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História Seventeen - Cap. 9


Escrita por: LadyZoe

Notas do Autor


BOA LEITURA!

Capítulo 9 - Cap. 9


Quando Frank acordou no outro dia, ele coçou os olhos e sorriu, olhando no teto uma foto de Joe Ramone e lhe dando bom dia. Sentou-se para levantar e soltou uma leve careta para o vazio, saindo ligeiro da cama. 

Quis reclamar com um palavrão, mas não faria isso. Doía em certas partes, mas doía porque ele tinha tido Gerard dentro de si e isso era ótimo. Não ia reclamar disso, afinal, iria passar. E tinha valido tanto a pena, pensava. 

Arrumou-se calmamente, pois ainda era cedo e vestiu-se da mesma maneira de sempre, trocando só a cor dos elásticos do aparelho de amarelo para vermelho – idéia do Gerard – e saiu do quarto, descendo aos saltos as escadas. 

Ele saltou um pouco mais desastradamente o último degrau, quando viu o rapaz que se virava para ele, óculos escuros e um sorriso daqueles. Gerard estava ali, na sala, em pé em frente à pequena lareira onde jaziam fotos da família Iero.

“Adoro vê-las.” Havia dito a Frank uns dias antes. 

Frank correu até ele e o abraçou forte, sendo retribuído de bom grado. Linda, que saía da cozinha eufórica para falar com Gerard, parou para ver a cena e sorriu bobamente, entrando novamente no local de onde saíra. 

Depois de um tempo de carinho, os dois se separaram com um rápido beijo e Gerard deixou Frank ir tomar o seu café – o que ele fez rápido – e foram para a escola juntos.

Gerard comentou com Frank que sonhara com ele na noite anterior e Frank sorriu feliz, mas não comentou que sonhava com Gerard quase todos os dias. Ao parar em um sinal, se beijaram longamente, ouvindo as buzinas infames os despertar para o mundo insensível onde eles viviam.

Quando o carro dobrou a esquina, Frank pediu para que Gerard parasse um pouco antes da escola para ele descer e eles entrarem separados, pois ainda era cedo e provavelmente os alunos os veriam juntos e ele queria se despedir de forma mais calorosa, mas Gerard não lhe deu ouvidos.

Ao atravessarem a grande avenida, todos os alunos que estavam do lado de fora viram os dois cruzarem a entrada da escola no carro de Gerard, que sorria abertamente para todos. 

Os olhares não podiam ser mais espantados, principalmente quando, ao descer, Gerard fez questão de abrir a porta para Frank e oferecê-lo a mão para que ele saísse. 

Frank estava tão confuso e vermelho que Gerard pensou que ele fosse ter um ataque de nervos, então o jogador segurou forte a sua mão em um aperto e sorriu brandamente para ele.

“Hoje eles saberão que você é meu.” 

Entraram de mãos dadas na escola, atravessando o corredor, onde todos abriam caminho para os dois passarem. Matt olhava de seu armário com Jared completamente surpresos, acenando para Frank, que lhes deu um sorrisinho nervoso. 

Ray, que estava no saguão com o seu típico grupo, parecia que estava vendo um fantasma ao encarar o amigo com Iero. Lindsey quebrou um lápis que segurava quando os viu. 

As pessoas faziam questão de falar alto sobre eles juntos e quando, finalmente, os dois chegaram ao fim do corredor que dava para a sala de aula, Gerard puxou Frank para perto e lhe beijou na frente de todos, causando um alvoroço de respirações. 


“O que diabos foi aquilo?” Lindsey dizia, completamente enraivecida. Puxava com força seus longos fios negros enquanto pisava forte. “Você sabia disso, Ray?”

“Não.” Mentiu Toro, tão enraivecido quanto. 

“É ridículo. Aquele garoto com ele, aquele Felipe...”

“Frank.” Ray corrigiu, se arrependendo depois que viu a expressão da moça. “E sim, é ridículo.”

“O Gerard parecia bem feliz.” Jeph disse naturalmente, recebendo tapas dos colegas. “Qual é, eu estou mentindo?”

Não, não estava. Todos viram, todos sabiam. Não precisavam de uma arara repetidora apenas. Mas diferente de todos, ele era o único que não achava ruim, pois não ligava.

E Jeph também era o único que não queria fazer nada a respeito. E era o único que não pensava em coisas más. 

Jeph era o único que não imaginava uma forma de se livrar de Frank.

No intervalo, Gerard, Frank, Matt e Jared sentaram-se juntos pela primeira vez numa das mesas do refeitório. Claro, chamando a atenção de todos da escola por isso.

“Você viu a cara daquela Lindsey? Eu pensei que ela ia parir um menino de três quilos!” Matt disse, fazendo Frank rir engraçado, o que fez todos os outros rirem também. 

De longe, Ray e seu grupo olhavam enojados para a cena. Parecia o clube do terror com um integrante gatinho – palavra de uma das líderes, que foi mandada a ‘vazar’ por Lynz. 

Frank no começo ficou meio (extremamente) envergonhado por estar se expondo daquela maneira, mas logo deu de ombros. E daí que falavam que ele estava com Gerard? Era um sonho e ele queria mais era que todos soubessem o quanto ele estava feliz. 

Gerard parecia estar completamente à vontade com a situação. Nunca havia se entregado de corpo e alma a nada e começava a pensar que, com Frank, isso valia completamente à pena.

Os dois agora faziam questão de andar juntos o tempo todo. O grupo de Gerard estava cada vez mais longe de sua lista de prioridades e ele começava a fazer tudo de uma maneira mais justa consigo mesmo. 

Ia melhor nos treinos, na escola – Frank sempre o obrigava a estudar, mesmo que ele só quisesse beijá-lo e tocá-lo – e ia bem melhor por dentro. Mal parava em casa, os pais ele só via por rotina obrigatória e tinha certeza que eles o viam da mesma maneira, mas isso já não parecia afetá-lo como afetava antes.

As temporadas de jogos passavam rápidas, assim como o ano letivo e os garotos mal sentiram que o tempo os empurrava para o fim da etapa escolar. 

Ray chamou Quinn, Jeph, Troy, e alguns outros garotos do time para conversar. Tinha algumas idéias e precisava colocá-las em prática o quanto antes.

