricultura mais uma vez e terminar de ajudar nos serviços da loja, a florista se despediu quando viu a outra garota prestes a entrar na casa:

“Até mais, amuletinho tosco.”

Quando Hyunjin acordou na manhã seguinte, ela mal sentia coragem de mexer seu pescoço pelo travesseiro. Sua musculatura dolorida acompanhava a dor na sua garganta proveniente de ter dormido respirando pela boca, já que seu nariz estava completamente obstruído. Acabou lembrando-se do susto que sua avó tomou quando chegou no fim de tarde rotineiro e a encontrou largada em cima do sofá, espirrando com um rolo de papel higiênico.

Hyunjin se sentia um pouco mal por ter preocupado sua avó na noite anterior, mas a sopa e o colo que recebera para que ela se recuperasse melhor foram valiosos demais. Jihyun também havia sido bondosa demais ao deixá-la descansar aquele dia em casa, então foi meio hesitante que Hyunjin procurou o relógio na parede para ver que horas eram, porque ela não queria sentir que havia abusado da gentileza de sua avó e dormido até tarde.

Meio assustada, acabou lendo que eram 13:45h, o que a fez jogar a coberta ao chão e tatear, com certa dor, o chão com os pés, procurando pelo seu chinelo. Pondo o casaco sobre os ombros com certa pressa, Hyunjin deu um gritinho quando saiu do quarto de hóspedes e deu de cara com uma Yerim prestes a bater à porta.

“Você realmente parece um gatinho quando tá assustada”, a florista riu enquanto se abaixava para acariciar as costas da garota, que se encolhia de vergonha com o ato inconsciente — mais uma vez.

Hyunjin sentia que havia acordado para sempre. Choramingando, ela perguntou meio irritada: “O que você tá fazendo aqui?”

“Jihyun pediu pra eu vir aqui dar uma olhada em como você tava e te ajudar a fazer o café, já que ela imaginou que você dormiria até mais tarde”, Yerim explicou, ajudando-a a levantar-se.

“Café às duas da tarde?” Hyunjin sentia sua cabeça começar a dar voltas, meio tonta com todas as emoções vividas naquele curto período de tempo em que estava acordada.

Yerim, em um ato que causou mais confusão ainda na cabeça da morena, pôs a mão na testa dela e a olhou com um semblante repentinamente sério.

“Bem que eu suspeitei que você tava meio febril.”

“O que é isso?” Hyunjin bateu na sua mão para tirá-la de si.

“Tô checando sua temperatura, você tá meio doida.”

“Eu não tô te entendendo, você que é a doida aqui.”

Quando saíram de seu quarto para descer à cozinha, Hyunjin parou um pouco e espremeu seus olhos, incomodada com a quantidade de luz que havia no primeiro andar.

“Ao menos não sou eu quem tá dizendo que são duas da tarde.” Yerim passou pela morena e fechou alguma das cortinas da sala ao perceber o mal estar da outra garota, mas deixando luz o suficiente para alimentar bem as plantas internas.

“... Que horas são?” Já meio cansada da discussão, e de estar acordada num geral, Hyunjin se jogou no sofá mais uma vez, abraçando forte uma das almofadas contra seu peito.

“Nove e doze da manhã, amuletinho.”, Yerim informou-lhe ao olhar para o relógio de pulso, e Hyunjin se sentiu meio idiota, mas respondeu apenas com um grunhido abafado contra outra almofada.

Apesar de alguns barulhos na cozinha terem incomodado a dor de cabeça da garota doente, a manhã correu tranquilamente: Yerim fez suco de laranja e a cozinhou ovos mexidos para acompanhar a torrada antes de mandá-la comer uma fruta para ficar forte. Tiveram que discutir um pouco porque Hyunjin insistia que não gostava de fruta, mas a florista rebatia que ela havia acabado de tomar um suco; no fim, a morena aceitou uma banana que a florista amassou e misturou com canela.

Aquela, porém, foi a única parte do dia com algo que as remetesse a uma discussão, até mesmo porque a febre de Hyunjin só aumentava e a deixou muito fraca.

Era cerca de uma e meia da tarde (dessa vez, de fato quase duas horas) quando Hyunjin enfim saía de um banho que Yerim teve de insistir muito para a morena tomar, principalmente quando ela dava ênfase ao detalhe de que ele tinha que ser morno para uma garota que tremia de frio, mas tudo deu certo quando a florista a recompensou com um chá de hortelã e um colo para deitar no sofá. Devidamente confortável com o cobertor que Yerim pegou em seu quarto, Hyunjin falou com um tom fraco, meio manhoso, tomada mais uma vez pelo sono:

“Minha avó não precisa da sua ajuda na floricultura?” E Yerim acariciou seus cabelos com um certo sorriso doce em seu rosto.

