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História She's Got The Look - Ela sabe jogar


Escrita por: ArumGirl

Notas do Autor


Quase um mês depois... que vergonha :c

Capítulo 13 - Ela sabe jogar


Fanfic / Fanfiction She's Got The Look - Ela sabe jogar

- Boa tarde, senhor. O que deseja? - o mordomo me cumprimenta com uma postura formal.

Um lustre reluz acima de sua cabeça, localizado no centro da sala de estar e o brilho dos cristais ofusca qualquer outra coisa que esteja presente no cômodo.

DC e Titi ficaram no carro, a apenas alguns metros da entrada da mansão para caso algo saísse fora do planejado, e eu precisasse de ajuda extra. Meus amigos não estavam 100% de acordo com a minha decisão de vir até aqui confrontar o Henzel, é lógico, mas absolutamente nada do que eles dissessem poderiam me fazer mudar de ideia.

Aposto que o Do Contra se afastaria de mim por um tempo, era isso que a carranca em seu rosto durante todo o caminho sugeria, todavia eu não o forçara a vir até aqui. Ele viera porque quis, porque apesar de não concordar com a minha linha de raciocínio, também estava farto das coisas que sua irmã estava passando para mantê-los a salvo, e me ajudar a tentar conter o cunhado idiota era menos que o mínimo a se fazer.

- O Jonas está? - pergunto, tomando cuidado para parecer amigável o bastante e não levantar suspeitas.

- Quem é que quer falar com ele? - uma voz feminina fina pergunta, e poucos segundos depois uma mulher ruiva surge atrás do funcionário.

Seu olhar me analisa com interesse palpável, fazendo com que eu me sinta momentaneamente desconfortável. Ela é algo como uma versão feminina de Jonas, com a mesma tonalidade de cabelo e os mesmos olhos azuis, características que não deixam dúvidas que se trata da mãe do meu rival de campo.

Seus cabelos são mais curtos na parte posterior, e alongam-se nas pontas frontais. O resto é repleto de traços harmoniosos, compondo uma pele que deveria ser cuidada, no mínimo, 4 vezes por semana.

- Pode deixar que eu mesmo o levo até meu filho. Retire-se, Eleazar. - diz com um sorriso para mim, mas de um jeito ríspido.

- Claro, senhora Henzel, com suas licenças. - Eleazar inclina a cabeça numa mesura curta, e então some no restante do extenso corredor.

A senhora Henzel mal pisca os olhos para longe de mim, enchendo o peito com tanto ar, que eu me pergunto por um instante se ela não poderia explodir.

- Entre, querido. - convida.

Dou um passo para dentro, espiando com o canto do olho o lado de fora, mas meus amigos estão um pouco distantes do meu olhar nesse momento, principalmente por causa das frondosas árvores ao redor da residência.

- Com licença. - eu peço, passando por ela na porta, e então esta é fechada.

 A mulher me guia, passando pela suntuosa sala de estar, e então seguimos para um dos corredores mais extensos que já lembro de ter andado em toda a minha vida. Aquela casa parecia ter corredores para qualquer caminho que você quisesse seguir, o que deveria ser um ponto interessante para uma família milionária em fuga avaliar.

Há uma foto em tamanho real pregada a uma das paredes do corredor, típica de famílias de posses, mas que mesmo assim acaba atraindo a minha atenção. Estão os três nela: Jonas e os pais. Eles estão mais jovens, talvez uns cinco ou sete anos, e sorriem como políticos a um passo de serem escolhidos nas eleições.

A mãe de Henzel se apresenta como Lorelay, e por mais que eu tenha tentado convencê-la sobre o respeito no uso constante do "senhora Henzel", insistiu para ser chamada pelo primeiro nome. Ela estava bastante empolgada com a minha presença, rebolando como uma modelo em saltos que a deixavam, no mínimo, dez centímetros mais alta. Sinceramente, eu nunca vira necessidade para o uso daquele tipo de calçado dentro de casa, muito menos achava que fossem confortáveis para passar o dia, mas isso era uma característica comum das madames espalhadas pelo mundo.