“Ray, você não acha que está exagerando?” Quinn perguntou o que todos pensavam. “Tipo, é só que o Gerard está namorando, o carinha lá é feio e esquisito, mas é o Gerard cara...” 

“Quinn.” Ray disse, impassível. “Quem era Frank Iero até uns meses atrás?”

“Sei lá... o mascote do time?” Quinn disse e os outros apenas prestavam atenção aonde Ray queria chegar.

“Isso. E agora ele é o mais popular da escola só porque está com o Gerard. Que você acha que vai acontecer com você, comigo e com todos nós se não terminarmos este ano sendo do grupo do Gerard?” 

Troy, que estava calado por muito tempo – e que não era muito de falar realmente – esgueirou-se e passou a mão pela jaqueta do time de futebol que vestia, pigarreando como se para chamar a atenção de todos. 

“Eu não vou passar em branco no meu último ano de escola.” Ele disse. “O Gerard tem que largar este moleque.”

Jeph não falava nada, apenas escutava atentamente os garotos cochicharem. Mas não estava gostando nada daquilo.

Era claro que havia preconceito, eles não estavam num mundo perfeito. Mas havia uma diferença entre as pessoas que tinham preconceitos. Aquelas que vêem o alvo como minoria e como fracos, geralmente irão ser rudes e tentar alguma coisa de ruim para com eles. 

O outro tipo, os preconceituosos encubados, eram aqueles que viam sim, algo errado em alguém ser gay – no caso Gerard e Frank – mas acima da figura homossexual que eles representavam, eles viam a importância de Gerard na escola, como um garoto que sempre foi símbolo de algo maior. 

Era como comparar um gay comum com Elton John, em uma teoria de Frank. Elton John – Sir – é inegavelmente um ícone da música dos Estados Unidos e todos, héteros, gays, homofóbicos, o admiravam pela sua música, pelo seu talento e não por sua opção sexual.

“Você está me comparando com Sir Elton John, Frankie? Acho que estou mais em forma do que ele.” Gerard afirmou, rindo, enquanto caminhava com o ele pelos corredores da escola. 

“Não bem isso...” Frank disse. “É tipo, como ele, o fato de você ser importante abstém o de ser gay, entende? É um falso moralismo, do tipo porque você é bom, ser gay não chega a ser um defeito.”

“Eu entendi.” Gerard falou, acarinhando a mão do pequeno e o encaminhando até a saída. “Mas você nunca foi alvo de brincadeiras homofóbicas também.” 

“Isso porque ninguém sabia que eu era gay, achavam que eu era apenas um perdedor.” Adicionou, chamando a atenção de Gerard, que franziu o cenho. “Se eu fosse um gay assumido sozinho por essa escola, eu não teria sobrevivido ao secundário. Não sei como cheguei, sendo eu quem sou, à High School.”

Gerard parecia pensar sobre isso. Mordiscou o lábio e meneou a cabeça várias vezes, como se realmente quisesse acreditar no que Frank dizia.

“Você está me dizendo que só não sofre preconceito porque anda comigo?” Perguntou, parando um pouco perto da porta e virando para Frank.

“Basicamente.” Respondeu o outro. “Gerard você não sabe como é. Eu passei toda a minha vida escolar sendo enxotado pelos alunos por eu ser baixo ou por usar óculos e aparelho ou pelo simples fato de que eu era um bom aluno. E desde que passei a andar com você, tudo mudou. Aposto que você nunca passou por nada desse tipo, e tudo bem, é só sobre você não saber sobre.” 

Gerard assentiu, passando o braço em volta dos ombros de Frank e saindo com ele da escola, indo em direção ao carro. Ele ainda pensava sobre o assunto e isso o estava incomodando.

Era estúpido para ele pensar que uma pessoa como Frank havia passado por tanta coisa na escola só por ser diferente. Gerard nunca soube como era ser diferente, pois para ele ser como ele era, era algo absolutamente normal. 

Imaginou-se no lugar de Frank, sendo ignorado pela maioria das pessoas. Lembrou-se que ele mesmo não falava com o garoto antes do incidente com a bombinha de asma e sentiu-se culpado. 

Não era como se Gerard não se importasse com o mundo à sua volta antes. Ele apenas ignorava os fatos que realmente faziam sentido ou importância, como a diferença de Frank para com ele ou o que garotos como Frank passavam na escola.

Às vezes, ele adicionou, quando alguém fazia um comentário sobre alguém, mesmo que fosse um comentário mesquinho, Gerard lembrou-se que ria, meneando as mãos. Mas pensando sobre, ele viu como havia sido insensato.

A maior parte das pessoas pensa que não há nada de errado em rir de alguém, mas esquecem-se de que quem é alvo de risadas jamais vai esquecer isso, vai ser marcado pelo resto da vida pela sátira que era feita de si.

Frank notou que Gerard estava estranho e acarinhou seu torso por cima da camisa pólo que vestia por debaixo da jaqueta do time e, quando chegaram perto do carro, ele se encostou na porta e puxou Gerard para perto.

“Você está incomodado com algo?” Perguntou baixinho, deslizando os dedos pelas vertigens da camisa um tanto amassada.

“Sim.” Gerard afirmou. Parou um bocado para olhar nos olhos de Frank e continuou: “Eu era parte disso. Sabe, de tudo o que te aconteceu ou do que acontece com pessoas como você. Eu nem via, Frankie. Eu nem notava você. Eu não sabia da sua existência como a pessoa que você é. Parecia que eu vivia em uma bolha e que só olhava o que estava em torno do meu nariz. Isso soa tão idiota.” Completou, dando um suspiro de chateação. 

Frank deu um meio sorriso e falou baixinho, quase como uma confissão. “Não é assim, meu bem, nunca foi. Cada um é cada um e você não é diferente de ninguém, só é uma pessoa a qual inspira outras. Eu me peguei tantas vezes imaginando como seria ser alguém como você e sonhando com isso. E ao mesmo tempo eu... eu pensava que só o fato de você existir fazia sentido e fazia tudo ficar melhor.”

