História Sentimentos, Temperos e Livros - Capítulo 2

 

— Você gosta desse tipo de livro? — perguntou com um sorriso. Nunca imaginaria Sasuke como um leitor de romance.

— Foi indicação. — Desviou o olhar.

— Isso é coisa do Kakashi — Tenten comentou.

— O garçom?

— É. Ele é um ávido leitor... — Ela deu sorriso torto.

— Que legal! — Sakura exclamou. — Eu conheço a autora.

— Quê? — Sasuke a encarou. — Conhece mesmo?

— Sim, ela é minha melhor amiga. Estamos morando juntas.

— Não acredito. — Ele deu um inesperado sorriso. — Eu amo... Digo, gosto muito dos livros dela. Sabe se ela está trabalhando no próximo?

— Está sim. Ela passa o dia todo enfurnada no quarto.

— Você... podia nos apresentar.

— Creio que ela jamais aceitaria. Ela gosta de se manter anônima.

— Eu sei. Mas eu queria tanto conhecê-la. — Ele franziu o cenho de repente. — Já leu as obras dela?

— Não. Ela não me deixa. Sei que são romances e tal, mas ela é mesmo muito tímida e reservada.

Tenten e ele trocaram um olhar que Sakura não entendeu muito bem.

— Se ela quiser comer aqui, avise que eu garanto uma reserva. Ela pode escolher qualquer data, qualquer horário — o Uchiha falou. — Diga que ela pode comer o que quiser, tudo por minha conta.

— Você é mesmo um fã. — Sakura sorriu.

— O maior fã — Tenten debochou e recebeu um olhar mortal dele.

— Eu vou falar com ela, senhor.

— Pare com isso. Aqui somos todos como uma família. Apenas Sasuke basta. Ou Uchiha, se preferir. Chamo todos pelo sobrenome, exceto o dobe.

— Quem?

— É assim que ele chama o chefe — Tenten explicou. — O esquentadinho do Naruto.

— Ah, sim.

— Seu café, milorde — zombou. — Amargo como só você é capaz de gostar. — Fez uma careta.

— Obrigado, Mitsashi. O que temos para comer?

— Kiba fez uma massa de queijo para fritarmos.

— Eu frito. — Sakura ofereceu.

— Vou aceitar. — Ele acenou com a cabeça.

Kakashi e Shikamaru voltaram juntos, cheirando a cigarro.

— Não entrem aqui assim — Tenten resmungou, cobrindo o nariz. — Vão impregnar minha cozinha.

— Nossa cozinha. — Shikamaru piscou. — E não seja exagerada.

— Estão fedendo à fumaça. — Sasuke fez uma careta.

— Ainda não terminou o livro? — Kakashi perguntou ao vê-lo sob o colo de Sasuke.

— Estou relendo.

— Ora, vejo que gostou mesmo. — Deu um sorriso sacana.

— Não enche.

— Aqui, Sasuke. — Sakura trouxe um prato com os biscoitinhos fritos.

— Kiba disse que é uma receita brasileira. Eu adorei — Tenten comentou.

— Vou comer na minha sala. Obrigado, garotas. Pense no que eu disse, Sakura.

— Vou ver o que posso fazer. — Sorriu.

— Vocês estão se pegando? — Kakashi perguntou quando o moreno sumiu.

— O quê? Não! — Sakura guinchou.

— Ela conhece a Miss Hime — Tenten falou com um sorrisinho.

— Mentira! Jura?

— É minha amiga — ela explicou.

— Pois diga-lhe que ela superou meu outro autor favorito. Depois que a conheci, Jiraiya perdeu a graça.

— Jiraiya... não conheço. Mas fico feliz em saber que curte minha amiga. Vou falar com ela.

— E se ela quiser liberar o manuscrito do terceiro livro, diga que quero ser o primeiro. — Deu um sorriso largo.

— Tudo bem.

— Kakashi, estamos quase voltando. Arrume esse uniforme — Ino chegou ralhando. — Passei numa loja de sapatos. Olha isso, Tenten. — Jogou a sacola para a morena.

— Uau! Isso é digno de uma festa. Vai a algum lugar, safada?

— Quero estreá-lo numa boate no domingo. Beber até cair. — Riu. — Quem vai me acompanhar?

— Eu tô dentro. — Tenten bateu palminhas.

— Já que folgamos na segunda, não vejo motivos para não ir — Shikamaru falou. — Isso é, querem ir sozinhas ou posso acompanhá-las?

— O convite é aberto a todos. Isso inclui você, Sakura.

— Ah, não sei. Não sou muito de sair para beber, nem para dançar...

