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História Shojo - Capítulo Único


Escrita por: indelikaido

Notas do Autor


Annyeong Gente!!!
Então, eu não participei da última fase por causa de um mega bloqueio criativo, mas 'tamo aí!

Capítulo 1 - Capítulo Único


Shojo - 猩 々ou 猩猩 - são espíritos do mar, facilmente identificados devido à sua pele rosada. São conhecidos por suas formas irregulares que mudam constantemente e sua grande paixão por saquê, do qual podem tomar enormes quantidades. Diz-se que a sua cor avermelhada é devido ao excesso deste licor, bem como o caráter simpático e inofensivo.

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Chuvas de verão são rápidas e fortes. E acho que essa é a única comparação justa que poderia chegar aos pés do que eu tinha com o Sehun.

Não gosto de contar histórias pela metade, mas Sehun e eu criamos uma. E isso não me agrada, me deixava inconformado e me tirava o sono pois quero um final decente para o que aconteceu. Me tornava ainda mais incômodo o fato de que essa história não tem datas. Ela apenas começa do nada e termina tão rapidamente quanto começou.

E esta sempre será uma história difícil de contar. Com intervalos absurdos entre um ponto e outro, pois só sabia prestar atenção em poucas coisas na época e muitas vezes estava cansado demais para escrever em meu diário, ou ocupado demais me preocupando com o mais novo.

O trabalho de caçador exigia uma força psicológica muito maior que a física. E eu sempre soube disso, desde que assisti meus familiares morrerem um por um quando eu era menor. Mas nada jamais me impediu de continuar com o moreno mais novo.

A única coisa que me torturava era saber o quão egoísta foi ficar com Sehun. Ele não precisava viver aquilo.

Conheci ele em um bar movimentado em Tóquio, quando era somente um humano comum. Durante toda a minha vida fui atraído pelos monstros e demônios japoneses. A quantidade de almas errantes e violentas te surpreenderia. Era tanta angústia, tanto sofrimento e eu os tirava dali com todo o prazer. Mas os motivos do rapaz nunca foram estes: ele nem fazia ideia de que o sobrenatural estava bem longe de ser somente um devaneio contido em infinitas lendas e mitos espalhados pelo mundo. Ele só tinha um carinho enorme pela cidade japonesa.

Adentrei o bar, um pouco tenso por causa do dia difícil, apenas pretendendo tomar uma dose de saquê e ir embora. Mas é claro que não foi o que aconteceu. E eu era grato por isso.

Mas não foi naquela noite em que fui falar com Sehun. Ele estava do outro lado do balcão, bebendo a mesma bebida que eu com uma cara concentrada, que o deixava dez anos mais velho do que realmente deveria ser. Desisti de me embebedar e apenas saboreei uma pequena dose enquanto admirava os traços tênues de seu rosto. O maxilar definido, as sobrancelhas perfeitamente feitas e a expressão carregada de mistério. Me dei por satisfeito após horas assim, ainda mais quando ele passou a sustentar meu olhar. Algo havia me dito que ele não ia a lugar algum. Que se eu voltasse na noite seguinte ele ainda estaria ali.

De fato, eu não estava enganado. Voltei mais quatro vezes só para confirmar se veria o moreno misterioso, e ele era incrivelmente pontual. Somente cinco dias depois do primeiro encontro, na noite em que eu tinha lidado com um funayūrei* em um distrito próximo à Tóquio, ele veio falar comigo.

As pernas incrivelmente longas cortavam a distância como uma lâmina afiada cortava papel. Seu andar era grosseiro, mas de certa forma dizia muito sobre si. Era bem seguro do que estava fazendo, e já passara por muitas brigas, a julgar por algumas cicatrizes em seu antebraço.

‘’Você está machucado hoje.’’ Não soava como uma pergunta, e sorriu de lado ‘’Andou se metendo em confusão?’’

Talvez isso tenha me fascinado tanto no rapaz. Não me deu um oi, não se ofereceu para me pagar uma bebida. Apenas jogou suas suposições na minha cara. Queria ter ficado irritado, mas tudo que pude fazer foi cair na risada.

“Sim, me meti em confusão. É o meu emprego.” Lhe estendi a mão ‘’Kim Junmyeon.’’

Minha mão foi aceita de bom grado com um sorriso brilhante que até hoje insiste em permanecer em minha mente.

