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História Solitude - Constelação.


Escrita por: BlacKHouseGomes e cki

Notas do Autor


Eai galere, tudo bom com vocês?

Um retorno aleatório e tarde da madrugada, só pra seguir a tradição.

...

Avisos!

Conteúdo sexual explícito, violência e linguagem imprópria.

...

Boa leitura. ❤

Capítulo 27 - Constelação.



Draco ainda não havia se acostumado as madrugadas quentes, as bruscas mudanças climáticas eram suficiente para deixar qualquer pessoa menos determinada quase louca. Durante o dia experimentava o frio típico para época no interior irlandês, e a noite tinha de se livrar do excesso de roupas por conta do calor australiano. Segurava uma xícara com chá de gengibre em uma das mãos e um guia na outra, levou um tempo para aprender a se situar e ler mapas trouxas. Seu professor fora um velho que morava duas ruas atrás do morro onde ele passava metade das madrugadas. Invadiu a cabana trouxa e a ocultou com todos os feitiços que conhecia, ficou imaginando o tamanho do espanto dos donos da propriedade ao subirem a montanha e não encontrarem a casa. Primeiro ele pensou em amaldiçoar o bibliotecário aposentado, mas na madrugada que o conheceu, o velho o atendeu com boa vontade, ofereceu chá e escutou suas dúvidas. Logo Draco fora incapaz de força-lo a alguma coisa, também era um esforço desnecessário. Ao que parecia o bibliotecário havia gostado de sua companhia, ou talvez fosse apenas carência da idade que o fez acolher e auxiliar um jovem estrangeiro peculiar e arrogante, que somente aparecia nas madrugadas.

O Sr. Archer Lester tinha um sotaque forte e a voz bem fraca, Draco muitas vezes precisava pedir para que repetisse suas frases; era extremamente notívago, abaixo dos olhos amendoados e cansados carregava olheiras que denunciavam esse hábito. Lester tinha um tamanho muito pequeno perto de Draco, e isso deixou o rapaz encabulado, o jeito que fora recebido sem maiores desconfianças. Todas as noites quando restava pouco para amanhecer, Draco descia o morro e ia até sua casa. Aprendia sobre mapas trouxas e aprenderá também sobre como rastrear pessoas no país. O velho imaginava que o jovem alto e loiro era um analfabeto funcional ou alguém que sofria de limitações mentais, se considerar que Draco fazia perguntas óbvias e incomuns, e na primeira noite saiu correndo como um louco através da porta quando o micro-ondas apitou.

Draco se via muito estranho próximo ao senhor Lester, na primeira vez que entrou em contato com ele, teve que conter uma pequena faísca de repulsa na boca do estômago. A diferença entre as outras vezes em que sentiu nojo por trouxas, foi que Malfoy enterrou essa sensação e a oprimiu, rebatendo-a com lógica. Vez ou outra as coisas que quebraram dentro de si ameaçavam juntar, Draco não permitia. Na verdade se sentia muito desconfortável com a ideia de sustentar preconceito, experimentando nesses instantes repulsa por ele próprio. Mesmo que o Sr. Lester não fosse ela, ao desqualificar o homem, estaria também descartando Hermione.

Não fazia mais nenhum sentido se colocar acima de outra pessoa.

Aquela noite em especial marcará duas semanas que haviam se conhecido, Draco se viu confidenciando a ele que seria pai, sem nem mesmo saber porque fez, apenas sentia uma necessidade boba de informar a quem parasse para ouvir que uma cópia sua estava para chegar ao mundo.

- Mas você não passa de um moleque. - Lester o olhou servindo chá para os dois. - E quanto a mãe, ela o aceitou?

O velho vez ou outra o ofendia bastante, e Malfoy tentava ignorar isso. Se lembrava de quando Hermione dissera que ele parecia um senhor de oitenta anos e Draco se via exatamente como o Sr. Lester na sua velhice. Rabugento, mas tolerável e até boa gente.

- Sim, ela me aceitou... - Respondeu bebendo todo líquido sem esperar esfriar. - Por que não aceitaria? Ora bolas.

Ela tinha muitos motivos para não aceita-lo, mas o velho não sabia disso.

- Vocês ingleses, fazem do chá alimento. - Sr. Lester sofria de uma quase necessidade compulsiva de reclamar de tudo sempre que abria a boca, mas fazia sem maldade, era apenas hábito. - Você tem um emprego?

- Eu não preciso de um emprego, se quer saber. - Deu de ombros, não precisava mesmo. Tinha o suficiente no seu cofre para passar a vida inteira sem trabalhar. - Mas eu gosto de me manter ocupado, trabalhar me agrada muito.

- Faz bem, geralmente as moças não escolhem ficar com vagabundos. - Levou a xícara para a boca e contraiu os lábios quando se queimou. - Com o que gosta de mexer? Eu tenho uma oficina lá atrás ... Gosto de construir auto motores, eu ofereceria um emprego a você, é bastante desagradável e arrogante, parece ser um tanto doido, mas também é um garoto bom e honesto.

- Eu gosto de cozinhar, me saio bem ... - Draco enrugou o cenho mordendo um biscoito. - Eu acho que poderia cozinhar a vida inteira sem me estressar. Em todo caso, na grade de cursos pós Hogwarts não existe culinária ou gastronomia como opção, é um serviço destinado aos elfos domésticos... Eu não dou a mínima, quando isso tudo passar quero apenas fazer o que gosto. Não posso ser medibruxo, outra profissão que me agrada. Mas não me serve, não sou bom em lidar com as pessoas.

Sr. Lester o olhou por longos segundos e depois desatou a rir, tossindo um pouco em meio a graça.

- Garoto, você é mesmo uma comédia.

Draco as vezes se esquecia que falava com uma pessoa totalmente ignorante sobre seu mundo, fez uma anotação mental de nunca cometer o deslize de sacar a varinha próximo ao velho. Coisa que era muito complicada para uma pessoa que a vida inteira teve a magia como algo perfeitamente normal e necessário. Sr. Lester escutava somente com a ajuda de um determinado apetrecho, por isso, na última madrugada não notou que o rapaz havia ficado nervoso e fizera a chaleira voar pela janela. Era raro um bruxo conseguir fazer magia sem varinha, ele conseguia fazer algumas coisas, havia treinado nos últimos dias para caso de uma emergência.

Como era rotineiro, pouco antes do Sol se erguer no horizonte Draco se despedia do senhor Lester, encontrava um local escuro no final da rua e aparatava de volta a cabana no alto do morro. O velho sempre o assistia atravessar a porta dos fundos com certa desconfiança, mas nunca interpelou nada, a idade lhe garantia a ideia de já ter visto de tudo, e não possuía o mínimo interesse em revirar a vida alheia.


Quando abriu a pequena porta Blue estava a sua espera, Draco brigou um pouco com ele ao ver que elfo ascendeu a lareira e transformou o espaço em uma estufa.

- Use a capa da invisibilidade. – O loiro repetia suas regras todas as manhãs. – Não importa o quanto você gosta de brincar com os filhotes dos trouxas, mantenha distância do parque. Tem ideia do que farão de você se for visto? Tenha certeza que seja o que for vai machucar e doer muito.

- Senhor ... – Blue tentava comunicar algo importante, mas Draco o cortava.

- Tenho quase certeza que eles trabalham com alguma coisa ligada a saúde ... – Mostrava no mapa a área de busca onde o elfo devia procurar no dia. – Escutei ela falar algo do tipo para o Weasley. Se não conseguirmos resultados, eu vou buscar a informação direto da mente do ruivo.

- Por favor, senhor.

- Está prestando atenção?

- Estou, mas existe algo que o senhor não sabe.

Draco abandonou o mapa grudado na parede e se adiantou para o elfo, abaixando-se para ter melhor atenção.

- Aconteceu alguma coisa com elas?

- Minha senhora e a senhorita Hermione estão bem, ainda dormem. – Garantiu o elfo. – No entanto, senhor ... Há pessoas novas na casa, pessoas estranhas.

- O que?! Que pessoas são essas, Blue? – Draco por pouco não espera a resposta e pula para alcançar a chave de portal, Blue teve que segura-lo pela mão.

- São amigos de Harry Potter, senhor, nenhuma ameaça!

Draco piscou duas vezes antes de assimilar.

- Eu não posso acreditar que aquele desgraçado transformou o único lugar seguro que temos na porra de um quartel! – Draco alcançou a mochila e começou a esvazia-la. – Eu o mato, ouviu bem, Blue? Se ele levou gente da Ordem para a casa eu o mato!

- Ouvi perfeitamente, senhor.

Draco resmungou juras de torturas desumanas e promessas de morte por mais cinco minutos antes de sair para o quintal e viajar de volta a casa através da chave de portais.

...

- Acha que ela pode mudar minha decisão? Você está muito enganado, Potter! Ainda quero que tire essa gente daqui! – Draco exigia a mesma coisa desde que chegara há duas horas. Harry e Ronald se trancaram com ele no último andar para evitar que Malfoy arranjasse briga ou ofendesse os outros. Após ver que era praticamente impossível dobrar o homem, Ronald foi buscar Hermione.

- Precisamos de uma nova sede e aqui é o lugar perfeito! – Harry contra atacava com o mesmo argumento.

Hermione olhou de um para outro, girou os olhos e passou por eles para sentar-se na poltrona. Não se meteria em nenhuma briga, Ronald a convenceu a subir para impedir que as coisas ficassem feias. A castanha encontrou entretenimento nas próprias unhas enquanto ignorava os gritos dos dois.

- Eu não me importo com suas necessidades! Você é idiota, ou o que? Algum desses indesejáveis podem ser apreendidos e revelar onde estamos! Saiba que se não saírem por você, eu vou fazer que saiam sob os meus meios!

- Mesmo? – Ronald desdenhou. – Remo e Carlinhos, tudo bem, você até pode ser persegui-los. Mas e quanto as meninas? Vai amaldiçoar Tonks, a Luna, a Delacuor mais nova ou a Gina?

Draco não encontrou resposta e apelou:

- Hermione, fale alguma coisa!

- Sinto muito, mas eu estou do lado deles, querido. – Ela nem mesmo dirigiu a atenção para o centro da briga, mas pode sentir o olhar traído de Malfoy sobre si. – Todavia, acho que a razão é sua, só estou disposta a ignorar isso por um bem maior.

- Querido? – Os três repetiram quase juntos.

- Vocês estão desviando a atenção da briga. – Ela apontou lutando contra sua fisionomia para não acabar com as bochechas rosadas.

- Eu acho que vou precisar dizer o que aconteceu para que a antiga sede explod... – Harry iniciou a ameaça, mas Malfoy o calou falando por cima:

- Por alguns dias, Potter! Trataremos sobre esse prazo, e aproveite esse tempo para procurar outro buraco pra alocar esse ninho de ratos que te perseguem!

- Esperem ai – Hermione se levantou. – O que foi isso?

- Uma briga solucionada. – Harry respondeu dando de ombros.

- Uma briga adiada. – Draco corrigiu.

- Draco, o que o Harry tem contra você que pode ser tão sério a ponto de servir para te chantagear? – Ela cruzou os braços olhando muito desconfiada para os dois.

- Eu acho que vou ver como está Gina. – Ronald falou já atravessando a porta. – Você tem uma reunião com Carlinhos e o Remo, certo Harry?

Harry concordou com a mentira e seguiu o amigo, sabendo que Hermione não faria cobranças, ainda estavam agindo como estranhos um com o outro.

- Eu vou ir para cozinha. – Draco informou com muita cara de pau fugindo por onde os outros saíram.

- Ótimo, eu queria mesmo comer alguma coisa. – Ela foi bem falsa, coisa que aprendeu com ele. – Vou ir com você.

Draco resmungou um palavrão vendo que ela o perseguia no corredor.

- Granger, não se meta em um problema que pertence aos outros, Salazar ...

- A sede da Ordem foi explodida, acho que é sim um problema que me cabe.

- É uma guerra, casas explodem o tempo todo. – Diminuiu os passos para não fazê-la se esforçar demais.

- Não Draco, casas não se explodem o tempo inteiro. O que você tem a ver com isso?

Ele se virou para três coisas: falar para ela o deixar em paz, receber uma réplica raivosa e depois faze-la ficar em silêncio tomando sua boca.

- Algum problema aqui, Hermione? – A mulher ruiva apareceu no final do corredor. Draco arqueou as duas sobrancelhas ao ver que Ginevra apontava a varinha para ele.

Hermione resmungou qualquer coisa que ele não prestou atenção, seu raciocínio ocupado em tentar entender porque estava sobre a mira de uma varinha.

Assistiu com curiosidade as duas se afastarem, a ruiva sem desvia-lo da mira e ao encontrar um pedido de desculpas e compreensão no olhar de Hermione, concluiu o que imaginou, ela ainda não havia atualizado a amiga sobre eles.

- Tudo que faltava, mais pessoas enxeridas ... – Resmungou no caminho para cozinha.

Estava mau humorado aquela manhã e sentia como se tivesse grãos de areia por baixo das pálpebras, seus ombros estavam cansados, a nuca doía e sua paciência tirou o dia de folga. Precisava dormir e seria mais saudável para sua tolerância se tivesse ido para o quarto descansar, isso impediria o quase ataque de cólera que sofrerá ao entrar em sua cozinha.