“Eu jamais culpei você pelo que acontecia comigo. Você não via, certo, mas não via porque não podia ver, não era de seu alcance. A bolha a qual você se referiu não era a da indiferença, mas a da personalidade. Eu também tinha ou tenho essa bolha, e dela eu via o meu melhor amigo me abraçando e dizendo que eu era especial, mesmo que eu não fosse, e assim eu podia me sentir bem por ser quem eu era. A sua bolha lhe dizia que você fazia parte desse mundo e que você não fazia nada de mal para piorá-lo. Você apenas pensava que era um meio termo. Que não era tão especial como realmente é. As coisas simplesmente acontecem ao nosso redor, Gerard, independente de nosso querer. Mas tudo bem, porque isso faz parte da vida. Mas agora você faz parte da minha vida e eu me sinto muito bem com isso. E o passado parece que nunca existiu.”

O rosto de Gerard estava molhado, algumas lágrimas caindo de seus olhos verdes, que estavam mais claros do que o normal. Ele entendia. Ele conseguia ver claramente em sua mente o que foi dito por Frank e ele sentia-se tão bem, tão renovado por isso que não pôde evitar a emoção.

Os dedinhos de Frank passavam pelo rosto dele, enxugando as suas dores e seu coração sorriu feliz. Era uma dádiva estar apaixonado e uma alegria sem sobrenomes. 

“Obrigado.” Gerard agradeceu com um sorriso terno e deu um selinho em Frank, que apenas sorriu também. Eles se olharam por um tempo e Gerard levou algo em consideração, franzindo a sobrancelha. “Fran...”

“Sim?” 

“Não sei se a hora ou... se eu preciso perguntar, é formal e tudo, nem sei se ainda fazem isso, é que eu tenho que saber se...”

“Se...?” 

“Você quer namorar comigo?” 

Frank entreabriu os seus olhos um tanto e seu coração deu um disparo, chegando a causar-lhe uma dor fina. Ele tentou falar algo, balbuciou alguma coisa que nem ele nem o outro entenderam e Gerard notou.

“Se não é a hora eu vou entender.” Disse Gerard um tanto preocupado.

“Claro que eu aceito!” Frank praticamente se jogou nos braços de Gerard, enchendo-o de beijos e o apertando da forma que podia. “Deus, eu aceito, eu aceito, eu aceito, eu aceito... Eu esperei por esse dia por tanto tempo!” 

Gerard apenas retribuiu, abraçando-o com força e sabendo que só precisava do carinho do seu pequeno garoto, que lhe proporcionava essa felicidade que faltava em sua vida.

“É hoje que vamos ao boliche de novo?” 

“Não.” 

“Hm, parque de diversões?

“Não.”

“Cabana? É para lá que vamos?”

“Passou longe...” 

“Gerard!” Frank gemeu, encostando o lado do rosto no ombro de Gerard, que dirigia calmamente, atento à rua. 

“É uma surpresa, não fique eufórico.” Falou, dando um meio sorriso e Frank ergueu as sobrancelhas, meneando as mãos. Tirou os óculos e limpou as lentes com um lenço que tirou do porta-luvas do carro de Gerard. 

Eles ainda se demoraram dentro do automóvel e Gerard fez uma parada em um posto de gasolina para abastecer e comprar algumas coisas na loja de conveniências. 

Frank ficou atento aos seus movimentos, ao que Gerard abriu a carteira e tirou algumas notas graúdas para pagar tanto o combustível quanto o monte de doces que decidiu comprar. Ele sabia que o jogador era rico, mas vê-lo cheio de dinheiro ainda o impressionava.

“Cinqüenta dólares e setenta cents em balas e chocolates?” Frank disse em tom de incredulidade, entrando no carro e colocando o cinto. “Com cinqüenta dólares dá pra fazer tanta coisa...” 

“Inclusive comprar balas e chocolates.” Gerard adicionou, erguendo o dedo indicador para Frank, que balançou a cabeça. 

Eles voltaram à pista e depois de alguns minutos, e Gerard parou em frente a uma casa a qual Frank pensou ser de algum órgão público. Era incrivelmente grande, pintada de creme e branco e com janelas em tons de vidro carmim e vinho, aleatoriamente. 

Havia algumas colunas que pareciam segurar os alicerces superiores da residência e uma parte de gesso que decrescia do teto, imitando uma cortina. Chegava a ser escultural de tão perfeita.

Ele jamais havia visto o local e estava em uma rua dos bairros ‘nobres’ da cidade, parte a qual raramente freqüentava e quando o fazia era para ir a algum consultório médico ou para atravessar a fronteira da cidade com os pais e viajar para a casa de algum tio.

Quando pisaram dentro do local e antes de Frank falar alguma coisa, Gerard começou.

“Home, bitter home” Disse, encostando a mão nas costas de Frank, que se assustou um pouco. “Bem vindo à minha casa.”

“Sua casa? Meu Deus, isso aqui é sua casa?” Perguntou Frank, praticamente saltando do lugar onde estava.

“Bem, eu acho que sim, já que eu moro nela.” Gerard brincou, empurrando-o para que ele andasse.

Frank olhou para os lados várias vezes, um tanto nervoso e cheio de expectativas. Gerard o havia convidado para a sua casa e isso para ele era, adicionalmente, a prova de que eles tinham algo sério e que realmente eram um casal. 

“Poxa Gerard, você podia ter me avisado. Eu tinha me arrumado...” Falou com um tanto de vergonha ao observar como a casa era bonita.

“Deixe de ser bobo.” Disse Gerard, arrastando Frank até as escadas. 

Tudo parecia bem planejado; localização dos móveis, alguns quadros nas paredes grossas e pintadas com tintas em tons claros e esculturas que pareciam de artistas famosos. 

“Ei, espere, seus pais estão aqui?” Frank perguntou, parando no segundo degrau.

“Sem chance.” Gerard falou. “Eles nunca estão em casa e eu agradeço a qualquer entidade superior por isso. Você não iria querer conhecê-los.” 

Frank deu de ombros e continuou a subir, mesmo que ele realmente quisesse conhecer os pais do namorado.

Namorado. Na-mo-ra-do. Frank riu baixinho, repetindo isso várias vezes. Ele ainda não acreditava muito que ele e Gerard estavam juntos e às vezes ficava fingindo que dormia no carro do jogador só para ele lhe cutucar e ele ter certeza de que tudo era verdade.

Mas era verdade e ele apenas estava elétrico por estar na casa de seu príncipe, que morava, de fato, em um palácio e tinha todos os atributos que deixavam Frank encantado.

