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História Solitude - O sábio pessimista


Escrita por: BlacKHouseGomes e cki

Notas do Autor


Eai galere, tudo bom com vocês?

Apesar de sempre focar na objetividade, a essa altura é impossível escrever um cap de Solitude com menos de 10k de palavras. E olha que eu tentei, acreditem haha.

Enfim, recomendo que leiam em um espaço de tempo livre e tranquilo.
...
Avisos!

Conteúdo sexual explícito, violência e linguagem imprópria.

...


Boa leitura, vejo vocês lá embaixo. ❤

Capítulo 25 - O sábio pessimista



O aroma inconfundível de lavanda mesclada a baunilha evidenciavam a presença dela e o calor do corpo extra na cama era aconchegante. Gostava mesmo de dividir a cama com Hermione, o conforto fornecido por ela trazia uma preguiça gostosa, se possível, poderia passar a vida inteira alí. Em todo caso, acordar com gotas salgadas caindo sobre seu rosto e tapas no peitoral não era bem algo com o qual Draco estava habituado, geralmente suas manhãs junto a Granger começavam com sexo. Ao abrir os olhos, Hermione estava sentada sobre seu abdômen, e nos úmidos olhos castanhos haviam mil juras de maldições.

- Mas que diabos... - Conseguiu rolar sobre o corpo menor, se apoiou nos joelhos para não esmagá-la, usando uma mão para segurar os braços de uma leoa enfurecida acima da cabeça dela. - Ficou louca mulher?

- Eu te odeio, você é um falso!

Draco ainda sonolento a encarou completamente confuso.

- Por que me odeia?

- Você me traiu! - Hermione acusou, como quem aponta o óbvio. - Seu imbecil, desavergonhado, descompromissado!

- O que...?

- Não se faça de idiota!

- Não trai você, Granger. - Draco coçou os olhos com a mão livre, continuava sem compreender bem o que acontecia. - Eu estava dormindo...

- Teve cara de contar sobre o bebê para os meninos, sem me consultar, tentou passar por cima da minha decisão! Brigou com o Harry mais uma vez! E se aproveitou da minha fragilidade horas atrás para impedir que eu desse um fim a isso!

- Não conversamos sobre esse assunto antes de dormir?

- Eu não estava sóbria! francamente, você acha que as coisas se resolvem tão facilmente? Te aconselho que vá fazer outra de tola, Draco Malfoy!

- Sei que não resolvemos tudo, mas imaginei que teríamos outra conversa, não esperava acordar com você tentando me matar! - Draco disse com ríspidez, não estava de fato bravo com ela, o problema era seu cérebro estagnado pelo sono. - E por que esteve chorando, droga?

- Eu não quero nenhuma conversa! Estou decidida a acreditar de vez que Draco Malfoy não é confiável. - Hermione fungou, e fechou os olhos com demora, uma tentativa de ocultar seu pranto. - Porque você me enganou!

- Não diz isso, nunca te enganei. Eu errei, e tem o direito ver isso como uma traição, mas asseguro que "te fazer de tola" não foi o que planejei.

- E tem mais, não é a primeira vez! Você me enganou há duas noites, voltando pra casa com cheiro de bebida e aquela horrível marca de batom! - Hermione tinha os olhos acessos, ficaram ainda mais úmidos, não chorava mas demonstrava sua insegurança.

- O que isso tem a ver com o que falávamos a pouco? - Draco perguntou saindo de cima dela, sentou no meio da cama e escondeu o rosto nas mãos em desistência.

Não demorou a reconhecer que aquele era um dos desastrosos episódios de "montanha russa emocional" no coração e no cérebro da castanha. Acontecia quando ela chegava ao limite de confusão interna e não sabia mais o que fazer. E isso ficou muito mais comum após a gestação. Por sorte Draco entendia que durante esses momentos, ele tinha que por obrigação fugir da briga, para não acabar magoando a mulher de sentimentos peculiares com sua crueza e falta de experiência em se relacionar emocionalmente. Hermione não fazia o tipo sensível, mas agora era diferente, estavam crescendo um no outro, e era aceitável que ela se sentisse insegura em relação as verdadeiras intenções de Malfoy.

- Não se esquive do assunto, garoto! Você mentiu, não foi? - Hermione se sentou frente a ele, abraçando um travesseiro.

- Para com isso, Granger. não é bom para sua saúde que fique se estressando sucessivamente. - Draco usou um tom de voz terno e preocupado.

- Como tem coragem em fingir que se importa comigo enquanto foge no meio da noite para ver prostitutas?!

- Por Salazar, isso é ridículo! Hermione, eu não fui ver nenhuma prostituta... - Draco chiou antes bocejar cansado.

Ainda estava escuro lá fora, talvez tenham dormido pouco mais de duas horas. E ela aparentemente dormiu menos ainda, Draco notou que os cabelos estavam levemente molhados e usava agora um pijama diferente do que usou quando foram deitar antes.

- Porra, Granger. Você não dormiu? - Ele quis saber com indignação.

- Nunca conseguiria dormir ao lado de um traidor!

- Hermione, há meses não busco nenhuma mulher além de você. - Draco disse em um tom letárgico, em outra situação não daria explicação nenhuma. Desde os tempos de Hogwats era comum ter alguma menina cobrando justificativas e se mostrando ciumenta. Nunca ligou, pois, também nunca havia demonstrado ciúmes recíproco. E algo sobre imaginar que Hermione sentia no momento o que ele sentia quando a via próxima de Potter, era preocupante.

- Olha Draco, chega. Talvez seus hábitos poligâmicos tenham funcionado com outras mulheres no passado, mas não funciona assim comigo! Não tenho nenhuma vontade de ser sua concubina ou...

- Fui buscar tratamento pra minha mãe, e também precisei pesquisar onde era o melhor lugar para você poder ter o parto. - Iniciou movimentando as mãos, com quem detalha cada um dos seus passos. - A enfermeira que recepcionava se recusou a passar informações mais detalhadas, você sabe, por precaução e segurança solicitei o histórico exato dos médicos trouxas que escolhi para vocês, quis averiguar tudo de perto. Atrai a enfermeira para o corredor escuro e menos movimentado, onde planejava amaldiçoá-la para obter controle e acesso livre ao que precisava, mas ela entendeu errado... - Draco coçou a nuca buscando as melhores palavras, não encontrando-as. - E bem, atacou meu pescoço.

Hermione segurou o queixo de Draco, com uma delicadeza controversa a estado de espírito que aparentava, e buscou o contato com seus olhos. Ela estava emburrada, linhas de estresse marcavam o espaço entre as sobrancelhas, e os olhos estavam avaliativos e julgadores.

- E você correspondeu o avanço dessa mulher? - Quis saber em um sussurro, mordiscando o canto do lábio em inseguridade.

- Sim, é claro. - Draco rolou os olhos, achando realmente boba aquela demonstração de insegurança. Por acaso ela não se olhava no espelho? - Inclusive, voltei pra você apenas com a ideia de informar que o casamento foi marcado para a semana que vem. Pensei em colocar um vestido azul bebê em Blue e o nomear como dama de honra! Apareça por lá, não vai querer perder essa.

Hermione não usou a chance de replicar ao sarcasmo insensível de Malfoy, o julgamento em seus olhos desapareceu, embora ainda estivesse com o semblante fechado, não tinha mais motivos para estar brava com ele, mas estava.

- Eu não consigo me concentrar na droga da briga com você tão próxima... - Draco sussurrou após alguns segundos de silêncio, com um sorriso que ele não tinha consciência da existência desenhado em seus lábios.

Sem avisar, com um movimento se posicionou atrás de Hermione, e passou a pressionar os músculos tensos na região ombros, deslizando a mão até a nuca igualmente tensa. Todos os sentidos rendidos ao cheiro dela, a capacidade de sustentar um diálogo corria sérios riscos. Eram sensações estranhas, Draco não fazia muita questão de entender sobre o que acontecia com ele quando Hermione estava por perto.

- Você precisa parar de falar esse tipo de coisa... e parar de agir dessa maneira, falo dos sorrisos e sobre essas massagens. - Ela censurou as ações do loiro, vendo que ele conseguia ser mais insuportável com a curiosa ideia de conquistá-la que quando era apenas Malfoy, o imbecil.

A concentração dela própria ficou comprometida, pois, seu corpo atendia em chamas aos toques dele, desejando que perdurasse.

Aparentemente, estava apaixonada pelo imbecil, e não tinha ideia de como desfazer isso. Hermione pensava contrafeita.

- Ainda sente medo, por isso todo esse chilique simplório. - Ele concluiu, subindo uma mão por dentro da fina blusa de Hermione, sentindo cada ondulação de sua espinha dorsal.

- Não tenho nenhuma confiança no que você pretende estabelecer com esse comportamento. -  Insistia no diálogo ao contrário do cérebro, seu corpo estava sob os domínios dele. - Se é que realmente pensa em "estabelecer" algo.

Se preocupava com a forma que sempre se encontrava solicita as carícias de Malfoy, que agora era coisa comum. Quando queria vencê-la em uma "briga", oferecia massagens e beijos quentes. Era certo que odiava isso na mesma e extrema proporção que igualmente amava. Draco quase nunca discutia quando o assunto era eles, e para fugir tentava desestabilizar seu raciocínio. No entanto, aquela vez foi diferente:

- Acha mesmo que vou te machucar?- Draco suspirou próximo ao ouvido de Hermione, ainda explorando a pele de suas costas, acabou com a estreita distância que separava seus corpos ao notar ausência de um sutiã.

- Você é uma ofensa pessoal a tudo que acredito. - Hermione retrucou cheia de razão, e simultaneamente suas mãos a traíram, indo para trás, numa tentativa de alcançar a barra da camisa do sonserino. - O que está fazendo é desonesto, me passando essa falsa sensação de segurança.

- Tudo que ofereço a você é verdadeiro. Pode ser confuso e turbulento, eu sei, mas olhe meu estado, Hermione... Estou terminantemente preso no que somos.

- E expondo como se sente dessa maneira, onde planeja chegar? - Hermione seguia aproveitando a deixa do inesperado diálogo sobre sentimentos, lançando cada uma de suas dúvidas e incertezas. - Á simples vista, você pode estar confuso e acabar assimilando como sentimento um simples apego... ou atração sexual.

- Conhece meu passado - Draco pontuou. - Não duvido que durante algum momento nos corredores de Hogwats, você deva ter escutado buchichos... - Silenciou-se, esperando uma reação dela.

Hermione abanou a cabeça, mordendo o lábio de baixo em nervosismo e um tanto acanhada com a distante lembrança dos boatos sobre Draco, que vez ou outra alcançavam seus ouvidos sem ser solicitados.