 Paramos nossa caminhada numa área externa da casa e Lorelay explica-me que o filho está nadando para relaxar um pouco. Segundo ela, a derrota o deixou arrasado, e o seu comportamento está deixando-a preocupada, pois o garoto sempre fora muito enérgico e divertido.

Quase rio com a ironia disso, porém consigo disfarçar bem em um sorriso condizente, daqueles que dava para os repórteres durante alguma entrevista pós-jogo.

- Jonas, tem um amigo seu o procurando.

O jogador emerge da água cristalina, passando uma mão pelo rosto para conseguir uma boa visualização de quem se trata. No instante em que seus olhos focalizam o meu rosto, percebo qualquer resquício de amistosidade se esvair por completo.

Dezenas de garotas se matariam para ver a cena que estou agora, mas quanto mais olho para seu rosto, mais a vontade de lutar pela justiça cresce dentro de mim.

Ele não precisava das garotas, porque tinha a melhor delas consigo, e nunca seria merecedor disso.

- Vou deixar vocês a sós. - Lorelay avisa, me dando um olhar intencional quando passa por mim, e então nos dá as costas, caminhando para dentro da casa.

Jonas muda o olhar da mãe para mim com fervor.

- O que está fazendo aqui, seu porra?

- Uau - dou uma risada sarcástica - você sabe ser receptivo.

Jonas agarra as bordas da pisxin com firmeza, os olhos arregalados de raiva. Ele não parecia em nada o "garoto feliz e cheio de energia" que sua mãe tinha me descrito.

- Foda-se isso, por que veio me procurar? Está me desafiando por um acaso?

- Não - eu divago, me agachando até estar quase à sua altura na borda - Bom, talvez. Depende do seu ponto de vista.

 Quando ele continua me olhando, sem dizer mais uma única palavra, sinto que deveria aproveitar o momento para continuar:

- Acontece, Jonas, que você tem sido uma grande pedra no meu sapato, e suas atitudes tem me incomodado bastante.

- Vocês não já conseguiram nos tirar da Final? o que mais você quer? Dinheiro? Eu posso te dar isso se significar que vai esquecer que eu existo.

A petulância dele me irrita num nível drástico.

 - Não quero o seu dinheiro sujo.

Sua postura enrijece com o uso intencional da minha última palavra, e de repente ele não sustenta mais o mesmo semblante cínico de quinze segundos atrás.

- Vou direto ao ponto: eu sei muito bem que você não veio parar aqui por acaso. Por que alguém iria querer abandonar uma vida milionária em San Diego, assim do nada? - eu o enfrento, apontando para o seu rosto - Você está fugindo da polícia estrangeira como o diabo foge da cruz, Henzel. Eu sei o que aconteceu a Brad Lisson na metade do ano retrasado.

- Foi um acidente. - o jogador tenta tirar por menos, mas o vínculo em sua testa se aprofunda.

- Não foi não. - discordo - Lisson tinha afundado o seu pai após um acordo dos grandes com a Henzel's, e você tinha perdido no mínimo, uns três jogos seguidos por causa da pressão psicológica que todo mundo na sua casa estava vivendo. Vocês tiveram que vender quatro casas de veraneio para conseguir quitar as dívidas da empresa e o seu carro favorito foi parar em um leilão também. Isso são motivos suficientes para um adolescente problemático querer se vingar, não são?

 - Como você sabe de todas essas coisas? - exije saber.

 - Um passarinho verde me contou.

- Eu vou acabar com você, Cebola.  - ele jura - Você não vai me controlar só porque sabe de todas essas coisas. Não tenho medo de nada disso.

- Ah, não? - eu dou uma risada - olhando assim pra você, me parece que passar o resto da sua juventude inútil detrás das grades, não está em seus planos. E sem mencionar o fato de que você também transou com a mulher de um dos maiores rivais políticos do seu pai, para fechar contrato com eles e conseguir um lugar para o seu time no Campeonato. - levanto as sobrancelhas para ele - Acho que seu pai ficaria bastante irritado em saber disso.