— Deixa de ser chata e vem com a gente. — Tenten a sacudiu.

— Vamos marcar de irmos todos. Leva sua amiga. — Kakashi sorriu de lado.

— Hinata nunca iria.

— Hum, então esse o nome dela...

— Não espalha! — ela gritou, percebendo o que havia dito. — Sério, Kakashi, Hina me odiaria.

— Será nosso segredinho.

— Obrigada.

— Ela indo ou não — Ino retomou —, quero todos lá comigo.

— Vai chamar os reis? — Shikamaru perguntou com deboche.

— Por que não? Eles merecem se divertir também.

— Reis? — Sakura franziu o cenho.

— Sasuke e Naruto. Shikamaru os chama assim. — Ino virou os olhos.

— Fora da cozinha, o Naruto é menos mala — o moreno resmungou.

— Ah, nisso eu concordo — Tenten murmurou.

— De volta ao trabalho, pessoal. — Ino olhou o relógio. Os demais funcionários adentraram o restaurante. Naruto voltou falando ao telefone.

— Certo. Será um prazer, obrigado — disse, encerrando a ligação. — Fui convidado para uma entrevista com a Dona Chiyo —anunciou a todos.

— Uau, isso é fantástico! — Tenten aplaudiu. Os outros elogiaram também.

— Eu adoro o programa dela — Sakura comentou. — Isso vai ser ótimo para sua carreira como chefe.

— Eu sei. — Ele sorriu. — Vai ser no mês que vem, numa quarta-feira. Isso quer dizer que vão ter que cuidar de tudo sem mim. Gaara, você ficará no comando. Posso contar com vocês?

— Hai! — responderam em uníssono.

— Preciso falar com o teme. Volto num instante — o loiro avisou, saindo da cozinha.

— Como esses dois se tornaram sócios? — Sakura perguntou para Kiba, enquanto começava a picar legumes.

— Eles são amigos desde a infância. Na verdade, os pais deles eram grandes amigos. Então, eles acabaram se tornando inseparáveis também.

— Ah, sim. É que eles são tão… diferentes.

— Sasuke é mais mental, enquanto Naruto é… braçal. Eles se completam, por isso esse restaurante deu tão certo.

— O Naruto sempre foi tão arrogante?

— Ele é bem metido, isso é fato. Mas ele piorou muito depois que a noiva dele o chifrou há uns três meses. Desde então, ele está bem mais azedo.

— Minha nossa, que… triste.

Sakura pensou na figura loira; ele parecia sempre animado e feliz, por mais arrogante e mandão que fosse. Ninguém poderia imaginar que, por trás do sorriso determinado e do timbre exigente, havia um coração quebrado.

— Ele era fissurado na Shion. Sempre trazia ela aqui para mostrar como estava tudo indo às mil maravilhas. Infelizmente, ela acabou saindo com um cara do trabalho. Aí, já sabe. As coisas vieram à tona e ele quase enlouqueceu — Kiba comentou de forma pesarosa.

— Verdades sejam ditas. Naruto é muito gostoso, mas é um porre. Eu não vivi o relacionamento deles, mas a culpa nunca é só de uma pessoa — Tenten se intrometeu. — Agora, se eu fosse vocês, mudava de assunto, pois já chegou o disco voador. — Ela apontou com os olhos para o loiro que voltava.

O resto do expediente foi bem corrido, mas Sakura estava realmente gostando daquele lugar. Fora os pequenos chiliques do chefe, o pessoal era muito amigável e o ambiente era acolhedor.

Às vinte e duas horas e alguns poucos minutos, ela já estava se despedindo de todos e indo para casa. “Será que eu devo falar com a Hina sobre os fãs? Talvez fosse legal fazer uma surpresa…” Sorriu pensativa. Ia convidá-la para a boate no domingo à noite e comentar sobre a possível reserva no Rasengan’s, sem dar muita informação sobre Sasuke. Talvez ele fosse a chave para ela ser mais confiante e aproveitar a fama de ser uma escritora de sucesso.

Hinata teve um dia relativamente produtivo no que se refere ao seu novo livro. Estava bem avançada com a história, mas teve um pequeno bloqueio criativo numa cena sobre amor. Bufando, decidiu que precisava de uma pausa. Assustou-se com Sakura chegando e só então viu as horas.

— Acho que eu literalmente entrei na minha história. Acabo de perceber que não comi nada desde o almoço — resmungou para a amiga.

— Isso é uma indireta? — Riu. — Eu faço alguma coisinha para você. Omelete?

— Seria perfeito!

— E como vai sua história?