Gerard o abraçou no meio do corredor que dava acesso aos quartos e o encaminhou ao seu, sorrindo meio bobo e deixando Frank entrar depois de um beijo dado em frente à porta ainda fechada.

O pequeno quando viu o quarto, na verdade ficou bem mais surpreso do que com a magnitude da casa; o lugar era cheio de perfeições e nada nele parecia com a imagem que ele construíra de Gerard nas últimas semanas. 

Havia uma grande cama com edredons azuis e um amontoado de travesseiros; acima, uma estante de troféus e várias outras contendo as mesmas coisas. 

Vários carrinhos de corrida estavam sobrepostos no armário próximo a um computador e havia um telefone perto de um amontoado de livros de capa grossa de couro vermelho, que Frank sabia ser uma das melhores coleções de dicionário de línguas. 

Não que Frank estivesse decepcionado com o quarto dele, ele só sabia que não era bem assim que Gerard gostava de decoração, pressupondo isso devido à decoração que ele fez na cabana onde passava boa parte de seu tempo. 

“Bonito.” Disse, virando-se para o namorado e sorrindo. 

“Só bonito?” Gerard perguntou, sentando-se sobre a cama e batendo as mãos sobre as coxas, chamando Frank para perto. Ele foi andando devagarzinho e sentou-se de lado nas pernas do namorado.

“Você sabe que tudo aqui é lindo.” Adicionou Frank, olhando para os próprios pés.

Gerard deslizou os dedos pelos seus cabelos e beijou seu rosto, dando leves selinhos pelo local e deixando Frank com um rubor no rosto que ele achava lindo. Ficaram calados por um tempo até Frank começar a falar:

“É diferente do que eu pensei que fosse.” Disse. “Pensei que ia ver as paredes pintadas por todos os lados e fotos dos seus amigos, muitos quadros feitos por você e todo esse tipo de coisa.” 

Gerard respirou fundo e acarinhou as costas de Frank, ao que ouviu um pequeno suspiro, indicando que ele estava gostando.

“Meus pais não apóiam minha arte.” 

“Que insensatez.” Frank disse, virando mais um pouco no colo de Gerard. Olhou-o como se perguntasse se era um incomodo e apenas recebeu um sorriso dele, então ele continuou. “Sabe, porque você tem toda a chance de ser um artista, tem dinheiro e talento e bem, querer você quer.

“Você é muito ingênuo, Fran.” O jogador falou. “Nós vivemos num mundo onde não se pode ter tudo. É uma fantasia boba. Nem todos os sonhos podem se realizar.” 

“Eu acredito que possam, Gerard.” Frank disse com certeza. “Acredito que as coisas possam acontecer, e prefiro ser um bobo sonhador a um infeliz sensato.” Falou firme, mas de uma maneira doce. “Sonhos podem sim se tornar realidade. Você é o meu sonho. O que tem de irreal nisso?”

As palavras saindo de forma tão sensível fez Gerard quase ter que dominar toda a paixão que tinha no peito pelo garoto em seu colo. Todas as coisas que podia entender, que aconteciam quando Frank estava por perto era a mais avassaladora forma de amar que se pode sentir. 

E a certeza de que tudo o que ouvia era verdade o fazia sentir a pessoa mais realizada do mundo, mesmo que na maior parte do tempo não fosse. Ele sentia-se bem, pelo menos quando Frank estava por perto, e no fim das contas era o que bastava.

Ele ergueu Frank no colo – e percebeu como ele era magrinho – e o deitou na cama, fazendo seu corpo quicar no colchão macio quando suas costas bateram contra ele. Subiu em cima do corpinho dele e ergueu as sobrancelhas, fazendo Frank sorrir e abraçar sua cintura.

Frank não tinha idéia, mas Gerard pensava naquele momento que ele era sim, a pessoa mais boba do universo, mas não por sonhar. Ele não era bobo por acreditar nas impossibilidades. 

Frank era bobo por não saber que, ao contrario do afirmado por ele mesmo, na verdade ele que era o sonho de alguém. O sonho de Gerard. 

“Estou na casa do Gerard.” Frank disse para Matt ao telefone, enquanto estava deitado sobre o corpo do namorado.

“Oooooooohhhhh!" Fez Matt ao telefone, fazendo Frank cutucar Gerard e ele assentir. “A cama dele é grande?"

“Bastante.”

“Vocês fizeram sacanagem, né? Que sem vergonha Frankie! Mas me conte os detalhes, sim? Gerard é bom mesmo ou você se decepcionou desta vez? Estou meio entediado e acabou Friends.”

“Fizemos muita sacanagem.” Frank respondeu, rindo baixo. 

“Ah meu Deus, como vocês são sem vergonhas. Sabia que sexo antes do casamento é inferno na certa? Se bem que o Gerard né? Hm, ele é muito gato.”

“Aliás, Matt.” Frank falou, contendo um riso. “O telefone está no viva-voz.”

“Oi Matt.” Gerard cumprimentou, rindo um tanto.

“Oh, puta merda.” Matt disse, soltando uma risada sem graça. Houve uma pausa onde apenas a risada de Frank podia ser, vez ou outra, ouvida. “Oi Gerard. Como está?”

“Bem. E respondendo a sua pergunta, eu sou muito bom. E estou neste exato momento deitado completamente nu com Frank sobre o meu corpo e oh, céus, Frankie, pare com isso... oh Frankie!” Mentiu Gerard, enquanto Frank escondia a risada em um travesseiro

“Ai que nojo!” Matt gemeu antes de desligar o telefone, fazendo Frank finalmente poder rir. 

Os dois se olharam por um tempo, até Gerard começar uma série de cócegas pela barriga de Frank, causando barulhos engraçados pelo quarto. Eles só pararam quando, em um momento, Gerard segurou Frank firmemente e o beijou de forma apaixonada.

Separaram-se quando, de repente, a porta se escancarou e a mãe de Gerard entrou apressada, esbarrando na jaqueta do filho jogada no chão. 

Ela olhou para os dois na cama e em um leve franzido de sobrancelha demonstrou a dama que era. Sem reações, sem começar um falatório sobre o que era seu filho deitado com outro rapaz.