“Oh Sehun. O que você faz? É assassino de aluguel?’’ Riu, e sorri sombriamente por lembrar que minha profissão era algo bem perto disso. Eu só não recebia os louros por matar seres sobrenaturais.

“Quem sabe um dia você descobre.’’ Pedi uma rodada de saquê para nós dois, e acabamos indo até uma parte mais reservada do bar.

“Me joguei de um dos lados do estofado, cansado e dolorido. Sabia que meu rosto estava machucado, mas só fui me lembrar disso quando Sehun ficou me encarando em silêncio por longos minutos. Então alcançou o corte na minha maçã do rosto com dois de seus longos dedos, tocando o local com cuidado.

“Você precisa de um curativo. Não vai querer que infeccione.’’ Avisou, sério.

“Uma infecção não é a maior das minhas preocupações neste exato momento.’’ Dei de ombros e me levantei, revelando um rasgo na lateral de minha camiseta preta, onde antes havia um pedaço de madeira. O machucado em carne viva o assustou, e fiquei contente em saber que ainda metia medo em alguém.

“Agora eu estou curioso mesmo, para saber o que você faz.’’

Passamos a noite em claro debruçados sobre a mesa de linóleo para que nossos rostos pudessem ficar ainda mais perto e não tivéssemos que levantar a voz mais ainda. Sehun falava sem parar sobre sua cidade natal, que por uma coincidência era a mesma que a minha, mas também falava como gostava de ficar no Japão e que se sentia atraído pelo país.

E me lembro de ter rido. Que nem um idiota. Ele não contava nenhuma piada, mas quando o assunto era sua vida, eu me sentia no meio de uma piada. Nunca iria conseguir manter uma vida normal que nem a de Sehun. E eu gostei, gostei muito da vida dele. De seu caráter. De como suas bochechas estavam vermelhas por causa do excesso de álcool mas continuava falando como se não estivesse alterado.

Acabei aceitando seu convite e o acompanhei até seu apartamento, com seu braço ao redor de meus ombros enquanto fazíamos nosso caminho lentamente e trôpegos. Talvez este tenha sido meu primeiro erro.

O moreno estava tão bêbado quanto eu, mas fez questão de cuidar dos meus ferimentos antes de me deixar dormir, me deixando ainda mais surpreso. Se é que isso era possível.

“Junmyeon, você está fervendo, tem certeza de que não quer dormir aqui?’’ Indagou, lutando para dizer as palavras com clareza ao mesmo tempo em que limpava um corte em meu ombro, perigosamente perto do meu pescoço.

Fiquei um tempo imaginando se deveria ficar. Eu já tinha ido até ali, qual seria o problema?

“Eu só não quero te incomodar, você está cansado.’’ Murmurei, cabisbaixo, desviando o olhar quando ele passou um algodão embebido em álcool na minha bochecha.

Meus lábios provavelmente estavam com gosto de saquê e sangue. Os mordia como se minha dor fosse sumir fazendo aquilo.

“Estou cansado de ficar sozinho. Se você for embora, sei que não irá voltar nunca mais. Todos eles fazem isso.’’

Me forcei a encarar ele. Soava como uma criança que requisitava um pai ou uma mãe para si, mas também tinha infinitas segundas intenções por baixo do tom de voz triste. Infelizmente, eu também estava cansado de ficar sozinho. De não ter uma casa e uma pessoa para chamar de minha. E estava bêbado, essa é a parte mais decisiva. Seus olhos tinham um toque especial de calor, mas não era nada comparado ao que eu via nas minhas companhias noturnas.

Não era luxúria, era apenas… apreço. Esse foi o primeiro sinal de que nutria algo por mim. Como, você vai me perguntar. Minha resposta é simples.

Se não posso acreditar em amor à primeira vista e predestinação, no que eu vou crer?

‘’Eu fico.’’ Disse, suspirando.

Ao invés de ter alguma reação que condizesse com o assunto, se limitou a dar um sorriso acanhado e continuar cuidando de mim.

Foi a primeira de muitas noites em que estaríamos bêbados em seu apartamento, sentados no sofá, eu ferido e ele zelando por mim. Mas ele nunca saberia o motivo das feridas. Ou eu esperava.

