Lisboa, Algures em 1997
Espreguicei o meu pequeno corpo na cama dos meus papais, afinal, dormir enrolada a eles era algo tão bom. Inspirei o cheiro deles, apertando mais as suas costas, quando senti o colchão se mexer mais, mas eu não queria abrir os meus olhos.
- Mila. – a voz de minha mãe, entrou pelos meus ouvidos, e eu esfreguei meus olhos sem vontade. – Acorda minha pequena. – ela tocou minhas costas, e eu a encarei.
- Porque mãe?
- Lembras-te que dia é hoje? – ela se aproximou do grande espelho que existia no quarto, junto do closet. – Hoje vamos acolher o novo menino cá em casa.
Respirei fundo, evitando que a minha respiração se voltasse para o bufar mesmo. Havia semanas que meus pais não falavam de outra coisa, do novo menino que vinha viver debaixo do nosso teto. Eu já não aguentava ouvir sempre a mesma coisa, sempre as mesmas conversas, sempre eles falando bem dele. Eu que sou vossa filha, não esse pirralho.
- Porque ele tem que vir justo para aqui? – ergui meu corpo da cama, cruzando meus braços.
- Mila. – minha mãe se colocou ao meu lado, mexendo em meu cabelo. – Já falamos disso meu amor. Seu pai, como responsável pelos meninos que veem jogar nas camadas jovens do Sporting, se voluntariou para acolher ele. – ela se voltou a levantar, e eu a segui com o olhar. – Então, vamos ser simpáticas?
Revirei meus olhos, retirando o lençol de cima do meu corpo, e saltando da cama para o chão.
- Tem que ser né? – minha mãe sorriu, mexendo a cabeça. – Como ele se chama mesmo?
- Cristiano. – ela abriu a porta do closet, entrando nele. – Cristiano Ronaldo.
…
Espalhei minhas bonecas pelo chão da sala, enquanto a televisão estava com o som elevado, deixando o local um pouco mais acolhedor. Comecei as minhas brincadeiras, aquelas que me faziam sorrir todos os dias, quando a porta se abriu, e meu pai entrou em casa.
- papai. – me levantei, jogando-me em seus braços e sendo erguida em seu colo, recebendo um beijo estalado em meu rosto. – Vamos brincar hoje?
- Pai não pode mila. – ele pousou meu corpo no chão, e eu fiz biquinho com os lábios. – Eu tenho que ajudar o Cristiano nos deveres.
- Sempre ele. – emburrei minha face, cruzando meus braços em meu peito. – Tu agora nunca tens tempo para mim, é tudo esse menino, tudo ele. Desde que ele veio para nossa casa, tu esqueceste que sou tua filha.
- Para com os dramas Mila. – ele começou a se irritar, e eu bufei. – És uma criança, e o Cristiano está a treinar para ser um grande jogador. Tens que ter paciencia minha filha.
- E eu sou tua filha, e devias me ajudar a ser grande também.
- Ai Mila. – ele respirou fundo. – Depois ainda hás de me dar razão. E ainda será uma amiga enorme do Cristiano vais ver.
- Nunca. – chutei uma boneca que estava no chão. – Eu odeio esse menino.
Subi apressadamente as escadas, indo até ao meu quarto e fechando a porta. Podia ser drama meu, talvez até fosse mesmo, mas aquele menino, metido a jogador de futebol famoso, conseguia irritar, e estava conseguindo transformar os meus dias em algo extremamente irritante. Meus pais só viviam para ele, e isso me enervava. Eu sou uma criança, eu sei, mas eu é que sou filha deles, não aquele menino.
Duas batidas na porta, antes dela se abrir, fizeram eu virar o meu pequeno corpo em direção á mesma.
- Mila! – ele mais o seu sotaque horrível.
- Que queres?
- Podes-me emprestar uma caneta?
- Para que?
- Para eu fazer os deveres.
- Não. – respondi secamente, me sentando na cama. – Você não tem? Meus pais não encheram-te de prendas? Usa as tuas. E sai do meu quarto!
Ele baixou a cabeça, saindo em seguida, e fechando a porta. Ah como eu te odeio Cristiano Ronaldo!!
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