“Ela tem tudo sob controle, falta finalizar alguns arranjos porque fizeram uma encomenda pra uma festa de quinze anos, mas nada muito demais. Aí combinamos que, quando ela acabar, ela me ligaria e eu levaria os arranjos hoje pro lugar da festa.” Fez uma pausa, basicamente sentindo Hyunjin ronronar sob seu toque. A pele quente em seus dedos a preocupava, mas sabia que a febre estava indo embora, mesmo que aos poucos. “Não se preocupe, você não tá atrapalhando… Na verdade, tô feliz de poder estar aqui.”

Yerim, na verdade, não tinha certeza se Hyunjin havia ouvido a última parte de sua fala, mas não pôde deixar de sentir seu rosto esquentar ao relembrar de suas próprias palavras, mordendo seus lábios para tentar esvaziar um pouco o próprio nervosismo, mas sorriu de novo quando percebeu que a garota em seu colo dormia. Decidiu pegar um pequeno livro que sempre deixava em sua mochila e o leu até que ela também acabasse por sentir o peso de suas pálpebras; cochilou sentada.

Ao acordar, quase uma hora e meia depois, Yerim assustou-se ao ver que estava deitada no sofá, quentinha com o cobertor que Hyunjin usava, mas sem nenhum sinal da outra garota. Levantou-se meio assustada e rodou um pouco pela sala; viu seu livro sobre a mesinha do lado, devidamente fechado, mas até as sandálias da neta de Jihyun não estavam mais lá. Subiu as escadas com certa pressa, entrou no quarto de visitas e não a achou lá, sentindo a preocupação crescer dentro de si.

Bateu na porta do banheiro, mas não recebeu nenhum sinal, então decidiu entrar de qualquer forma, temendo o pensamento de que ela pudesse ter tido um mal ali dentro e caído; felizmente, a porta estava aberta, mas infelizmente ela não estava lá.

Yerim sentiu seu coração acalmar-se somente quando entrou no quarto de Jihyun e encontrou Hyunjin na cama da matriarca, com a coberto em seu colo e um caderninho nas suas mãos.

“Hm? Você tá bem, Yerim?”, Hyunjin perguntou meio preocupada quando a viu basicamente desmontar-se ao sentir a preocupação sair de seus ombros.

“Eu tava te procurando”, a florista riu, possivelmente de nervoso, e entrou no quarto, ajeitando-se na cama ao lado da morena.

“Ah, eu acordei me sentindo melhorzinha e fiquei com vontade de desenhar”, respondeu enquanto mostrava o seu sketchbook para a florista, nele havia um rascunho do que elas viam: um cantinho do quarto mobiliado e um trabalho meio rudimentar de luz e sombra para captar os raios solares que entravam pela persiana semi-aberta, a única diferença sendo um gato, que não estava ali, deitado em cima da estante de madeira escura. Yerim sorriu grande para o caderno, sentindo-se apaixonar-se pela visão de mundo de Hyunjin, mesmo que aquilo fosse somente um rascunho.

“Quem é esse daqui?” Ela apontou para a figura felina.

“É o Simba… Fiquei com saudades dele, aí resolvi trazer ele pra cá”, Hyunjin respondeu e pareceu que ia ficar quieta, mas, um pouco depois, continuou: “Ou pelo menos pra uma versão alternativa daqui.”

“Você, a cada dia que passa, me surpreende mais, sabia, Amuletinho?” E deitou sua cabeça no ombro da morena.

Ficaram quietas daquela vez, deixando a atmosfera confortável do meio da tarde absorvê-las completamente. Ameaçava chover mais tarde, as nuvens encontrando-se, unindo-se, combinadas para cobrir o céu azul para terem sua chance de protagonismo, “mas…”, Hyunjin pensou “parecia sempre ser Sol com o brilho de Yerim.

Essa, por sua vez, alcançava sua mão mais uma vez conforme seus pensamentos passavam ser mais protagonizados pela florista de cabelos tão radiantes e carismáticos quanto seu jeito de existir. Quando sentiu-a acariciar as costas de sua mão com o polegar, os dedos já entrelaçados e as mãos apertadas, Hyunjin levantou seu rosto para olhá-la e teve seu gesto retribuído. Acabou travando por um segundo ao perceber que teve o privilégio de, mais uma vez, presenciar o universo singular na íris de Yerim, mas não houve hesitação no ato.

Hyunjin sentiu os dedos cálidos da florista viajarem pelo seu pescoço até chegarem à sua nuca, um certo arrepio subiu em si com a combinação de sensações das unhas de Yerim acariciando seus cabelos sutilmente e seus lábios finalmente oferecendo-lhe o sabor que possuíam. A sensação de ter a boca de Yerim para si fez seu corpo sentir um calor subindo, esquentando-a de dentro para fora; envergonhou-se das palmas suadas, mas não pensou duas vezes antes de tomar a cintura da florista.