 - Seu filho da puta! - o xingamento sai por seus dentes trincados - sabe que eu poderia estalar os dedos e meus seguranças poderiam te levar, não é? E não seria de volta para casa.

- Não adianta querer me intimidar, eu não tenho medo de você. - declaro, firme, segurando os nossos olhares um no outro. - Além do quê, você não estaria sendo muito inteligente. Eu tenho testemunhas e já contei a cada uma delas sobre essas coisas que estou te dizendo. Não tem muito para onde você fugir, Jonas.

- Você não faz ideia de com quem está mexendo, Menezes. Ainda pode se dar muito mal com toda essa ousadia. - ele quase cospe, me fitando com raiva fervente.

Um meio sorriso petulante ergue os meus lábios.

- Muito menos você, Henzel. Não queira saber o que pode acontecer com você, se tentar algo contra mim. Meu pai tem acesso a uma dúzia de documentos que podem te fazer dar adeus a essa sua vidinha boa, em questão de minutos.

Num gesto rápido, ele toma impulso para me puxar para dentro da piscina, provavelmente querendo me afogar de tanta raiva, porém estou atento o suficiente para também agir em reflexo, agarrando o seu couro cabelo com firmeza.

Pressiono o seu rosto contra a borda da piscina, fazendo com que a bochecha entre bruscamente em contato com o azulejo perolado.

Sinto-o tremer de raiva debaixo da minha mão.

- Tentativa falha, amigo. Não piore as coisas para você.

Jonas semicerra os olhos, lutando para suspender o queixo de maneira que expressasse um desafio.

- Se seu pai é assim tão poderoso, por que não já deu entrada nos papéis? Por que não jogou a minha família inteira na cadeia?

Aperto a mandíbula, sabendo o porquê dele estar perguntando aquilo. A família Henzel não era a única a sair perdendo, e feio, se aqueles acordos fossem parar nas mãos de um perito.

- Porque o Hector não foi o único a fazer besteira. - eu assumo, já sabendo que isso não era novidade nenhuma para ele - Mas isso não significa que você pode continuar fazendo o que bem quer com a vida dos outros, especialmente com a família da Mônica. Eles não são seus bichinhos de estimação.

Um meio sorriso surge em seus lábios.

- Ah, então tudo isso é por causa da Mônica? - ri, balançando a cabeça - eu já disse, cara, não pretendo deixar ela livre pra você. Não agora. A família dela me deve muito para isso, você não faz ideia.

Firmo o meu aperto em sua cabeça, fazendo com que seu sorriso medíocre vacile por pelo menos um segundo.

- É, só que a partir de agora você vai ser um príncipe encantado para ela. Sabe por que? Porque eu juro, Henzel, que se a partir de hoje eu ver a Mônica com um arranhão sequer, você já era.

- Você não tem coragem de fazer isso. - ele insiste, menos seguro do que antes - Se pôr esses papéis para dentro, eu não vou ser o único a ir para a cadeia. Seu paizinho corrupto vai junto.

Encolho os ombros, por mais que no fundo, no fundo, esse pensamento me incomode também, não posso demonstrar fraqueza perto dele.

- Então a justiça será feita. - respondo, em tom de indiferença.

- Tudo isso por um rostinho bonitinho e um par de peitos inalcançável a mais da metade da população masculina? - sua voz se transforma em um arfar carregado de ódio - mulher nenhuma vale toda essa valentia, Cebola.

- Ouvir você tratando-a como a porra de um objeto sexual, só me deixa com mais vontade de acabar com essa sua cara ridícula. - rosno, segurando seu couro cabeludo com tanta força que posso sentir as unhas afundarem na pele sensível da região.

Ouço passos de saltos a uma distância não muito segura, e então o solto, me pondo de pé ainda com os olhos no ruivo irado à minha frente.