Um ruivo com os cabelos ainda mais vermelhos que o de Ronald Weasley e bem mais velho que ele, conversava um assunto que parecia muito agradável para sua mãe. Coisa que era muito incomum, pelo que soube o pessoal da Ordem chegará na madrugada passada, e Narcisa mal conhecia qualquer um deles sem ser Tonks e Remo. Outro fator a se observar era que sua mãe não gostava muito de conversa, vez ou outra passava algum tempo com Hermione ou Ronald, de Potter ela nutria um pouco de ressentimento por saber que ele machucou seu filho. O problema do loiro não era ver sua mãe se enturmar, o que fez ele querer pular no pescoço do ruivo, foi a razão de reconhecer o olhar de interesse de um homem sobre uma mulher, os sorrisos e o comentários. Como se não bastasse, do outro lado da bancada uma figura loira “barbarizava” a cozinha, movendo tudo do lugar, e desorganizando os armários. Como Draco reconheceu o olhar cheio de intenção do ruivo, Carlinhos reconheceu o olhar furioso do filho de Narcisa sobre si, para evitar desentendimentos, se despediu da mulher e passou por Malfoy em direção a porta, fez um cumprimento com a cabeça e foi secamente ignorado. Draco o acompanhou com a visão até o homem sumir de vista.

- Você está vermelho ... – De repente o corpo menor e o rosto preocupado de sua mãe estava na sua frente. – Draco, está bem?

- Quem é aquele cara?

- O que?

- Você estava de conversa com alguém, quem é ele?

- O filho mais velho de Arthur Weasley ... – Narcisa segurou o rosto dele e o obrigou a encara-la. – Por que está bravo?

- Não o considerei um homem descente, acho que a senhora deve se manter longe.

- Estávamos conversando, como pessoas normalmente fazem ... Não vejo razão para essa sua raiva.

- É intuição, ele não presta.

- Acho bom que você faça o uso da educação que recebeu. – Narcisa censurou e deu uma batidinha no seu ombro.

- Como se julgar pessoas sem de fato conhece-las não fosse um passatempo familiar ...

- Como é?

- Desculpe, eu não disse nada. Apenas fique longe dele, mãe ... – Ele pegou suas mãos e apertou, trouxe as duas para perto dos lábios e depositou um beijo em ambos os dorsos.

- Eu convivo diariamente com quatro adolescentes, e você acha ruim quando converso com alguém mais velho? Afinal, por que achou ruim?

- Eu tenho minhas razões, a senhora devia confiar no que falo: Ele não presta.

- O seu filho sente ciúmes e está preocupado por imaginar ter visto malícia em Carlinhos. – A menina que destruiu sua cozinha quem falou.

Draco olhou com pesar para a bancada suja e os talheres fora de ordem, quis berrar com ela, mas se manteve calado.

- Draco! Eu sou uma mulher casada, ora essa. – Narcisa pareceu muito ofendida e se afastou dele. - Como se fosse preciso ter sua atenção policiando meu caráter!

- Eu apostaria minha vida no seu caráter. – Afirmou sério. – Mas eu sou seu filho e ter que presenciar ...

- Eu vou ir ver Tonks. – Ela dispensou sua justificativa e desviou do corpo dele para passar. – Remo disse que conhece um medibruxo discreto e competente, quero que você supere seu orgulho e procure saber mais com o marido de sua prima. A Srta. Granger precisa de acompanhamento.

- Certo.

Draco assistiu sua mãe partir com uma grande questão rondando seu cérebro: seria ele insuportável a esse ponto? Nas primeiras horas do dia já havia se desentendido com metade das pessoas daquela casa.

- Você parece incomodado. – A garota de sotaque francês murmurou vendo-o olhar com desgosto ao redor da cozinha.

- Que grande poder dedutivo o seu... – Sem se importar com a presença dela, passou a organizar os objetos e preparar o necessário para a limpeza.

- Eu sou Alisha Delacuor, irmã mais nova de Fleur Delacuor Weasley. – A menina pulou seu mau humor e se apresentou com cordialidade.

- O que está preparando? – Draco apontou para a panela sem sentir real necessidade de se apresentar, seu rosto era exibido todos os dias nos jornais, supôs que ela o conhecia.

- Tartare buoef.

- É francês, imagino. – Com curiosidade se aproximou das panelas e iniciou uma inspeção. – Você encontrou a receita em algum dos meus livros?

- Eu a tenho de cabeça ... Aprendi com minha avó. – Alisha estreitou os olhos e o observou com atenção. – Você gosta de cozinhar?

- Isso. – Draco melhorou sua expressão ao sentir o cheiro do cozido.

- Posso te explicar a receita .... Conheço outras, se quiser. – Alisha se aproximou e Draco abriu espaço para que ela pudesse ter acesso a panela. – Eu também prefiro gastar meu tempo na cozinha.

Pela primeira vez Draco a olhou diretamente, tudo para desviar no mesmo segundo. Se lembrou tarde demais sobre a árvore genealógica da família Delacuor, tanto que até aquele momento, não havia se dado conta de que falava com uma meio Veela.

- Preciso organizar a cozinha antes, você transformou todo espaço em um inferno caótico. – Apontou para os talheres fora do lugar e os armários abertos como se ela tivesse explodido toda cozinha. O que quase fez a menina rir, mas se deteve ao perceber que para ele aquela “bagunça” era bem séria.

- Minha presença te incomoda? – Ela quis saber. – Acho que esse problema de desorganização pode ser resolvido enquanto trabalhamos.

- Certo.

Pelo visto a jovem Veela não sabia controlar seu charme, coisa que Draco concluiu quando Ronald entrou na cozinha alguns minutos depois e quase tropeçou nos próprios pés ao vê-la. Potter veio mais tarde com a intenção de passar algum recado de Tonks para ela, assistiu com repulsa e quase diversão o modo como o homem se expressou feito um idiota perdido nas palavras. Draco não gostou nada do olhar acusatório que recebeu, como se ele estivesse traindo Hermione por simplesmente conversar com a loira. Julgou que a companhia de Alisha era tolerável e enriquecedora, esperava que Potter não fosse encher a cabeça de Hermione com teorias malucas. Não a desejou, a Veela não o afetava daquela maneira.

Para ele fora uma interação incomum, se considerar que não tinha facilidade para conhecer e se aproximar de pessoas. Alisha, no entanto, se viu curiosa diante ao homem monossilábico e extremamente regrado. Se surpreendeu quando Malfoy conseguiu recriar a receita com perfeição, ficará melhor que a dela, coisa que disse a ele. E o problema da meio Veela nasceu no momento em que ele sorriu em resposta.

...

- Imagino como deve ter sido árduo passar o dia todo esperando o momento “certo” para me encurralar a noite. Não estou errada, estou Potter? – Ginevra perguntou enquanto se vestia, reagiu com indiferença ao olhar dele queimando seu corpo.

- Sabe, eu não me surpreendi quando soube que você se rebelou contra um dos novos professores. – Sua fala saiu normal para a situação, usou o mínimo do respeito e virou-se de costas para respeitar a privacidade dela.

- Me rebelei contra um comensal. – A ruiva corrigiu. - Não são professores, excluindo Minerva, o prof. Horácio e madame Papoula, todos são inimigos. - Ginevra pontuou com neutralidade, admirando no espelho o bom trabalho que fez em esconder as cicatrizes que se acumularam no decorrer daquele ano em Hogwats. Seria morta se não fugisse da escola após amaldiçoar um dos comensais que torturava um aluno mais jovem da Lufa-Lufa.

- Chama-os pelo primeiro nome agora? - Harry volveu a girar o corpo após escutar o barulho do zíper correr, escorou na porta e dobrou uma perna, valorizando a cura dos seus ossos. – Minerva não costumava ser tolerante em relação a isso.

- Não existe mais hierarquia, somos aliados. Todo aluno e professor que se comprometeu a causa é preparado para a dor e o sacrifício. - Ela sorriu com muito orgulho ao se lembrar do quão fortes haviam aprendido a ser. - Vamos derruba-lo, Potter. Custe o que for.

- Se tornou uma mulher forte, Ginevra ... Admirável e inspiradora, tenho orgulho de estar lutando ao seu lado. - Harry disse em voz baixa, se obrigou a beber um gole do firewhiski que trouxe consigo para desviar o olhar da abertura do vestido nas costas dela.

- Obrigada. - Respondeu seca, em outro momento estenderia suas palavras, isso se não estivesse ocupada em se forçar a lutar e ignorar os elogios meia-boca dele. Odiava o jeito que se sentia próxima a aquele homem, sua força parecia diminuir e tudo que ela não precisava naquele momento de sua vida era enfraquecer.

- Não faça isso. – Apelou vendo-a tentar ocultar as cicatrizes no ombro direito.

- Eu não busco sua opinião.

- Posso me aproximar?

- Você não tem nada para fazer a menos de dois metros de distância de mim, Potter.

- Vou em paz ... - Ele mostrou as mãos após terminar a bebida e deixar o copo sobre a mesa. - Se sente nervosa em me ter por perto, Ginevra? Imagino, deve ser difícil ter que se obrigar a odiar alguém que marcou sua vida.

- Você agora bebe, Potter? - O ignorou se recusando a entrar no campo para qual ele queria leva-la. Não buscava justificativas ou ouvir a outra metade da história, Harry era um covarde da pior espécie, e vê-lo tentando agrada-la para chegar ao previsto fim somente causava mais raiva na mulher.

- Tive algumas complicações e por um tempo a bebida foi a única coisa que me ajudou com a dor. - Deu ombros inspecionando sua perna curada.

- Ainda bebe, continua sentindo dor? – Ela mordeu a própria língua ao perceber que existiu genuína preocupação em sua voz.

A situação era insuportável, ter de pisar em ovos para não acabar falando algo comprometedor. Ginevra o conhecia de verdade, e com ele por perto se ocupava a lembrar: Harry era mentiroso, aproveitador e um falso. Não existia razões para falar com ele.

- Acabei descobrindo que gosto de beber.

- Você nunca tomaria uma iniciativa destrutiva dessas por conta própria. Tome cuidado consigo mesmo, se existe uma coisa em que é bom, essa coisa é destruir pessoas ... - Ela sussurrou para si mesma, suspeitou de que ele ouviu, mas não se importou. - Potter, por que vocês mantém um comensal da morte na sede da Ordem? Eu o vi na cozinha, ele estava ... – Ginevra enrugou o cenho - Preparando o jantar. Adotaram a escravidão como forma de castigo?

Harry riu com a voz rouca.

- Queria eu ...

- Potter, o comensal não deve preparar as refeições, ele pode envenenar todos nós ... E por Morgana, vocês deviam algema-lo.

Pobre criatura. Harry pensava, invejando a ignorância dela.

- Hermione poderá esclarecer todas suas dúvidas sobre o assunto, Ginevra... O único conselho que posso te dar é que você se prepare.

De repente ele estava muito perto. E ela quase prendeu a respiração quando sentiu o ar quente da boca dele bater contra sua pele.

- Não precisa esconder suas cicatrizes. - Roçou os lábios sobre seus ombros sentindo-a estremecer. - Qual seu medo? - Beijou-a na nuca. - Acha que elas tornam o seu corpo feio? - Ela não respondeu ou assentiu, estava paralisada, ensaiará tantas vezes para aquele momento e agora não conseguia cuspir todas verdades e dores que acumulou. - Eu as vejo como um mapa para o coração de uma guerreira.

Harry Potter era bom três coisas: feitiços para desarmar, conseguir problemas, e, a principal que Ginevra conhecia muito bem: era bom em ser o melhor dos canalhas.

- Eu não quero você. - Sibilou quando ele mudou de posição e foi parar na frente dela. - Eu não quero você.

Repetiu o mantra, sem saber se dizia para ele ou para ela mesma, quem sabe para os dois.

Harry deu um sorriso nervoso.

- Não é o que seus olhos dizem ... E nem o seu corpo. - Olhou para a pele arrepiada em seu braço.

- Você não tem vergonha na cara? - Interpelou com mágoa e ressentimento. – Como tem coragem de falar comigo depois de tudo que fez? Melhor, como tem estômago para tentar alguma coisa?

- Cento e oitenta e sete cartas, eu contei, sabe? Eu mandei cento e oitenta e sete cartas pra você.

- Acredite, não vai querer saber o que fiz com cada uma delas.

- Pelo menos leu? – Harry tirou as mãos dos bolsos e pegou as mãos dela, recebendo arranhões como resposta.

- Não tinha interesse.

- Existe outro cara? – Tombou a cabeça para o lado, assistindo o olhar quebrado da mulher sobre ele.

- O que quer de mim?!

- Quero tocar você, e mente quando diz que não quer me sentir fazendo isso.

- Abstinência sexual? - Ela se obrigou a rir. - Me surpreende, quer dizer que durante todos esses meses não tentou cravar seu pau na Hermione? A Luna já foi ... Agora você pode tentar com Alisha também.

- Hermione é minha melhor amiga.

Ginevra rolou os olhos.

- Tem um par de seios bonitos, coxas grossas, uma cintura atraente e o que você mais gosta - Ela tentou conter o palavrão e optou por um termo mais formal. - Uma vagina.

