História Small Bump - Second Season. - What she is doing here?

POV Camila 

Estendi o grande edredom no gramado da frente da casa, joguei os dois travesseiros, um lençol fino e a garrafa térmica em cima dele. Coloquei o notebook já aberto e ligado ali também, juntamente com as duas caixinhas de som, uma de cada lado do mesmo. Olhei para o céu acima da minha cabeça com os olhos brilhando de admiração e paixão. Desde que eu havia me mudado para Nova Iorque eu não conseguia ver as estrelas, ainda mais tantas dessa forma. Era muito raro conseguir ver o céu estrelado com todas aquelas luzes da cidade acesas da maneira que ficava, e vendo o céu dessa forma fazia com que eu apreciasse bem mais. A madrugada estava fria, já passava das duas da manhã, e eu não conseguia mais dormir, talvez por ter Lauren tão perto como ela havia deixado de estar a tanto tempo. Eu não era acostumada a dormir com seus braços ao redor da minha cintura, e não era mais o seu cheiro ou sua respiração que eu sentia as noites que eu dormia acompanhada. Então, ter ela ao meu lado, diferente do que eu pensei, era tudo, menos confortável. 
Sentei no meio do edredom estendido, de frente para o notebook, e abri o iTunes, colocando o cd Ghost Stories do Coldplay para tocar. Era mais do que apropriado nessa noite maravilhosa, eu escutar a minha banda favorita, tomando um café quentinho. Era o clima de paz que eu precisava para mim. Fechei os olhos e inalei o ar puro que estava ao meu redor. O silencio era total e absoluto, e até mesmo os animais pareciam colaborar com aquela noite tão maravilhosa, se mantendo quietos. Eu realmente precisava disso, deste momento. Precisava pensar em que caminhos da minha vida eu seguiria daqui pra frente, e quais decisões eu deveria tomar. 

O que exatamente eu estava fazendo da minha vida afinal de contas? Estou me colocando em meio do fogo cruzado, esperando que eu não me queimasse. Estou sendo inconsequente, burra, imatura, coisa que eu jurei para mim que nunca mais seria. Porque Lauren faz com que eu volte a época em que eu era apenas uma menina inexperiente e com hormônios a flor da pele? Porque com apenas um olhar ou sorriso ela faz com que eu me esqueça tudo o que aconteceu comigo esses dois anos? 

Não, eu não podia esquecer, nem mesmo por Lauren. 
Quando eu saí do hospital, eu jurei para mim mesma que antes de me envolver com alguém de novo, eu pensaria bem antes disso, que não agiria mais por impulso, porque depois da minha cirurgia, não era apenas a minha vida que mudaria dentro de um relacionamento. Além de tudo, existe também Valentina, que pra mim sempre será única. Ela é apenas uma criança, não entende absolutamente nada do que se passa em nossas vidas, ao nosso redor. Eu preciso principalmente pensar nela também, não podia ser inconsequente logo agora, depois de tudo o que eu passei. 

Eu não tenho mais idade para brincar. 

- Camila? - Olhei para trás, atendendo ao chamado. Lucy estava atrás de mim, também de pijama e cabelos bagunçados. Sorri fraco para ela e bati no espaço vazio ao meu lado, chamando-a para sentar - O que está fazendo aqui ha essa hora? 

- Não é todo dia que eu acordo e me deparo com o céu tão bonito desse jeito, e esse clima tão gostoso e fresquinho... Então peguei umas coisas e vim para cá aproveitar. 

- E para pensar, não é? - Deitou-se, com a cabeça em minhas coxas. 

- Principalmente para pensar, Lu.. 

Ficamos em silêncio por uns instantes. True Love começou a tocar, e automaticamente me lembrei de Ariana, já que ela sempre costumava dizer que essa música fazia com que ela lembrasse de mim. Senti a saudade imensa invadir meu coração, fazendo aquela tão conhecida angústia tomar conta de mim. Meus olhos de encheram d'água. Eu queria abraçá-la agora. Levei as duas mãos até o rosto, o cobrindo, e me deixei chorar baixinho. 

- Ei Mila, não chora - Ouvi Lucy pedir se levantando, para logo em seguida me abraçar. 

Just tell me you love me. (Só diga que me ama)

If you don't, then lie, oh, lie to me. (E se não me ama, então minta, oh, minta para mim)

Tirei as mãos do rosto, limpando as lágrimas, para retribuir o abraço que a mulher loira estava me dando para me confortar. 

- Eu estou com saudades dela, Lu - Funguei dolorosamente. 

- Mas ela está lá dentro, é só você entrar. 

- Não estou falando da Lauren - Ela nos separou por uns instantes, confusa - Ariana.. 