No final da noite, quando eu estava deitado em sua cama, imóvel, repassando todos os momentos do meu dia, ele me puxou para si. Ambos estávamos com sono, mas eu conseguia ver seu rosto em meio à penumbra, e me senti grato por ter sido tão bem cuidado por alguém que podia simplesmente ter me largado na rua após eu ter pago algumas rodadas.

‘’Por favor, não fuja. É sério.’’ Sua boca formou um pedido silencioso antes de seus olhos se fecharem.

Pensei que fosse parar aí, mas ele me beijou. Foi só um selinho que durou tempo suficiente para que nós dois caíssemos no sono com os lábios unidos e as mãos entrelaçadas, um gesto que garantia que eu não ia sair de perto tão cedo. E eu nem queria.

Foi durante uma viagem -dois meses depois de nossa noite um pouco confusa- em um canto afastado na Coreia, que tudo veio abaixo.

Tinha sido avisado incontáveis vezes de que não deveria estar com Sehun. Que era perigoso e que cedo ou tarde ele ia morrer, mas eu não me importava e simplesmente ignorava. Eu o amei ao ponto de desistir de muitos casos para passar um dia me revirando no sofá ao seu lado enquanto uma série passava na televisão ou sair com ele para cantos bonitinhos que eu não achava que iria visitar. Como um parque. Coisas como essa me davam cada vez mais a esperança de criar uma família com ele.

E então, quando menos esperava, estava entrando desesperadamente em uma casa abandonada no meio do nada para encontrar Sehun desacordado no piso, a poucos metros de uma criatura que identifiquei com desprezo.

Estava retesado em uma postura animalesca, as orbes sem vida fitando ora a minha figura ora os ferimentos que tomavam o corpo de meu amante, e observando sua carne carcomida na face tive certeza de que queria desfigurar o idiota mais ainda. Mas aquilo era um Rugaru e eu não ia conseguir desmembrar o infeliz.

Sem hesitar, minhas mãos alcançaram um isqueiro e um desodorante na minha mochila, e assim que vi a massa disforme de carne partindo para cima de mim, espirrei o desodorante ao mesmo tempo em que formava uma chama com o quadradinho de plástico. Não era nenhum lança-chamas, mas com certeza faria o estrago que eu queria fazer. O que sobrou de seu corpo caiu no chão, e não me demorei para correr até Sehun e checar seu ferimento.

Havia cravado os dentes na cintura do mais novo, tão fundo que podia afundar meus dedos ali. As lágrimas começaram a banhar meu rosto antes mesmo que eu percebesse o que tinha acontecido, e peguei-o em meu colo com certa dificuldade. Por que meu peito doía só com a ideia de que eu poderia ter evitado aquilo se não estivesse com ele.

Quando se recuperou e acordou na cama do hotel, fervendo de febre, a primeira coisa que fez foi sorrir para mim, mas seu sorriso deu lugar à uma expressão de choque, que só se agravou quando seus dedos alcançaram a faixa em volta de sua cintura.

“Junmyeon, o quê era aquilo? Para onde foi?’’ Perguntou, baixinho, com os olhos marejados.

Respondi, mantendo certa distância dele ao me encostar na parede, que era uma criatura carnívora que ele nunca mais veria na vida dele.

“Você o matou?’’ Franziu o cenho.

“Matei, Sehun.’’ Respondi, hesitante. Eu sabia o quanto ele abominava a ideia de matar algo ou alguém.

Mas nada nunca me preparou para a pergunta que veio a seguir. Nada.

“O que é você? Eu tenho que me preocupar com o que você não me conta?’’ Levantou o tom de voz.

“Eu caço essas coisas. Que matam as pessoas. Você tem que se preocupar a partir do momento em que eu não consigo mais dar conta de matar todos eles.’’  Sorri de lado, encarando ele.

O  vejo assentir com uma expressão de dor, e novamente a culpa me vence.

‘’Escuta, Sehun. Agora que você sabe isso pode ficar mais frequente. Se você não me quiser mais eu vou entender…’’ Sussurro, sentando na beira da cama.

Sua mão gelada alcança a minha e a aperta de leve, com uma expressão séria em seu rosto.

Então eu compreendi. Que independente do quão perigoso fosse, ele continuaria do meu lado e jamais admitiria se afastar por algo tão banal quando uma profissão. Nós íamos fazer aquilo dar certo.

