História Sentimentos Hipócritas - Declaração

  A tarde estava fria nos fundos da escola, o sol se escondia atrás das nuvens claras bem acima da copa das árvores, formando um reflexo perfeito de como eu queria estar agora, escondida, atrás de qualquer coisa que pudesse disfarçar a vergonha que sentia enquanto Ethan lia na minha frente a carta que entreguei.
  Ele ergueu os olhos e me encarou por um momento, momento em que forcei o sorriso menos natural da minha vida, gerando mais um motivo para querer me enfiar no buraco mais próximo.
  Os dedos compridos e finos dele dobraram cuidadosamente o pedaço de papel e o colocaram no bolso, uma leve brisa silenciosa bagunçou seus cabelos pretos, briguei com os meus olhos para que parassem de encarar os dele, escuros e sem expressão, que eu achava tão bonitos.
  - Me desculpe... - Ele falou de repente, me assustando no momento pelo que viria a seguir em sua frase - Você realmente pode dizer que me ama, assim como está escrito na carta?
  A pergunta me confundiu, minha boca recusou-se a pronunciar qualquer coisa pela vergonha, torcendo para não avermelhar meu rosto na frente dele, ele olhou para o chão em um pequeno suspiro antes de voltar a me encarar.
  - O que você quer não é me amar, é ser amada por mim. Andar de mãos dadas para que não se sinta sozinha voltando para casa, companhia sempre que se sentir triste, abraços confortáveis sempre que precisar de conforto, apenas me escolheu porque você achou que eu era o mais adequado para isso.
  - Não! Eu...
  Meu cérebro congelou, as palavras dele não doíam, apenas distorciam o que eu queria dizer e me prendiam em um redemoinho em que eu não conseguia responder.
  - Nós mal nos conhecemos, me desculpe, não posso satisfazer seus sentimentos.
  Os passos dele ecoaram secos no chão, não havia piedade nos olhos dele, apenas um sentimento de culpa, como se não quisesse ter feito aquilo, ele passou por mim para ir embora sem esperar que eu fosse dizer mais algo.
  - Eu vou fazer você gostar de mim! - Ele parou e virou o corpo para me encarar, parte de mim queria me encolher e ficar quieta, e a outra queria correr na direção dele - Bem aqui, nesse mesmo lugar, você vai dizer que me ama também.
  Senti o sangue subindo até meu rosto mais rápido do que nunca, eu estava a ponto de explodir de vergonha até que ele riu baixinho, como se não quisesse que eu ouvisse, os olhos dele brilharam com o reflexo do sol que começava a aparecer novamente, um sorriso tímido surgiu nos lábios finos dele, sumindo logo em seguida, como se não quisesse ser visto.
  - Eu não sou sentimental, não gosto que fiquem grudados em mim e nem que tomem decisões no meu lugar, tudo bem para você mesmo assim?
  Os olhos dele me hipnotizavam tanto quanto as suas palavras, quando menos percebi eu apenas acenei com a cabeça um tímido "sim".
  - Apenas me avise quando decidir que não era isto que queria, não pense que do dia para a noite vamos ser próximos, isso pode demorar mais do que o seu suposto "amor" pode aguentar.
  Ele virou-se novamente e foi embora, me deixando para trás apenas tentando entender o que aconteceu com a minha declaração e se isso realmente contava como um início de namoro, eu não sei.