Enquanto os dois sentaram na cama – Gerard bastante sério e Frank pairando ao infarto – ela falou:

“Não nos veremos no jantar e...” Parou. Olhou para Frank, que abaixou o olhar e o ergueu novamente. Ela estava analisando-o dos sapatos às barras da camisa social branca que vestia. “...não se esqueça de sair com seu coleguinha discretamente. Olhe para os dois lados da rua se os vizinhos não estão olhando e também...Não quero que ninguém veja o tipo de pessoa que você anda trazendo para casa.”

E saiu do quarto, sem bater a porta, sem escândalos, sem um boa noite. Saiu sem esperar uma reação do filho.

“Eu não acredito que ela falou isso, que ela fez isso!” 

Gerard não acreditava na vergonha que estava sentindo. Em como a mãe pôde ser tão mesquinha e cruel com Frank. Não quis pensar na humilhação a qual Frank sofreu. 

Levantou-se da cama e já ia sair do quarto, quando Frank segurou-o pelo pulso, em pé em sua frente e o abraçou. 

“Não faça isso!” Sussurrou com o rosto colado ao peito dele. “Não vale a pena...”

“O que você está dizendo?” Gerard gritou. “Do que você está falando? Claro que eu vou fazer isso, Frankie! Ela não tinha a droga do direito de... de te olhar de cima com aquele nariz empinado!”

“Sim, ela tem. É a casa dela, o filho dela.” Disse Frank, olhando para Gerard. “Não vale a pena...” Repetiu, o segurando ainda mais firme.

“Claro que vale a pena! Vale pra caralho, Frankie! Você vale à pena, droga!” 

Separou-se de Frank em um empurrão, fazendo Frank bater contra a porta e virou-se de costas para ele, deslizando os dedos pelos cabelos escuros.

Frank ficou olhando para ele por um tempo e, ignorando o empurrão e o grito que recebeu, relevando-os,aproximou-se um tanto. Abraçou a cintura de Gerard e encostou a testa em suas costas para poder dizer:

“Fique calmo, por favor... Não quero você assim. Não preciso da aprovação dela, não preciso que ela me aceite. Eu só preciso que você me aprove, que me aceite.” Suspirou pesadamente e soltou-se do enlace. “Não importa, Gerard, nada disso importou. A única coisa que importa é você, dá pra entender isso?"

Ele ficou encarando as costas do namorado por algum tempo, esperando alguma reação ou resposta. Mas ele não respondeu nada, apenas soluçou baixo e então Frank o ouviu chorar.

O pequeno ficou em frente a ele e segurou seus pulsos, o olhando quase com preocupação ao que Gerard balbuciou.

“Importou para mim, Frank, mais do que tudo.” Disse, recebendo um olhar penoso de seu namorado. “Preciso que ela me aceite, que me aprove. Preciso para me sentir amado como um filho. Preciso me sentir amado de alguma forma...”

Frank mordeu o lábio. Sabia que Gerard não tinha uma boa relação com os pais, mas não imaginava que fosse assim. A carência que Gerard demonstrava, o sofrimento plausível em seu rosto pálido partiu seu coração.

Ele ficou de ponta de pés e colou a sua boca a do namorado, o encarando bem de perto. Quis passar naquela pequena demonstração de afeto que realmente se importava com ele, que estava ali. Que nada podia atingi-los se estivessem juntos.

“Eu te amo.” Falou, segurando o rosto de Gerard com as duas mãos. “Eu amo você, Gerard.”

Gerard deixou Frank em frente a sua casa e deu voltas e mais voltas por Jersey, sem realmente querer ir a lugar nenhum. Geralmente, quando estava triste, ele ficava sozinho e pensava um pouco sobre a vida, zanzando de um lado para o outro ou simplesmente ficando trancado em seu quarto.

Desde que conheceu Frank ele nunca mais havia se sentido tão mal. Parecia que um grande piano havia caído sobre a sua testa e lhe deixado zonzo. Era uma sensação que só pessoas que não se sentem queridas podem sentir por aqueles que amam. 

Ele não compreendia como os seus pais podiam ser tão ruins. Ele não havia feito nada de errado para eles o tratarem com tanto desrespeito e principalmente para chegarem a ignorá-lo como sempre faziam ou envergonhá-lo, como sua mãe fez quando tratou Frank mal. 

“Eu não pedi para nascer.” Gerard repetia sempre que seu coração dizia que ele tinha alguma culpa. Culpa por ser carente demais, por ser cobrado demais – de si mesmo e dos outros – por ser gay, por querer ser um pintor e não um empresário como os pais queriam.

Mas que tipo de pessoa ele seria se sentisse culpa por ser quem ele era? Era inadmissível para ele pensar assim sem depois fazer um monólogo sobre todas as suas qualidades incríveis e em como ele não era uma vergonha como os pais provavelmente achavam que ele era.

Ele entrou pela porta de sua casa um tempo depois de estacionar o carro na garagem – onde ficou por minutos apenas olhando para o nada – e antes que tivesse a chance de subir as escadas, sua mãe o chamou da sala de estar.

Foi andando a passos finos e a encontrou sentada na ponta do grande sofá branco, seu rosto em um vazio sem fim. 

“Sente-se, Gerard.”

Ele sentou-se na poltrona que ficava em frente a ela e não falou uma palavra, pois sabia quem era a sua mãe.

Donna Way não gostava de interrupções. Não gostava de ser contrariada ou quando Gerard expunha sua opinião correta, provando que a sua estava errada. Ela dizia para o marido que tinha um filho mal criado sempre que podia e Donald sempre a ignorava.

Mas uma coisa não se podia falar dela: que ela era uma fraca. Donna tinha o poder de impor algo a alguém apenas com o seu olhar frio. Gerard pensava que apenas assim ela mantinha o casamento com o seu pai, já que eles dois nem demonstravam sentir mais nada um pelo outro. Na verdade, para Gerard, eles não pareciam sentir nada em absoluto.

Então quando ela pigarreou e cruzou as pernas, Gerard soube que ela começaria a falar.

“Cadê aquele menino?” Perguntou, pousando as mãos sobre as coxas.

“Na casa dele. Fui deixá-lo agora a pouco.”

Donna assentiu e pigarreou, pegando um cigarro de dentro de uma carteira de couro, acendendo-o rapidamente devido à prática.

“Foi para isso que eu te criei, Gerard?” 