- Temos companhia, se recomponha. - digo-lhe, seco.

Jonas sai da piscina como uma flecha, o rosto e os olhos tão vermelhos que parecia ter ficado horas abaixo de um sol de rachar; mas ele ficaria muito pior se não tivesse entendido o recado, e encostasse um único dedo na Mônica.

Pra mim, aquela palhaçada já tinha chegado ao limite. Do Contra não me dissera o que realmente tinha acontecido para que sua irmã se doasse tanto ao Henzel, mas nada no mundo valia aquele sacrifício. Tortura psicológica, era isso que babacas como aquele cara faziam para conseguir o que queriam. E eu também não descartava a possibilidade dele tê-la forçado (e continuar forçando) a ter relações sexuais para satisfazer seu prazer doentio.

Resisto à vontade de fechar os olhos e então dar ao jogador a oportunidade perfeita de me pegar desprevenido, mas a raiva que estou sentindo neste exato momento é quase maior que qualquer pensamento são.

 Deus do céu, eu estou a um passo de matar Jonas Henzel.

- Algum problema, queridos? - a mesma voz feminina de antes pergunta atrás de nós, fazendo com que as íris claras do cara se movam para a nova figura.

Com o canto do olho, percebo que se trata de sua mãe, a coroa ruiva que tinha me atendido à porta mais cedo, e que agora usava um vestido preto de seda tão decotado, que chegava a ser relativamente vulgar para alguém de sua classe.

- Nos vemos por aí, cara - eu dou um tapinha em seu ombro, e então me viro para a senhora ruiva que nos encara com curiosidade - Sra. Henzel, com sua licença.  

Não a espero para seguir de volta para dentro, já tendo uma boa ideia de por onde caminhar, mas ouço seus passos apressados atrás de mim para tentar me alcançar.

- Apareça mais vezes, meu jovem. Eu o achei muito - seus olhos percorrem do meus pés até a cabeça, e então o sorriso presunçoso alarga-se - interessante.

Tento não deixar meu sorriso vacilar.

- Obrigado, Lorelay.

A madame se inclina para me beijar no rosto, fazendo questão que seu decote mostre muito mais do que deveria, porém aquilo está longe de me seduzir. Recuo um pouco, evitando que nossos troncos tenham o contato almejado por ela, e posso ver seu cenho contrair-se em incredulidade. Talvez ser rechaçada pelos homens, não fosse algo corriqueiro para alguém como ela.

Lorelay Henzel era bonita, com um corpo bem desenhado para alguém de sua idade também, mas ser quem era me fazia querer estar a anos-luz de distância do seu alcance.

Urgh, não se salvava uma única alma nessa família.

- Até uma próxima. - digo por fim, acabando com qualquer outra ideia de contato que ela esteja trabalhando, e levo a mão à maçaneta de ouro queimado.

Olho por cima do ombro antes de sair, sentindo um olhar abrir buracos nas minhas costas; Jonas me encarava, possesso de ódio, do final do corredor.

Me viro totalmente para direcionar-lhe um olhar repreensivo antes de alcançar o primeiro degrau do hall de entrada da mansão. Com as narinas infladas, ele responde ao meu gesto simplesmente jogando uma toalha por cima do ombro com violência, e então toma rumo para um outro cômodo qualquer.

Pelo menos por ora, eu esperava que este assunto estivesse resolvido.



Cascão, Mônica e Magali estão me esperando na frente do cinema quando chego. Eu sei que estou bons minutos atrasado, porque nunca havia pego ônibus em toda a minha vida, e como dizem por aí: "Pra tudo há uma primeira vez."

Com metade da minha mesada bloqueada pelo meu pai, juntamente com dois dos meus cartões de crédito, não sobrava muito espaço para alguma coisa e o jeito era tentar economizar. Ser "filhinho de papai" me trazia muitas facilidades, realmente, e eu aprendi a reconheci isso sem precisar passar por situações mais drásticas.