- Ariana? - Arqueou as sobrancelhas, ainda sem entender o que eu queria dizer. 

- Sim Lu, a Ariana... Eu sinto falta dela.

Ela ficou calada, parecendo assimilar as coisas. Enquanto isso, a música mudou, e agora Midnight tocava. Abri a garrafa térmica e dei uns goles no café dentro dela, sentindo meu corpo arrepiar pelo gosto e a temperatura. 

- Vocês estão juntas? - Lucy tornou a falar. Neguei com a cabeça, ainda bebendo o café - Eu não sabia que isso havia passado da amizade. 

- Nunca foi só amizade Lu, não da parte dela. 

- Estou falando de você Camila. Eu não sabia que havia passado da amizade pra você... Quando aconteceu? 

- Eu não sei, simplesmente aconteceu. 

Deitei no edredom de barriga para cima, com a cabeça apoiada em um dos travesseiros macios. Passei a garrafa de café para Lucy, que deu um longo gole, antes de virar para mim com a expressão mais seria que eu já havia visto em seu rosto. 

- Você a ama? 

- Amo - Respondi sinceramente - Eu devo muito a ela, Lucy, mais do que você e qualquer pessoa possa imaginar. 

- Isso é gratidão, Camila. 

- Eu sei muito bem distinguir meus sentimentos. 

- Então você sabe exatamente que o tipo de amor que você sente pela Ariana não é o amor que ela espera que você sinta. Você gosta dela, isso ninguém pode contestar, é grata a ela por tudo o que ela fez para você, que pelo visto foram muitas coisas. Mas você sabe que o amor que você sente por ela, não é amor de amantes. 

- Tanto eu quanto ela sabemos disso... - Murmurei, limpando as lágrimas do meu rosto. 

- Então porque vocês se relacionam, huh? 

- Não nos relacionamos, Lu - Ela arqueou as sobrancelhas, novamente me olhando confusa - Ariana voltou para a minha vida tem um ano e alguns meses, e nesse tempo tudo o que ela fez cuidar de mim, sem segundas intenções ou me pedir nada em troca. Ela apenas permanece ao meu lado, cuidando de mim, mesmo que eu a expulsasse da minha vida dia pós dia nos primeiros meses. Contudo, nós nunca nós envolvemos de fato, entende? Ela nunca deu esse passo, e eu também não estava pronta para dá-lo até o dia que eu vim para cá. Eu estava certa de que estava pronta para seguir em frente. Certa que eu poderia ficar com ela e ser feliz... 

- Mas então você viu Lauren novamente e tudo o que você sentia por ela reacendeu, não é?- Ela concluiu com um pequeno sorriso. 

- Nunca apagou Lu, mas eu achei que ao menos tinha diminuído, sabe? - Abaixei a cabeça, negando tristemente - Mas não diminuiu, apenas pareceu crescer ainda mais. Eu não consigo ficar longe dela, é como se o meu corpo gritasse por ela a cada segundo que ela chega perto. A atração entre nós é tão ridiculamente forte que chega a me assustar. Eu amo essa desgraçada, e eu odeio tanto isso, Lucy... Eu odeio tanto amar ela, eu odeio. 

- Tudo vai ficar bem, Mila, eu prometo isso.

A loira se deitou ao meu lado e me puxou para sentar com a cabeça em seu estômago, o que eu rapidamente fiz. Com uma de suas mãos, ela começou a acariciar meu cabelo, enquanto a voz de Chris Martin ecoava por ali. Fechei meus olhos para apreciar o carinho gostoso, e em poucos minutos eu já estava lutando contra o sono. Lucy cantarolava baixinho A sky full of stars, me ninando. 

- Vamos entrar? Não podemos dormir aqui nesse frio - Ela pediu, fazendo menção de levantar cuidadosamente para que eu levantasse também. 

- Pode ir, eu vou ficar mais uns minutos aqui. 

- Tudo bem Mila, boa noite - Me deu um abraço e um beijo na bochecha - Até mais tarde.. 

- Até.. 

Me enrolei no lençol e fiquei até quatro da manhã ali, olhando esse céu bonito. Me deixei pensar mais uns minutos em tudo aquilo que estava me rondando, e nas atitudes que eu deveria tomar. Quando estava prestes a entrar, equilibrando todas as coisas nas minhas mãos, vejo minha mãe e Mike entrarem com suas malas em mãos. Coloquei as coisas no chão e corri ate os dois. me jogando em seus braços desesperadamente, forçando-os a me dar um abraço triplo. 

- Que recepção boa - Mike comentou, dando um beijo em minha bochecha - Que saudades da pequena Mila não tão pequena assim.. 