— Ia bem, mas acabei travando numa cena de reconciliação. Preciso passar amor no beijo do casal, mas sinto que estou sendo… superficial demais.

— Pensei que romance fosse sua especialidade.

— Não é tão simples.

— Se acalma. Sei que vai conseguir. Aliás, já que estamos aqui, deixa eu te fazer um convite para o domingo. Você, eu e o pessoal do restaurante numa boate. Topa?

— Sabe que eu não fico à vontade.

— Ah, Hina, nem eu. Mas a gente podia tentar algo diferente.

— Vou pensar — murmurou enquanto a outra batia os ovos num prato e picava várias coisas para rechear a omelete.

— Nesse tempo que está aqui em Tóquio, você só fica presa em casa?

— Gosto de ir à livrarias e cafeterias. São tranquilas. A biblioteca daqui é enorme.

— É bem a sua cara. — Sorriu. — Mas nem posso te julgar. A única coisa que me interessa por aqui são os restaurantes e feiras de comida. Eu tenho que parar de pensar só nisso. — Fungou uma risada.

— Talvez devêssemos realmente experimentar coisas novas. Há muitos parques, museus, templos… Tanta coisa para se fazer nessa cidade.

— Vamos nos programar para sairmos dessa rotina. A começar pelo domingo. Não ouse recusar.

— Tudo bem. — Suspirou.

— Ah, e sobre aquela reserva… Conversei com o pessoal e você pode ir quando quiser. Eles vão abrir uma exceção só para você.

— Sério? Não brinca!

— Foi o próprio Uchiha quem me disse. Eles são bem legais com os funcionários, sabe? — desconversou.

— Que legal.

— Sasuke Uchiha é um cara na dele, mas bem gentil. O outro sócio, Naruto Uzumaki, é meio aparecido, metido e convencido.

— Nossa. — Franziu o cenho.

— Ah, é que ele é muito… chato. É o chefe do Rasengan’s, principal cozinheiro. Um mandão. Seria lindo se não fosse tão irritante.

— Lindo, é?

— Nunca vi tanto cara gato num lugar só, amiga. Naruto é… sei lá. Ele parece ter um corpo muito sexy. Cabelo loiro, olhos azuis de dar inveja e tem um sorriso perfeito. Sério, um galã! Pena que é um porre. Sasuke é aquele cara mais sério, com um charme natural. Bem bonito e educado. Tem o Kiba, que é uma gracinha de pessoa. Shikamaru é bem atraente, mas é fumante, então… — Fez uma careta. — O mesmo vale para o Kakashi, um garçom bonitão. Ah, e tem o subchefe, Gaara. É um cara na dele, mas pensa num ruivo gato com um ar misterioso.

— Só tem homens lá?

— Não. Há outras garotas. Ino, a gerente loira super linda e simpática. Tenten, a cozinheira animada e divertida. Tem uma garçonete, irmã de Gaara, o nome dela é Temari. Ainda não falei muito com ela. Tem o Lee, da limpeza, que é um cara alegre… E tem o Sai, garçom de poucas palavras. Ah, como me esqueci do Chouji?! Um cozinheiro simpático de sorriso fácil.

— Parecem legais — Hinata disse com um sorriso gentil.

— E são mesmo. Vai conhecê-los no domingo. Agora, vamos comer que você deve estar faminta.

Sakura colocou a omelete pronta em frente à amiga e se sentou também. Hinata lambeu os lábios e atacou o prato, contente.

— Nossa, Saky, isso tá uma delícia — murmurou após a primeira garfada, arrancando um sorriso da outra.

Após o pequeno jantar, Sakura foi tomar banho, exausta. A água quente a fez suspirar, relaxando os músculos.

Quando foi se deitar, notou uma notificação no celular. Pegou o aparelho e viu uma mensagem de um número desconhecido. Ao abrir a foto de perfil, avistou o loiro sem camisa. “Eu sabia que era um gostoso.” Deu um sorriso sapeca. Naruto tinha uma barriga trincada, um corpo sarado e levemente bronzeado.

Sacudiu a cabeça, concentrando-se na mensagem:

Peguei seu número com o teme. Nos registros... Enfim, nós temos uma tradição com os cozinheiros novatos. Amanhã, quero que me apresente um prato surpreendente. O que quiser. Digo, não importa se não for culinária japonesa, desde que seja a sua melhor receita. Te vejo amanhã, Haruno.

“Me avisando em cima da hora! O que eu vou fazer? Droga”, pensou irritada. Salvou o número dele como Chefe Mandão.

Pegou no sono, imaginando que receita faria, cansada demais para se decidir.