Basicamente, era promíscuo e beberrão, um adúltero em potencial.

- Sendo esse o caso de maior preocupação, garanto que sei diferenciar desejo de... eu não sei bem o nome, tá legal? - Draco se perdeu no raciocínio, no entanto, estava determinado a ser honesto com ela. - Nunca me esforçaria a ponto de conversar sobre esse tipo de 'coisa' se minha única finalidade fosse tirar proveito do seu corpo. Eu desejo seu corpo... E também desejo você dentro dele, sabe?

Hermione fechou os olhos e respirou fundo. Estava realmente acontecendo, eles conversavam sobre o destino daquela relação.

- Estou entrando no terceiro mês de gestação, e há menos de um mês você disse coisas horríveis sobre o bebê. Você entende o que está fazendo Draco? Sabe o peso da responsabilidade que acompanha essa conversa? Não pode entrar na minha vida ou na vida do meu filho de maneira brusca e instável, quero dizer, eu nem mesmo sei o que você pensa sobre minha origem agora, não sei o que pensa a respeito do 'sangue' do bebê... Não posso arriscar acordar em um dia e ser vítima da sua inconstância de crenças, você pode experimentar o que é o preconceito quando foi destratado nessa casa, e espero que tenha percebido o quão desagradável isso é, olhe como o mundo está, uma guerra inteira enraizada em puro racismo. Eu não vou ficar com um homem assim, Draco. Gosto mesmo de você, mas não é cabível a idéia de estar com alguém que pensa coisas horríveis sobre o meu sangue.



- De todos que estavam presentes no dia em que você se acidentou, apenas o meu sangue foi compatível com o seu. Nem mesmo o maior parvo de todos os homens poderia sustentar crenças raciais ridículas após isso. Não vou pedir desculpas por todos esses anos, pois, no seu lugar eu não me perdoaria. E se formos entrar no critério de mérito, essa conversa não teria nem mesmo um motivo para acontecer. Se continuar com isso, nós dois sabemos que eu não mereço você e a única coisa que posso oferecer é esse novo cara, que eu não conheço muito bem, mas parece ser louco por você. - Draco fechou os olhos por breves segundos, tomando coragem para terminar o que começou. - Juntos enfrentamos muitas coisas quando começamos, e eu sinceramente não penso em retroceder nem mesmo um passo. Está feito. Quero manter assim.

- Você quer mesmo manter... nós dois? - Um quase sussurro carregado de mais emoções do que ela era capaz de catalogar.

- Quero. Você quer? - Devolveu a pergunta, antes de deslizar a língua através da pele exposta no ombro direito da castanha, tirando do caminho a fina alça de sua blusa.

Hermione não respondeu, engolindo em seco, mas nada pode fazer para silenciar seu coração e corpo que agora pulsavam em sintonia as palavras e aos toques de Malfoy.

- Imaginei. - Draco murmurou quebrando o silêncio quando ficou comprovado que não teria uma resposta, prosseguiu massageando os ombros e as costas da castanha. - Escutei o que ele propôs quando se trancou com você naquele quarto.

- Draco...

- Eu entendo seu lado. Vou respeitar a distância se decidir aceitar Potter como seu...

Hermione pegou a mão dele, a que estava pousada em seu ombro esquerdo, e a levou para cima do seu seio sensível.

Queria ele.

- Eu não consigo sequer me imaginar com um homem que não seja você. Somente preciso... - Hermione não terminou, prendendo o ar quando ele pressionou a palma contra seu mamilo entumecido.

- O que quer que eu faça com você? - Draco afundou o rosto na curvatura do pescoço de Hermione, ficando satisfeito com os suspiros pesados que arrancava dela.

- Quero que pare de pensar absurdos sobre meu relacionamento com o Harry... e peça minha ajuda antes de se insinuar para uma enfermeira em troca de informações, pare de socar e amaldiçoar meus amigos, nunca mais tente decidir minha vida por mim... E eu quero que você coloque sua boca aqui... - Hermione apertou por cima da mão que estava massageando seu seio. - Por favor.

O plano dela era acabar de destruir sua sanidade, e estava conseguindo.

Se moveu sobre a cama outra vez, indo parar na frente dela. Hermione mesma tirou a própria blusa e apoiou as costas nos travesseiros, esperando por ele. A ereção de Malfoy doia com o atrito contra o tecido da calça, e antes de se deitar sobre ela, abriu o zíper para aliviar a pressão. Sentiu a pele de Hermione se arrepiar quando tocou um dos seios com a língua, e sem postergar colocou na boca, como ela queria. Hermione tinha uma estranha mania de marcá-lo durante o sexo, e no momento fazia isso com as unhas, arranhando o espaço de pele na nuca do sonserino.

- Talvez você esteja confusa demais para ... - Lutando contra seu corpo, que no lugar de palavras apenas desejava se afundar naquela mulher, tentou fazer o uso da condescendência, tendo em vista que poucos minutos atrás Hermione experimentou todas as emoções possíveis para um único ser humano.

As breves palavras com intuito nobre foram descartadas, Hermione calou sua boca com um beijo exigente, e para lançar fora de vez a escassa decência do rapaz, sussurrou por cima dos lábios dele:

- Não foi apenas o sutiã que esqueci de colocar após sair do banho...

Hermione soltou um gritinho em meio a uma risada após sua declaração, quase que imediatamente, Draco deslizou por suas pernas o short de pijama que ela usava. Soltando um suspiro de ar abafado com confirmação da verdade nas recentes palavras da castanha.

Tornou a deitar-se sobre ela, subiu uma mão para os cachos castanhos acima da nuca, e a beijou. Um beijo completamente original, nunca experimentado por eles, curioso para provar mais, Draco aprofundou o beijo. Deslizou a mão destra pela barriga de Hermione, fazendo-a se arrepiar um pouco mais, desejo e a reposta de sua pele fria explorando a dela.

Sorriu em meio ao beijo, assistindo a ansiedade que ela demonstrava para o contato imediato, buscando por seus dedos movimentando os quadris.

- Quanta i-imaturidade... - Sussurrou separando suas bocas, permaneceu com os olhos fechados, os lábios contraídos mostravam seu protesto.

- Você quem me acordou de madrugada para descobrir como consegui aquela marca de batom.

- Está se achando, não é Malfoy? Saiba que foram os hormônios, e não eu. - Hermione mal conseguia falar, perdida em meio a constatação de que era louca por ele, e um tanto constrangida, apesar de confiar nas palavras do sonserino, não era tarefa simples se sentir totalmente segura conhecendo o histórico de Malfoy, o imbecil.

Draco por fim tocou-a onde queria, Hermione gemeu satisfeita e abriu os olhos, encontrando o olhar dele preso em seu rosto.

- Entrei em guerra comigo mesmo por meses somente para te ter, Granger. Aconselho que avise isso aos "seus hormônios". - Draco lembrou a ela, mordendo seu queixo e deslizando a língua para baixo.

- Merlin ... sim, tudo bem ... - concordou, entraria em acordo com qualquer coisa que ele dissesse enquanto estivesse beijando seus seios e tocando-a abaixo do ventre. - Se você quebrar meu coração, Malfoy, vou socar seu nariz ... e bagunçar toda cozinha.

Draco sorriu outra vez, erguendo-se, exigiu:

- Fique de joelhos. - Não foi uma solicitação, pois, ele mesmo ergueu as costas de Hermione do colchão, controlando-a com as duas mãos grandes em seus quadris.

- Draco - Hermione clamou em um suspiro - O que você vai... - Se interrompeu em um gemido baixo, assistindo curiosa e consideravelmente empolgada, os movimentos do homem, que deitou-se na cama de barriga para cima, moveu seu corpo mais uma vez e escondeu o rosto no espaço entre suas pernas.

Experimentou o melhor dos prazeres, sentindo a língua fria palmilhar toda extensão de sua região hipersensivel, gerando reações controversas a natureza da temperatura do toque, sentia como se ele estivesse açulando todas moléculas de seu corpo com um maçarico. Os sentidos se perderam em algum lugar bem longe. Hermione se agarrava ao pouco do discernimento que restou para não acordar ninguém com o sons que lhe escapavam da boca sem permissão. A intensidade das sensações fugia do contexto, não se tratava somente do prazer e o sexo, se é que algum dia funcionou as inúmeras tentativas de convencer a sí mesma por meio de desculpas farrapas, de que não estava completamente entregue para aquele homem.

Estavam em meio a uma guerra, e por ordem do destino deveriam estar de lados distintos, atacando um ao outro com maldições de morte. Mas de alguma forma, conseguiram burlar até mesmo sentença determinada pelo destino, não estavam em um campo de batalha tentando contra a vida um do outro. No lugar de morte, juntos fizeram existir outra vida. Draco Malfoy e Hermione Granger estavam em uma cama, deixando transbordar os sentimentos que nutriram um pelo outro e durante todo esse tempo fracassaram em ocultar.

O suor evidenciava o incêndio que crescia no âmago de Draco, a cada vez que seu nome escapava dos lábios dela. Gostava de quando Hermione abandonava os pudores, deixando bem claro que reservava todos seus desejos unicamente para ele. Não existia mais ninguém para nenhum dos dois. Ela podia mesmo se soltar na companhia do homem com quem se sentia segura. Era hipnótico vê-la perdendo o juízo em contato com sua boca, deslizava as duas mãos pelo próprio corpo, deixando Draco com inveja. Ele com um impulso fez a substituição, recebendo dela gemidos ainda mais satisfeitos quando envolveu os dois seios com as mãos.

Hermione tombou a cabeça para trás, segurando-se nos bíceps de Draco. Fechou os olhos quando sentiu o ar falhar em chegar aos pulmões, a taquicardia atacou seu coração já barulhento, o corpo vibrou, e prevendo que seria impossível conter o som, alcançou sua blusa que estava amassada sobre os lençóis, e tentou levar o tecido a boca, com a intenção de mordê-lo. Draco impediu segurando o braço de Hermione, e aplicou ainda mais pressão e movimento no ponto onde sabia que a levaria ao êxtase.

Quis ouvir dessa vez, não se importou nem um pouco com os quartos vizinhos.

- Coloque as mãos na cabeceira, vai precisar de apoio.  - Draco manteve as rédeas, sabendo que não seria questionado. À medida que se erguia, deixava uma trilha de beijos por toda extensão das costas da mulher que ainda era atingida por espasmos do primeiro orgasmo.

Aquele era o único lugar onde Hermione abria mão do autodominio, Draco sabia  aproveitar isso, e ela gostava. Acatou as palavras dele, usando a cabeceira da cama como suporte.