Eu havia falado com o Sidão, dono da loja de cd's mais conhecida do Limoeiro, em busca de algo para me ocupar, e ele me pedira para ir até lá amanhã, para que conversássemos melhor. Viver às custas do meu pai não era mais suficiente para mim, agora eu queria minha conquistar a própria autonomia, e era justamente isso que iria fazer, com ou sem a ajuda do S. Cebola.

- Você está atrasado. - é o que assovia a garota do meio, entediada, assim que me aproximo do grupo.

Cascão e eu nos cumprimentamos com as mãos num gesto universal de caras; ele está vestindo uma camisa interessante do Cosmo Guerreiro, o que mais uma vez serve para mostrar o grande lado nerd.

- Eu peguei o ônibus errado, desculpem. - me explico, cumprimentando Magali com um sorriso.

Sousa parece incrédula.

- Você em um ônibus?

Dou de ombros, mas apenas com um.

- Imprevistos acontecem. - observo os ingressos na mão da Magali - Qual filme vocês escolheram?

- O silêncio dos inocentes. - Cascão responde por ela.

Faço uma careta.

- Terror? - me viro para Mônica - Por que terror?

- Fui eu que escolhi. - Magali se pronuncia, rindo quando meus olhos se arregalam em sua direção. - Eu meio que sou fissurada em filmes dessa categoria.

- Esse mundo está perdido mesmo. - exclamo, pasmo.

Magali desvia a atenção de nós para a sua própria bolsa, remexendo em busca de algo que parece precisar encontrar a todo custo, e alguns segundos depois está com um sorriso amplo no rosto.

- Já volto. - a morena anuncia, se dirigindo ao balcão de doces a alguns metros de onde estamos.

Cascão a acompanha com o olhar, soltando um suspiro antes de declarar:

- Vou ver se encontro alguma coisa legal para comer durante o filme também.

Observo os dois seguirem juntos por mais alguns centímetros e então tomarem caminhos completamente opostos; ela, seguindo pela direita, e ele pela esquerda. Bato na testa com uma mão, fazendo outra nota mental para buscar uma forma, qualquer que seja, de aproximá-los esta noite.

Qual é, estávamos num cinema, o centro de todo flerte adolescente, como assim essa oportunidade poderia não existir? 

Mônica está de costas para mim, a cabeça inclinada para cima, admirando o céu noturno. Usa uma jaqueta jeans curta, que chega somente até o meio das costas, camiseta vermelha com um coelhinho branco estampado na fronte, e uma calça preta que provavelmente me rouba mais a atenção do que deveria.

Caminho até ela, parando ao seu lado. Guardo as mãos nos bolsos da minha calça, erguendo o queixo para os milhares de pontinhos brilhantes acima de nós.

- A noite está bonita, não é? - indaga, observando a lua minguante que ilumina o céu escuro.

- Está sim. - concordo, fitando aquele astro encantador em todas as suas fases - Eu gosto de ficar olhando o céu, principalmente nas noites em que não consigo dormir, sabia?

Sousa nega com um aceno.

- Não sabia, mas entendo. - e então o canto de seus lábios se ergue - Eu sou assim também.

- A propósito, você está linda. - elogio, limpando a garganta - Quero dizer, mais do que de costume.

Ela roda os olhos, dando risada em seguida.

- Papinho de conquistador barato outra vez?

Dou um passo à frente, fazendo com que ela recue automaticamente, e acabe por esbarrar em um dos cartazes de filmes espalhados por toda a parede.

 Levo uma mão à lateral da sua cabeça, apoiando a palma contra a parede, e deixo nossas respirações se aproximarem; por mais inesperada que lhe fosse essa reação, seus olhos estão nos meus, tão provocantes quanto poderiam ser.

- E você vai cair nele?

Ela balança a cabeça para os lados, lentamente.

- Precisa de muito mais do que isso para me convencer.

Meus olhos dançam pelo seu rosto bonito, parando nos lábios pintados de um atraente vermelho vinho.