“Como assim?” Ele perguntou, não querendo perder o rumo da conversa. 

“O que deu em sua cabeça para trazer aquele tipo de gente para a minha casa?” Encarou-o e bateu o bastão branco que tinha em mãos num cinzeiro, fazendo pequenas faíscas sucumbirem pelo ar.

“Tipo de gente? O que tinha de errado com o Frank? Olha, eu sei que o problema é eu ser gay, mas você não precisa falar assim dele, ele é uma pessoa incrível e...”

“Arthur.” Ela o interrompeu, fazendo-o bufar. Ele odiava ser chamado pelo seu segundo nome. “Eu não quero saber das qualidades introspectivas daquele... daquela pessoa. E não me venha com seu moralismo de sempre. Eu já sabia que você era gay, é meio óbvio.”

O filho calou-se. Gerard não esperava realmente que ela dissesse isso, pois ele não sabia que ela sabia. E ele não pensava que fosse tão óbvio ao ponto das pessoas notarem sua sexualidade.

“Então por que...”

“Gerard, você precisa de óculos? Não, porque se precisar eu faço questão de comprar. Ou melhor, por que você não pede os óculos daquele moleque e dá uma olhada nele? Pelo amor de Deus, eu esperava mais até de você.”

Gerard deu uma risada irônica. 

“Quer dizer que o problema não é ter um filho viado, é por que o Frank não está nos seus padrões? Que merda é essa?”

“Olha o respeito, Gerard Arthur.” Ponderou a mãe, antes de dar outra tragada no cigarro. “Você se acha muito esperto, esperto demais. Mas é tão burro como uma tábua. Aquele menino, aquele pobretão...não porque pela sola gasta do sapato vagabundo que ele usava, ele só pode ser mesmo um desses quaisquer que conseguem bolsa de estudos! Enfim, ele só quer o seu dinheiro, filho. Ascensão social!”

“Mentira! Não fale do que não sabe, você está ficando louca!” 

Ele levantou-se indignado da poltrona e quando se virou para sair da sala, sua mãe segurou seu braço com força e o fez encará-la.

“Não me dê às costas.” Disse mais baixo do que seu tom de voz normal. “Eu te conheço, Gerard. Você ainda vai ter muitas surpresas com esse namoro estúpido que você arrumou. E o fato dele ser estúpido só demonstra o que você é.” 

“Você está errada, mamãe.” Gerard disse antes de soltar seu braço. “Você não me conhece. Nunca conheceu e nunca vai conhecer. Você só conhece as suas jóias e suas porcarias cheias de valor. Não me admira que seja uma infeliz que não reconhece a felicidade dos outros.”

Um barulho alto ecoou na sala quando o rosto de Gerard foi atingido. Donna ainda estava com a mão erguida quando ele virou o rosto avermelhado, a marca dos dedos dela bastantes visíveis em seu rosto branco. 

Donna ia dizer alguma coisa a mais quando Gerard colocou a mão sobre o rosto e sorriu em escárnio.

“Não pense que ainda pode me atingir, mãe. Não pense que ainda pode me ferir. É bastante pretensão sua depois de anos machucando meu coração.” 

E ele saiu andando para seu quarto, sem lágrimas, sem remorsos, sem sentimento algum no coração fechado.

Matt estava deitado de bruços sobre a cama de Frank, que estava ao seu lado. A cama era estreita, mas como eles eram magrinhos demais, o espaço era mais do que suficiente.

Era sábado e fazia tempo que eles não ficavam juntos. Os namorados estavam tomando seus tempos e o colégio não estava diferente. O fim do ano letivo muito próximo estava deixando os dois loucos.

Ambos haviam escolhido a faculdade de Jersey para estudar, mesmo assim estavam conversando sobre proximidade. Haviam pensado sobre isso muito antes, mas a certa altura chegaram a ficar realmente preocupados.

“Frank.” Matt começou. “Você acha que vamos ser amigos para sempre?” 

“Eu não acho.” Frank disse. “Eu tenho certeza. Mas por que está perguntando?” 

“Ah, sei lá...” Falou o outro. “A gente anda meio distante. Seja pelo Jay ou o Gerard ou a escola. Depois vem a faculdade, e aí? Eu só tenho medo de perder você...” 

“Ow...” Frank miou, fazendo Matt rolar os olhos e se sentar na cama. “Você não vai me perder. Sou seu amigo, seu irmão de catapora, lembra? Lembra disso?”

“Que ridículo você ainda lembrar disso...” Matt disse, rindo, quando Frank lhe abraçou as costas. “Não teve graça você me passar catapora, só dizendo.”

“Teve sim.” Respondeu o pequeno, enquanto arrumava o aparelho. “Ficamos uma semana em casa jogando Doom.” 

“É verdade.” Matt falou quase nostálgico. Virou para Frank e sorriu um bocado, segurando a sua mão pequena. “Eu nunca vou deixar você.” 

“Nunca.” Repetiu Frank, abraçando o amigo com força. 

Eles se separaram quando decidiram se deitar novamente e conversar sobre qualquer besteira, sempre cutucando um ao outro, perguntando coisas banais e fazendo piadinhas sobre os seus próprios defeitos.

“Olha...a ponta do pôster do Maiden descolou.” Comentou Matt, dando uma olhada indiscreta para Frank.

“Eu sei, eu sei...” Frank disse com um pouco de embaraço, indo ajeitar com pressa.

Matt apenas riu e coçou os olhos, pensando consigo mesmo que ele sabia por que o pôster estava daquele jeito. Isso porque ele sabia tudo a respeito de Frank desde que se conhecia por gente.

Eles eram amigos de verdade, do tipo que morreriam um pelo outro sem nem pestanejarem. Do tipo de amizade que não se constrói para um programa em um sábado a tarde, mas para uma vida.

Ele sentia-se feliz por ter Frank em sua vida e por ver o amigo sempre alegre, já que estava com o amor que sempre sonhou. Ele, no começo, havia se preocupado bastante e alertado Frank sobre Gerard, mas depois resolvera relevar tudo e, como dizia Jared, deixar de ser ‘empata foda’. 

Era preocupante para ele perder Frank. Não sabia o que faria se não tivesse mais o amigo. Ele amava Jared, sabia que provavelmente os dois teriam uma vida juntos por muito tempo – ou talvez para sempre – mas Matt tinha a total certeza de que, diferente dos amores, as amizades é que são eternas, não importava o que acontecesse.