- Eu não sou esse homem, Ginevra, não mais.

- Que bom pra você, mas infelizmente não sou voluntária em nenhum projeto de reabilitação. Procura se satisfazer? Que vá até o banheiro e use sua mão destra, Potter.

- Você é tão prepotente ... - Foi o que falou antes de avançar na boca daquela que o odiava.

Ela mordeu seu lábio com força, e arranhou fundo a pele do pescoço, a perdição veio quando ele gemeu de dor, ou prazer, dentro de sua boca.

Abriu espaço para acomodar a língua do homem que destruiu seu coração, e por pouco quase sua vida. O beijo teve gosto de sangue com resquícios do álcool que ele havia ingerido e foi muito raivoso da parte dela. Harry girou seus corpos e prendeu o corpo da ruiva contra o espelho. Era inútil tentar dosar sua fome por um corpo feminino com uma mulher daquela em seus braços. Apesar de ter desejado fazer igual com sua amiga, não fora capaz de tomar Hermione daquela mesma maneira, teve chances para isso e sabia que conseguiria, ela o amava. Mas pensou sobre como ela se sentiria depois, o que apontava ao menos um pingo de escrúpulo da sua parte. Não conseguia entender Ginevra, suspirava em desejo e insinuava seu corpo para ele, Harry quase parou de deslizar uma das mãos para dentro da abertura no vestido dela quando pensou ter sentido a umidade de uma lágrima.

- Eu não quero você. - Dizia quando afastava a língua da dele, o problema era que ela logo voltava a busca-lo.

- Meu quarto fica do outro lado do corredor, eu vou te levar. - Informou com a voz rouca pegando-a nos braços.

Potter massacrava o ego que ele mesmo havia obrigado a ruiva construir, era uma ofensa ao seu amor próprio, mesmo que sempre levantasse sua autoestima. Ela queria, mas sabia que o preço era alto demais. Não suportaria a dor do orgulho no minuto após o sexo.

- Não! - Conseguiu se soltar da boca e dos braços dele, a segurou até que seus pés tocassem o chão. - Eu tenho nojo de você! Ouse se aproximar mais uma vez e receberá algo pior que isso!

A mulher tinha um soco poderoso, no lábio superior de Harry Potter ficou a prova disso, antes de abandoná-lo no corredor.

- Pelo visto todo mundo adora socar sua cara.

Harry levou uma mão para seu lábio inchado e decidiu abstrair para não cair nas provações de Malfoy, que, aparentemente, sempre estava perto para assistir sua queda.

- A guerra tem extinguindo todo e qualquer velho conceito de fragilidade feminina. – Se virou para o loiro que estava escorado na parede encarando-o de cima, como um animal peçonhento espreita seu próximo abate. Malfoy olhava para todos que não gostava daquele jeito, população essa que englobava metade das pessoas do mundo. – Vai descobrir isso de Hermione se continuar de conversinha com a meio Veela.

- Eu quero que a impeça de ir com vocês. – Draco ignorou a alfinetada em seu caráter, não precisava provar nada para ninguém e a quem devia satisfação de sua lealdade era para Hermione, que não fazia cobranças, confiava nele. – Ela está com quase três meses e meio ...

- Eu não tenho poder para frear Hermione. - Harry soltou. – Nem você tem, te aconselho que arrume outro jeito de protege-la.

- Que espécie de líder é você? – O loiro caçoou.

- Malfoy, eu acabei de ser rejeitado e levei um murro na boca, é sério que você precisa me infernizar ainda mais?

- Quando vão partir?

- O que?

Draco saiu da parede e se aproximou.

- Eu sei que ela está envolvida até o pescoço, uma ova que esteja ajudando somente no planejamento ... Eu quero saber quando vocês vão partir.

- Se ela não te contou é porque não quer que você saiba. – Harry suspirou resignado. De todos homens do mundo Hermione arrumou o mais controlador e evasivo, pensava. – Você não vai foder nossa obrigação, Malfoy. Ela pode se proteger sozinha, e Ronald e eu estamos com ela.

- Quando, Potter?

- Em duas semanas. – Harry entregou por falta de paciência, queria que Malfoy sumisse da sua frente. – Agora vai lá e faça um inferno na relação de vocês, poupe meu trabalho em provar a ela que merece algo melhor. - Deu duas batidinhas no ombro dele tão falsas quanto o sorriso em seus lábios inchados, antes de abrir a porta e sumir.

...

Draco seguia furioso até o quarto que dividia com Hermione, Potter estava errado, ele não brigaria. Se por um lado ela vinha tentando melhorar a relação dos dois, Draco também fazia sua parte, ou tentava. Se bem que Hermione nos últimos dias estivera bastante emocional, tudo que ele não queria era fazer com que a mulher chorasse sem motivos. Por isso descarregava sua raiva e preocupação no piso da casa, com passos duros e alguns resmungos revoltados.

- Draco?

Brecou seus passos e dirigiu sua atenção para a porta aberta. Desviou o olhar como quem evita vislumbrar o demônio, vendo escorada na porta, vestindo nada mais que o casual, a irmã mais nova de Fleur.

Alisha Delacuor era muito bonita e como se não bastasse, parecia ter sérios problemas em conter seu charme Veela. Draco não tinha consciência de que a bruxa o testava propositalmente, curiosa por perceber que não o afetava como fazia aos outros.

- Delacuor. – Um aceno de cabeça com o olhar preso no chão. Ele não queria aquela menina, mas seu querer podia ser facilmente adulterado se a jovem não aprendesse a conter sua magia. – Eu tenho pressa.

Por sorte nunca foi conhecido como uma pessoa agradável, tanto que não viu problemas em seguir seu caminho e deixa-la para trás. Inconsistente de que Alisha sorria seguindo-o com olhar presos em suas costas.

Ao entrar no quarto encontrou Hermione submersa em um livro, ela tinha o costume de ignorar o mundo enquanto lia e nem mesmo o viu chegar.

- Está com sono? – Perguntou.

A castanha levou um pequeno susto e tentou esconder o livro contrabandeado por Blue, mas era tarde demais, Draco tinha percebido e o entendimento chegou quando não encontrou surpresa no rosto dele.

- Está me acusando com o olhar... – Disse mudando-se da cama para a poltrona que existia próxima a lareira.

- Você não considerou relevante me comunicar que não abriu mão da sua jornada suicida? – Draco se moveu e deixou seu corpo pesado tombar no sofá.

- Eu não ia esconder de você, estava esperando o momento certo.

- Segundo Potter a invasão ao banco acontecerá em poucos dias, planejou me contar uma noite antes de partir?

Hermione não respondeu de primeira, fechou os olhos e respirou fundo.

- Você ia tentar me impedir, com certeza tomaria alguma decisão estúpida...

- Por que está fazendo isso? - Ele quis saber, girando a cabeça em sua direção.

- Porque eu vou ter um filho, não posso me sentar e simplesmente esperar que os outros resolvam um problema que é meu.

- É arriscado, Hermione.

- Draco, o mundo todo é arriscado nesse momento. Você não pode me proteger da realidade, eu não gosto que tente fazer isso.

- Parece o certo. – Argumentou. – Pela lógica é o certo.

- Me preocupo com você, tenho medo que ultrapasse os limites e acabe se machucando. – Ela se ergueu da poltrona e foi para onde Draco estava. - Nunca vou estar segura enquanto ainda existirem pessoas que compactuam com os ideais de você-sabe-quem. Você precisa entender isso, a importância que tem ... E por favor, não tome nenhuma medida precipitada. - Fungou brava consigo mesma ao perceber que estava chorando. As lágrimas recorrentes com certeza era a parte mais sombria da gravidez, em sua opinião. - Se a questão dependesse da minha vontade, meu desejo seria ficar com você longe de qualquer coisa, e também ...

- Vou começar a pensar que você está apaixonada por mim. - Ironizou com um sorriso triste se encontrando completamente sem rumo. Hermione puxou sua mão em um pedido mudo para que ele se levantasse, obedeceu. Parecia agora tão frágil aos seus olhos, não importava a completa noção de que frágil fosse uma coisa que ela definitivamente não era. Ver lágrimas em seus olhos não ajudou muito. Quis poder prendê-la em algum lugar, impedir que qualquer coisa pudesse alcançar sua segurança, mas como bem sabia, isso era um crime contra sua liberdade, além de ser doentio, pouco inspirador e nada romântico.

- É ... Talvez eu esteja mesmo, e dai seu idiota? Nem todas as pessoas tem a obrigação de sentir medo em expressar sentimentos. E você, é bom que pare de me olhar dessa maneira! - Hermione o abraçou sem se importar se ele estava zangado, quis um abraço e buscou por um.

- Você me estressa, Hermione... E é tão confusa que acaba me deixando todo complicado também! Como acha que eu me sentiria assistindo você partir em uma coisa perigosa dessa?

E a culpa o atingiu no exato instante que finalizou suas palavras. Também escondia verdades, corria o risco de morrer e nunca mais retornar para preparar seu café da manhã ou viver para ensinar seu filho a se equilibrar em uma vassoura.

- Eu vou ir junto com você. – Seu tom de voz foi bastante definitivo.

- Você não vai, é louco? Sua influência sobre a varinha de ...

- Não se pode ganhar todas, meu bem. – Draco podia conter sua raiva, mas não o escárnio.

- Malfoy não começa ... – Ela pediu.

- Eu vou junto ou quebro a outra perna de Potter e atraso sua partida, o que eu não posso é ficar só assistindo... Como vou deixar vocês dois assim? Perdeu o juízo? Minha mãe me criou para ter honra, Granger ... E um amigo me ensinou que um homem descente nunca abandona sua família.

O inconsequente quase fazia seu coração parar ao se referir a ela e seu filho como família. O beijaria, mas no momento precisava ser durona, mais que ele.

- Esqueça. – Determinou. – O assunto acaba aqui.

- Agora que tudo foi decidido, acho relevante conhecer o que vocês buscam no meu cofre. – A ignorou.

- Malfoy você não vai, não é bem-vindo, ninguém te solicitou, ninguém nem mesmo te suporta! Como acha que será possível invadir um banco com você e os meninos trocando socos?

- Você acabou de deixar implícito que, talvez, esteja apaixonada por mim, como pode não me suportar?

- São linhas paralelas ... - Hermione resmungou descontente por sua incontinência emocional agravada pelos hormônios, se afastou do peito dele e o encarou bem séria. - Você não irá conosco.

- Claro que vou. - Seguiu afirmando com convicção. - Agora, parceira grifinória, me diz o que precisaremos pegar? Garanto que conheço cada objeto importante naquele cofre.

Hermione soltou um chiado pela garganta e se afastou.

- Eu quero terminar essa coisa de "negócio sério.”, quero um fim agora. – Ela falou bem decidida.

- Está me chutando, Granger? – Draco encenou incredulidade e tristeza.

A castanha desejou mata-lo.

- É Malfoy, eu estou!

- Posso saber o motivo?

- Porque antes disso eu podia te bater! O que aconteceu com "Eu não sou a porcaria de um herói, Granger."?

- E não sou mesmo. Não me importo com o mundo, que todos se explodam em mil pedaços. Meu negócio é minha mãe, você e o moleque.

- Você consegue ser repugnante e gentil ao mesmo tempo. – Ela buscou calma respirando fundo, o conhecia suficientemente bem para saber que Draco falava sério e faria o que fosse para se enfiar naquele banco atrás dela. - Por favor, não insista nesse absurdo.

- Não vai funcionar de outro modo, Hermione. Consegue me imaginar sentado naquele jardim assistindo você ir embora com aqueles dois pé rapados? – Ele tentou se aproximar mas foi enxotado por ela. – Se quiser ficar brava comigo, que fique. Eu falar com Potter, fazer minha inscrição no clube dos desmiolados ansiosos pela chegada do fim doloroso e precoce.

- Por favor, me diz que isso não é uma tentativa de manipular a situação invertendo os papéis, Você tem o péssimo costume de fazer isso!

- Não, são apenas duas faces da mesma moeda. Você tem medo de que eu me machuque e eu sinto o mesmo por você, o jeito é fazermos a coisa toda juntos.

Hermione riu sem humor.

- Harry não vai aceitar, nem mesmo confia em você. Por qual motivo cogitaria esse absurdo? De qualquer modo eu não vou deixar que ele te aceite, esqueça de uma vez.

- Avalie o que eu posso oferecer você mesma; como disse, conheço todos os objetos importantes presentes no meu cofre, diferente de vocês não hesito em usar maldições, tenho experiência em batalha, visitei Gringotes mais vezes do que posso contar nos dedos; por segurança Lucius tinha conhecimento vasto sobre a maioria das magias que são usadas para proteção das camadas inferiores, e me obrigava a segui-lo durante essas visitas, Duendes sentem pavor ao me ver, e o melhor de tudo... - Procurou a melhor maneira de fazer aquela revelação a Granger, óbvio que não encontrou, não existiam palavras certas, ela ficaria brava de qualquer jeito. - Tenho um elfo que trabalhou no Gringotes por anos, antes de servir minha família por duas décadas. Blue possuiu aparatação registrada e consentida nas primeiras câmadas do banco. – Ficou bastante preocupado com o jeito que a menina o olhava, considerou por breves segundos a possibilidade de tomar a varinha dela. – Nunca desconfiam de um elfo, são seres sem ambição ... Quanto mais um elfo que pertence aos Malfoys, nem mesmo se preocuparam em retirar o registro quando ele foi vendido...