Draco redeou a cintura de Hermione com um braço, após se livrar da calça e também da boxer. Com o coração trabalhando a todo vapor, a irrigação sanguínea fazia o pênis do rapaz pulsar em ansiedade. A expectativa de estar dentro dela circulava em seu cérebro, e mais uma vez se via agradado com o fato de Hermione nunca ter se incomodado com sua apetência brusca.

Resmungou um palavrão baixo, quando sentiu a pele úmida e quente envolver seu membro, e antes de tomá-la com todo vigor que sempre era despertado por ela, virou o rosto de Hermione para o lado, segurando em seu queixo.

- Tenho planos de passar longos anos mudando a ordem de organização dos seus livros por gênero no lugar de cor.

Hermione riu, roçando os lábios nos dele.

- Desejo passar todas as manhãs dos próximos anos reorganizado meus livros por cor e não por gênero.

Foi a vez dele rir, beijando-a finalmente. Ao que tudo indicava, estavam juntos.

...

Draco sempre acordava pontualmente no mesmo horário desde que se entendia por gente. Seu relógio biológico parecia  programado, independente de estar cansado ou não, era extremamente matutino e a ideia de quebrar o ritual de acordar no exato horário todos os dias era pavorosa. Tinha muito a fazer com as primeiras horas da manhã, como limpar a cozinha e preparar o café. Hermione parecia nunca deixar de se surpreender com isso, no quanto ele era compromissado e como não media esforço para cuidar de uma casa. Draco não funcionava parado, parecia intolerante ao ócio, o cérebro era inútil se suas mãos não estivessem ocupadas. A leoa sem saber havia salvo sua sanidade nos últimos meses, de MUITAS maneiras, além do sexo e as noites agradáveis de calor. Hermione havia apresentado Draco a sua paixão vocacional, o sonserino não tinha dúvidas sobre qual área escolher para se especializar e tomar como profissão pelo resto da vida. Se perguntassem a Draco, ele não saberia dizer quando ou como aconteceu, mas ele passou a acreditar que existiria para ele um "resto da vida", não era otimismo ou positivismo cego, era uma necessidade urgente. Foi bem sério quando conversou com Hermione, não podia continuar transitando como um trem desgovernado pela vida. Olhando para a segunda maior figura de força feminina que ele conhecia deitada na cama que há pouco dividiram, soube que precisava tomar partido, como devia ter feito bem antes. Precisava cuidar de sua mãe, e tinha urgência em proteger Hermione. Passaria por cima da cabeça de quem fosse se preciso. Não era tolo e sabia melhor que qualquer um sobre o estado do mundo naquele momento, Hermione não estava segura, não sendo quem era. E se tivesse juízo correndo para longe de problemas ainda seria difícil, mas Granger não tinha medo dos demônios fora daquela casa, na verdade, batia de frente com cada um deles.

E isso assombrava o sonserino, como protegeria uma pessoa que não quer proteção?

"Nunca mais tente decidir minha vida por mim." A voz dela soou em sua mente, ressaltando o quão complicada era a situação.

O fato de Hermione não ter medo, não anulava Draco de temer por ela.

Deixou Hermione dormindo sozinha no quarto, e com apenas alguns curtos passos pelo corredor, uma mão forte o puxou para dentro de um cômodo.

- Que porra...

Draco foi interrompindo, recebendo um tapa forte na nuca.

Konai parecia mais cansado que nunca, o cheiro de tabaco indicava que essa madrugada turbulenta custou
todo seu maço de cigarros, e talvez algumas doses do firewhiski de Draco.

- Por que diabos todos acordaram me batendo?! - Draco murmurou levando uma mão a sua nuca que ardia.

- Você precisa parar de agir como um garoto e passar a aceitar suas responsabilidades como um homem! - Konai com um humor revoltado empurrou Draco para a poltrona próxima a janela, onde o sonserino mais novo pousou sentado.

- Eu não preciso que me instrua a como ser um homem, Konai!

- Pois não é o que parece!

- Do que está falando, droga? - Draco retrucou rabugento, escutando com muito desgosto os pássaros que anunciavam a chegada do dia, cantando alto fora da janela.

- Você arriscou a segurança da mãe do seu filho, a segurança de sua mãe! Tudo para ficar trocando socos com Harry Potter expostos em uma calçada - Konai tirou do bolso um cigarro que estava queimado pela metade e o levou a boca. - Vocês dois são os bruxos mais procurados por você-sabe-quem e todo ministério!

- Eu estava com a cabeça quente, acredite, não é coisa fácil engolir aquele cara por muito tempo! E eu já me desculpei com Granger, ninguém morreu... Talvez Potter, se eu tiver sorte!

- Desculpas não resolvem coisa nenhuma, e se fossem vistos?! Pensou em que Lucius faria caso encontrasse você, sua mãe e a Srt. Granger em uma mesma casa?! - Konai exclamou, as palavras saindo de sua boca junto com a fumaça do cigarro que agora estava acesso.

- Lucius é um problema que em breve será resolvido. - Devolveu com a voz transbordando em confiança, quando se levantou para espiar o novo dia pela janela.

- Como assim? - Konai transmitiu sua confusão na voz.

- Logo ele não será mais um perigo para elas... Você-sabe-quem é uma ameaça a minha vida, mas Lucius ameaça minha mãe e Hermione. Eu não estou a fim de observar parado caso ele descubra sobre o meu fil... - Draco pegarreou forte, sentindo-se estranhamente sujo com a simples idéia do que diria caso não fechasse a boca antes. E logo uma idéia brotou, sabia que não existia nenhuma chance de ter seus planos delatados por Konai, e intimamente queria compartilhar algumas coisas, para quem sabe conseguir uma opinião clara vinda de um ponto de vista confiável. - Você acha mesmo que eu... posso ser... pai? Quero dizer, sem machucar o moleque... ou destruir a vida dele. Ser um pai legal, sabe... não tenho muitas referências... - Draco xingou em meio a frase, irritado por sua dificuldade em eloquência e clareza quanto ao assunto. - Talvez ser um pouco do pai que você é para Pansy.

Draco ainda olhava através da janela com um interesse curioso, estreitando os olhos e os abrindo em seguida, de costas para o doutor, não viu o orgulho estampado nos olhos brilhantes e o sorriso raro, que quase sempre era oculto pela expensa barba do homem.

- Um pai ruim nunca se preocuparia em fazer esse tipo de pergunta. - Konai se adiantou até o rapaz e acertou uma batidinha em seu ombro. - seu filho será um garoto amado e muito bem cuidado. A mãe dele é uma mulher incrível, e apesar de ainda não se sentir pronto para os dois, eu sei que faria de tudo por eles, sei sim. Não se compare ao seu pai, Draco. não existe nenhuma semelhança entre vocês além dos cabelos, parte do DNA e a aparência.

- Então está decidido... - Draco sussurrou após um minuto silêncio. - O que vou fazer é o certo.

- Quer dizer que vai lutar do lado dela?

- Eu não sou a porcaria de um herói, Sr. P. Não quero salvar esse mundo, não acredito que ele possa ser salvo.

- E então?

- Vou lutar pelo que é possível salvar e considero de relevancia suficiente para arriscar cada gota do meu sangue.

- E onde Lucius entra nisso tudo? Não gosto do que me vem a mente, garoto.

-  Estive no mundo trouxa por incontáveis vezes essa semana, fugindo da vista de Hermione. No centro trouxa de Londres encontrei o hospital preparado para tratar minha mãe, falei com o senhor a respeito disso. - Konai assentiu se recordando. - Visando a segurança, preparei feitiços praticamente inquebráveis de proteção. Com os galeões que Blue conseguiu apanhar do meu cofre na minha antiga casa, com um pouco de pesquisa consegui providenciar uma identidade trouxa para ela. Claro, Blue sempre ficará de guarda. E ao sul de Bistol encontrei o hospital ideal para Hermione poder ter o parto em total segurança... - Draco se interrompeu, olhando agora com raiva através da janela. - Eu ocultei parte da verdade para Hermione e também para o senhor, não estive somente atrás dos hospitais.

- E onde mais você foi? - Konai olhou sobre o ombro de Draco, tentando descobrir o que o rapaz viu que fez seu semblante mudar para raivoso. - Draco, sabe que precisa se preocupar com o excesso de exposição.

- Procurei por Lucius. - Informou, bagunçando os cabelos e olhando ao redor do quarto como um animal encurralado.

- O que?! - Konai deu um passo para atrás, olhando para Draco como se tivesse frente a alguém desprovido do pleno gozo de sua sanidade.

- Fale baixo, Droga! - Draco censurou, apontando para um ponto através da janela. - É uma questão de ser quem chega primeiro. Lucius não é homem de se enganar por tanto tempo, e se tem uma coisa que ele fez direito, foi me ensinar que a melhor defesa é o ataque.

- Draco! Isso é loucura! - Konai não baixou o tom, fazendo Draco suspirar impaciente. - Lucius não hesitaria em machucá-lo caso descubra que você "destriu" setenta gerações de sua família!

- Ele não hesitaria em me matar, Konai. Por favor, não precisa amaciar o fato de que Lucius nunca me viu com os olhos de um pai "convencional". Eu existo com a única finalidade de substituí-lo, para empestear o mundo com as próximas gerações do nosso maldito DNA nobre.

- Lucius nunca mataria seu próprio filho. - Konai murmurou, e o cenho se enrrugou com a compreensão da ideia que nascia em sua mente. - Você não viu como ele ficou quando nasceu. Acredite, Lucius era um bom pai antes de se deixar afundar em toda essa loucura fanática. O que estragou tudo foi o peso do sobrenome e...

- Eu não quero entrar nessa conversa. - Draco cortou com grosseria, a manhã prometia ser ainda mais agitada e se abrir sobre sua carência de afeto paterno com Hermione era uma coisa, não podia simplesmente sair exibindo suas cicatrizes para quem quisesse ver. - Não quero saber sobre o pai que ele poderia ter sido! Enxergo Lucius somente como inimigo, e nisso existe outra semelhança entre nós dois, a crença de que inimigos devem ser aniquilados!

- Você está se ouvindo, garoto? Não pode estar mesmo considerando tirar a vida do seu próprio pai!

Draco balançou a cabeça em negação, voltando a olhar a através a janela, independente do estado de exasperação em seu humor, o cérebro estava bem capacitado e funcionava com clareza.