Por meses permiti que lesse meu diário de viagem, para que soubesse mais sobre aquele mundo e como combater algumas coisas caso eu não estivesse por perto, mas aquela segurança de nada valia.

Sehun, que já amava beber algumas doses de saquê, virou um alcoólatra. Me fiz de idiota muitas vezes, ignorando a quantidade de copos que levava aos lábios antes de dormir, engolindo o líquido com notável voracidade e os beijos molhados que insistia em me dar por mais que eu estivesse ocupado com diversas coisas. E em minha consciência eu tinha o conhecimento de que ele estava se destruindo desde aquele episódio com o Rugaru. Ainda podia sentir a pele marcada em alto relevo toda vez que minhas mãos passeavam por sua cintura, toda vez que ali deixava um beijo suave para indicar que não ia deixar aquilo acontecer de novo. Mas nunca foi o suficiente para confortá-lo.

E se ficar comigo era brincar com o fogo, Sehun tinha uma puta imunidade.

Não gosto de dizer mas não foi nenhuma surpresa quando, em uma daquelas noites terrivelmente quentes de verão, cheguei em casa e encontrei… nada. Nenhum vestígio de Sehun, nenhuma marca de invasão ou luta, só o silêncio mortal, algumas garrafas vazias de saquê e a sensação de que algo estava fora do lugar.

Foi com uma dor horrível e lacerante no meu peito, a mesma que me acometeu no dia em que o mais novo fora atacado pela primeira vez, que percebi que estava sozinho.

Meu casaco ainda estava sujo de sangue e fuligem -resultado de uma luta com um vampiro- quando me deitei na cama, sem tirar os sapatos nem tomar banho. Apenas me deitei e tateei o móvel, à procura de meu celular.

Esperei chegar à quadragésima quinta ligação não-atendida para começar a chorar que nem uma criança desolada. E nem assim parei de pressionar o botão que eu sabia muito bem que redirecionaria a chamada para o único número que eu tinha salvo. Era o único número que me importava, afinal. Foi o primeiro sinal de que eu estava completamente perdido.

Me indaguei, ali no escuro nada aconchegante de nosso quarto, se havia sido negligente demais com o mais novo. Se deveria ter me atentado aos sinais de que não estava bem, se é que haviam sinais disso. Apenas me lembrava de algumas vezes em que, durante seu estado de embriaguez, se dispunha a falar com o nada, embarcando em longos diálogos reflexivos demais para serem tidos naquele japonês arrastado que gostava tanto de exibir para os outros.

Mas aí que tá: só percebemos o que estava milimetricamente fora do lugar quando esta se quebra ou some de uma vez por todas. Isso vale para tudo, desde seres humanos até objetos que nossa família insiste em colocar nos lugares mais inusitados da casa.

E Sehun, desde o ataque, estava se afastando mais e mais do lugar de costume, até que fugiu de meu alcance. E, droga, só os deuses sabem o quanto eu tentei colocar na cabeça que ele não tinha fugido de casa, mas a ideia sempre voltava a me perturbar.

Já era dia de ano-novo quando voltei para Tóquio depois de procurar Sehun por seis meses seguidos, e a neve caía lá fora sem a menor piedade de quem estava na rua esperando a chegada de seja lá o que queriam que acontecesse no ano vindouro.

Era um dos meus feriados preferidos. A neve me atraía, mas hoje parecia fosca demais, feia e lamacenta. Os espíritos que provavelmente estavam rondando o local justamente por causa da data não me despertaram o menor interesse. Eu deveria estar em casa, bebendo uma taça de champanhe com Sehun, enrolado em um cobertor junto ao menor do lado de fora da casa, falando sobre nossos planos para janeiro no silêncio de nossa rua. Parecia uma grave ofensa estar em Tóquio bem naquele dia, pois não era só meu feriado preferido. Era o nosso dia especial.

Sentei-me ao balcão do bar, pedindo uma rodada inteira de saquê. Ia beber tudo de uma vez só e rezar para que ficasse bêbado o suficiente para não me importar quando o relógio acima de minha cabeça marcasse meia noite.

Lá pelo décimo quinto copo da bebida eu me senti extremamente zonzo. De um jeito que nunca me senti antes. Ri de leve, lembrando de uma lenda popular do país, e comecei a desejar mais do que nunca que fosse verdade. Ia adorar ver um demônio naquele momento.