Quando Frank jogou-se em cima dele na cama, pedindo para eles verem novamente o filme Matrix, rindo daquela forma querida que só ele podia fazer, ele apenas balançou a cabeça e o abraçou, saindo do quarto e indo à sala de TV com pensamentos sempre confusos. 

“Talvez Frank não seja meu amigo para sempre, mas nossa amizade com certeza será...” Disse para si mesmo, deixando de lado tudo o que pensava e beijando o rosto do amigo, que sorriu feliz.

O ginásio lotado, as pessoas cheirando a cachorro-quente e as líderes de torcida histéricas faziam o colégio parecer um estádio de futebol. Frank se coçava enquanto esperava Gerard nos chuveiros do vestiário masculino, escondido em uma das cabines. 

O clima estava bastante abafado e a fantasia pesava uns dois quilos a mais do que normalmente pesava e ele sentia como se os pulmões estivessem sufocando-o, fazendo-o usar a bombinha de asma de meia em meia hora.

Sorriu aliviado ao notar um barulho e a porta se abrindo; Gerard estava ali, todo uniformizado, já suando pelos acessórios e pelo tempo, um tanto gasto pela expectativa do jogo, mas sorrindo de um todo.

“Demorei?” Perguntou, acariciando o rosto de Frank com a ponta dos dedos e puxando-o para fora da cabine. “Venha, não tem ninguém aqui.” 

“Não demorou.” Frank respondeu, mas não disse que esperaria a noite toda se fosse necessário. “Nervoso pelo jogo?”

“Um pouco.” O outro falou, dando uma risada nasal gostosa, fazendo Frank rir disso. 

Olharam-se por alguns segundos, absorvendo a presença um do outro, o suor brotando na testa, o coração com aquele fino aperto que lhes dizia que o amor estava ali, fazendo as batidas aumentarem e lábios que se juntaram logo depois, estremecendo o chão sólido, estremecendo as pernas fracas e os joelhos, que queriam se curvar.

Separaram um tempo depois quase sem fôlego, rindo disso e se abraçaram; Frank cheirou o pescoço de Gerard e notou que ele cheirava bem mesmo quando transpirava, rolando os olhos para sua vontade de dar um beijinho no local e prová-lo um pouco.

“Vou pontuar hoje para você.” Gerard sussurrou, beijando o rosto de Frank, que corou um bocado. “Você vai entender que é para você.” 

“Uhum.” Frank respondeu tímido. “Agora vai, o treinador Olsdal deve estar tendo um filho de nervoso pela sua falta.”

Gerard saiu e Frank esperou um tempo para ir também, colocando o aparelho ortodôntico que tirara para ver Gerard e recolocando a cabeça de esquilo bastante animado. 

Atravessou o ginásio e o barulho, os odores e a aparência de estádio aumentaram duzentos por cento para ele, assim como o calor.

Gerard chegava junto ao time um tanto atrasado, já de capacete e, ignorando os inúmeros conselhos de seu treinador, correu para o gramado úmido, deixando as táticas para serem repassadas apenas para os colegas. Evitou contato visual com todos eles, sorrindo um bocado só para si, como se já previsse as reações pelo que faria.

O jogo começou com uma chuva fina caindo, o que fez as garotas da torcida correr para os vestiários para não estragar seus cabelos e as pessoas das arquibancadas reclamarem do colégio não ter uma quadra coberta, o que Frank achou imbecil.

Matt estava com Jared em um canto, mal observando o jogo, mas fazendo juras de amor um no ouvido do outro, rindo baixinho e olhando em volta se ninguém estava notando-os e ganhando cores avermelhadas nas bochechas ao perceber que Frank os notava de longe.

Logo uma chuva pesada caía e todos corriam de um lado para o outro, nem notando o placar de jogo, que virava o tempo inteiro, com exceção de Frank que, não temendo uma pneumonia ou algo pior, fincou os pés no chão e não se moveu, acompanhando os jogadores (Gerard) correndo tentando pontuar.

Tirou a cabeça molhada da fantasia, quase arquejando pela umidade e as gotas fortes de chuva molharam seus óculos de armação grande, fazendo-o ver tudo com mais dificuldade ainda. Mas ele notou, atento, Gerard receber a bola de Jeph e correr.

Boquiaberto, foi andando um bocado ligeiro – sem correr, por medo de escorregar – acompanhando com os olhos cerrados Gerard tentar se desvencilhar dos grandalhões do time adversário.

A chuva grossa foi esquecida pelas pessoas, que finalmente se atentaram ao jogo, gritando para Gerard não parar, que ele conseguiria a pontuação máxima, gritando tanto que a locução do jogo não podia ser ouvida. 

E Gerard realmente conseguiu o Touch Down, sendo ovacionado pela torcida e observando os amigos se aproximarem. Mas antes que o fizessem, ele tirou o capacete e todos o olharam surpresos; lá estava ele, de óculos de armação grande e aparelho na boca preso de uma forma engraçada (que Frank pensou ser seu e que ele esqueceu na cabana algum dia), desenhando corações no ar e apontando para Frank.

Gritinhos animados e assovios foram ouvidos, e Frank, completamente corado, ria feito bobo para o namorado, lhe enviando beijos. E ninguém notou que sua face molhada de chuva também estava molhada de lágrimas agora.
Gerard e Frank decidiram sair depois do jogo, sozinhos. Frank ainda perguntou se ele não queria ir com os amigos comemorar a vitória, mas Gerard disse que preferia comemorar com ele.

O jogador dirigiu pelas estradas de Jersey e Frank desconheceu o caminho, mas não ligou muito em ser guiado pelo namorado onde ele o quisesse levar.

O carro parou no meio do nada e Gerard manteve os faróis ligados, abrindo a porta para si e para Frank. 

“Então...?” Frank perguntou, ao segurar as mãos do namorado e encarar o vazio à sua volta.

“Então, queria um pouco de silêncio... um pouco de você.” 

Frank sorriu e assentiu, sendo abraçado pelo namorado e carregado até a frente do carro, onde Gerard o ajudou a subir no capô. Deitou-se nele e ficou admirando as estrelas no céu e mordiscou o elástico do aparelho ao notar que Gerard subira e deitara-se também.