Suas opções eram limitadas, e assim que bateu os olhos nos dois aurores parados na porta da casa, compreendeu a situação. Não era estúpido a ponto de entrar em um duelo aberto contra Alastor Moody, seria morto antes mesmo de erguer sua varinha. Kingsley também era um combatente de potencial considerável, mas calculando por cima, Draco sabia que tinha boas chances de derrotá-lo.

Eles o enxergavam como um comensal da morte, e nesses momentos Draco realmente pensava como um. Então por que não agir conforme a expectativa deles? Draco pensou. Porém, após um breve raciocínio a resposta veio mordaz: Hermione.

Draco riu sozinho, sem humor nenhum. Konai ainda falava, mas o rapaz nada escutava.

Era certo que havia firmado sérios compromissos com ela há algumas horas, deu a ela suas mais verdadeiras palavras e não voltaria atrás. Draco era a soma de muitos defeitos e escolhas erradas, muitas vezes sua natureza entrava em conflito direto com as crenças da mulher. E esse era um desses episódios, não podia abusar mais da tolerância e boa fé que Hermione tinha para com ele. No entanto, nada o impedia de buscar brechas no "tratado" entre eles, e isso fez com que o loiro se sentisse um péssimo homem, mas o que podia fazer? Era isso, ou aceitar ser levado para longe dela. Hermione não era muito confiável quando o assunto era cuidar de sí própria, e como Draco determinou para ele mesmo aquela manhã enquanto a olhava dormir, não deixaria mais ninguém interferir em suas vidas.

Konai percebeu somente naquele momento o que causou preocupação no loiro, quando se moveu em direção a janela para se livrar da binga do cigarro há muito apagado.

Ficaram em um total silêncio por alguns segundos, antes do doutor levar uma mão ao bolso da calça e estender um molho de chaves ao loiro.

- Desde que o clima de guerra surgiu, usei metade do ouro dos Parkinson para comprar o máximo de propriedades possível, e selei todas como fortalezas impenetráveis. - Explicou de antemão quando o loiro ergueu uma sobrancelha em inquirição. - Na madrugada de ontem quando Blue chegou a casa onde estou escondido com minha esposa e filha, ele falou sobre os crescentes conflitos entre você e Harry potter. E ao chegar aqui, confirmei que a convivência está insustentável... Perigosa, para os dois.

- Está me oferecendo uma de suas casas? - Draco quis saber incrédulo. - Acredito que causei problemas suficientes quando sequestrei o senhor, e agora isso, te colocaria no centro de tudo, caso eu seja encontrado você será considerado meu aliado. - Draco afastou a mão de Konai que ainda estendia as chaves. - Eu não vou ferrar a vida do senhor mais do que já ferrei. 

Konai rolou os olhos e pegou a mão do loiro com firmeza, soltando as chaves contra a palma dele.

- E eu sou seu aliado, garoto. - Draco abriu a boca para retrucar outra vez, mas Konai falou por cima - E não existe a mínima chance de você ser encontrado, como disse, construí fortalezas inquebráveis ao redor de todas as minhas propriedades.

Draco observou as chaves em sua mão, ponderando suas escassas opções.

- Eu não posso aceitar. - Dispensou mais uma vez. - Geralmente atraío problemas para todos ao meu redor, vou dar o meu jei...

Draco recebeu outro tapa forte na nuca, e o homem suspirou impaciente, demonstrando que sua teimosia e imparcialidade foram uns dos determinantes que o fizeram ser selecionado para a sonserina no passado.

- Eu vou aparatar com Narcisa, e logo volto para buscá-lo.

Draco olhou através da janela mais uma vez, e assistiu os aurores sendo recebidos por Ronald Wesley que parecia estar surpreso com a presença dos homens.

"Nunca mais tente decidir minha vida por mim."

- Blue, preciso de você, talvez por uma última vez.

Em menos de cinco segundos o pequeno elfo apareceu, se espreguiçou assim que seus pés tocaram no chão após aparatar.

- Meu senhor... - Bocejou em meio a reverência desengonçada. - em que posso ser útil?

Draco olhou para a critura e sorriu sem mostrar os dentes, considerando que aquele podia ser o último dia como seu amo, não viu motivos para esconder a consideração pelo elfo que o acompanhou desde a infância.

"Nunca mais tente decidir a minha vida por mim."

- Granger está no quarto. - Draco se agachou e apontou para o corredor, Blue assentiu o encarando atento. - Você irá aparatar com ela nessa casa. - Draco entregou as chaves ao elfo que graças a sua natureza mágica podia com facilidade encontrar a casa qual as chaves pertenciam. - Antes pegue a varinha dela que está sobre o criado mudo, e somente a devolva se for extremamente necessário para ela se proteger.

- Algo me diz que a senhorita Granger não está a par disso. - Konai murmurou.

- Claro que não está... - Draco fechou os olhos demoradamente, sentindo-se culpado apesar de ter certeza que fazia o certo. - Não me olhe assim, por acaso tem um plano melhor?

- Posso ter, caso você decida me contar o seu plano.

- Eu não posso contar.

- E por que? No caso não me parece um bom plano. - Konai coçou o queixo, fitando o loiro com intensidade.

- Porque você tentará me impedir. - Draco murmurou com pesar antes de voltar sua atenção para o elfo. -  Blue, cuide de Hermione com sua própria vida... E se ainda tiver um pouco daquela poção calmante, dê a ela quando chegarem.

- Cuidarei da senhorita Hermione com todo esforço, meu senhor. - Blue fez uma última reverência antes de atravessar a porta e disparar em direção ao quarto onde Hermione dormia.

...

Não foi difícil ter acesso ao porão, e podia ouvir os passos pesados da perna mecânica de Moody no piso de madeira sob sua cabeça. Depois de averiguar que Hermione havia sido levada por Blue, Narcisa também se encontrava segura após Konai ter aparatado com ela, mesmo que estivesse em desacordo com os misteriosos planos de Draco, colaborou pela segurança da mulher. Draco teve certo trabalho para pegar o quadro de sua tia avó no segundo andar, dias atrás Hermione havia conseguido conjurar um feitiço de silêncio permanente nele, após não suportar mais as brigas entre o quadro, Ronald e Draco. Narcisa apenas aceitou ser removida junto ao quadro de sua parente.

Draco escutava atentamente as palavras de Alastor Moody, que ditava ao seu companheiro o que seria feito para capturar ele, o auror prezava por cautela considerando que apesar de jovem, o bruxo era perigoso.


- Um maldito assassino precoce. - Kingsley concordava - Ainda acho que deveríamos atacar com assertividade, que diferença faz se o mandarmos de vez para o inferno?

- Não é bem assim que as coisas funcionam, meu amigo. E não ousem dar nem mais um passo dentro dessa casa antes que tudo seja esclarecido! - Ronald parecia enraivecido com as intenções dos companheiros de batalha, coisa que Draco não entendeu. - Harry terá que explicar o que merda está acontecendo aqui.

Os passos de Ronald ficaram distantes enquanto ele subia as escadas em busca do amigo.

Minutos mais tarde a voz de Potter se fez presente, em uma discussão séria com o ruivo em um tom contido, alegando que o comensal podia ser acordado antes da hora.

Draco estalou a língua balançando a cabeça em negação, com um meio sorriso nada amigável no rosto.

- Acho que é você quem dorme demais, Potter.

No porão o loiro encontrou o necessário para sua retaliação. Enquanto carregava com esforço o barril com pólvora, se pegava em conflito com o seu plano, perguntando-se onde estava o seu limite e a influência positiva do seu instinto de auto preservação. Matar Harry Potter e Ronald Weasley estava fora de questão, não seria tão cruel e covarde com Hermione. Pelo contrário, se as coisas fugissem do total controle, Draco defenderia a vida dos dois idiotas que a mulher amava. O extremismo de suas ações era provocado por culpa das circunstâncias, e poderia também culpar a necessidade. Harry sem saber havia criado a situação perfeita para que Draco resolvesse dois problemas com apenas uma jogada.

Não seria preso, pelo menos não naquele dia, e com sorte no êxito, se livraria do perigo que era a sombra de Lucius pairando sobre o seu futuro.

Quando Narcisa informou que o marido havia abdicado da marca negra, milhares de pensamentos negativos correram a mente de Draco. E desde a notícia, percebeu que era a hora de voltar a se preocupar com seu detestável progenitor. O vínculo que ligava os comensais ao lorde das trevas era forte, servia como linha de comunicação instantânea, e, o mais preocupante, a marca negra era um rastreador quase infalível. Draco nunca entendeu qual era o "defeito" em sua marca, desde que a recebeu aos dezesseis anos de idade, o símbolo nunca ficou ativo. Observava que nos outros comensais, inclusive no seu pai, a marca possuía uma tonalidade avermelhada, como uma eterna cicatriz que nunca se curava. E quando convocados por Voldemort, a serpente se movia indicando a solicitação irrecusável de seu mestre. No entanto, a marca de Draco não funcionava, e existia apenas como uma tatuagem inanimada. A loiro foi sujeito a muitos castigos pelas mãos de Voldemort por conta desse pequeno defeito de comunicação, que enxergava a falta de resposta imediata como insubordinação, quando na verdade, o problema era na marca negra que nunca indicava o chamado. Aceitava os castigos e as repressões calado, como diria a Voldemort que ele "não fez sua marca do jeito certo"? Draco via mais vantagem em ser torturado a ser morto por questinar a eficiência mágica do Lorde. Nos dias de hoje, após ter traído as ideologias de Voldemort e estar literalmente entre ele e a varinha de sabugueiro, Draco se via grato por ter uma marca negra defeituosa, caso contrário, estaria morto há muito tempo.

Lucius quis sair fora do radar de Voldemort, fato que Draco não compreendia com totalidade, embora pudesse apostar cada galeão do seu cofre em Gringottes que sua cabeça valia o preço.

- Konai, por que você voltou?! - Draco inquiriu, abrindo o barril cheio de pólvora.

- As coisas vão ficar feias assim? - Konai no lugar de responder devolveu outra pergunta, suava em preocupação com a varinha preparada em suas mãos.

- Oh, muito feias meu amigo... - Draco começou a espalhar a pólvora. - Chego a pensar que enlouqueci de vez, ainda estou me adaptando a essa coisa de ter coragem.

- O que merda vai fazer garoto?!

- Resolver dois problemas. Na melhor das hipóteses talvez eu sobreviva, na pior... - Draco se interrompeu por um momento e virou uma dose do firewhiski que estava na bancada. - Foda-se. Não existe a pior, não posso morrer ainda.

- Eu não estou gostando nada disso... Quer saber? Vou ir conversar com os aurores e explicar que tudo não passou de uma briga entre garotos que gostam de uma mesma menina.