Ela o encarou sem verbalizar nenhuma palavra, Draco quase suou frio nesses segundos, nunca tinha vislumbrado uma mulher tão feroz e com tamanho sentimento de traição no olhar.

- Você ... - Hermione encontrou dificuldade para falar. - Durante todo esse tempo ... me escondeu isso?

Draco ficaria assustado com o tom de voz ameaçador, se não fosse a nova técnica de abordagem proposta por ela mesma, sabia que receberia no mínimo uma azaração.

Se enganou.

- Droga, Granger! - Hermione usava a varinha para levitar os livros pesados da estante e atirar sobre ele. - Você nunca me perguntou nada!

- Oh, me desculpe não ter deixado bem claro pra você que estamos há meses tentando encontrar uma maneira possível de entrar e sair daquele maldito banco! E você sempre pode ter feito alguma coisa! Esse tempo todo! Custava ter colaborado?! Seu egoísta idiota!

- Colaborar pra você arriscar sua vida? Ah sim, claro! como pude ser tão insensível e cruel não deixando você morrer! – Ele conseguia se desviar de alguns livros, outros estapeava para longe ou defendia com um braço. Hermione decidiu que odiava a coordenação motora dele.

- Tem noção da importância por trás do acesso ao banco?! Pessoas estão morrendo, você-sabe-quem a pouco de dominar tudo, Hogwarts virou uma escola de magia negra, enquanto você, o imbecil, age como um egoísta!

- Não exagere Granger, não é como se a solução para a guerra estivesse na porra do meu cofre!

De repente os livros pararam de chegar. Draco encarou Hermione sem entender, assistindo ela guardar a varinha e desmoronar na cama.

- O que foi? - Pulou alguns dos livros espalhados no chão e se sentou ao lado da menina que aparentava sofrer uma crise existencial junto a um conflito interno. - Francamente, Hermione é um desafio te compreender. O mais sensato te desagrada, e mesmo quando tenho certeza de estar fazendo a coisa certa, tudo acaba desse jeito. Eu não quero te desapontar, mas isso parece ser inevitável. Suas ações também me chateiam, não sei como resolver isso.

- O problema não são suas intenções, e sim a forma como faz as coisas. Você não se importa com ninguém que não seja sua mãe ou eu, as vezes age dessa maneira ... Não se importa com a guerra, e diz querer minha segurança, sem se dar ao trabalho de entender que eu não estou segura porque não passo de uma sangue-ruim para aqueles malditos ... Como espera que eu me sinta assistindo você passar por cima de coisas que são mais importantes que eu?

- Eu não acredito que esse "problema" em específico possa ser solucionado. Acho que você está correndo riscos desnecessários tentando mudar a guerra. Não é covardia, é simples realismo. Droga, como três adolescentes podem acabar com uma guerra? Não faz sentido.

- Você realmente conhece os objetos importantes que estão no seu cofre? - Hermione ficou inesperadamente mais calma, pareceu ter decidido qual lado seguir no seu último conflito interno.

Draco resmungou um "uhum" apoiando o queixo na mão. Imaginando que seria mais saudável para sua sanidade deixar de tentar entender as estranhas flutuações no humor da menina ao seu lado.

- Draco, o que eu vou te dizer decidirá o destino de toda a guerra, de todos nós, do nosso filho ... - Ela começou com muita hesitação, e se calou de vez quando o olhou de soslaio. - Por que está tapando as orelhas?

A resposta era simples, apesar de não creditar tantas esperanças no fim da guerra, acreditava no julgamento, empenho e competência em desafiar Voldermort dos três leões. Além de tudo, colocava muita fé nas conclusões que Hermione alcançava. Ela isolada em uma casa com acesso a uma única biblioteca, descobrirá sobre seu vínculo com a varinha de sabugueiro. Draco se arriscava todas as madrugadas para ir em busca de Lucius, ainda era movido pela ânsia de fazê-lo pagar por que fez a Konai. Não podia ter nenhuma informação como aquela no seu cérebro, não era seguro.

Hermione levou suas mãos as dele e as puxou para baixo, demonstrando confusão em seu rosto.

- Não me conte sobre tudo, apenas fale o que precisa encontrar lá dentro.

- Por que isso?

- Deixe de ser ingênua, Hermione. Se a informação tem tanta importância você não pode multiplicar o número de pessoas que tem conhecimento sobre ela.

- Eu confiaria minha vida a você.

Draco foi pego de surpresa com as palavras brandas e sinceras. Era o exemplo de responsabilidade que sempre temeu adquirir, antes era perseguido pelo medo de não conseguir se conectar ou deixar Hermione confortável. Se escutasse aquelas palavras há um ano, entraria em estado de hiperventilação e mandaria Hermione buscar tratamento. Todavia, naquele momento sentiu apenas conforto, alívio e um certo orgulho de si mesmo. Não tinha porque temer aquela responsabilidade, pois, Hermione podia mesmo confiar qualquer coisa a ele.

- Ainda assim, sou um homem procurado por você-sabe-quem, tudo é imprevisível. Existem muitas maneiras de tirar informações sem precisar que a pessoa fale.

Hermione desistiu logo, conhecia o suficiente para saber que ele se recusaria a ouvir de qualquer jeito.

- O que buscamos não esteve no cofre de sua família desde de sempre. Você disse que sua mãe herdou os bens de Bellatrix.

Draco assentiu em concordância deixando que ela prosseguisse.

- Precisamos do cálice de ouro que pertenceu a Helga Hufflepuff. – Falou de vez e não se sentiu insegura, Harry iria armar um berreiro quando soubesse, mas tentou não pensar nisso.

- A taça de Helga? – Ele se mexeu na cama e adquiriu uma expressão pensativa por curtos instantes. - Hermione, como pretende “salvar o mundo” com uma taça? Vai usar para se embebedar e criar o mundo ideal em seu coma alcoólico? - Ironizou como se ela tivesse dito algo bobo, a olhou como se ela fosse boba.

- Eu imploro a Merlin para que meu filho não fique tão parecido com você nesse aspecto ... – Ela disse isso bem seria.

- Fala sério? Meses de busca, sacrifício e planejamento por uma porcaria de taça? – Ele desviou o olhar para baixo e Hermione girou os olhos ao ver que Draco parecia mais interessado nos seus seios que na conversa.

- Veja bem seu idiota, você me impediu de te explicar, sustente suas descrenças sozinho, apenas me responda.

Draco levou as mãos para as coxas dela e Hermione sentiu seu corpo ser suspenso.

- Sim, sim, sua taça milagrosa está no cofre que compartilho com minha mãe. – Draco usou um tom quase entediado colocando a menina sentada no seu colo. - Estava no cofre que Bellatrix dividia com o falecido Rodolphus Lestrange, mas após ...

- Mesmo me mantendo em cativeiro ela mudou antes de morrer, com medo de que Harry e Ronald fossem procurar... - Hermione concluiu por ele com serenidade, encontrando outro assunto pendente. Draco pareceu congelar com a simples ideia de mencionar sobre o tempo em que ela esteve presa como refém da família dele. – O que há de tão interessante nos meus seios? – Mudou de assunto vendo-o passear uma mão por ali, parecia incerto sobre o que fazer.

- Estive pensando ... – Começou mudando a atenção de suas mãos de volta para as coxas dela. – Será que posso machuca-lo?

Hermione não entendeu de primeira e precisou segurar e erguer seu queixo para buscar entendimento.

- Oh! – Ela deu uma risadinha. – Por esse motivo tem fugido na cama?

- Eu não estou fugindo de você ... – Ele pareceu ofendido. - Sempre te agrado com minha língua.

- Não há problema nenhum em transar durante a gravidez, Draco ... – Ela mordeu o queixo dele e passou a língua perto da orelha, muito contente em descobrir porque ele estava tão receoso quando iam para cama. – Acredite eu fiz todas as perguntas possíveis a Tonks, e li alguns dos seus livros de medicina.

- Posso imaginar como deve ser confortável ter que falar com uma auror sobre sua vida sexual com o primo dela que é um criminoso. – Draco atacou de volta beijando seu pescoço, como sempre soltou os cabelos dela e buscou seu cheiro, enquanto Hermione se esforçava para livrar-se dos seus calçados.

- Eu quero sentir você. - Draco murmurou desabotoando a camisa dela.

- Você pode ... - Ela buscou contato visual e sentiu um arrepio descer para baixo da barriga diante o olhar dele. - Por que todas as noites tem agido como se me provasse por uma última vez?

- Você faz muitas perguntas, Granger. - Desviou do assunto deslizando a camisa por seus braços. Ela murmurou alguma coisa que não ouviu por estar entretido olhando para seios dela. – Quero demorar com minha boca aqui. – Tocou-a com as costas das mãos nas aréolas rígidas, Hermione era muito sensível naquela região. Ela apenas assentiu, o rosto corado e a regularidade da respiração comprometida. Ajudou a retirar a camisa dele, se encararam em meio ao processo, Draco ainda não havia se adaptado a sensação avassaladora que dopava seus sentidos quando ousavam se encarar antes, durante e após o ato. Hermione parecia sentir coisa igual, mas diferente dele, ela não deixava o medo priva-la do conforto que alcançava naqueles momentos. Eles nunca fizeram amor, e as vezes Hermione se pegava curiosa para experimentar como seria se fossem para cama com essa intenção. Nunca aconteceu por dois motivos: ele ainda sustentava medos e não fazia ideia de como “realizar”. Se bem que para ele não existia nenhuma diferença entre fazer sexo ou “amor”, a finalidade era a mesma. Draco a abraçou forçando os seios da mulher contra seu peitoral, sempre gostou de sentir o corpo feminino pressionado ao seu, principalmente o dela. Agarrou os cachos castanhos possessivamente e puxou fazendo seu corpo pender para trás, primeiro deslizou a língua entre os vales dos seios e subiu até alcançar sua jugular, não foi muito responsável enquanto trabalhava em seu pescoço, e ela falou nessa hora, Draco esperou ouvir uma reclamação sobre as possíveis marcas que estava deixando. Porém, o que chegou foi um pedido:

- Eu estou pronta, preciso de você.

- Vai ter que aguentar ...

- É sério que está se vingando? – Sua voz quase chiava por conta dos suspiros, algum ponto latejava e estava em chamas entre suas pernas. Tentou afastar o pescoço da língua dele e mostrar que ela também mandava, ou ao menos imaginou ter tentado, não queria que acabasse, precisava de mais.

- Velhos hábitos. – Ele voltou a atenção para os seios dela, soltou seus cabelos para segura-los. Seu olhar era sedento, curioso.

- Se eu me "desculpar" você para de me olhar desse jeito e pula as provocações? . – Hermione se adiantou e mordeu o lábio superior dele, depois o inferior.

- Qual o problema com o meu olhar? – Ele devolveu as mordidas, mirando no lóbulo da orelha dela.

- Deixa estampando no seu rosto o que quer fazer comigo ... E demora propositalmente, está me deixando louca. – Hermione levou as mãos para os ombros dele e apertou ali com suas unhas, era a hora de devolver as marcas que muito provavelmente ele deixou no seu pescoço.

Draco se ergueu da cama com ela no colo, usou os próprios pés para se livrar de qualquer jeito dos sapatos, e a deitou ficando por cima.

- Vou dar o que você precisa. – Desistiu do jogo, não era possível suporta-la seminua pedindo por ele. – Mas antes eu preciso descobrir e sentir o gosto do seu corpo sem nenhuma pressa.

Pegou a aréola do seio entre os dentes, e tocou-a com a língua. Hermione levou as mãos para o cinto dele, em meio a pressa do desejo, lamentou-se por estar junta a um cara que claramente não entendia o conceito de roupas casuais. Ela tremeu uma das pernas quando sentiu a primeira sucção e jogou-a em torno da cintura dele, o olhou percebendo que ele buscou fôlego no instante em que a mão dela conseguiu chegar dentro da calça e o segurou. Draco deslizou uma mão pela lateral do corpo dela e conseguiu se enfiar entre suas pernas, retribuindo o agrado que recebia. Foi bem sério quando disse que demoraria em seus seios, e se dedicou com muito vigor ao que fazia, não era capaz de evitar as pausas ao erguer o olhar e vê-la de olhos fechados, sussurrando seu nome. Não suportava sua expressão de prazer, podia ver o calor irradiando em seu rosto, a artéria pulsando com vida ao lado da garganta e sentia o esforço dela para se livrar das roupas que restaram. Ao se afastar para vislumbrar seus seios pode ver que estavam avermelhados e mais inchados que o comum, Draco não se conteve, e nem pensava sobre limites tendo-a gemendo seu nome.

- Eu tenho que provar você. – Ele usou a força dos braços e se ergueu, primeiro tirou sua calça e depois puxou o shorts dela.

- Por favor ... – Foi um aviso de que não duraria muito sendo sujeita a aquela exploração que ele decidiu fazer em seu corpo.