Mas o que eu vi não era nenhum demônio. Olhei para frente e vi a pessoa que me tirou o sono nesse último ano. Ninguém mais ninguém menos que Oh Sehun.

Era ele e ao mesmo tempo não era ele. Tinha a mesma expressão marcante, mas seus olhos eram vermelhos assim como a coloração das bochechas, como se alguém tivesse dado um tapa no local. Seus cabelos não eram negros, e sim alourados, e tinha uma aura diferente. Em seu pescoço, pude ver uma marca quase negra, e visivelmente profunda. Aliás, várias marcas estavam à mostra, tanto nos braços fortes que se apoiavam no balcão quando no pedaço de seu peito que estava exposto por causa do decote da camiseta preta.

Engoli em seco quando se levantou. Era uma aura totalmente diferente, e por mais que eu já soubesse que não se tratava de um humano, ele estava muito sensual. Etéreo. E me senti tenso ao perceber que rumava ao meu encontro. Olhei em volta para as poucas pessoas que ocupavam o espaço, tentando ver se alguém havia notado sua presença tão diferente, mas ninguém além de mim parecia perceber o rapaz.

‘’Você vai tomar isso aí?’’ Apontou para meu copo, que pendia na minha mão, esquecido.

 Tive que sacudir a poeira das minhas cordas vocais, que agora eram muito pouco ou quase nada usadas.

 ‘’Primeiro você me abandona por meses. E agora aparece em Tóquio pedindo bebida? Qual é o seu problema?’’ Sacudi ele, deixando o copo cair no chão com a mesma velocidade em que as lágrimas caíam de meus olhos.

Observei, incrédulo, sua expressão impassível focada no líquido que empoçara aos nossos pés. E a ficha caiu. Não era Sehun, eu tinha perdido ele para algo maior e mais forte do que a alma pura que antes estava em seu corpo.

E me lembrei o que, depois de um encontro truculento com um lobisomem, ele me disse.


Estava sentado no meu colo concentrado em enxugar o sangue de meu rosto, que vertia de um corte no supercílio. Ele tinha visto o momento exato em que o ser tinha me atingido, já que havia prometido para Sehun que o levaria para todo canto comigo, e ainda se encontrava um pouco abatido.

Relaxou ao terminar os primeiros socorros, se largando em cima de mim e finalmente me beijando. Era nossa forma de nos cumprimentar. Primeiro, lavávamos o sangue de meu corpo. Então nos beijávamos. E de forma alguma o cuidado que tinha comigo era menos carinhoso que o beijo. Muitas vezes chegava a significar mais do que o ósculo.

Um arrepio percorreu meu corpo quando cedi permissão ao mais novo para que aprofundasse o beijo, unindo seu corpo ao meu de uma forma mais íntima ainda.

Entretanto, logo findou o contato com um último selar, e quando nossos olhares se encontraram, soube que iria falar de algo muito sério. Nossas testas estavam coladas apesar do quão suado eu estava.

“Junmyeon, me promete uma coisa?’’

“Claro, meu amor.’’ Sorri, falando baixinho ao acariciar seus fios sem corte algum.

“Se algum dia, um desses mitos e lendas que nos perseguem levar a melhor sobre mim… Você vai me matar.’’ Falou, sem titubear.

Quase engasguei com a minha saliva, e uma enxurrada de possibilidades veio em minha mente. Nunca tinha parado para pensar naquilo, e nem queria. Fugia do assunto como um vampiro fugia da estaca.

“SeHun, eu não posso…”

“Me prometa.” Ele me cortou. “Seu trabalho é proteger os outros. Considere isso como se fosse me proteger e evitar com que eu mate inocentes.”

Eu era um idiota que chorava demais com as palavras dele. Se me falasse que estava com uma farpa no dedo eu iria desabar em lágrimas só de imaginar que meu Sehun estava sentindo dor.

“É o seu trabalho, Junmyeon. E quando chegar a hora, se chegar a hora, quero que se lembre disso.” Seus longos dedos passearam delicadamente por minhas bochechas, enxugando qualquer vestígio de choro que havia estado ali.

E talvez isso retratasse muito bem nossa relação. Era sempre o último momento. O último beijo, as últimas lágrimas, o último fechar de olhos, a última gota de sangue derramada. Tudo gritava adeus entre as quatro paredes que nos abrigava.