- Só me diga o que eu preciso fazer.

- Não vai desistir mesmo de flertar comigo, capitão? - a garota suspende uma irreverente sobrancelha, mantendo os olhos igualados com os meus.

Um sorrisinho esperto arrasta-se pelos meus lábios, quando proponho:

- Não sem ao menos conseguir um beijinho antes.

- Não é assim tão fácil, garoto - a gêmea do DC faz um bico, entrando no meu jogo, e leva as mãos ao colarinho da minha camiseta para ajeitar alguma coisa não especificada a mim.

- Eu nunca esperei que fosse. Você sempre foi a garota mais difícil de todo aquele colégio.

Mônica abre um sorriso orgulhoso.

- Esse é um dos meus adjetivos preferidos. Difícil.

Dos meus também, quase verbalizo, mas então lembro de algo que Jerê me falara sobre as atividades do dia anterior e em como aquilo poderia vir a ser uma boa ferramenta para usar agora.

- Ei, sobre o trabalho em dupla da professora Ana Paula, eu pensei em…

- Eu topo. - diz, simplesmente, com um sorriso provocativo - Na sua casa, a que horas?

Dou risada, afastando um fio de cabelo que recai sobre o seu olho esquerdo.

- Amanhã, às duas, está bom?

- Está sim.

- Nossa! - exclamo - eu não esperava que você fosse aceitar tão rápido.

- O quê? Não é como se fosse um encontro. - ela encolhe os ombros.

Me aproximo ainda mais dela, baixando a cabeça na direção do seu ouvido enquanto sussurro:

- Mal posso acreditar que vou ter você na minha casa.

- No seu quarto... - a garota adiciona, me olhando diretamente como se isso não a envergonhasse em nada.

Estou tão surpreso, e enfeitiçado por seus bonitos olhos castanhos, que não consigo olhar para outro lugar.

- Com a porta aberta e a alguns bons centímetros de distância. - acrescenta, dando um tapinha no meu ombro - Afinal, vamos só fazer um trabalho, não é?

Estou abrindo a boca para contestá-la, quando somos interrompidos em nosso joguinho de provocação.

- Qual é, galera? - a voz de Cascão nos chama a atenção - vocês dois vão ficar aí namorando ou podemos ir ver o filme?

Me viro para ele, ainda com uma mão ao redor da sua amiga.

- Se eu ficasse com a primeira opção, seria um idiota?

Mônica me empurra no peito, de brincadeira, e dá risada ao se afastar, caminhando até o amigo e roubando uma pipoca doce do seu saquinho.

- Nós só estávamos brincando um pouco um com o outro, nada demais. - fala, mastigando descontraidamente - Não é mesmo, capitão?

Não.

- Claro. - concordo, dando de ombros, e então olho ao redor - Cadê a Magali?

- Falindo alguma loja de comida por aí. - Cascão fala com naturalidade, recebendo um cutucão de Mônica, mas a garota está rindo.

Quando Magali enfim surge em nosso campo de visão, está trazendo um par de sacolas com a logo da loja de chocolates mais conhecida do shopping, e outra do Rei dos Pastéis.

- Vamos? 

Ao responder algo em mútua concordância, seguimos um atrás do outro, basicamente, e subimos alguns degraus para chegar até às salas.

O jovem rapaz que era responsável pelo visto dos bilhetes, demorou o olhar um pouco mais que o necessário na primeira garota da nossa fila, dando um sorriso extremamente simpático para Magali, que apenas sorriu de volta com timidez; com o canto do olho, vi a expressão de Cascão endurecer um pouco, como esperado, e ele sequer respondeu o "boa noite" do funcionário enquanto entregava-lhe seu ingresso.

- Você está tão estranho. - Mônica diz, observando-me com uma sobrancelha erguida em suspeita.

Imito o seu gesto, segurando a porta para que ela passe primeiro, e entro na sala escura em seguida. Graças aos comerciais que entretiam o público através da tela enorme, conseguíamos caminhar pelo cômodo sem precisar tatear a grande parte das coisas.