- O senhor lembra quando conversamos sobre escolhas? - Draco inquiriu de repente, voltando a espalhar pólvora por toda cozinha.

Konai assentiu, desesperado para se agarrar a qualquer justificativa que explicasse a insanidade que Malfoy aparentava querer cometer.

- Essa manhã eu fiz a minha escolha Sr. P.

- Eu acho que você interpretou minhas palavras de maneira um pouco equivocada, nada do que eu disse envolvia um barril pólvora!

- Não, de forma alguma.

- Draco! - Konai segurou o loiro pelo braço, impedindo que ele continuasse a derramar a pólvora. - Me diz de uma vez, o que diabos você está querendo com isso?

- Eu escolhi ser pai. - Draco disse mais decidido  do que jamais esteve. - E eu vou ser pai. Não deixarei ninguém me afastar deles.

- Eu fico orgulhoso de você, realmente muito orgulhoso. Mas garoto, não pode matar aqueles homens, isso é terrorismo contra a Ordem!

- Não matarei nenhum membro da Ordem... Bom, talvez crie uma situação de morte, hipoteticamente. Espero que sejam realmente bons em batalha, podem vir a ser úteis.

- E quanto a Harry Potter e o garoto Ronald Wesley?! Se acha que a senhorita Granger pode perdoar você caso eles sejam mortos, está erroneamente enganando!

- São duas pedras no meu sapato...

- Estou me esforçando para não interferir, como você disse, passou a fazer suas escolhas e quero respeitar isso. No entanto, não permitirei que dois homens inocentes que lutam pelo melhor do mundo bruxo sejam feridos!

- Se eles forem sãos vão lutar comigo.

...


Konai assistia atento, sem interferir, como prometeu para sí mesmo. Draco havia espalhando pólvora por toda cozinha e parte do corredor, e agora esperava com muita atenção os passos dos homens que subiram as escadas, "indo buscar por ele" no terceiro e último andar.

- Vá embora daqui, por Salazar! - Draco enxotava Konai, como quem espanta um mosquito irritante.

- Eu não vou a lugar nenhum. - O homem réplicava insistente, demonstrando que estaria presente caso as coisas se complicassem.

- Não é o cenário para um pacifista, senhor P. - Draco lembrava. - Eles são 'do bem' e mesmo assim estão dispostos a matar, eu me encontro na mesma disposição ... Qual foi a última vez que conjurou uma maldição?

- Há 19 anos, um adolescente lutando para defender minha esposa grávida da tirania de você-sabe-quem e seus seguidores.

Draco o encarou profundamente, constatando mais uma vez o quanto admirava o doutor, e esperava conseguir ser um pouco do "pai legal" que ele era.

- Mas essa guerra não é sua, dê o fora! - Diferente do afeto positivo que sentia sempre que recebia influência do homem, Draco resmungava com ríspidez e raiva.

- Se está incomodado, tente me tirar daqui. - Konai desdenhou, cruzando os braços, que mais pareciam troncos de árvores, sobre o tórax.

- Agora sei porque Granger se sente confortável com você ... Compartilham o desejo de infernizar minha paciência!


Os passos no piso superior ficaram mais pesados e os sons fortes denunciavam que os quatro homens iniciaram uma corrida exasperante.


- ELE FUGIU, O DESGRAÇADO FUGIU! - Harry gritou com raiva e logo emendou com desespero - E A LEVOU, RONALD, ELE SEQUESTROU HERMIONE MAIS UMA VEZ.


- Ser querido pelos amigos da namorada é certamente um problema para você. - Konai murmurou escondendo um sorriso.

- É um ponto a ser trabalhado. - Ele replicou indiferente, alcançando sua varinha e indo em direção ao início da linha de pólvora, que de acordo com seus cálculos, devia explodir metade da casa.

- KIGSLEY VOLTE PARA A SEDE, CONTATE REMO E O PEÇA PARA ALERTAR ATRAVÉS DA RÁDIO A TODOS NOSSOS SOLDADOS QUE O COMENSAL DA MORTE TORNOU A SEQUESTRAR HERMIONE GRANGER! - Moody meio gritou, meio rosnou. - EU VOU TESTAR REASTREÁ-LOS!

- MERLIN ... MERLIN ... MERLIN! - a voz de Ronald agora, enquanto ele quebrava boa parte dos objetos no quarto que antes era ocupado por Draco. - ELE VAI ACABAR LEVANDO HERMIONE A MORTE! E EU EM BREVE O LEVAREI!

Potter quebrou os feitiços que impediam aparatar dentro da casa aos berros, facilitando para que os aurores podessem aparatar sem demora. Gritou muitos outros palavrões ao procurar por Narcisa e confirmar ausência da mulher.

- E agora? - Konai quis saber, assumindo que talvez nem fosse ser tão perigoso, sem os aurores ele podia controlar a briga de três garotos com muito pouco esforço.

- É a hora de arriscar nossos traseiros ... Tem certeza que não vai partir? - Draco tentou mais uma vez, olhando no fundo dos olhos verdes de Konai.

- Eu sou o médico... - Konai deu sua resposta, alcançando a garrafa de Firewhiski de Draco e virando um bom gole. - E observador.

Ao dizer isso, se afastou da cozinha e atravessou as duas salas, indo parar na biblioteca. Deixaria Malfoy batalhar por sua família, embora estivesse pronto para se envolver caso a vida de algum dos meninos se mostrasse sob ameaça. Infelizmente, Konai subestimou a ousadia e a coragem louca por trás dos planos que Draco ainda não havia revelado. Talvez se insistisse, teria evitado quando o loiro encarou sua varinha e depois levou o olhar para a marca negra, ateando fogo no pólvora, permitiu que seus lábios trabalhassem no tabu:

- Voldemort.


O chão tremeu e os vidros das janelas da cozinha se quebraram. Draco esteve entorpecido em seus pensamentos, e por pouco não acabou se queimando, ainda de costas, saltou para trás caindo no corredor que levava a sala. Torceu o pulso com a impacto da péssima aterrissagem no chão, e xingou sonoro palavrão.

Por breves segundos observou a cozinha sendo incendiada, com sorte o fogo não demoraria a alcançar as paredes e o teto, fez da casa um caixão de fogo, onde ele planejava soterrar Lucius.


- Avada...


- Expelliarmus!


O tabu foi atendido, eles chegaram.

Draco disparou em direção a sala, lembrando que além de matar seu pai, precisava evitar que os dois grifinórios se matassem em alguma tentativa idiota de provarem honra.

- Avada Kedavra. - Disparou, fazendo tombar o corpo sem vida do caçador que tentava arrancar a varinha de Ronald. - Se pretende salvar seu rabo, eu sugiro que comece a mirar para matar!

- VOCÊ! - Ronald mirou em Malfoy, tentado a seguir seu último conselho. - Onde está...

- Em total segurança. - Draco respondeu de antemão, jogando um vaso de cerâmica na cabeça de um garoto que tentou os acertar, ele aparentava ter quinze anos, notou que era mesmo verdade que eles vinham recrutando crianças em idade escolar. - E cadê o testa rachad...?

Um rosnado animalesco rasgou o ar em meio a todo barulho da casa que aos poucos se incendiava, e ao virarem os pescoços, assistiram em pânico Harry rolar as escadas, tentando tirar a melhor em um combate contra o lobo Grayback que se esforçava para cravar as presas em sua jugular.

se ele morrer, Granger me mata.

Draco ressaltou em sua mente, e junto a Ronald, avançaram em direção ao início das escadas. Weasley chutou a boca do lobo, arrancando fora um de seus caninos, e Draco o puxou com força, livrando Potter.

- Você é doido, porra?! - Harry rosnou, cuspindo uma linha de sangue nos sapatos de Draco. - O que pensa que fez?!

- Eu não sei do que está falando - Draco mentiu pontualmente, forçando estar perplexo com a fatídica situação em que se encontravam. - Por sorte estamos em três.

- Coincidentemente sua mãe e Hermione somem antes de um ataque ...

Harry se interrompeu, ao escutar Grayback gargalhar enquanto era estrangulado por Draco.

- Malfoy a marca, ele está pressionando a marca! - Ronald gritou.

- Morsmordre.

Tarde demais, Graybrak iniciou a temporada de caça. Harry Potter junto ao comensal traidor do sangue em um único pacote. Harry entrou em estado de pânico, tentando se levantar, Draco torceu para que Grayback tivesse contatado algum comensal próximo de Lucius, e Ronald usou pela primeira vez na vida uma maldição imperdoável, lançando um fio de luz verde nas costas de Grayback.

Draco soltou o cadaver no chão, como se não fosse nada, sempre detestou Grayback e suas piadas sujas. Ronald continuou lançando feitiços para todos os lados, hora tentado apagar o fogo, hora estuporando caçadores que não paravam de chegar.

- Era só o que faltava, seu idiota! - Draco reclamou, notando somente então a razão de Potter não conseguir se colocar de pé. - Louco é você que tenta brigar com a droga de um homem que é metade lobo!

Harry acertou um tapa na mão de Draco, quando ele tentou 'ajeitar' o osso exposto em sua perna. Se não fosse a situação, teria desmaiado de tanta dor, se sobrevivesse, a primeira coisa que faria seria matar Malfoy. Nada de prisão ou brigas, usaria de vez uma maldição.

- Merda ... - Ronald perdeu a cor ao ver o osso da perna de Harry apontando fora da carne. - Malfoy, precisamos protegê-lo!

- O que acha que estou tentando fazer?! - Draco rosnou, tentando agarrar Harry a força para "colocar" o osso no lugar.

- Ronald, não seja burro! - Harry esbravejou, ainda fugindo de Malfoy e seus métodos "medicinais" pouco atraentes. - Ele quem armou todo esse circo, Malfoy é um psicótico!

- E por que ele faria isso? - Ronald não deu créditos a teoria de Harry, tendo em vista que se Malfoy quisesse matar os dois, antes teria a mínima inteligência de abandonar uma casa que estava em chamas.

Vultos negros se moveram no ar esfumaçado da sala, os três rapazes sentiam o coração bater na garganta, ergueram suas varinhas, prontos para conjugar toda e qualquer maldição que chegasse a mente.

Harry foi arrastado para longe, antes que Draco pudesse agir, e assistiu o precoce fim do seu "negócio sério" com Granger chegar, quando o moreno foi jogado de costas na parede do outro lado da sala, o vulto que o levou ganhou forma, e Astardo Mulciber apareceu, segurando-o pelo pescoço. Ronald foi o próximo, cordas mágicas se enrolaram ao redor de seu corpo, e o ruivo tombou de cara no chão. Draco esperou sua vez, no entanto, com ele nada aconteceu, e seus ouvidos zumbiram quando a familiar voz alcançou seus ouvidos:


- Como vai, filho? - Lucius saldou quando ganhou forma, abrindo um sorriso irregular, os olhos acinzentados brilhando em triunfo.