Com o peito meio acelerado, Hyunjin se odiou um pouco mais quando separou-se do beijo bruscamente, precisou de alguns segundos para tomar um pouco de fôlego antes de explicar:

“Eu não quero te deixar doente.” E Yerim riu com o susto passado.

“Eu não me importaria de adoecer contigo.”

A morena hesitou, não querendo ser culpada por um possível mal estar na florista, mas, quando ela lambeu os lábios, ainda sorridente, Hyunjin puxou seu beijo mais uma vez para si.

Agora, menos afobadas, mais deleitosas com o momento; aproveitavam o sabor da outra tão lentamente quanto o vento lá fora, pouco se importando se o que viria a seguir seria uma tempestade.

Igualmente devagar foi o afastamento delas, sempre voltando com alguns selinhos nos lábios alheios pela falta de vontade de se separar, mas o celular de Yerim tocava, e ela sabia do que se tratava. Com um último vislumbre dentro do olhar uma da outra, a florista se levantou.

“Oi, Jihyun!”, ela dizia animada, mas com um sorriso travesso em seus lábios que demonstravam um tipo de animação diferente. “Sim, já tô indo aí então, ok? Não se force muito.” E ela desligou.

Yerim correu para a cama, calçando seus calçados ao lado dela e aproveitando para um último beijo em Hyunjin.

“A gente se vê depois, certo?”, mais assegurou do que perguntou e assim partiu.

O resto da noite foi mais tranquila, não tão cheia de emoções como a parte do dia, mas não menos aproveitável: sua avó havia chegado no meio da volta da chuva, então Hyunjin a apressou para tomar um banho quente e secar-se devidamente para não adoecer também, aí fez duas canecas grandes de chocolate quente para acompanhá-las na maratona de programas de humor na TV e ficaram dividindo aquela coberta felpuda no sofá da sala até que desse a hora de sua avó dormir.

Hyunjin, já em seu quarto, não conseguia parar de sorrir para o teto, eventualmente tentando morder seus próprios lábios para prender o riso bobo que escorria de si, mas sentir sua boca sempre a fazia lembrar da sensação de ter os lábios cor-de-cereja de Yerim contra os seus, o que a fazia dar alguns gritinhos felizes contra o travesseiro. Com muito custo pela animação, Hyunjin dormiu.

Também com muito custo que Hyunjin acordou na manhã seguinte, cerca de 7:30 da manhã, mas só conseguiu esse feito com muita ajuda — ou reclamações, dependendo do ponto de vista — de sua avó, que abria as cortinas, tirava o travesseiro da cara de sua neta, atirava-a almofadas para chamá-la e muitos, mas muitos “Vamos, meu amor! Levanta!”

Hyunjin ainda sentia dor em todo o seu corpo, a sinusite havia-a pegado com força, e a jovem sabia que ela provavelmente ainda teria esse mal-estar por mais uns bons dias, mas ela foi capaz de esquecer um pouco essa sensação de peso sobre seus ombros quando, depois de sair um banho renovador, sentiu o cheiro de café coado na cozinha. Jihyun certificou-se de que sua neta teve um café reforçado e a estendeu alguns biscoitos levinhos para botar na mochila.

O céu estava aberto e até mais azul do que no dia que Hyunjin chegou; dando o braço para sua avó, elas caminharam de volta para a rodoviária.

De certa forma, Hyunjin ficou feliz pela primeira vez por estar doente, assim sua avó não a veria arrancando todos os pedaços de pele morta de sua boca possível sob sua máscara higiênica. Ela sentia a ansiedade crescendo em si no ritmo dos tic-tacs do relógio central da rodoviária, com medo de que seu ônibus chegasse antes de Yerim, que havia prometido, usando sua avó de intermediária, que iria despedir-se dela na rodoviária.

“Acho que a Yerim acabou ficando resfriada também”, Jihyun suspirou, quase como se sentisse as frustrações de sua neta. “Ela começou a tossir sem parar na floricultura ontem desde que chegou de manhã, achei que fosse uma alergia, sabe? Sempre sobe pólen depois que chove, aí ela costumava ficar com a garganta meio ruim, mas acho que ela deve tá dormindo até agora pra se recuperar.”

Uma florista alérgica a pólen, Hyunjin até começou a rir com a ironia, mas acabou sentindo-se meio mal com as chances de ela ter piorado o quadro de saúde da garota de cabelos roxos. A pior parte é que fazia muito sentido a teoria de sua avó, pois a própria Hyunjin sentia muito mais sono que o normal desde que ficara doente; meio frustrada, a morena deitou a cabeça no ombro de sua avó, já aceitando que não se despediria da florista.

