História Severo Snape e a Lufana - Capítulo 61- Momentos

Caldeirão Furado, Beco Diagonal, Londres. 

Severo terminava de comer um pedaço de bolo de chocolate, era manhã e ele esperava por Elisa que havia prometido ir passar o dia com ele.

Um mês já havia se passado desde os início das férias, no começo foi estranho viver em um bar hospedaria mas com o passar dos dias ele começou a se sentir mais confortável em estar ali.

Eileen havia se tornando uma pessoa completamente diferente nesse período de um ano que ela passou trabalhando ali, Severo passou algum tempo a observando e seu peito se enchia de alegria a cada vez que ele a via sorrir.

-Oi !-Ele se assustou quando Elisa o abraçou por trás.

-Lizy...-Ele disse se virando para olhá-la, ela sorriu apoiando o queixo no ombro dele.

-Sentiu saudades ?-Elisa perguntou se sentando ao lado dele.

-Sim, você veio sozinha ?-Ele perguntou procurando algum sinal dos pais dela.

-Só da estação até aqui.- Ela disse tomando o garfo da mão dele.

-Peça um para você !-Ele bufou quando ela comeu um pedaço do bolo dele sem se importar em usar o mesmo garfo que ele estivera usando.

-O seu é mais gostoso !- Ela disse com a boca cheia. 

Severo revirou os olhos e empurrou o prato para ela que não fez cerimônia em terminar de comer o resto do bolo dele.

-Como vai senhorita Johnson ?-Eileen apareceu por trás deles com um sorriso gentil, Severo ainda não havia se acostumado a ver a mãe sorrir.

-Vou bem senhora Snape, e a senhora ?-Elisa abriu um largo sorriso ao ver a careta de Eileen para a “formalidade” forçada dela.

Severo olhou de uma para outra confuso.

-Vou bem também senhorita Elisa. -Eileen respondeu com um sorriso de canto de boca.

-A senhorita gostaria de um quarto ao lado do nosso ou prefere os quartos mais altos com uma vista privilegiada do beco diagonal?-Eileen perguntou para Elisa, Severo olhou para a amiga surpreso.

-Você vai dormir aqui ?- Ele perguntou sem acreditar.

-Sim, e amanhã Frank e Lupin se juntarão à nós.-Elisa respondeu o encarando de volta.

-Nesta noite, será que eu poderia passar a noite no mesmo quarto que vocês ? Eu pagarei a diária normalmente...-Elisa perguntou para Eileen, embora tivesse feito a pergunta descaradamente, ela começou a ficar muito vermelha sob o olhar de Eileen.

-Sem problemas senhorita.-Eileen disse arqueando um sobrancelha.

-Vocês podem ir passear, Severo não saia do beco diagonal, aqui vocês estarão seguros.- Eileen o alertou, ela tinha medo que o filho encontrasse com Tobias caso saísse do beco diagonal.

-Ok.- Severo respondeu pegando a mochila de Elisa que ela havia largado no chão no momento em que chegou. 

-E já sabe, nada de entrar na travessa do tranco...-Eileen arqueou ainda mais a sobrancelha o encarando, Elisa ficou admirada com o encontro dos olhos negros que eram tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo. 

-Sabe que eu não passaria nem perto de lá, ainda mais com a Lizy!- Ele respondeu olhando para Elisa.

-Certo, voltem antes do escurecer.-Eileen enfiou a mão no bolso do avental e entregou uma bolsinha de dinheiro bruxo para o filho.

-Divirtam-se.- Ela se aproximou e deu beijo na testa do filho.

Elisa se levantou da cadeira e posicionou as mãos em frente ao peito encarando Eileen como se também esperasse receber um beijo. 

-Até mais tarde senhorita !- Eileen passou a mão no cabelo de Elisa e ajeitou a franja dela o para o lado, depois pegou o prato vazio de Severo e o levou para a cozinha os deixando sozinhos.

-Por que não me disse que você se hospedaria aqui ? -Severo perguntou quando eles saíram do caldeirão furado.

-Você não perguntou ...-Elisa respondeu dando de ombros.

-Eu não tenho uma bola de cristal ...-Ele respondeu a observando.

-Eu marquei com Frank e Lupin aqui, achei que você gostaria de ter companhia.-Ela disse enlaçando o braço no braço dele. 

-E eles concordaram em vir ?-Severo perguntou surpreso. 

-Claro, menos o John  que no começo relutou em aceitar, ele falou algo sobre você não o considerar um amigo e não querer atrapalhar.- Elisa falava enquanto eles andavam pelo beco diagonal sem nenhum destino em mente. 

-Quem é John ?-Severo arqueou uma sobrancelha e a encarou.

-Lupin, quem mais seria ?!-Ela perguntou parando em frente a uma loja de brinquedos e acessórios mágicos. 

-Pensei que o nome dele fosse Remus ...-Ele ponderou.

-Remus John Lupin, sinceramente eu não gosto muito de Remus, gosto mais de John.-Elisa respondeu, ela avaliava com atenção e admiração os brinquedos mágicos na vitrine. 