Senti um peso enorme recair sobre meus ombros quando Sehun levou um copo à boca, ainda de olhos fixos em mim. Será que ele realmente não se lembrava de mim?

Só queria descobrir o que ele tinha virado.

“Pede mais, por favor.” Sua voz era gélida, mas no fundo eu identifiquei um pouco do seu antigo dono.

Obedeci a sua demanda, pedindo mais uma rodada. Assim que dez shots foram colocados no balcão, ele se sentou onde antes eu estava e se ocupou em tomar tudo. Permaneci estático, encarando ele com uma curiosidade nada acanhada. Ergui a mão até seu pescoço, tocando a ferida, e Sehun virou-se com uma agilidade que evidenciava sua dor. Seus olhos estava, ainda mais vermelhos, como se pudessem me queimar vivo.

‘’Não me toque.’’ Disse, entredentes, soltando um grunhido animal.

Era contra meus princípios matar algo sem que isto me provocasse antes, mas agora que eu identificara no que ele havia se transformado, sabia muito bem que era impossível ser atacado antes. Um Shojo jamais atacaria por ser de caráter relativamente pacífico. E só existiam duas coisas que lhe tiravam do sério: quando ficava sem saquê e quando lhe tocavam.

Mas, veja só, eu não tinha a menor vontade de matar ele, por mais que isso significasse quebrar a promessa. Na verdade, eu queria continuar bebendo para que não parasse de ver ele nunca mais. Quem sabe o que aconteceria se eu entrasse em um coma alcoólico?

Quando encostei meus dedos em sua nuca, um gesto que era comum entre nós, senti seu corpo se retesar, e só por alguns milésimos fiquei com medo de sua reação. Seu corpo tremia violentamente, e quando olhou novamente em meus olhos, vi que a cor de suas íris oscilava entre o chocolate e o vermelho vivo. Aquilo era o máximo que eu ia conseguir ver de Sehun sem que o monstro me atacasse.

E o que era a minha vida sem riscos? Puxei o corpo musculoso para mim, apertando o mais novo em um abraço rápido.

‘’Sehun, se você estiver aí, em algum lugar, saiba que eu te amo. Provavelmente eu nunca te disse isso antes, e sei que fiz muita coisa errada. Você não merecia isso.’’ Murmurei, contra seu ouvido, mesmo sentindo suas mãos raspando minhas costas em uma tentativa bruta de se desvencilhar de mim, rasgando minha pele. ‘’Eu só estou cumprindo o que você me pediu, ok? Não vai doer.’’

E aquilo me fez odiar o meu trabalho. Sentir o corpo de Sehun, ou do monstro, fraquejar em meus braços e seu fincar de unhas se afrouxar à medida que minha mão trêmula afundava a lâmina da adaga xintoísta em suas costas.

O suspiro que ele soltou foi tão… errado. Sabia que estava lhe dando um descanso, mas não conseguia ficar mais tranquilo em relação a seu futuro. Quando o afastei, ainda estava ligeiramente consciente, e tinha recobrado os sentidos. Os olhos castanhos opacos estavam marejados devido à dor, e suas mãos pressionavam seu peito.

Senti, com horror, Sehun pegar a minha mão, tingindo-a do líquido transparente que saía de si. Era como puro álcool. Não saberia nunca como ele sumiu, muito menos pelo quê ele passou durante aqueles meses longos e tortuosos, mas eu não queria saber. Estava me martirizando o suficiente. Em seus olhos encontrei o perdão que eu precisava.


Notas Finais


Já vou agradecendo pra xiahbolic, que me ajudou com uma leitura crítica a adicionar algumas coisinhas aqui e ali!
O intuito da fic era realmente mostrar que foi uma relação rápida e toda cheia de suas tragédias por causa do trabalho do Junmyeon, por isso os intervalos tão grandes entre uma cena e outra.
Bom, eu me sinto na obrigação de avisar a todos que eu vou deixar a Chanbaek Stay. parada por um tempo, pois eu realmente perdi o fio da meada com aquela fic (triste, mas não quero ficar enchendo linguiça onde não tem estrutura pra isso), mas em compensação no dia 24/12 vou dar início à fic Wings (BTS) e no ano novo começo uma Xiuchen, chamada Carmesim! Então, boas coisas estão por vir, stay tuned!
Espero que tenham gostado dessa one shot aqui, salve pros fãs de supernatural :')


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