Não seja um covarde. Draco esbravejou para sí mesmo em pensamento, fitando o homem a sua frente. Lucius havia emagrecido, cortou o cabelo, provavelmente devido a queda provocada por altos níveis de stress. Tirando a pele maltratada e dois tons mais pálida, a aparência assustadora e o olhar de um homem sem esperanças, as vestes estavam impecáveis, assim como a postura e a bengala com cabo forjado a prata que trazia em sua mão destra estava muito bem lustrada.

- Você está horrível. - Draco pronunciou por fim, sem demonstrar nem mesmo uma mínima emoção na voz.

- E você ganhou a aparência de um homem.

Draco se espantou ao capturar algo próximo a admiração em seu tom de voz, o certo seria Lucius o matar antes de dizer mais que três palavras. O que estava acontecendo?

- Lucius, olhe! - O comensal que segurava Potter chamou, com um tom de voz festivo. - Harry Potter! O seu menino nos trouxe a Harry Potter!

- Malfoy... - Ronald rosnou tentando tirar seu rosto do chão. - Sua criatura suja!

Harry nada disse, olhando de onde estava no fundo dos olhos de Draco, ficando completamente perdido em não encontrar vitória nos olhos cinzas, somente confusão.

- Amm... Como é? - Draco perguntou, torcendo o nariz.

Foi a vez de Lucius demonstrar confusão, e deu um passo em direção a Draco, arqueando uma sobrancelha ao ser impedido quando o mais jovem ergueu a varinha.

E de repente Lucius riu, sem humor.

- Acredito que você possa ser capaz de perdoar o coração esperançoso e cheio expectativas de um pai, Mulciber. - Suspirou cansado, olhando sobre o ombro. - Não foi o que pensamos, ele não provocou esse encontro com a intenção de se redimir entregando Harry Potter.

- Me redimir? - Draco repetiu incrédulo. - Você acha mesmo que eu seria estúpido o suficiente para tentar buscar perdão?

- Na verdade eu creditei pontos em sua inteligência ... É decepcionante. - Lucius pareceu realmente consternado. - Não sendo esse o caso, acredito que a essa altura sua mãe deva ter conhecido a sua ... Companheira - Lucius umideceu os lábios, como se tivesse algo amargo preso neles. - Acho pouco educado que você não apresente o seu pai, ela está por aqui?

- Sem joguinhos. - Draco determinou, apertando a varinha em sua mão a ponto de fazer a madeira envergar, enojado com ideia do que seria feito com Hermione caso não tivesse mandado-a para longe.

- Sim, é melhor, somos todos homens adultos, afinal. - Lucius concordou limpando sua capa preta com um tapinha. - Quero que você venha comigo, filho.

Draco não pode esconder a surpresa estampada em suas feições, e duvidou de sua audição.

- Como é?

Lucius inclinou a cabeça para o lado, analisando Draco como quem olha para a raça de um cavalo antes de comprar. E era de fato o que importava, a raça.

- Nossos laços são fortes, e incontestáveis. Superiores ao delírio de grandeza do lorde. Pensou mesmo que eu desistiria do meu próprio filho? - Lucius o encarou profundamente, em uma tentativa questionável de transmitir compreensão. - Estou disposto a perdoar o sua dificuldade em controlar seus hormônios masculinos em relação a sujeitinha.

- Não me chame de filho, Lucius. E se tem a intenção de preservar seus dentes na boca, eu aconselho que dose suas palavras ao se referir a minha mulher.


- Sua mulher...? - O rosto do homem ameaçou se contorcer em asco e ódio. - Veja como você é Draco. - Lucius apontou para ele com a bengala abanando a cabeça em desaprovação. - sempre rebelde, impetuoso, tão problemático.

- Malfoy, se não vai quebrar logo a cara desse filho da puta, me solte que eu vou! - Ronald rosnou, cuspido em Lucius de onde estava.

- Outro Weasley... - Em um movimento rápido, Lucius alcançou a varinha e disparou uma maldição de morte silenciosa em direção ao ruivo.

- Protego. - Draco impediu, salvando a vida de Ronald pela segunda vez no dia. - Sectumsempra! - Devolveu em outra maldição na direção de Lucius. 

- Pode ser melhor nessa macaquice de combater usando os punhos, como um trouxa. - Lucius se defendeu da maldição sem nenhum esforço. - Mas sabe que se fosse de minha vontade, todos aqui estariam mortos antes que você pudesse se mover. Em todo caso, isso atrapalharia o diálogo que pretendo firmar com você, filho.


No canto da sala, Harry acertou um soco forte na cabeça do comensal que ainda o segurava pelo pescoço, o homem desmaiou e caiu no chão como um saco vazio. Era a vantagem sobre comensais, eles nunca esperavam lidar com o poder de um belo punho cerrado. Harry caiu em seguida, a fratura exposta em sua perna tornava impossível se manter de pé. Indiferente a dor que sentia, alcançou sua varinha no bolso do caçador e mirou Lucius.

- Monstro! - Chamou e imediatamente foi atendido.

- Meu senhores. - O velho elfo reverenciou Lucius, e depois Draco, antes de levar sua atenção para Harry e reverenciar seu verdadeiro amo com desgosto. - Em que posso ser útil?

- Encontre Hermione e leve Ronald para ela, faça isso imediatamente! Fique com eles e os proteja. Se pensar em revelar para alguém onde estão, eu ordeno que se enforque até a morte antes de fazer. 

- Eu não vou te deixar sozinho aq... - Ronald tentou argumentar em um grito, mas foi cortado pois o elfo o agarrou e aparatou sem demora, assustado com a tirania de seu amo.

Harry sabia que Lucius não o mataria, ele valia mais enquanto vivo. Pelo que entendeu, o comensal pretendia entregar sua cabeça a Voldemort em troca do perdão para o filho. Ignorante de que Draco não seria perdoado, Voldemort precisava dele morto para obter poder supremo sobre a relíquia da morte que possuía. Sem saber, estava entregando seu filho ao carrasco. Ronald pelo contrário não tinha valor nenhum aos olhos de Lucius, e seria morto caso as coisas desandassem ainda mais.

Lucius reagiu a fuga com indiferença, mas não demorou a desarmar Harry, impedindo que fosse possível para o moreno aparatar.

- Potter, seu idiota! devia ter partido com o elfo! Granger vai me odiar se você morrer! - Draco deixou bem claro que não se importava de fato com a segurança de Harry, e apenas agiu pensando em sua imagem perante Hermione.

- Me preocupo com minha honra Malfoy, ainda desprezo sua cara, mas não deixo sozinho um homem que não entregou minha vida e salvou a vida do meu amigo.

Lucius soltou uma breve gargalhada, que por sinal era idêntica a de Draco, e bateu palmas olhando de um para outro.

- Parece-me que estou de frente a dois grifinórios.

- Devolva minha varinha e eu mostro que os valores de minha casa não me impedem de arrancar sua cabeça fora, filho da puta!

Lucius avançou em direção de Harry e pisou sobre sua perna quebrada, escondendo seu divertimento com as tentativas do moreno em acertá-lo com socos.

- Você é completamente fodido da cabeça!

- Lucius, Potter não tem nada a ver com nossos problemas. E isso é nojento, pare!

Lucius interrompeu o ato de tortura suja, insatisfeito em não ter conseguido arrancar nem mesmo um grito de dor do grifinório. Harry preferia a morte, a servir de entretenimento para o sadismo daquele homem.

- Conhece suas opções, faça a escolha certa Draco. - Lucius voltou sua atenção para o filho, com uma tranquilidade alheia a recente ação bárbara. - Virá com o seu pai, que te ama incondicionalmente, a ponto de perdoar sua brutal traição, ou escolherá seguir com esse absurdo, sendo controlado por instintos primitivos, refém da maldição que é o deslumbre de uma bruxa impura?

- Me ama? - Engoliu em seco, repudiando-se por sua mais oculta fragilidade.

Agora não! agora não! Draco tentava espantar de sí o menino que sempre buscou amor do pai. No momento, precisava ser um assassino e somente isso.

- Mais que qualquer coisa. Olhe tudo que fiz por você, filho. Reneguei minha lealdade ao lorde, e te ofereço meu perdão. - Lucius se aproximou de Draco, ciente que havia tocado no ponto certo, ativou o gatilho perfeito para manipulação. Apesar de ser um homem formado, no fundo Draco era apenas um garoto carente de amor paterno. - Além disso faço mais, até que supere esse apego masculino que desenvolveu por aquela garota, permito que fique com ela se...

- O que? - Os olhos de Draco estavam desfocados, seu lado racional sendo dominado por emoções impiedosamente fortes

Potter, intervenha!

Lucius adquiriu uma expressão 'amável', e deslizou a mão pelo cabelo de Draco, arrumando os fios bagunçados. E com a voz ridiculamente terna, disparou:

- Ela estava a sua completa disposição enquanto prisioneira em nossa masmorra, você podia usá-la e fazer o que bem quisesse. Por isso eu não entendo a razão de ter libertado-a e fugido. Apesar das responsabilidades com nosso sangue, nunca iria impedir você de se divertir com uma prisioneira. Entenda, não é apropriado copular com essa espécie, pode vir a gerar abominações como mestiços e abortos... Mas com o devido cuidado, pode saciar suas vontades sem o perigo de procriar sub-raças. Se lembra da vez em que me viu fazendo o mesmo? E como disse a você, sangues-ruins podem ser comparadas a demônios manipuladores quando são belas.

Harry sentia vontade de expulsar sua última refeição do estômago, a repulsa conseguia superar a raiva, e o inesperado aconteceu, Harry se viu eternamente grato a Draco Malfoy. Desenvolveu naquele exato momento um respeito inexorável por seu inimigo.  Se não fosse por ele, Hermione ainda estaria a mercê daquele homem. O que seria dela caso ainda estivesse impotente como uma prisioneira nas mãos dele?

- Draco, ele não te ama... - Harry disse com a genuína empatia marcando cada palavra. - Esse "amor incondicional" é pela garantia da longevidade do sobrenome Malfoy. Lucius está velho e acabado demais para ter outro filho e conseguir doutriná-lo a tempo. Você não é burro, olhe nos olhos dele, não enxergará nenhum amor. É pura manipulação!

O sonserino olhou sobre o ombro de Lucius, encontrando os olhos de Potter.