Apertou os lençóis quando sentiu os lábios dele beijando região arrepiada em suas coxas, com a calma de quem tem todo tempo do mundo, ele deslizava a última peça que a distanciava da total nudez, e mesmo quando a livrou da calcinha se dedicou a apertar seus glúteos e beijar a pele de suas coxas. Em meio a cegueira do momento, a urgência dosada a coragem, pediu por ele, verbalizou onde queria sentir sua língua. Draco a olhou, hipnotizado em ver o quanto ela o desejava. Hermione estava mais vermelha que antes, jogou a culpa na timidez que sentiu por conta do seu último pedido. Não podia tortura-la mais, Draco conquistou espaço entre suas pernas, beijou primeiro a pele acima do clitóris, deslizou a língua e sentiu necessidade de tocar em si mesmo ao ver o quanto ela estava preparada para recepciona-lo. Não estava pronto para resistir aos gemidos e os arranhões dela, tanto que esqueceu seu objetivo de explora-la com calma, agora bem distante da timidez, Hermione suspirava incentivos para ele que seguia beijando-a com força. Ela tremeu e arqueou o corpo, sem depender de sua vontade, seus olhos reviraram e o som foi alto, provavelmente o machucou com as unhas durante os segundos que esteve fora do seu corpo, no fim do momento entendeu porque Draco escolherá o quarto mais afastado de todos para eles. Hermione tinha a respiração pesada quando se arrastou para o centro da cama, estava sensível demais e tentou fugir da boca dele. Draco percebeu o orgasmo mas fingiu que não, como também não se deteve as tentativas de fuga dela e perseguiu seu objeto de desejo.

- Draco ... Saia já, não encosta em mim. – Enxotou o homem.

Ele riu da ingratidão dela.

- Está tudo bem ... venha aqui, Hermione.

- O que vai fazer? – Ela deixou que se aproximasse.

- Ainda não acabei ...

Hermione buscou a boca dele e o beijou, quis vence-lo e correu uma mão por seu abdômen, parando somente quando o encontrou duro e latejando em desejo por ela.

Draco suspirou, enfrentando uma luta contra toda sua carne ao se afastar do toque delicado e firme, adorava ser tocado por ela, mas não estava disposto a abrir mão do seu objetivo.

- Sinto que posso explodir se você encostar sua língua ai ... - Choramingou vendo-o puxar seu quadris e prendê-los com força.

- É o que eu quero ver. – Informou voltando a estimulá-la

Ela mexia os quadris, sem saber se tentava fugir e poupar sua região sensibilizada ou se buscava mais contato. A resposta certa chegou no momento em que Hermione passou a guiar os movimentos dele, e surpreendeu-se ao se escutar pedindo por mais. Estava muito perto de se desfazer uma segunda vez, e assim seria se ele não tivesse se afastado.

- É insuportável te ver brava e com tesão. – Se deitou por cima e sussurrou uma palavra obscena quando por vingança ela mordeu seu lábio. A beijou, retribuindo a raiva boba dela, Hermione abriu o espaço que ele precisava e prendeu as pernas na cintura dele, o mordeu de novo, dessa vez no ombro, quando sem aviso a invadiu.

Hermione não deixou suas bocas afastarem, com isso pode escutar de perto o que Draco sussurrava enquanto se movia por dentro dela. Alguns palavrões, e muitos elogios ao seu corpo. A menina sorriu e alguma coisa se desenfreou e ameaçou explodir dentro do rapaz, imaginou que fosse luxúria, embora não achasse ser possível sentir desejo naquele específico órgão. Se Hermione percebeu o quanto estava dopado com os efeitos provocados por ela, não demonstrou. Draco só não sabia que além de descobrir o quanto ele gostava dela, se aproveitou disso, mudando o ritmo e o sabor do beijo. A acompanhou, se arrepiaram juntos e sem se dar conta passou a penetra-la de uma maneira diferente, tudo se resumiu a uma realidade muito distante de qualquer coisa conhecida por Draco Malfoy. Dividido entre a curiosidade e o medo, se ergueu e sentou-se na cama puxando ela para si, até porque sentia que poderia morrer se não a tocasse por mais tempo. Hermione queria sabotar sua sanidade, sentando-se sobre ele daquele jeito e fazendo questão de não desviar o contato visual. Ela sempre fora sexy, mas aquela era a primeira vez que dosava sua ousadia a carinho. Quase engoliu em seco, e apelou para a covardia, mesmo que agora estivesse mais habituado a ser corajoso, no momento precisou recorrer ao sentimento que quase o privou de ser feliz. Prendeu sua cintura com força e tentou fazer uso de sua canalhice para dissipar o clima que pairou entre eles.

- Do que você tem medo? – Ela quis saber, saiu em um suspiro, e só ouviu porque estavam com os corpos presos.

- Eu não sei fazer isso, Hermione. – Admitiu. – Me sinto muito estranho.

- Quer dizer que não gostou? – A voz dela tremeu um pouco, culpa do prazer e do nervosismo. A questão não era a preferencia por sexo bruto, por sorte ele compreendeu o que Hermione realmente quis saber.

- Eu gostei pra caralho. – Respondeu sem titubear. – Você não faz ideia ...

- Então cale a boca, Draco ... E faça amor comigo.

Já que era o caso, e não existia volta para o que resolveram fazer, Draco não faria ela pedir de novo. Seguiu seus instintos e voltou a provar a boca dela, os mesmos instintos indicaram para que ele levasse as mãos para seus cabelos. Dessa vez não os puxou como de costume, e Hermione se sentiu triunfante em saber que com toda certeza era ela a primeira que recebeu um cafuné de Draco Malfoy. Desejou explorar seu corpo, e devolveu o carinho enquanto deslizava para cima e para baixo no colo dele, tocou o peitoral, os ombros, a nuca e as costas. O que a mulher experimentou ultrapassava a sensação de conforto, segurança e poder que sempre encontrou na magia. Não chegaria muito longe daquele jeito, e mudaria de posição caso algum neurônio do seu cérebro não estivesse em posse de Draco. Algumas palavras chegaram a sua garganta, mas ela não deixou escapar. O que era irônico e quase hipócrita, reclamar do medo dele enquanto também sustentava receios. Aceleraram sem perder o ritmo, Draco ainda sussurrava obscenidades quando ela o permitia ir mais fundo. Hermione fechou os olhos e se deixou esmorecer nos braços do homem, o pulmão já não sustentava o ar, e os músculos da perna se contraíram. Abriu ao olhos para dividir sua sensação com ele, e o encontrou com a atenção presa em si. Pode jurar o deixou louco quando decidiu beija-lo e abafar seu gemido na boca dele.

Percebeu que o dele chegou quase simultaneamente, e ainda não se sentia pronta para deixa-lo, por isso rodeou seu pescoço e se prendeu ali. Draco correspondeu a necessidade da mulher, abraçando-a de volta.

- Acho que acumulei muito nessa última semana. – Draco pigarreou antes de soltar a justificativa. – Bom ... Nunca passamos mais que alguns dias sem sexo.

Ela olhou para baixo e encontrou cobrindo de branco a parte interna da sua coxa a razão daquela expressão de “desculpa” no rosto dele.

Hermione riu.

- Não corremos riscos de engravidar por enquanto, seja otimista.

Admirou a risada dela e isso repuxou seu riso também.

- Vem comigo. – A levou com ele até o banheiro.

A água da banheira havia mudado de quente para morna, mas ele não percebeu, distraído com a menina deitada entre suas pernas. Nunca pensou que seria capaz de experimentar tanta paz, ainda mais sendo justamente ela a razão desse sossego. Permitiu-se fugir da incógnita e resolveu relaxar. Ela parecia tão confortável quanto Draco, demonstrou isso quando passou a deslizar a mão por cima do seu ventre.

- Vou ver o medibruxo em poucos dias ...

- Eu sei.

- Vou pedir o exame que nos mostre o sexo do bebê.

- Estarei lá.

- Você pode escolher o nome dele sozinho ...

Malfoy exibiu um sorriso muito feliz.

- Faz bem, tenho um ótimo gosto.

- Desde que não seja ridiculamente pomposo, aristocrático ou extravagante. – Hermione completou.

- Eu não te suporto, Granger. – Abraçou seu corpo enquanto reclamava.

- E você Malfoy, nunca ouse fazer nenhuma besteira que te afaste de nós dois. - Ela não pediu, ordenou.

- Pode ter certeza que não.

Nunca desejou estar indiscutivelmente certo como naquele momento.

...

- Tonks avisou que eu teria uma grande surpresa ao chegar aqui. - Ginevra pegou a camisa masculina que estava amassada no sofá com as pontas das unhas fazendo uma inspeção.

- Você é terrível quando o assunto é ser cautelosa, Ginny ... - Hermione se apoiou na porta e deixou sua cabeça pesar para trás, estava preparada para lidar com aquilo, se sentia preparada.

Ginevra jogou a camisa de qualquer jeito no chão e Hermione quase a alertou que o dono da peça era um maníaco por organização e limpeza. A ruiva adquiriu uma expressão bem séria e prendeu os cabelos, o gesto simbolizava o fim de suas falhas tentativas em ser diligente, o momento pedia por honestidade.

- Ele é encantador, mas continua sendo um babaca que quer marcar território no máximo de vaginas possíveis.

Hermione abaixou a cabeça com rapidez e a olhou horrorizada.

- O que?

- Francamente Hermione, eu sei que vocês tiveram alguma coisa, conheço seus sentimentos e principalmente o seu jeito de se comportar após cometer algum deslize. - Ela apontou para a camisa jogada no chão como se fosse um inseto.

Hermione não soube o que dizer, buscando em seu cérebro explicações racionais e coerentes que justificariam ter Ginevra acusando Draco com tanta raiva e ressentimento. Ele teria ...?

- Ele fez alguma coisa ... se insinuou pra você?

Ginevra teve de manter seu foco na necessidade por transparência mediante ao olhar devastado da amiga, a essa altura tinha esperanças de que ela já o teria esquecido.

- Ele tentou me levar pra cama Hermione.

- Ele nunca faria isso comigo ... Você tem certeza que ... ? - Hermione não terminou de perguntar, sentindo seu estômago se apertar e ameaçar expelir todo conteúdo para fora.

Ginevra soltou um som ruidoso indignado, muito ofendida com a pouca credibilidade que Hermione deu a ela.

- Ele foi me procurar no meio da madrugada! É claro que aconteceu, se esqueceu de quem estamos falando?! Você pode confiar sua vida a ele, Hermione, mas nunca seu coração! Como não conseguiu nada comigo, veio atrás de você ... Patético, ele não respeita nem mesmo a nós duas! Imagina o que é capaz de fazer com mulheres desconhecidas?!

- Gina me desculpe, mas ... ele nunca faria isso. - Repetiu em um sussurro levando uma das mãos para cobrir seu ventre.

A segunda mulher a olhava dividida entre a magoa e a preocupação.

- O que ele fez com você? - Sibilou. - Hermione como pode estar tão bêbada em ilusão a essa ponto?!

- Não grite comigo, pode parecer loucura, mas eu confio nele Ginevra!

Os cabelos da ruiva soltaram da presilha em decorrência dos seus movimentos exasperados com as mãos e os pés que batiam insistentemente contra o piso.

- Há um ano entreguei minha virgindade a ele Hermione, e em menos de dois meses depois vocês deixaram minha casa para tratar a guerra. Ele me traiu seduzindo Luna na sede da Ordem! E hoje ela está tão quebrada quanto eu fiquei! Você tem dois exemplos vivos na frente dos seus olhos e mesmo assim aceita aquele canalha na sua cama?!

E então a bolha de incerteza se desfez, quando o semblante severo e defensivo de Hermione desmanchou e ela desatou a rir.

- Olha, você não brinque com a minha cara, Hermione! - Ginevra expressou um bronca rígida. - Primeiro valoriza mais a confiança de um ... - Soltou um som bem bravo do fundo da garganta. - Como pode confiar mais nele do que em mim?!

- Por Merlin, Gina ... - Tentou dizer algo útil, mas ainda não conseguirá superar o riso inapropriado para o momento. Com as mudanças bruscas de humor acabaria deixando seu bebê louco, ela pensava. - Esteve falando de Harry esse tempo todo?

A raiva na expressão de Ginevra desapareceu em dois tempos, adquirirá agora uma carranca indecifrável, Hermione interpretou como curiosidade, surpresa e desconfiança.

- De quem mais eu estaria falando ...? - Moveu um passo para trás e se inclinou pegando no chão a camisa masculina. Ela estendeu a peça e abriu, notando que era dois números maiores que o de Harry, depois a levou até as narinas e a cheirou como a boa investigadora que era. - Que homem é esse, Hermione?

- Ér ...

- Malfoy? – Foi um tiro aleatório e cômico tanto que saiu em voz de riso, ela virou na direção da castanha outra vez mostrando a etiqueta onde estava costurado um M.

- Draco e eu estamos juntos. – Falou com naturalidade ou pelo menos imaginou que soara assim.

Gina permaneceu a encarando, eram poucas as coisas que deixavam aquela mulher pasmada. Olhou mais uma vez para a camisa antes de piscar e jogar a peça de volta para o chão, se antes a via como pertencente a um isento, agora a soltou como se pertencesse a um demônio.

- A vida é sua, não pretendo invadir sua cabeça. - Forçou um dar de ombros que não foi o bastante para convencer, Ginevra tinha uma grande deficiência em ocultar suas verdadeiras emoções e pensamentos.