“Será que ainda chove?” Perguntou, coçando a bochecha.

“Nem sei.” Gerard respondeu, também olhando para o céu. 

E enquanto estabeleciam um silêncio confortável, pensavam em como estavam satisfeitos. Era tão real. Era mais que real. O que sentiam um pelo outro naquele momento era mágico, estranho, inusitado. Era daquele tipo de coisa que não se acredita que exista, como aqueles amores arrebatadores que se vê na ficção.

Chegava a ser estúpido, idiota, infantil, mas quem deles se importava? Só em sentir o que era o amor já bastava para eles. Serviam um para o outro não apenas para amar, mas para aprender sobre amar.

Porque antes de tudo eles eram apenas o convés. Antes eram navios que navegavam pelo talvez, pelo até quando... E juntos eles quase naufragavam ao encontrar os mares, que eram um e outro. Mares revoltos, violentos até, mas do qual não tinham medo de se arriscarem.

E pensando sobre as formas que se amavam, se perguntavam: eles existiam antes de se conhecerem? Realmente sabiam quem eles eram antes de tudo? Sinceramente não sabiam. Não faziam idéia e isso os deixava loucos só de pensar. Será que eles sabiam como mexiam um com o outro?

Talvez não soubessem. Talvez pensassem que amavam demais ou que o outro amava de menos. Mas não era algo com o que se preocupavam, momentos de lucidez como os que passavam juntos não aconteciam sempre, eram únicos. Eles eram únicos. Eram perfeitos um para o outro na imperfeição que eram.

“Sabe...” Frank começou a falar. “Eu nem acredito que estou com você. Que sou seu namorado...Que você me notou depois de tanto tempo, depois de todos estes anos...”

Gerard o fitou por um instante e sorriu.

“Sinto-me um tolo por ter perdido tanto tempo longe de você. Eu era cego e idiota”

“Não fale isso...” Frank pediu com um sorriso doce. “Está tudo bem, tudo aconteceu quando tinha que acontecer e sabe... eu me sinto afortunado.”

Enquanto sorria em deleite, admirando o rapazinho ao seu lado, Gerard retirou os óculos de Frank e começou a falar:

“Seus olhos Frankie, são lindos...” Declarou em um momento, enquanto uma brisa macia acarinhava seu rosto. “São tão puros, me dizem tanto a seu respeito. Amo eles. Não consigo fechar meus olhos enquanto os seus estão abertos.”

Frank os piscou e sentiu uma gotinha cair do céu, molhando sua face. Gerard não obteve uma resposta, mas um beijo. Ambos deitados de lado na placa de metal do carro frio molharam-se novamente, enquanto a chuva formava o mar em torno de seus corpos, alagando-os de amor. O amor que compartilhavam com seus olhos bonitos e pensamentos apaixonados.

rank e Gerard estavam deitados, nus, sobre o sofá da cabana naquele dia. Estavam completando 4 meses de namoro e resolveram que não iriam para a aula e que não desgrudariam um do outro. 

Era Outubro. Ninguém mais se lembrava que Frank antes era apenas um mascote bobo. Ele agora era o mascotesímbolo da escola, do qual todos se orgulhavam. Matt costumava dizer que ele era o mascote de Gerard e eles sempre riam disso. 

Nesse meio tempo, Gerard mal notou que seu antigo grupo estava completamente fora de sua vida. Ele não sentia falta dele, tampouco.

Enquanto faziam-se preparativos para as possíveis escolhas de faculdades (o ano letivo duraria apenas mais um mês), Frank encarava um grande dilema. Seu pai, que trabalhava o dia inteiro em dois empregos, finalmente havia conseguido uma promoção. Mas teria que se mudar para a Escócia com a família. 

“Quem diabos faz uma filial na Escócia?” Frank sussurrou contra o pescoço do namorado. 

Gerard se preocupou a princípio, quando Frank contou a novidade. Mas agora tinha uma idéia na cabeça e, mesmo que se achasse um precipitado, já havia se decidido.

“Não quero ir... quero ficar aqui, com você.” Frank reclamou num murmúrio. 

“Então fica.” Gerard disse, fazendo o outro o olhar. “Você pode ficar nas hospedagens da faculdade. Você passou aqui em Nova Jersey e eu também. Consegui convencer o meu pai a fazer artes...Podemos ficar nos alojamentos. E depois, quem sabe, alugar um lugarzinho pra nós...” 

“Mas você não queria ir para o Instituto de Arte da Universidade de Nova Iorque?” Frank o olhou.

“A arte de lá é a mesma daqui. E o que eu vou fazer longe de você?” Gerard sorriu. “Pense a respeito.”

“Acho que nem preciso pensar.” Frank disse num sorrisinho. Abraçou o peito do namorado e acarinhou a pele clara dele. 

“Falando em nós dois...” Gerard sussurrou, entrelaçando os dedos nos cabelos de Frank, que fechou os olhos em aprovação. “Você vai ao baile de formatura, não é?”

Frank riu baixo e fez que não com a cabeça, como se isso fosse óbvio.

“Por que eu iria para o baile?” Ele subiu o corpo e beijou o queixo de Gerard. 

“Para ser o meu par, ora. Por que mais?” Gerard ergueu as sobrancelhas. 

Frank deu uma risadinha fraca e beijou o namorado, que o retribuiu meio a contragosto.

“Isso é um fora, Iero?” Gerard perguntou, afastando Frank um pouco, que não gostou de ser chamado de Iero. Gerard só fazia isso quando estava chateado. 

“Gerard...” Frank disse. “Já não é suficiente as pessoas da escola me olharem com espanto todos os dias? Se eu for para o baile eu vou ser muito centro das atenções. Você chama atenção.”

“Quem liga para eles? Eu quero que você vá ao baile comigo.” Gerard disse, firme. 

“Por que você quer tanto isso?” Frank se ergueu e fitou Gerard um momento.

“Porque você é meu namorado. E o baile vai ser no dia 1 de novembro, um dia depois do seu aniversário. É uma ótima forma de comemorar.” 

Frank deitou-se novamente sobre o namorado e suspirou resignado, recebendo algum carinho pelo corpo. 

“Você vai?” Gerard perguntou uma última vez.

“O que eu não faço por você?” Frank respondeu baixinho.
 



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