Draco riu, o som que ecoou por todo o cômodo esfumaçado era tudo, menos bem humorado. O rapaz abaixou a cabeça, os olhos umideceram e estranhamente não se sentiu envergonhado por expressar sua devastação daquela forma. Não era melhor que Lucius, pelo contrário. Como poderia ter o direito de sentir aversão aos absurdos que o homem dizia já que ele próprio repetiu as mesmas ideológias por anos? E até mesmo tratou seu próprio filho como um mestiço bastardo.

Era cruel assim? Talvez Hermione estivesse certa, ele não podia chegar perto da criança.

- Disse o garoto que nunca teve pai, invejoso... Cale-se Potter. - Lucius desdenhou. - É inevitável impedir seja castigado, Draco. E talvez seja bom para você, entende? Será purificado após se remidir, não deixarei que o Lorde te mate, filho, não precisa sentir medo. - E pela primeira vez em dezoito anos, Draco recebeu um abraço do seu pai. - Poderá ficar com Hermione Granger, venho pensando nisso há um tempo, mandei que construíssem uma jaula no seu antigo quarto. A sua idéia sobre esterilizar sangues-ruins vem a calhar agora, não precisará se preocupar, cuidarei para que a cirurgia de remoção do útero seja efetuada o mais rápido possível.

Uma explosão aconteceu no peito de Draco, e essa explosão matou o menino carente do amor de um pai, e o que cresceu suprimiu todos os anos de negligência e maus-tratos. Draco desenvolveu naquele momento amor por seu filho que ainda nem mesmo conhecia, e esse sentimento fez morada junto ao espaço habitado por Narcisa e Hermione.

E não era recomendável insultar essas pessoas, pois, apesar de ser capaz de amar daquela maneira, Draco também era capaz de matar sem um pingo de compaixão.

- Obrigado, Lucius...

- Sabia que ainda era digno do meu orgulho, filho. - Deu dois tapas sem força nas costas de Draco, sorrindo em vitória.

Harry sentiu o mundo parar de se mover ao seu redor, o coração apertou em ódio e assombro por Hermione. Estava disposto a morrer naquele momento, se arrastando na direção dos dois Malfoys, com o desejo cego de quebrar o pescoço dos dois homens.

- Agradeço por me mostrar que vou ser um bom pai. - Draco empurrou seu progenitor para trás, os olhos vermelhos e o ódio desenhando cada linha de sua expressão. - Agora pegue sua varinha, Lucius. Porque o monstro que você tentou criar em mim morre hoje, depois de tirar sua vida.


A expressão vitoriosa de Lucius desmoronou, e em lapso veloz alcançou sua varinha e apontou para o rosto do homem que ele colocou no mundo.

Um soco que seria forte o suficiente para quebrar uma parede atingiu a lateral do queixo de Lucius. Após cair no chão e cuspir os três dentes inferiores que soltaram, tentou mirar a varinha em Konai Parkinson, que exibia em seu semblante a fúria de um touro.

- Eu faço isso, garoto. - Konai chutou a varinha da mão de Lucius, e segurando em seu pescoço, o ergueu do chão com a facilidade que somente um homem de mais de cem quilos poderia ter. - Você não pode carregar o peso da alma do seu próprio pai.


Lucius não tinha nenhuma vantagem em uma briga corpo a corpo contra Konai, nunca precisou erguer o punho e valorizava muito seu potencial destrutivo com uma varinha. Seria sufocado até a morte, o ar não chegava aos pulmões e o aperto esmagador impediu a circulação de sangue para a cabeça.

Em um movimento que ninguém pode prever, Lucius puxou a longa e fina lâmina que era embutida em sua bengala, e a enterrou na barriga saliente do doutor.

- Draco, faça alguma coisa! - Harry implorou, se arrastando no chão com o máximo de velocidade que era possível, sentindo que podia desmaiar cada vez que seu osso exposto se movia fora da pele.

A mente de Draco se perdeu em algum lugar profundo e horripilante. Assistia a boca de Harry se mover de maneira desesperada, porém som nenhum chegava aos seus ouvidos. Precisava proteger Konai que estava sem varinha e ferido, perdendo litros de sangue sob o carpete. Quis reagir, necessitava se mover. Sendo incapaz, podia sentir o vapor quente da cozinha incendiada invadindo a sala, e tinha consciência de que em breve a casa explodiria com todos dentro, caso não retornasse ao seu estado de ação. Podia ter impedido quando Lucius pisou sobre a garganta de Konai mas não o fez, estava inabilitado, impotente,

Paralisado.

- Quem diria, dezessete anos protegendo o cérebro do meu filho da sujeira, enquanto o poluidor do sangue frequentava a minha casa!

- Draco, impeça-o! - Harry continuava rogando aos berros.

Mas ele não podia fazer nada, seu corpo não atendia suas ordens.

- Vamos, minicomensal. - Lucius zombou, apertando a ponta da lâmina contra a cabeça de Konai. - Use sua varinha, me mate.

- Não faça isso garoto... - Konai pediu em meio uma tosse rouca, consciente da aproximação de sua morte, conformado com isso. A imagem de sua filha em sua mente expulsou qualquer dor, e ele se sentiu o homem mais afortunado do mundo, assistindo a incredulidade na face de Lucius, que jamais seria capaz de entender porque o homem que estava beirando a morte sorria. - Escolha, você tem escolhas. Não deixe Lucius determinar quem você é mais nenhuma vez, e tenha certeza, você tem tudo para ser um "pai legal."

- Senhor P... - Draco balbuciou, caindo de joelhos.

Tudo que conseguiu fazer usando toda sua força, lutando contra a paralisação.

- Ora, vejamos... - Lucius tirou o pé da garganta do homem, olhando dele para seu filho. - Tentou tomar o meu lugar, Konai? - Sem aviso, Draco sentiu algo pesado atingindo seu peito, quando com um movimento Lucius cortou a garganta do medibruxo, que ainda sorria, pensando em Pansy.

Apenas o som do fogo consumindo a madeira da casa podia ser escutado. Draco ainda olhava para o corpo de Konai, enquanto Lucius limpava a lâmina marcada com sangue inocente na roupa do homem que ele assassinou a sangue frio. Harry também se absteve de palavras e movimentos, olhando com pesar para os olhos verdes de Konai, sem vida.

- Ouvi boatos, sobre os pais da sangue-ruim - Lucius murmurou endireitando a postura, tornando a esconder a lâmina dentro de sua bengala. - Completamente desmiolados sem notícias da existência da imundice que colocaram no mundo. - Abandonou a abordagem de falsa compreensão para com o filho. - Se vier comigo por vontade própria, sem armar nenhuma confusão, prometendo me obedecer, cumprindo a sua única utilidade em vida, me presenteando com um neto puro. - Lucius o encanrou. - Eu não irei procurar por eles, considerando que também soube que a sujeitinha não é de abandonar os que ela ama... É uma conta simples, se eu tiver os pais da aberração que você gosta de ejacular dentro, terei ela.

Lucius libertou o filho do feitiço de corpo preso silecioso, com qual havia conseguido atingi-lo antes de Konai o derrubar, esperando receber uma resposta.

- Avada kedavra! - Draco berrou a maldição de morte, repetidas vezes, fazendo Lucius recuar para trás a medida que se protegia.

Os cômodos superiores da casa começaram a ceder, o barulho da destruição era estrondoso. Poeira subiu, e partes do teto desabava, mas isso não foi suficiente para impedir que Draco continuasse a avançar em direção ao homem que ele desejava matar.

Lucius deu a ele um último olhar de desgosto, com uma promessa apavotante. Antes de tomar a forma de vulto preto e sumir no ar, Draco tentou uma perseguição, no entanto, uma mão firme segurou em seu calcanhar e antes que pudesse entender, sentiu ser puxado pelo umbigo, aparatando.

...

Rua dos Alfeneiros, nº4.

- Que lugar é esse? - Draco quis saber enquanto apoiava Harry pelos ombros, evitando pensar no quanto aquilo era estranho.

Na verdade evitava pensar, por isso, fazia questão de conversar com Potter. Não ficou quieto por nenhum momento, fazendo qualquer tipo de comentário e até mesmo provocando discussões.

A boca em silêncio era um convite para o barulho na mente.

Konai. culpa, culpa e mais culpa. Chegava a sufocar, sua mente parecia pegar fogo.

Haviam aparatado em uma dezenas de lugares, encontrando perigo e quase morte em cada um deles, até Potter cuspir um palavrão e agarrar o loiro sem explicações.

- A casa dos meus tios. - Harry disse em voz baixa escondendo sua varinha. - Guarde essa maldita varinha... e tente... não ser você.

Antes que Draco pudesse se situar melhor, fora pego de surpresa quando um grupo de garotos com talvez dois anos a menos que eles se aproximou, saindo do jardim de uma das casas ao lado. Draco confirmou suas suspeitas sobre aquele ser o mundo trouxa, notando que um dos garotos se equilibrava em um peculiar meio de transporte de duas rodas, usando como motor a força gerada pelo movimento das pernas.

- Merda, os amigos do Duda. - Harry chiou impaciente. - Malfoy, não reaja de nenhuma maneira, precisamos manter a discrição... A casa é aquela - Harry apontou para o outro lado da rua. - vamos logo.

- Hey, olhem só! O quatro olhos arrumou uma bela namoradinha loira! - O garoto que Draco julgou como o líder do grupo de trouxas zombou se aproximando. - O que aconteceu com vocês? Uma briguinha de casal, foi? - O garoto deu um tapa nas costas de Harry, ocultando a agressão com uma falsa intenção de limpar a foligem e a cinzas no casaco do rapaz. - Me deixe adivinhar, a vadia loira aqui usou os dentes na hora de chupar?

Harry fechou os olhos, praguejando mentalmente, prevendo com pesar o que se sucederia.

- Que roupas estranhas você usa, é claro, Potter arranjou alguém tão retardado quanto ele. - O garoto repetiu o tapa que deu em Harry com Malfoy, ingênuo de que ele não era nenhuma ameaça para o sonserino que praticamente reinventou o bullying e estava com o peito fervilhando em ódio e dor.

- Malfoy, não faça...

Tarde demais, em um piscar de olhos o garoto de cabelos castanhos e desgrenhados estava no chão, tentado estancar o sangue que escorria do nariz com as duas mãos.

- Como ousa tocar em minhas vestes? - Harry segurou Draco pelo braço, quando o loiro avançou em direção aos garotos, quase caindo com a dor de ter se apoiado na perna quebrada. - Criatura desprezível!

- Malfoy! Discrição, droga!