- Por quê?

- Não sei - assume, desviando o olhar para duas garotas que passam rindo por nós - está mais calado que o normal.

- Impressão sua. - eu tento tirar por menos - A propósito, muito legal o que você fez pelo Toni. - elogio, buscando mudar de assunto.

Mesmo que não soubesse o que de fato eles tinham conversado, imaginava o apoio prestado pela minha amiga. Ela era assim, disposta a ajudar quem quer que fosse, independente do momento, e essa era uma das coisas que eu mais ama...gostava nela.

Mônica me sorri em resposta, se acomodando na poltrona marcada em nossos ingressos. Observo a ordem em que estamos: Magali, Mônica, Cascão e eu.

Olho para o rapaz ao meu lado, que não para de enviar olhares para a garota depois de Mônica. Tenho certeza de que ele não esperava que ficassem distantes, e isso logo me faz ter uma ideia.

- Pede pra trocar com a Mônica. - eu cochicho para o meu amigo.

Ele me olha com dúvida.

- E se a Magali me achar muito grudento?

- E se ela não achar? - devolvo. - Você só vai saber se tentar, cara. Qual é? Tenha um pouco de confiança em você.

Sousa inclina a cabeça em nossa direção, nos olhando com uma expressão curiosa.

- O que as maricas estão cochichando aí?

Fito Cascão como quem diz "agora é a hora." Ele infla o peito, assentindo com determinação, e se vira para a garota.

- Mô, troca de lugar comigo?

Ela junta as sobrancelhas.

- Ué, por quê?

Cascão me lança um olhar de pânico, sem saber como se justificar.

- Eu queria ficar perto de você. - disparo, sentindo um leve rubor se apoderar das minhas bochechas, e agradeço por estar escuro o bastante para que ninguém notasse isso.

- Sinceridade é tudo. - Magali diz, dando uma pequena risadinha.

- O filme vai começar em 2 minutos. - Cascão relembra - Se for trocar, é melhor agilizar isso.

Mônica ainda está me olhando como se um chifre de unicórnio tivesse aparecido no meio da minha testa, mas então concorda com a cabeça, se pondo de pé.

Pigarreio para Cascão assim que ele também se levanta, arqueando as sobrancelhas para incentivá-lo a demonstrar qualquer interesse que fosse, ao menos para não deixar um clima tenso se instaurar entre os dois. Ele assente para mim em silêncio, mas não precisa ser um gênio para perceber que está pra lá de nervoso.

- Vejo que continua me perseguindo, capitão. - a baixinha provoca, se acomodando ao meu lado.

- Só tentando dar um empurrãozinho para o nosso amigo.

- São muito fofos juntos, não é? - ela se anima - Eu tenho buscado cutucar o Cascão para deixar isso claro para ela há anos, mas ele continua se negando.

Assinto, enfiando a mão no saquinho de pipoca em meu colo.

- Por isso sugeri que vocês trocassem de lugar, mas é lógico que não poderia falar o verdadeiro motivo em voz alta.

- Entendo. - murmura, tentando disfarçar a decepção com um sorriso rápido, mas já estou conhecendo-a o bastante para saber que o gesto não foi de total sincero.

Rio de leve.

- Bom, por isso também. - eu admito, vendo os pequenos feixes de luz ainda existentes se apagarem por completo - Mô, o que você acha de...

Paro de falar quando meu coração dá uma parada abrupta, e no mesmo segundo voltar a bater com toda a intensidade, quando sua mão paira sobre a minha, encaixando nossos dedos juntos.

Olho para ela, e por mais que o seu olhar esteja fixo na tela, há um sorrisinho no canto de seus lábios que indica a consciência de seu gesto.

- Shiu. - Mônica repreende em um cochicho - O filme já vai começar.



Notas Finais


SE.PEGUEM.DE.UMA.VEZ
Só isso mesmo, até uma próxima e tchau kkkkkk <3


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