- Eu também senti sua falta, papa - Funguei, enterrando o rosto em seu pescoço - Da senhora também mama. 

- Eu também senti, minha princesinha. - Falou toda carinhosa, acariciando meus cabelos - O que fazia há essa hora aqui fora? 

- Estava olhando o céu, esta lindo  hoje. - Apontei para cima, mostrando á eles - Vamos entrar? Daqui a pouco amanhece e vocês precisam descansar... O velório é as dez... 

Mike assentiu e começa a andar em direção a casa, sendo seguido por mim e por minha mãe. Eu peguei as coisas que estavam no chão e levei para meu quarto, apenas para deixar lá, voltando para a sala em seguida, onde minha mãe e Mike estavam. Eles não quiseram dormir, ao invés disso, ficamos conversando até amanhecer. Mike exigiu saber como Lauren havia me tratado, se ela tinha sido boa comigo, se já tínhamos conversado. Sua resposta veio quando Lauren apareceu com nossa filha toda dengosa em seus braços, perguntando porque eu havia acordado tão cedo. Nossos pais sorriram admirados com a cena, vendo Lauren se sentar ao meu lado e me dar um beijo na testa de bom dia. 

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Ajeitei o vestido preto em meu corpo, enquanto olhava meu reflexo no enorme espelho que tinha no closet do quarto. Era um lindo e simples vestido preto, sem decote e de comprimento até acima dos joelhos. Os saltos em meus pés eram de cor nude, com saltos enormes, e meu cabelo estava preso em um coque bem feito no tipo da cabeça. Não usei muita maquiagem, apenas delineador e um batom rosa bem fraquinho. Valen estava deitada na cama, me observando com seus olhinhos cheios de lágrimas. Ela vestia um vestidinho rodado branco e preto, com sapatilhas pretas e um lacinho branco prendendo seu cabelo na parte detrás da cabeça. Eu não queria levá-la ao velório, era triste demais para uma criança estar, mas ela insistiu tanto para ir se despedir de seu bisavô que eu não consegui dizer não. Todos os familiares de Lauren já haviam chegado, inclusive nossos pais e os pais e avós de Lucy e Vero. 

- Eu vou no quarto de sua mãe ver se ela já acabou, quer vir comigo? - Ela assentiu fungando baixinho, se aconchegando nos travesseiros - Tem certeza que quer ir, meu amor? Eu posso ficar aqui contigo. 

- Eu q-quero.... Eu quero ver o vovô. 

- Amor, não será o seu vovô que estará lá... Você se lembra o que vovó disse pra você? Seu avô virou uma estrelinha, se você quiser, a noite podemos vê-lo. 

- Ela disse que ele é a estrelinha mais brilhante do céu - Choramingou, sentando-se na cama - Mas eu quero ir mama, a senhora pode me carregar? 

- Só até o quarto de Lauren, okay? Depois você pede para ela carregar você, ela é mais forte que eu. 

- Okay mama! - Estendeu os bracinhos para mim. 

Peguei Valentina no colo sem muita dificuldade e saí com ela em direção ao quarto de Lauren. Bati na porta duas vezes e entrei apenas quando Lauren deu permissão. Coloquei Valentina na cama e fui até o closet, onde minha ex esposa estava parada na frente do espelho, colocando sua gravata. 

- Ei - Chamei sua atenção, caminhando até ela, que sorriu para mim - Vem, deixa eu terminar isso para você.. 

- Como nos velhos tempos - Tirou as mãos da gravata e parou na minha frente, me deixando fazer o nó - Onde está Valentina? 

- Deitada em sua cama, ela está um pouco mole essa manhã. 

- Não é uma boa ideia levá-la, Camz... Não é lugar para crianças lá. 

- Ela quer, eu não vou dizer não para isso - Terminei com sua gravata e a ajeitei, fazendo o mesmo com seu terno

- Mas ela já está mole hoje, vai acabar ficando doente, eu não quero isso... 

- Lo, se acalme... 

Eu pedi acariciando seus ombros. Mesmo a contragosto ela assentiu. Fui até deus vários saltos altos e peguei um Louboutin preto de camurça e dei para ela, que logo calçou. Penteei seus cabelos e passei uma maquiagem leve, apenas para tirar suas olheiras. Ela havia dormido a noite inteirinha, mas estava tão mentalmente cansada que isso acabava transparecendo na aparência. Olhei para meu relógio de pulso que marcava oito e meia da manhã, precisávamos sair logo ou nos atrasaríamos. Lauren estava ainda parada na frente do espelho, mas seu olhar estava perdido no nada. Eu caminhei até sua frente e, sem pensar duas vezes, envolvi meus braços em sua cintura, dando-lhe um abraço apertado. Ela logo reagiu, me abraçando carinhosamente pelo tronco. 