- Ah, você com certeza tem a intenção. Sei o que está pensando. - Hermione andou e sentou-se no sofá, estava preparada, o que não diminuía o nível de dificuldade da conversa.

- Como eu disse a vida é sua.

A ruiva estava revoltada, enojada, com raiva e perplexa. Simplesmente odiava sua incapacidade de esconder isso.

- Pode falar, eu aguento, uma hora ou outra você vai falar de qualquer jeito ... Prefiro que seja agora.

- Deixa, esquece ... Não quero me meter na sua vida - Ela suspirou. - Mas sabe o que é engraçado? Pois vamos lá, há um ano você estava chorando no meu quarto enquanto preparava o suficiente para sair numa tal busca com os meninos ... E, há sete meses, Ronald e Harry chegaram na toca em pânico ... Antes daquele dia eu nem sabia que garotos eram capazes de chorar tanto ... - Gina desviou o olhar da amiga, como Hermione disse ela precisava falar, no entanto não conseguiria dizer o que precisava ser dito olhando o efeito que causava suas palavras. - É mesmo muito romântico e sexy, Hermione ... Ele ia te visitar nas masmorras após as sessões de tortura que a louca da tia dele fazia? Espero, no mínimo, que ele tenha levado rosas...

- O sarcasmo é necessário? - Hermione estava habituada ao escárnio de Malfoy, em todo caso, o de Ginevra era bem pior, poderia até mesmo lecionar aulas práticas para ele.

- Fico dividida entre o sarcasmo e os palavrões, mas tenho tentado parar de xingar ... - Gina justificou antes de prosseguir. – Hermione, eu não sei o que é isso ou como começou ... Mas você vai se machucar, eu vi no seu olhar o quanto ficou devastada em imaginar que ele tinha procurado outra mulher ... A queda vai ser grande.

- Gina, foi ele quem me tirou das masmorras.

- Oh, fantástico. - A ruiva aplaudiu ao vento. - Devemos condecora-lo por fazer o que qualquer pessoa com um pingo de humanidade e empatia faria?!

- Ele é bom para mim, me faz muito bem ... Você não o conhece.

- Draco Malfoy? Ah, eu o conheço ... Pode ter certeza! Embora ache que você deveria conhecer bem melhor do que eu!

- Eu o conheço e gosto dele.

- Esse homem junto com aquela maldita bruxa psicótica incendiaram minha casa, meu pai estava dormindo, Hermione! - Gina fechou os olhos e buscou forças quando escutou Hermione fungar, tentando lutar contra o choro. Coisa que estranhou muito, Hermione raramente chorava com alguém próximo. - Ele sofreu queimaduras de terceiro grau ... E não contente com isso, Malfoy ... Hermione, você não sabe, mas ao ver papai, Fred e eu fugindo ... Ele disparou uma maldição, se Fred não agisse rápido meu pai estaria morto hoje!

- Eu nunca disse que gostar dele anulava seu passado, Gina ... Draco cometeu muitos erros e machucou muitas pessoas ...

- Inclusive você.

- Sim, eu sei ...

- Então como isso aconteceu, Hermione? Porque você está dormindo com esse homem? Ele é um comensal da morte, não é um cara pra se ter a porcaria de uma foda fixa!

- Draco não é mais um comensal da morte, e não somos uma "foda” ... Estamos juntos.

- Você ... - Gina hesitou e virou-se para ela determinada a ignorar suas lágrimas e se manter firme. - Está dizendo que são namorados?

A barriga de Hermione se contraiu e tremeu quando ela quase soltou uma breve risada.

- Ou o mais próximo disso que se pode ter com um cara que sente horror em verbalizar sentimentos ... acho que ele acha mais fácil entrar na frente de uma maldição por mim que propor um namoro.

- Sobre essa coisa, o Harry sabe disso?

- Sim ... Você está sendo uma flor diante a notícia em comparação a ele, acredite.

- Se ele sabe me surpreende Malfoy ainda estar vivo e inteiro ... Hermione - Ginevra se adiantou até a lareira e abraçou o próprio corpo. – Minha intuição está em chamas, pense bem ... Pode estar muito enganada, ele pode estar te enganando. Harry perto dele é quase um santo, como você confia uma relação a Draco Malfoy? Hermione ... Ele vai te machucar. Você vai ser traída, por favor não coloque expectativas no caráter dele. Malfoy é um homem brusco, muito temperamental, eu vejo o comportamento dele. Não é boa pessoa Hermione ... Se vocês brigarem e ele acabar te agredindo? Sem excluir, é claro, as agressões verbais. E se eu bem me lembro o homem é racista ... Um filho da puta.

- Olhando de fora ele pode parecer horrível, confesso ... Não faz muita questão de ser agradável, é implicante, briga com todo mundo ... - Hermione exibiu um sorriso rápido para si mesma. - Mas dentro desse quarto ou quando estamos cozinhando juntos, lendo ou conversando ... Quando estamos a sós, Draco me mostra quem realmente é, e por Merlin, Gina ... - Hermione suspirou e pegou a camisa dele no chão, trazendo-a para o seu colo. Reparou que faltavam alguns botões em decorrência da noite passada, onde brigaram feio e depois experimentaram um novo exemplo de prazer. Encontrou força no cheiro do perfume dele e finalmente se obrigou a enxergar e verbalizar a verdade. - Eu estou apaixonada por ele.

...

A esperteza da bruxa o deixava bastante chateado naquela questão, Hermione fez com que seus pais desaparecerem completamente. Após uma breve “conversa” com Ronald – o ruivo era facilmente manipulado com comida -, conseguiu descobrir o nome dos seus progenitores, essa informação poderia ter sido útil, todavia, era quase certo que ela havia alterado os nomes deles quando a guerra estourou, e tudo ficou ainda mais complicado. De acordo com a lógica, seus pais nunca a abandonariam dessa maneira ou aceitariam passar meses sem notícias ou contato, especulou que no calor da urgência Hermione usará algum feitiço de memória, o que mais uma vez provava sua coragem e amor, mas também uma extrema falta de raciocínio, se fosse esse o caso, apontava quase uma atitude impulsiva e burra. Também existia a possibilidade de ser tarde demais, Lucius poderia estar com os dois naquele instante, e era desesperador imaginar que a qualquer momento Hermione poderia receber uma das corujas negras dos comensais, notificando-a do rapto. Isso implicaria muitos problemas, talvez o stress fosse perigoso para o bebê, ou a impulsividade dela. Draco tinha plena consciência de que se Lucius usasse seus pais, teria a mulher em suas mãos e quando se tratava de questões sentimentais, Hermione era sim muito pouco inteligente.

- Dário? - A voz meio fraca e de sotaque forte se dirigiu a ele, como sempre pronunciando seu nome de maneira errada.

- Eu me chamo Draco, senhor Lester. - Corrigiu pela milésima vez.

- Não me importa, não estou te pedindo em casamento, estou?

Draco balançou a cabeça exibindo um meio sorriso. Nos últimos meses ele sorrirá mais que em todos seus anos de vida passada, crédito a Hermione, seu filho, sua mãe e as pessoas que teve o prazer de conhecer. Draco nunca havia se aproximado tanto de pessoas tão diferentes, nunca conhecerá pessoas fora da bolha na qual era inserido, e hoje encontrava conforto familiar até mesmo com estranhos. Pelo visto havia deixado de ser um alienado, gostava disso. Sempre buscou liberdade e agora se impressionava com a magnitude daquilo.

- Eu não me casaria com senhor de qualquer modo, com certeza não.

- Olha só garoto, na maioria das vezes eu prefiro perder uma mão a ter que pedir um favor a alguém...

- Eu sou um sonserino, senhor Lester. - Afirmou com muito orgulho. Novamente se esquecendo de que falava com um trouxa. - O senhor me ofereceu conhecimento, chá e biscoitos. Devo ao senhor, tudo que eu fizer não será gentileza.

- Bem, vê? Você é um garoto bom, limpou toda minha garagem e minha cozinha. Certo que fez sem pedir minha permissão, mas ainda assim não há do que reclamar. É honesto, conferi e nada me roubou. Pena que é meio perturbado, filho... Eu gostaria mesmo que viesse trabalhar comigo. - O velho arrumou seu chapéu e se apoiou na bengala parecendo refletir.

- Esse é o tal favor? - Perguntou confuso. - Senhor Lester eu não posso ficar muito por aqui, sabe? Tenho que voltar para Hermione antes do amanhecer, e de qualquer forma eu nem mesmo sei o que é um automotor.

- Não é isso, me escute. - O velho balançou a bengala pro lado dele. - Eu tenho uma consulta essa semana, foi difícil conseguir uma vaga ... Muito difícil. E meus filhos são imprestáveis bêbados, não posso contar com eles ... Você poderia, me acompanhar, talvez... Eu não posso mais dirigir, me tiraram a licença por conta da idade.

Draco precisou de alguns segundos para absolver as palavras. Não podia estar ali durante o dia, seus horários eram bem limitados. Todavia, devia ao senhor Lester e particularmente gostava do homem, poderia inventar uma desculpa qualquer para Hermione e escapar durante alguns minutos para ampara-lo.

- Eu posso. - Confirmou. - No entanto, senhor Lester ... O que quer dizer com dirigir?

O velho xingou um palavrão bem alto, concluindo que tratava com um jovem acometido por problemas na cabeça.

- Podemos ir caminhando, o consultório fica a três ruas daqui.

- Ideal. Problemas de saúde?

- Não, não ... Preciso ver o dentista.

Draco enrugou o cenho e quase verbalizou sua dúvida, tudo que conseguia imaginar era o que diabos seria um dentista.

- Combinado, é certo que virei acompanha-lo a esse... esse...

- Dentista. - O velho suspirou, meio irritado e meio divertido.

Aquela noite antes de voltar a cabana, Draco foi para o quintal atrás do casarão antigo e proferiu alguns feitiços de proteção. Optou por ser precavido, já que por via de regra, sempre acabava atraindo morte para todos que se aproximavam dele.

...

Sempre que restava tempo Hermione buscava por ele, se considerar que nos últimos dias as reuniões ficaram mais massivas e longas, o dia para buscar a horcrux estava próximo e Hermione suspeitou de Harry quando o moreno levantou a possibilidade de pensar sobre a participação de Draco, foi assim, sem berros ou uma negação óbvia. Certo que Malfoy tinha muito a oferecer, e não existiam motivos para o trio desconfiar de sua lealdade, mesmo que fosse apenas por parte de Hermione. Harry estava escondendo alguma coisa, os dois escondiam verdades dela. Outro problema que limitou seu acesso a Malfoy, era Ginevra que vinha adotando uma campanha exaustiva, sempre a procurava e tomava seu tempo para qualquer coisa, estava tentando afasta-la dele por acreditar que Hermione sofria de um mal de apego sexual e carência, sem contar também que tinha convicção de que Malfoy estava a manipulando. Hermione ainda não havia contado sobre o bebê e detestava sua covardia diante o assunto, a verdade era que não queria mais nenhuma pressão sobre seus braços, não suportava mais ter pessoas contestando suas escolhas pessoais. A barriga estava se caracterizando e ela começou a usar um número maior, a protuberância ainda podia facilmente oculta. Seus seios por outro lado não pausaram o crescimento, coisa que Ginevra parecia prestes a interrogar, enquanto Draco gostava bastante. A circulação de pessoas foi comum na casa durante aquela última semana, e ao que parecia, Draco conseguirá fazer uma amiga. O que era surpreendente porque o loiro se empenhava em deixar claro que nenhum deles eram bem-vindos. No decorrer dos dias e após uma sutil dica de Hermione, todos entenderam que era melhor ficar bem longe da cozinha, e quando a visitassem, não movessem nenhum objeto para fora do lugar. A castanha tinha consciência de que se relacionava com um babaca, mas como a espécie humana por milênios sempre fora dotada com a capacidade de adaptação, se adaptou a ele, como também podia ver que ele evoluía como pessoa. Paciência e tolerância eram o segredo do sucesso. Todavia, a irmã mais jovem de Fleur parecia enxergar tanto quanto Hermione, e, consequentemente, passou a buscar a companhia do sonserino. A menina analisou e capturou as manias do homem, soube se aproximar sem ser enxotada, a arma que usará para isso fora a arte da culinária. Trocavam informações, receitas, livros, sugestões, temperos e indicação de novos métodos. No ponto de vista de Hermione era apenas amizade, a castanha sempre fora uma mulher muito tolerante e em hipótese nenhuma pendia para paranoia e a possessão, no fundo se sentia contente por Draco ter conseguido fazer alguém, além dela e Narcisa, gostar dele. Essa percepção positiva durou e se manteve firme até dois dias atrás, antes de Ginevra expor sua opinião sobre o assunto. Para a ruiva, Malfoy e Alisha estavam transando. Usou duas linhas de raciocínio, apontou primeiro que a jovem de dezessete anos era uma meio Veela, e que não desviava a atenção dele nem por um minuto. Ginevra tinha sérios problemas de confiança quando se travava do gênero masculino, e os comentários não foram maldosos ou com a intenção de ferir a amiga, sua vontade foi passar um alerta, para a ruiva o interesse da menina estava quase escancarado.