-Mas se o nome dele é Remus você não tem que gostar.-Severo respondeu a observando.

Ela estava encantadora com uma bata de verão branca inteiramente coberta por pequenas flores azuis.

O cabelo que já estava um pouco a baixo do ombro estava preso em um rabo de cavalo que já estava frouxo, pois nada parecia segurar os cabelos lisos e escorridos de Elisa.

-Se ele possui dos nomes eu posso escolher por qual irei chamá-lo. -Ela disse dando de ombros. 

-Você quer entrar ?-Severo perguntou observando o interesse dela na loja de brinquedos.

-Não, eu só estava pensando que eu teria adorado esses brinquedos quando era pequena, não que eu não tenha tido muitos brinquedos...- Elisa respondeu se endireitando.

-Quando você deixou de ser pequena ?-Severo perguntou apoiando o cotovelo na cabeça dela.

-Pra sua informação eu tenho um tamanho considerado só um pouco a baixo da média.- Ela disse fazendo bico, Severo riu. 

-Claro, você seria considerada uma anã acima da média. -Ele riu da careta dela, Elisa bateu com as costas da mão na barriga dele.

Eles andaram por todo o beco diagonal conversando, passaram bastante tempo na livraria aonde Severo olhou e anotou em um bloquinho os títulos dos livros que ele gostaria de comprar.

-Você gosta muito de defesa contra as artes da trevas não é ? -Elisa perguntou quando eles se sentaram no mesmo banco em que se conheceram, de frente para a loja de itens mágicos e equipamentos de poções.

-Sim, eu gosto muito.- Ele respondeu cauteloso, ele não mentiria para ela, mas tinha medo que ela chegasse a uma conclusão precipitada. 

-Você pretende ser um professor ou algo do tipo ?- Ela perguntou cruzando as pernas no banco. 

-Na verdade eu nunca parei para pensar, apenas me interesso pelas artes das trevas.- Ele respondeu com sinceridade.

Elisa ficou pensativa por um tempo.

-O que foi, tem algo te incomodando ?-Ele perguntou virando um pouco o tronco para ficar de frente para ela. 

-Não é nada, eu sei que você nunca faria mal a ninguém.-Ela respondeu segurando a mão dele.

-O quê? -Ele perguntou confuso pela resposta dela. 

-Não é nada Sev, eu só tenho medo que um dia você pense que não quer mais ser meu amigo por causa do meu sangue...-Ela baixou a cabeça.

-Seria a mesma coisa de você não querer mais ser minha amiga porque eu sou pobre.-Ele respondeu segurando a mão dela.

-Isso nunca aconteceria !-Elisa exclamou revoltada.

-Pois é, isso também não aconteceria comigo.- Ele respondeu a encarando, Elisa suspirou e encostou a cabeça no ombro dele.

-Estou feliz de ver que você e sua mãe estão  bem, os dois parecem mais leves e felizes.-Elisa disse bocejando.

-Eileen tem trabalhado bastante, ela acha que com mais um ano de trabalho nós conseguiremos uma casa. -Ele disse traçando desenhos nas costas da mão dela.

-Vai ser bom, o importante é que vocês estão bem e são uma família unida novamente.-Elisa respondeu verdadeiramente feliz pelo amigo.

-Engraçado, a quatro anos nós nos conhecemos aqui, neste exato lugar, e aqui estamos nós novamente...Tantas coisas mudaram desde de então, eu nunca te agradeci pelas mudanças que você me proporcionou.-Severo disse pensativo enquanto continuava a traçar desenhos na mão dela.

-Algumas coisas não mudaram, você continua baixinha e chorona ! -Ele brincou com ela.

-Seu cabelo também estava diferente, estava mais curto ... Eu gosto do seu cabelo curto...-Ele disse se lembrando do dia em que conheceu Elisa.

-Na verdade eu gosto de tudo em você, eu passo os dias pensando em você, porque eu ...-Ele olhou para Elisa e suspirou pesadamente.

Ela estava dormindo e babando apoiada no ombro dele.

-Você sempre escolhe momentos inapropriados para dormir.-Ele disse ajeitando a cabeça dela mais confortavelmente em seu ombro.

-Até isso eu amo em você.-Ele disse baixinho enquanto Elisa ressonava tranquilamente.

-Talvez ainda não seja a hora certa... 

Ele apoiou o queixo no topo da cabeça dela e sentiu o perfume de jasmim que ele tanto amava.

-Tudo isso... é porque eu amo você.-Ele sussurrou baixinho enquanto ela dormia tranquilamente em seus braços.

Severo sabia que ela não estava ouvindo, de certa forma agradeceu por isso. Ele tinha total consciência de seus sentimentos, mas não tinha certeza sobre os sentimentos de Elisa e não saberia como reagir se ela não aceitasse os seus sentimentos.

Ele achou que seria melhor guardar tudo o que ele sentia só para ele em seu coração e se contentou em ocupar o posto de melhor amigo da garota pelo qual ele estava apaixonado. 