- Pronta para ir? - Perguntei com o rosto enterrado em seu pescoço, sentindo o cheiro gostoso de seu perfume adocicado.

- Sim, mas... me deixa aproveitar esse abraço por uns minutos - Pediu acariciando meus cabelos, de um jeito que não me deixou recusar. Apertei meus braços com mais força envolta da sua cintura, arrancando-lhe um suspiro - Prometa que não vai sair do meu lado nenhum segundo quando estivermos lá, por favor. 

- Eu prometo Laur. Não vou há lugar algum. 

- Obrigada, eu sei que não mereço isso vindo de você... 

- Shh, vamos lá, não pense nisso agora. - Separei nossos corpos, levando minha mão até a sua, entrelaçando nossos dedos - Pronta? 

- Pronta - Respirou fundo e sorriu, me puxando para fora do closet. 

Valentina estava deitada na cama, abraçada ao travesseiro de Lauren, brincando com o pingente da pulseira que estava em seu pulso. Quando nos viu, a pequena olhou para as nossas mãos juntas, nos dando um lindo sorriso amplo, antes de se levantar da cama e caminhar em nossa direção. Lauren a pegou no colo com um braço só, como se não quisesse soltar minha mão de jeito nenhum. Valentina abraçou o pescoço da mulher mais velha, escondendo o rosto ali mesmo. Na sala, todos estavam parados de pé, conversando, e quando nos viram, tiveram a mesma reação que Valentina teve a uns minutos atrás, exceto por Jason, mas esse eu nem fazia questão de olhar na cara. 

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O funeral, como todos, foi muito difícil. A oração ficou por conta de Lauren e Mike fazerem, já que vovó não tinha condições de falar. Valentina ficou o tempo inteiro sentada em meu colo, com a cabeça enterrada em meu pescoço, totalmente quieta. Ela chorou, mas foi por ver Lauren chorar enquanto dizia suas ultimas palavras para Vovô Carlos. Quando a cerimônia acabou, os parentes e conhecidos da família vieram dar suas condolências. Eu estava parada ao lado de Lauren, como havia prometido para ela, cumprimentando todos que se aproximavam. Ao longe, na entrada da igreja, eu avistei uma mulher alta e magra começar a entrar. Ela usava um vestido preto no meio das coxas, os cabelos soltos e um enorme salto agulha. Lauren conversava com os pais de Lucy, tentando inutilmente fazer Valentina largar seu pescoço para cumprimenta-los. A mulher alta vinha caminhando em nossa direção, cabeça baixa, com os cabelos cobrindo o rosto. Apertei os olhos, tentando encheria-la melhor, mas a claridade e os cabelos no rosto impedia. Quando ela chegou a um metro de onde Lauren e eu estávamos, eu consegui ver de quem se tratava. 

Que porra ela estava fazendo aqui? 

Meu corpo ferveu, e a minha vontade era voar no pescoço daquela vadia magrela. As coisas que Lauren, Lucy e Veronica me contaram ha anos atrás voltaram para minha cabeça. Meu coração começou a bater acelerado dentro do peito. Olhei para o lado esquerdo, onde Lucy e Veronica estavam e as encarei. As duas estavam tão surpresas quanto eu. Lucy deu um passo para frente, mas Vero segurou seu pulso, sussurrando algo em seu ouvido. Talvez ela tivesse dito que ali não era hora e nem lugar para brigar. Mas eu não conseguia me acalmar, eu queria voar no pescoço daquela vagabunda, e Deus que me perdoasse depois.  

- Camz - Ouvi Lauren sussurrar divertida ao meu lado assim que os pais de Lucy se afastaram - Ei Camz, você está apertando minha mão com muita força. 

- Perdão - Respondi no mesmo tom, tentando lhe sorrir, mas não consegui. 

- Qual o problema? Porque você parece prestes a assassinar alguém? 

Eu não tive chances de responder, logo a alta mulher se aproximou de nós, parando a nossa frente. Ela estava quase do mesmo tamanho de Lauren, e muito maior que eu. Lauren ainda não tinha visto-a já que estava virada para mim, ignorando qualquer coisa que estivesse ao redor. 

- Lauren? - Alexa chamou com a voz baixa, tremula. O corpo de Lauren enrijeceu ao meu lado, seu sorriso divertido sumiu completamente, dando lugar a uma expressão dolorosa. Ela tornou a ficar ereta, segurando Valentina em seus dois braços. Tive pena da pequena, ela parecia estar sendo esmagada por aqueles braços fortes - Oi...