Aquela manhã, Hermione chegou a cozinha e encontrou Alisha sentada sobre a bancada, enquanto Draco preparava a primeira refeição do dia.

- É preciso esperar derreter e após cinco exatos segundos acrescentar uma pequena quantidade de cúrcumane. - Ele ditava de costas para a menina, entretido com a panela. - Recentemente descobri que detesto o tempero, mas é muito bom para gestantes.

Hermione se sentiu ridícula por estar fazendo o que fazia, quando escorou no batente da porta e cruzou os braços observando em silêncio sem anunciar sua chegada.

- Ainda não entendo essa fissuração por dietas ideais para mulheres grávidas, Draco - A pronúncia soava bem forte por conta do sotaque que pesava na letra "r". - Acaso conhece o Quiche lorraine? É um prato francês.

Draco fez que não ainda com a atenção presa no que fazia, perguntou:

- É saudável para gestantes? Variar sempre é bom ...

- Não especificamente, é apenas um prato que eu gosto. Gostaria de aprender a preparar? - Soltou os longos cabelos loiros e pousou os dois pés no chão. - É a minha especialidade.

Hermione estreitou os olhos vendo-a pular da bancada e se apoiar de costas para a pia, ao lado dele, muito perto para o seu gosto. Ela o tocou no braço e então a castanha percebeu que ele não a olhava por ter consciência de que a garota estava usando seu charme com ele. Desde quando Draco havia percebido que sofria tentativas de ser induzido ao charme Veela? E a maior questão, por que ele não a repeliu ao perceber? Hermione pensava encarando-os. Existia uma linha tênue entre a paranoia, a má impressão, o ciúme desnecessário e o ciúme justificável. Hermione apostou muitas fichas no ciúme justificável, notando que a garota sorria e olhava para ele com intenção. Ginevra estava a deixando escaldada, uma grande besteira. Confiava no rapaz, mas isso não tornava fácil presenciar outra garota interessada por ele. O que era um absurdo em muitos sentidos, Hermione pensava. Draco era maior de idade, e quem ensinava receitas sempre foi ela.

- Obrigado, eu prefiro buscar nos meus livros, aprendo melhor lendo. - Se afastou do toque ainda negando olhar para ela. Enquanto tentava assimilar o que diabos aquela menina queria dele além de conversar sobre o que gostavam, o cheiro que era o seu favorito chegou as narinas, deu um sorriso de canto, um pouco tenso, um tanto divertido. - E você está atrasada para o café, Hermione.

Ela não se abalou com o flagrante, seguiu com aparente tranquilidade até o assento na bancada e sentou-se no mesmo lugar de sempre, após desejar bom dia para a mais jovem das irmãs Delacour.

Draco se virou então, e Hermione nunca poderia ter previsto seu próximo passo, quando ele se esticou sobre a bancada, pegou sua mão e beijou os nós do seus dedos.

Alisha observou sem expressar nenhuma surpresa, o gesto somente serviu como confirmação para sua suspeita de que existia alguma coisa entre a heroína de guerra e o comensal da morte que sempre saia nos jornais entre os mais procurados por traição. Ela não negaria que realmente havia se interessado pelo rapaz, em todo caso, possuía moral e ao ver que era realmente comprometido sentiu-se um tanto embaraçada.

A sua chance de fugir daquela situação vergonhosa surgiu quando Tonks passou frente a porta da cozinha procurando por ela. Antes de se despedir de Draco e de Hermione Granger, se viu encabulada sobre se deveria se desculpar. Afinal, havia tentado seduzir o namorado dela, usará seu charme para isso. Mas olhando para a heroína viu que estava com a boca ligeiramente aberta em surpresa e suas bochechas tão rosadas quanto as delas deveriam de estar. Sendo assim, apenas se despediu dos dois, ganhou um aperto de mão de Draco, e ainda agindo como se nada tivesse acontecido, escapou para fora dali.

Ginevra Weasley entrou no exato momento em que ela saiu, quase suspirando de frustação ao ver que, por um descuido, havia perdido Hermione de vista deixando-a a mercê da lábia do comensal da morte.

- Contato físico fora do quarto? - Hermione falou tentando parecer desdenhosa para aquele que ainda estava esticado sobre a bancada segurando sua mão e olhando-a nos olhos.

- A vida é cheia de surpresas. - Ele teria dado de ombros se não estivesse naquela posição, o lado bom era que foi bem fácil alcançar a boca dela.

- Errei a porta da cozinha?

As palavras vieram com a voz de Ginevra e Hermione se lamentou por ter de separar suas bocas no momento em que as línguas se tocaram.

- Ou a porteira do curral ... - Foi Draco quem sussurrou afastando-se e voltando para o seu posto.

Hermione ficou tensa no momento em que a amiga se sentou ao lado dela e passou a encarar as costas de Malfoy. A castanha preferiria ler o mais mal escrito dos livros a presenciar uma troca de farpas entre os dois. Acabariam um com o outro. Por isso, logo se prestou a falar:

- Eu quero saber como está Neville. - Sua voz saiu apressada. - Sem você ele agora lidera os alunos rebeldes sozinho?

- Não, ele conta com a ajuda de Romilda ... - Ginevra a amava e se comprometeu a tentar engolir o que realmente queria dizer. - Temos também os líderes das outras casas, Catryel é responsável pela corvinal, Klaus está de frente com a Lufa-Lufa e ... Pansy Parkinson e Theodore Nott lideram a rebelião na sonserina.

Um palavrão alto soou rouco, Draco havia se queimado. Seu xingamento denunciou dor, contentamento, surpresa, satisfação.

- Você está bem? - Hermione ameaçou se levantar para ampará-lo mas foi dispensada por ele que abanou a mão.

- Sonserina está participando da rebelião? - Hermione perguntou olhando para Draco que enfiava a mão queimada por baixo da água fria na pia. Sabia que ele queria notícias dos amigos, principalmente de Parkinson, mas era orgulhoso demais para se dirigir a Ginevra.

- Sim ... Em parte, são bem poucos, excluindo alguns infiltrados que tivemos que apagar.

- Como assim apagar?

- Nada muito extremo, alteramos suas memórias e aplicamos uma boa surra para servir de exemplo aos outros que pensam em fazer igual. - Gina bateu as unhas contra o mármore e contraiu os lábios. - A ideia foi minha.

- Com certeza não viria de Neville. - Hermione murmurou.

- Tivemos sérios problemas de confiança no início ... - Ginevra suspirou pesarosa com um ar distante que quase indicava um certo arrependimento. - Talvez ... Eu tenha sido um pouco incivilizada com Parkinson.

Nessa hora uma risadinha de desdém anasalada escapou de Malfoy.

Ginevra fez esforço e o ignorou.

- Enfim, ela se mostrou confiável e é uma mulher forte.

- Eu nunca imaginei que eles lutariam contra o sistema, muito menos que tivessem alguma motivação ... - Hermione falou.

- Pansy e Theodore nunca foram ... ruins. Blásio também não, a maioria deles ... - Draco defendeu. - São verdadeiras pestes impetuosas. - Riu para ele mesmo com nostalgia servindo o prato de Hermione. - Se você reunir um grupo com a finalidade de derrubar alguém na pancada, estarão presentes, mais pela ação que a causa em si.

- Parecem ser legais ... Sente falta deles? - A castanha aproveitou a deixa.

Draco desdenhou com a expressão.

- Eu não poderia me importar menos.

Outros humanos por perto, muros erguidos. Pensou Hermione.

- Eu especularia a mesma coisa também, Hermione ... Estar carente de amizades justifica estreitar os laços com uma meio Veela, mesmo enquanto existe mais outros dois meninos da mesma idade que a dele na casa. - Ginevra fechou o olhos quando sua língua descansou, mas não demorou a se perdoar, escapou o que podia fazer?

Foi a vez de Draco se esforçar para não replicar a altura, coisa que só funcionou por perceber o quão desconfortável Hermione ficou. Não queria brigar com a amiga dela, pelo menos não na sua frente, se estivessem sozinhos seria outra história. Era um inferno, Draco pensava. Escolherá ficar com uma menina e mais parecia que pegou toda bagagem e encostos que perseguiam Hermione. Draco se referia a Potter e a Ginevra, Ronald com certeza era mais fácil de suportar. Até mesmo Narcisa gostava de conversar com o rapaz.

- O lobisomem disse que conhece um medibruxo de confiança, o mesmo que cuida da cria dele, tratei com ele para trazer o homem aqui, por garantia, acho melhor apagar sua memória após sua consulta. - Draco disse com uma calmaria proveniente da terapia que era ignorar a existência da Weasley.

- Consulta? - Ginevra se virou para Hermione, estreitando os olhos ao ver a amiga encher a boca com comida para tardar responder. - Está doente?

- Você poderia experimentar cuidar da porra de sua própria vida. - Agora quem não conseguiu se conter fora Draco.

Hermione engoliu com velocidade ao ver Ginevra abrir a boca para devolver, seus hormônios tomaram conta e ela ficou muito irritada com toda aquela situação desconfortável. Antes que pudesse explodir reproduzindo verdades para todos os lados, Ginevra empalideceu e encontrou refúgio no silêncio, consequência de ter Harry Potter chegando na cozinha.

- Malfoy, tire os feitiços anti-aparatação da propriedade - Ele exigiu, não cumprimentou as meninas, com uma estava brigado e a outra o odiava. – Tonks e Alisha tem compromissos a tratar no beco diagonal.

- Potter, vai um fato curioso sobre esse encantamento: apenas o proprietário da residência pode realizá-lo.

Draco adorava zombar de Harry com obviedade, isso o irritava bastante.

- Qual é o seu problema?!

- Eu não quero mais dessa gente aqui, não é um abrigo para rejeitados.- Draco não demorou a demonstrar seu "problema". – Sempre que as duas saem conseguem trazer mais alguns dos seus seguidores com elas.

- Porra, você implica com tudo! - Harry coçou a nuca, estava suado e com alguns arranhões na pele, acabará de sair do treino de combate com Remo. - Será que eu vou precisar dizer o porquê a sede teve que mudar pra essa casa?

E para provocar Draco, Harry fazia manipulação do material incriminador que havia juntado sobre ele.

- Fale, foda-se. Eu não vou permitir que esse trânsito continue. Minha mãe vive aqui e não confio nos seus aliados, duvido muito que hesitariam em nos deletar nos primeiros minutos de tortura.

- Agora você vai me contar que história é essa? – Hermione se meteu.

- Você namora um babaca! – Harry expos um fato.

- Draco por favor, retire os feitiços ... Tonks precisa resolver assuntos urgentes.

- Hermione, não se envolva entre o cicatriz e eu ...

- Não acredito que deixa esse cara falar dessa maneira com você. – Ginevra comprou a briga.

- Chega! – Hermione se levantou e deu a volta na bancada, foi parar exatamente no meio dos dois homens. – Quais são suas condições? – Iniciou a negociação.

- Eu não quero mais ninguém aqui, seja quem for.

- Harry?

- Apenas as duas retornaram, ninguém mais.

- Ótimo, tudo bem pra você Draco?

- Não, Hermione. Mas se ele for capaz de manter sua palavra ...

- Eu tenho honra, Malfoy!

Ginevra rolou os olhos e sussurrou algo como “hipócrita.”

Draco mentalizou uma vida sossegada com Hermione, por pouco não desejou a morte dos dois amigos dela. Logo desistiu do idealismo, se morressem, ela ficaria triste e consequentemente isso afetaria sua vida também. Sacou sua varinha e permitiu que fosse possível aparatar.

- Se mais alguém vir ... – Ameaçou Harry com essas curtas palavras quando as meninas exaustas do temperamento dos dois abandonaram a cozinha.

Harry o ignorou antes de sacar sua varinha e aparatar para o jardim onde Tonks e Alisha o esperavam.

...

Harry cumpriu sua palavra e algumas horas mais tarde as mulheres voltaram sozinhas. Draco resolveu descansar, precisava reaver o sono perdido, ajudaria a ter controle sobre o mau humor que o perseguiu durante toda semana. Recebeu boas notícias de Blue, o elfo encontrou evidências na antiga casa dos Granger que indicavam um rastro promissor, o loiro não deixou que Blue prosseguisse sozinho e ordenou para ele retornar a cabana. Não estava disposto a perder seu elfo numa emboscada. Perdido em seus pensamentos, demorou a perceber através da janela do seu quarto, as quatro figuras no Jardim. Tonks era fácil de ser identificada a distância, além de ser alta, sua barriga chamava muita atenção. Pelo que Hermione contou, ela estava a menos de uma semana do parto. Ao lado dela Remo a admirava sem se deixar perceber, Draco julgaria a expressão ridícula do homem, mas provavelmente ficaria igual ou pior que ele no futuro. E então perto do grande arbusto o ruivo exibicionista se mostrava, provavelmente contando suas histórias de convivência e trabalho com dragões. Draco sentia vontade de arrancar fora sua língua toda vez que o encontrava. Na visão de Malfoy ele perseguia Narcisa, a enganava com assuntos idiotas e tentava conquistar caminho. O loiro se esforçou para engolir essa proximidade, Hermione não deu razão a ele quando expôs o problema, disse que o homem era de uma família boa e que Draco deveria estar satisfeito em ver sua mãe fazendo amigos.