Ao final da tarde eles voltaram para o caldeirão furado antes do anoitecer como Eileen havia lhes dito, depois de tomarem banho e jantar eles foram para o quarto e Severo ficou ajudando Elisa com o dever e casa.

-Você parece cansado.- Ela disse o vendo bocejar.

-Eu nunca caminhei tanto em toda a minha vida. -Ele disse novamente bocejando.

-Vem, eu vou mexer no cabelo até você dormir.- Elisa o puxou pelo braço até o colchão que Eileen havia ajeitado no chão para eles dormirem.

-Eu não disse que você podia.- Ele respondeu bocejando novamente.

-Eu não pedi permissão, pedi ?-Elisa perguntou imponente dando tapinhas no colchão ao lado dela. 

Severo estava tão cansado que não discutiu, apenas deitou ao lado dela e ficou a encarando por um tempo.

-Eu vou te contar um dos contos de Beedle, o Bardo, Bárbara sempre contava para mim ...-Elisa sorriu com ternura ao lembrar da amiga, Severo sentiu borboletas voarem em seu estômago ao observar o quão linda Elisa estava se tornando. 

-Você tomou banho com o sabonete de Hogwarts ?-Ela perguntou sentindo o cheiro de aveia com leite, o cheiro preferido dela.

-Sim.-Ele respondeu com os olhos fechados.

-Por quê? Elisa perguntou admirando os fios negros e brilhosos do cabelo dele.

-Pensei que te ajudaria a não sentir tanta falta da sua amiga...-Ele respondeu sonolento ainda de olhos fechados.

Elisa também se deitou e ficou observando o rosto do amigo por um tempo, sentindo o coração acelerar. 

Ela afagou os cabelos negros dele pensando que ele estava dormindo.

Ela se aproximou mais, querendo sentir o cheiro que ela tanto amava, Severo abriu os olhos e ambos se surpreenderam de estar com o rosto tão perto um do outro.

Severo piscou algumas vezes e observou a vermelhidão, característica da vergonha, subir do pescoço de Elisa até a suas orelhas, tingindo o rosto dela de vermelho vivo.

Os olhos negros encontraram os amendoados por alguns segundos, que para eles, parecerem longos minutos.

Severo fechou os olhos e virou a cabeça para o lado oposto ao de Elisa, ele estava com o coração acelerado de nervosismo.

-E a história?-Ele perguntou fingindo uma voz de sono.

Elisa apertou o peito tentando acalmar os batimentos cardíacos, ela fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes tentando se acalmar. 

-A-Ah a história c-claro!-Ela se sentou encostando as costas na parede, Severo voltou a olhá-la. 

-M-meu p-preferido é o conto O Bruxo e o Caldeirão Saltitante.-Elisa disse passando os dedos pelos cabelos e os ajeitando atrás da orelha. 

-Não sabia que você conhecia os contos..-Severo disse se lembrando que ele deu um exemplar desse livro para Lily no natal do seu segundo ano.

-Eu gosto muito, agora fique quieto.-Ela ordenou, Severo sorriu, ele já estava quase dormindo, embalado pelos singelos afagos de Elisa em seus cabelos.

-Era uma vez um velho bruxo muito bondoso que usava a magia com generosidade e sabedoria para beneficiar seus vizinhos. -Elisa começou a narrar a história com voz baixa e serena enquanto afagava os cabelos do amigo.

-Em vez de revelar a verdadeira fonte do seu poder, ele fingia que suas poções, amuletos e antídotos saíam prontos de um pequeno caldeirão a que ele chamava de sua panelinha da sorte. -Severo sentiu o corpo amolecer cada vez mais ao som da doce voz de Elisa, que parecia o estar enfeitiçando com a história. 

-De muitos quilômetros ao redor, as pessoas vinham lhe trazer seus problemas, e o bruxo, prazerosamente, dava uma mexida na panelinha e resolvia tudo.-Ela disse com delicadeza e ternura, ela gostava do modo como o bruxo sábio da história ajudava todos os necessitados.

-Esse bruxo muito querido viveu até uma idade avançada e, ao morrer, deixou todos os seus bens para o único filho. O rapaz, porém, tinha uma natureza bem diferente da do bom pai. -Os olhos de Elisa se encheram de lágrimas conforme ela chegava nessa parte da história.

-Na sua opinião, quem não sabia fazer mágicas não valia nada, e ele muitas vezes discordara do hábito que o pai tinha de ajudar os vizinhos com sua magia...-Ela olhou para Severo que havia dormido, ele estava em um sono profundo.

-Boa noite Sev, continue sempre sendo bom e gentil...-Ela sussurrou o admirando.

Ele parecia um garoto frágil e vulnerável dormindo, com as feições do rosto relaxadas e suavizadas pelo sono tranquilo. 

Ela ficou o observando dormir até adormecer, desejando que ele pudesse passar a vida inteira tranquilamente feliz e sem preocupações, como estava agora ao lado dela. 

O restante daquela história ficaria para uma outra hora.