Com uma garrafinha d’água que sua avó havia comprado de última hora para acompanhá-la na viagem, Hyunjin despediu-se com um abraço bem apertado na matriarca, prometendo que voltaria mais vezes sim e balançando a cabeça para todos os pedidos que Jihyun fazia para ela, sempre nas linhas de “Mande um beijo pra família”, “Avisa pra sua irmã que eu vou pro aniversário dela”, “Se cuida!”, “Tenta descansar na viagem, mas tome cuidado, certo?

Quando ela estava prestes a subir no ônibus, porém, Hyunjin revirou com certa emergência sua mochila até alcançar seu sketchbook, e sua avó a olhava meio sem saber como reagir quando ela arrancou uma página do caderno e a entregou.

“É um presente pra Yerim, fala pra ela que eu vou visitar vocês sempre que possível e que é pra ela cuidar muito bem de ti, ok?”

Então Hyunjin embarcou, deixando sua avó com o desenho de um gato gorducho com duas presilhas de cerejas em seu pelo e um sorriso bobo nos lábios.

Já no ônibus, foi só na metade da viagem que a jovem teve o estalo em sua mente: ela não possuía o número da florista. O desespero a fez levantar a cabeça rapidamente, assustando o passageiro ao seu lado; meio envergonha, Hyunjin pediu desculpas pela reação e encolheu-se em seu assento mais uma vez.

Certo”, ela pensava. “quando eu chegar em casa, eu ligo pra minha avó e peço o número dela.

Batia certa ansiedade sempre que ela pensava sobre isso, não sabendo direito como perguntar para sua avó esse detalhe. Então todas as vezes que ela conversava com Jihyun por celular, Hyunjin hesitava, travava e desistia, mas a ela sempre prometia para si mesma que, da próxima vez, ela pediria o número de sua… amiga?

Foi só umas duas semanas depois que havia voltado para casa, entretanto, que Hyunjin conseguiu o número da florista de cabelo tão radiante quanto o próprio sorriso.

A morena estava largada na cama de sua caçula, acompanhada dela enquanto fazia uma vídeo-chamada com Heejin após ajudá-la com os deveres de casa. As três riam alto de alguma coisa que Haseul não sabia exatamente o que era quando entrou, mas olhou com certo deleite as três tão animadas em uma noite de plena terça-feira. Elas se calaram ao notar a presença da mais velha no quarto junta de uma caixa de papelão em seus braços.

“É pra você, Hyunjin”, Haseul explicou enquanto passava a encomenda para sua filha. “Não conte pra sua avó, prometi guardar segredo, mas parece que é de uma amiga que você fez enquanto esteve na casa dela. Yerim, o nome?”

Hyunjin congelou, não sabendo exatamente como responder sua mãe depois de ouvir o nome da florista. Sentiu sua cabeça ficar meio leve, era como se o mundo lúdico houvesse-se chocado com o mundo real ao ouvir Yerim ser pronunciado mais uma vez.

Ainda meio impactada, Hyunjin abriu rapidamente a caixa depois de ter jogado o seu celular nas mãos de Yeojin com suas palmas meio trêmulas. Lá dentro, um pote de barro decorado possuía uma sacola de terra e sementes, que mais tarde Hyunjin viu serem de camélias, em seu interior, mas o que mais chamava sua atenção era um pedaço de papel dobrado em três; ele lia antes de seu número de celular:

Espero que não tenha esquecido de mim, gatinha.

Muito obrigada pelos melhores dias que eu possa me lembrar e pelo gatinho-cereja, eu guardei ambos com muito carinho e os levarei para toda minha vida comigo, mas, infelizmente, apenas o gatinho eu pude emoldurar na parede do meu quarto. Em troca, estou te mandando essas flores para que você possa cultivá-las assim como cultivou sua presença em meu peito.

P.S.: Sim, eu sei que ficou muito tosco.


Notas Finais


• docs de explicação do au — https://bit.ly/3cw8Bnj

e esse foi o fim do nosso começo.

muito obrigada a todos que leram até aqui, foi muito diferente e emocionante essa experiência até então inédita pra mim! eu pretendia botar o arquivo do docs que explicava melhor o au aqui, mas eu e a @Ellkie esquecemos de terminar ele DASIUDASA então vai ficar pra próxima, sinto muito. mas quem sabe qualquer dia desses eu não jogo o link na tl? principalmente considerando que esse é só o início da nossa jornada do AU.

mais uma vez: muito obrigada.

• caso se interessem em interagir comigo:
https://curiouscat.me/akaiyoru


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