Draco acertou um último golpe no menino caído ao chão, um chute em sua parte  traseira, quando o garoto se apoiou com as duas mãos no chão para fugir dele.

- Vamos logo, imbecil! - Harry puxou Draco. - Caso não tenha notado, não sou muito querido por aqui! toda vizinhança acredita que sou um retardado delinquente que passa ano todo em um reformatório!

Draco ainda enraivecido  seguiu as palavras de Harry, e voltou a apoiá-lo, e com urgência partiram em direção a casa.

- Você tem uma chave? - Draco inquiriu, torcendo a maçaneta.

Um baque oco foi a resposta que ganhou, quando Harry arrombou a porta usando o peso do seu corpo.

- Chiqueiro... - Draco resmungava dentro da casa, o nariz retorcido e o cenho fechado em desgosto, controlando com máximo de ímpeto possível a vontade de limpar toda aquela poeira que invadia suas narinas e estragava os móveis. Tudo que não podia fazer era ocupar suas mãos, pois isso ativaria sua mente. - Há quanto tempo está abandonada?

- Um ano... Talvez um ano e meio. - Harry respondeu em meio a um gemido de dor, quando desmoronou no sofá, tossindo alto com a camada de poeira que subiu.

- Seus tios estão mortos? - Draco olhava sem muito interesse para as fotos sem movimentos dos que ele julgou ser os parentes de Potter.

- Estavam bem vivos da última vez que os vi. - Harry tentou ajeitar a posição de sua perna quebrada, grunindo de dor. - Sabe concertar ossos, Malfoy?

Empatia, era a palavra do dia. Pois, Harry se sentia na obrigação de continuar sustentando o falatório de Malfoy, que normalmente é um homem de poucas palavras. Entendia cada uma das coisas que o loiro sentia, e isso mudou tudo, descobrir que Malfoy era capaz de sentir.

- Nunca tentei... - Draco respondeu abrindo alguns dos armários, encontrando quase todos vazios, com exceção de um. - Acredito que nunca é tarde para aprender, podemos fazer algo quanto a dor. - Emendou, estendendo uma garrafa de conhaque preto para o moreno.

- Eu não bebo. - Harry dispensou na hora.

- Você vai querer estar bêbado quando eu começar a fazer o possível nessa fratura... Não tenho as mãos leves, mas disso você já sabe. - Draco disse, em um tom amigável visivelmente falso.

- Como diz o sábio pessimista, sempre uma maneira de piorar. - Harry murmurou, antes de alcançar a garrafa na mão de Malfoy e virar mais que a metade do líquido amargo ganganta abaixo.

...

- Nunca! - Harry determinou, abraçando a garrafa. - Você teve a vantagem na mudança dos ventos, qualquer um nas arquibancadas pode notar isso, Malfoy.

Haviam se passado meia hora desde que Draco começou a tratar a perna de Harry, e também a mesma exata conta de minutos que o homem abstêmio passou a virar doses e mais doses de todas as bebidas que conseguiu encontrar nos armários empoeirados da casa, usando sua varinha e o simples feitiço de "Áccio".

Não saberiam dizer como ou quando chegaram ao assunto que provocou o impasse, e nenhum dos dois homens pareciam querer sair por baixo relembrando do jogo de quadribol que aconteceu 5 anos.

- Se não existisse a necessidade de te concertar, socaria sua cara. Use o cérebro, Potter - Draco resmungou, juntando os ossos com puxões pouco gentis e prendendo tiras fortes ao redor deles. - Estávamos em alta velocidade, na mesma direção, e mesmo com a firebolt você suou seu  uniforme inteiro para me alcançar!

- Sua vassoura estava adulterada - Harry acusou indignado, bebendo mais uma dose. - Se fosse dessa maneira, você teria pego o pomo!

- Adulterada? Fala sério. - Draco o encarou por menos de um segundo antes de voltar a pressionar sua perna. - Apenas um bom piloto pode equiparar a velocidade de uma Nimbus 2001 a velocidade de uma Firebolt. E eu não peguei o pomo, pois, estava muito ocupado tentado a afundar seu focinho na areia!

- Chegamos ao ponto, você não levou a vitória para sonserina por ser incapaz de manter o foco em uma única coisa, no mais importante. - Harry apontou com a garrafa para Malfoy. - O que te desqualifica como um bom piloto de vassouras.

- Não existe nada pior que ficar sóbrio próximo a um imbecil bêbado. - Draco resmungou ainda mais truculento que antes.

- Pode apertar, filho da puta, eu não sinto nenhuma dor. - Harry ressaltou com calma, notando que o loiro usava de quase brutalidade para enfaixar sua perna.

- De qualquer modo, não sou seu enfermeiro e muito menos seu elfo doméstico! - Draco abandonou os cuidados com perna de Harry. - E espero que essa droga necrose!

....

Duas horas mais tarde, Draco havia voltado para terminar de cuidar da fratura de Potter, após não suportar mais os lamentos e a reclamação do homem, se encontrou dividido entre matá-lo ou ajudá-lo. Os feitiços de Draco surpreenderam aos dois, quando se mostraram eficazes em reconstruir ossos. Harry precisou usar duas antigas muletas encontradas na casa, que por sorte estavam em bom estado de conservação. Conseguia se locomover sem gemer de dor, embora sentisse que o sangue não estava chegando do coração aos pés, graças aos laços exageradamente fortes que Draco apertou, ao menos foi possível se levantar do sofá.

- O seu elfo não te atendeu? - Harry perguntou pela terceira vez, sondando Malfoy de esguelha.

Draco estava com o mesmo semblante sombrio que carregou durante todo o dia, seus olhos apontavam a distância dos seus pensamentos, e ele girava uma adaga de cabo verde nos dedos, como se estivesse formando em mente fantasias de cravá-la em alguém. Indivíduo que Harry muito bem conhecia, Malfoy estava alimentando em silêncio o espírito vingança contra o próprio pai.

- Ele não virá... - Draco respondeu em voz baixa. - Ordenei que ficasse com Granger, e somente a abandonasse caso ela estivesse totalmente bem. Coisa que acho improvável, infelizmente ela escolheu se importar com desgraçados como você e eu. E quanto a monstro, o seu elfo? 

- Está embirrado comigo, com medo, acho ...


Harry agora revirava as gavetas, diferente do loiro, bagunçar as coisas sempre clareava seus pensamentos. Também buscava o que levou ele a pensar justamente naquela casa, uma antiga foto de sua mãe. Draco se pegou um tanto fascinado por tudo que via, e passou a explorar com cautela a peculiar casa trouxa. Potter pareceu não se importar com isso, e até mesmo soltava uma risada arrogante de desdém quando flagrava o loiro encabulado com algum objeto.

Draco ficou curioso com a porta do armário por baixo da escada, e ao abrir, ficou espantado ao encontrar um colchão sujo no chão. Uma pessoa não caberia naquele espaço, quanto menos poderia ter uma noite de sono agradável. O homem loiro teve que se inclinar para espiar por dentro, marcas dos bicos de uma coruja descontente marcavam a madeira envernizada que servia de parede para aquele armário claustrofóbico. Draco estreitou os olhos, percebendo os livros surrados do primeiro ano, livros de Hogwats. Concluiu que aquele era o "quarto" de Potter, colocou um pé para dentro e esperou o cômodo se expandir, o que não aconteceu. Nenhum feitiço indetectável de extensão.

- Você dormia aqui? - Cedeu a confusão que cresceu em sua mente.

Havia visitado o segundo andar da casa e encontrou quartos normais, aparentemente, os trouxas não tinham o costume de dormir em armários.

Draco escutou o som das muletas se aproximando, e tirou a cabeça de dentro do armário, abrindo espaço para Potter.

Harry quem colocou a cabeça para dentro do armário dessa vez, e se esquecendo de quem estava ao seu lado naquele momento, deslizou os dedos por cima das marcas de bicadas feitas por Edwiges, nada disse, embora seus olhos denunciassem a explícita verdade.


Quando se afastou do armário, encarou Malfoy por breves segundos, pegando o loiro de surpresa, quis saber:

- Como é matar alguém?

Draco arqueou uma sobrancelha, ponderando se respondia a ele com rispidez ou honestidade.

- Nunca morrem por completo. irá pensar nisso todos as noites antes de dormir. E sempre que se sentir feliz... Existirá a sensação de que aquela felicidade é fruto de um roubo da vida e a felicidade da pessoa qual você assassinou... - Ele se interrompeu, erguendo o olhar e respirando fundo, tentando afastar Konai de sua mente. - Nada agradável, Potter.

- Então você se arrepende de tudo? - Harry ocultou sua curiosidade com uma risada anasalada de deboche.

- Eu não faria diferente. - Draco respondeu honesto, sem titubear. - Como eu queria poder dizer que se eu soubesse antes o que sei agora, tomaria melhores escolhas...

- No caso não se arrepende.

- O que fiz, me fez ser quem sou hoje, não que isso seja uma grande coisa, mas me fez ter o que tenho agora... - Lembrou dela, é óbvio. Cuidando dos seus ferimentos por muitas vezes, sendo que na maioria das vezes não mereceu tais cuidados. Hermione rindo quando ele falhava em uma receita, o jeito em que ela baixava a guarda quando dormiam juntos, se prendendo a ele, mostrava fragilidade o abraçando e escondendo o rosto em seu peitoral, sinalizando que apesar de saber se defender muito bem, precisava de segurança e estranhamente sentia que Draco tinha potencial de ser essa segurança. Os olhos castanhos que sempre carregavam receio e atenção aguçada, brilhando para ele com uma esperança sem explicação e calor, afeto. E o que mais afetava, as lembranças das vezes que flagrou Hermione conversando sozinha com a própria barriga.  - Nunca tive tanto... E eu sou a merda do maior babaca do mundo.

- Concordo.

- Você também é um merda, Potter.

Harry deu de ombros, e virando de costas para o sonserino, também usou de honestidade:

- Sim, esse armário foi onde passei todas as noites até completar doze anos.


.


Notas Finais


Demons - Imagine Dragons

(Quando as cortinas se fecharem
vai ser pela última vez)

(Quando as luzes se apagarem
todos os pecadores rastejarão)

(Então eles cavam as suas sepulturas)

(e os mascarados
virão apontar
o estrago que você fez)

(Não quero decepcionar você
Mas estou ligado ao inferno.)

(Embora tudo isso seja por você
Não quero esconder a verdade)

(Não importa o que fazemos.)

...

Cof...cof, eu nunca disse que o Harry era um "vilão", pelo contrário ...

...

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Vejo vocês o mais breve possível. 🎆❤


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