- Como se ele quisesse a amizade dela. – Resmungou para as paredes, muito irritado ao assistir sua mãe aproximar deles e ser calorosamente recepcionada por ele.

Quase aparatou no quintal para “salvar” sua mãe, no entanto, se conhecia o suficiente para saber que as coisas não sairiam bem. Por isso respirou fundo e resolver agir como um homem racional, sendo assim, saiu em busca do único culpado por toda aquela situação:

- Potter, eu quero essa gente fora dessa casa! – Invadiu o quarto dele.

- Isso é impossível. - Harry murmurou o de sempre, encostando o pomo de ouro na língua, pouco se importando para a carranca interrogativa do seu inimigo.

- Ah, sim? - Draco sacou sua varinha e ameaçou sair para expulsar os membros da Ordem. - Veremos!

- Aqui será a nova sede, você explodiu a antiga, se esqueceu? Explodiu minha casa. - Harry se colocou na frente dele.

- Se eu ter que aturar por mais um minuto aquele lobisomem sujando minha cozinha, a ruiva esquisita sondando Hermione, ou aquele auror nojento cercando minha mãe, você terá que preparar alguns funerais, Potter! É um aviso! Tire logo essa gente daqui!

- Quem está flertando com sua mãe? - Dessa vez Harry o olhou, primeiro pareceu divertido mas ao se lembrar que Draco seria mesmo capaz de matar algum dos seus amigos adquiriu uma expressão somente curiosa.

- Não é flerte! É abuso! Falta de respeito ... E eu vou mata-lo, Potter!

- Se acalme, porra! - Harry colocou o pomo no bolso e se voltou para ele. – Quem é?

- Aquele charlatão ruivo!

- Ronald? - Harry arregalou os olhos.

- Se fosse você estaria chorando em cima do caixão dele nesse instante, saiba disso! - Draco apertou ainda mais sua varinha. - Falo da prole mais velha de Arthur, a primeira aberração ruiva!

- Carlinhos ... - Harry teve que morder os lábios para não rir. - E Narcisa, tem aceitado as investidas ... ?

Harry foi calado quando Draco o empurrou para trás.

- Eu estou tentando ser melhor, você não faz ideia de como é complicado. Por isso não arranquei a cabeça dele até agora, e falo com sinceridade, Potter, se eu vê-lo em cima da minha mãe mais uma vez ...

- Draco, você precisa entender que sua mãe ainda é jovem... E é uma mulher muito ... É ... Uma senhora? Enfim, muito bem apessoada.

Draco o olhou com raiva e depois nojo, e o pior veio depois, quando ele adquiriu uma expressão serena e verbalizou:

- Tudo bem então ...

Não estava nada bem, por isso Harry correu atrás dele quando o loiro saiu do quarto.

- Malfoy!

- Vá a merda, Potter!

- Pare já!

- Nada que uma boa surra não resolva, que ousadia ... como pode, é a minha mãe!

- Eu vou chamar a Hermione! - Harry ameaçou.

- Foda-se.

- Você não pode resolver tudo no braço, seu miserável! - Harry falou ignorando o fato de que estava pensando em recorrer aos próprios punhos para conter Malfoy.

- Olha quem fala, grande exemplo! - Draco riu pouco engraçado. – E se fosse sua mãe, Potter?!

No jardim Carlinhos conversava com Remo, Narcisa e Tonks. Ele usava um feitiço ilusório para demonstrar alguns dos seus dragões favoritos, Remo parecia muito empolgado com o que via, Tonks estava ali somente para aproveitar o raro dia de calor, Narcisa descansava sentada em uma cadeira de sol, as pernas cruzadas e a postura de uma rainha, enquanto encarava a demonstração sem expressar muita coisa, para quem olhasse de fora nunca saberia que a mulher estava mais curiosa em assistir o ruivo que conhecer seus dragões. Na verdade nem mesmo ela conhecia suas intenções. Para ela não passava de curiosidade, Carlos vinha sendo cordial e conseguia sustentar uma conversa agradável. Era assustador para Narcisa encontrar um homem tão espontâneo, ele nunca usava máscaras e não apresentava dificuldade em entregar palavras doces. Apesar do porte altivo e o rosto duro, sempre entrava em contraste com o sorriso que nunca fugia dos lábios, Carlos era um sujeito bastante razoável. Não existia gelo em seus olhos, em verdade, ele a queimava. Assustada, a mulher definia com esse termo quando analisava a situação em que se via. O problema era que de acordo com a lógica, o indivíduo deveria manter distancia do que provoca medo, e não ansiar por proximidade, ou um minuto a mais de conversa. Por um momento, assistindo os três outros adultos sorrindo um para o outro, sem contrato ou obrigação social, se sentira deslocada e ao mesmo tempo muito bem recebida. Poderia experimentar aquela leveza um dia? Não era mulher de implorar e sempre fora indiferente ao conceito de divindades; no entanto, naquele momento se pegou pedindo aos céus para que a resposta fosse sim. Seu filho conseguirá encontrar luz, mesmo após ter se afundado mais do que ela. Em meio o ar descontraído e distante do clima sombrio da guerra, acabará se esquecendo que dera luz a um dragão, um com o qual Carlos não saberia lidar nem em seus melhores dias, mesmo sendo ele um renomado domador das temidas feras.

...

- O seu pai é um merda, isso não significa que todos os homens que se aproximam dela seja um também. Tente conversar com sua mãe, e se ela quiser ficar com o cara, o que você pode fazer, porra?! - No interior da casa Harry ainda perseguia Malfoy.

- Eu posso mata-lo!

- Mas que porra é essa? - Ronald apareceu na porta de uns dos quartos atraído pelo barulho dos dois, a boca estava marcada por um batom rosa, logo atrás dele veio Luna com o batom borrado, a blusa amassada e a respiração irregular.

Harry parou e os olhou com descrença e suspeita, antes de gritar muito irritado:

- Seu traidor!

Draco se deteve para estudar a situação, se o ódio não dominasse todos seus sentidos ele iria rir da cena e zombar de Potter.

- Eu sou o traidor?! - Ronald respondeu na mesma sintonia, enquanto uma loira muito ruborizada tentava se esconder atrás das costas dele. - Eu vi você tentando levar minha irmã pro seu quarto!

Draco arqueou as duas sobrancelhas olhando de Ronald para Harry, muito entretido.

Esperava ansioso que eles brigassem, assim não teria nenhum empecilho quando fosse esmurrar o ruivo mais velho.

- Gina é uma mulher solteira, e ela não é ex namorada de nenhum amigo meu!

- Não, ela só é porra da irmã caçula do seu amigo! - Ronald deu um passo e empurrou Harry pelo peitoral. - Como tem coragem, Harry? Cresceram juntos, ela é praticamente sua irmã!

- Eu acho que ele não leva isso em consideração, Weasley. - Draco cruzou os braços e decidiu fazer o que sabia realizar com maestria. - Não se lembra que ele queria a Hermione?

- Vai se foder, Malfoy!

- Malfoy tem razão!

- Eu preciso encontrar as meninas ... - Luna disse saindo pelo corredor em passos largos, lutando contra todo seu corpo e dignidade que ameaçaram desmoronar diante o olhar de Harry.

- Ronald, eu não ... - Harry se interrompeu para retirar os óculos e coçar os olhos, como sempre fazia para evitar perder a cabeça. - Minhas intenções com a Gina são as melhores possíveis.

- Como foi com Lovegood, quando traiu ela com a Hermione? – Draco seguiu arquitetando o inferno na vida alheia. - E o que planejava fazer com a mulher dentro do seu quarto? Sinceramente, Potter ... Suas intenções não pareceram ser inocentes.

Ronald quase empurrou Harry da escada dessa vez, o moreno teve que se segurar com muita força no corrimão.

- Olha quem fala! - Harry julgou. - É quase surreal que tenha engravidado apenas a Hermione até hoje! Ou você as forçou a um aborto, como tentou fazer com ela?!

- Eu nunca tentei forçar ela a interromper a gravidez! Foi uma ... sugestão! - O problema era que os dois não aturavam as farpas, e Draco retrocedeu ao mesmo espírito raivoso de antes. - Como soube ...?

- Eu te conheço, seu filho da puta! Ah Malfoy, eu queria ter visto! Como você é sortudo, se eu escutasse você maltratando ela ...

- Deixa de ser hipócrita, Potter! Não sou eu quem tentou levar pra cama minha melhor amiga, a irmã do meu melhor amigo e até a Lovegood!

- Harry, se você chegar perto da minha irmã mais uma vez ... – Ronald fazia esforço para sobressair a raiva, não se sentia confortável com brigas. - Não me provoque!

- Você está dando ouvidos a esse cara! - Harry subiu o degrau que havia saltado para não cair e segurou Ronald pelos ombros. - Ele está jogando com nossas cabeças, quer nos distrair!

- Você nunca assume a responsabilidade por porra nenhuma, Harry!

- Malfoy quer machucar seu irmão, Ronald!

Ronald não teve tempo de assimilar a informação, porque Harry o soltou para ir atrás de Malfoy que disparou escada abaixo.

- Vocês dois são loucos! Nenhum ser humano saudável consegue conviver com vocês! - Ronald não teve outra opção e decidiu persegui-los

Draco alcançou o exterior da mansão, ignorando o que Harry ordenava atrás dele. Com uma expressão decidida se voltou para onde havia visto Narcisa pela última vez, ainda estavam no mesmo lugar e Potter estranhou o comportamento de Malfoy quando o loiro interrompeu seus passos. Poucas coisas dominavam os sentimentos de Draco Malfoy, e certamente o sorriso de sua mãe sempre ocupou o primeiro lugar.

- Eu odeio vocês dois. – Ronald falou ofegante levando as duas mãos para os joelhos quando parou ao lado deles. – Maldito seja o dia em que nos conhecemos.

- Pelo visto você tem um limite. – Harry seguiu o olhar de Draco que estava sem reação e parecia perdido sobre o que fazer.

Próximo ao arbusto sua mãe sorria sem nenhuma preocupação, escutando o que quer que fosse de Carlinhos Weasley.

- Eu vou vomitar. – Informou virando-se para refazer o caminho por onde veio.

Os dois leões acompanharam Draco, estava verde e suava muito, parecia mesmo que sua próxima ação seria correr para o banheiro mais próximo.

...

Draco passou o resto da tarde isolado na biblioteca, não queria ver ninguém e muito menos conversar. O rapaz estava sobrecarregado e sentia que mesmo se conseguisse dormir não acordaria bem disposto, reclamar da vida era muito relaxante mas não resolveria seus problemas, e encontrou nos seus livros de culinária o método perfeito para evitar pensar no assunto que o deixava enojado e muito irritado.

Escutou a porta ranger e ergueu seu olhar para resmungar alguma grosseira para o invasor, calou-se ao ver quem era.

- Trouxe para você.

Alisha jogou sobre o colo dele um exemplar grosso de capa dura e marrom. Por curiosidade o abriu, notando que a caligrafia fora feita a mão.

- Você escreveu?

- Sim... Fiz uma cópia do original que pertence a minha avó. Essas receitas acompanham minha família há séculos.

- Por que fez isso? – Ele assistiu a loira sentar-se na poltrona de frente para a dele.

Algo estava diferente, mesmo mantendo a vista sobre a menina, não se sentiu oprimido por sua beleza.

- Somos amigos, eu acho. – Ela sacudiu os ombros. – Não preciso de razões para te presentear.

- Você sabe que não existe nenhum motivo plausível para querer ser minha amiga. – Resmungou voltando a verificar o livro.

- Quem decide isso sou eu ... Por que está se escondendo?

- Não estou.

- Claro que está.

- É apenas cansaço, sempre que entro em contato com alguém acabo me estressando. – Confessou fechando o livro e voltando a atenção para Alisha. – O que diabos aconteceu com você nessas últimas horas?

Se permitiu reparar na menina pela primeira vez desde que a conhecerá, tendo em vista que até algumas horas perdia o ar dos pulmões com a simples ideia de olha-la.

- Uh. – Ela corou. – Desculpe ...

- Por? – Pareceu genuinamente perdido, e de fato estava.

- Você é muito lerdo ... Mon diu. – Quase riu, mas logo voltou a sua expressão culposa. – Não terá mais nenhuma dificuldade em olhar para mim, Draco.

O rapaz levou algum tempo para compreender, e quando entendeu:

- Maldita bruxa. – Acusou.

- Como eu poderia saber? – Se defendeu. – Céus, você e Hermione Granger?

- Você tentou me ... – Ele estava perplexo. – Droga, eu achei que não sabia controlar seu charme.

- Estou há dias nessa casa, e em nenhum momento pude ver vocês dois se tocando ou algum indicativo ... A culpa é sua, se for parar para pensar.

- Claro que é ... pelo que eu sei não fui que tentei te seduzir com magia. – Passado o choque, o rapaz riu da situação. Hermione também acharia graça, ou ficaria uma fera, ela era imprevisível.

- Você é frio e grosso com a garota, se agisse como um namorado normal não estaríamos aqui nessa conversa confrangedora. – Apontou.

- Eu não sou frio. – Draco relaxou na poltrona e cruzou as pernas. – Granger e eu funcionamos assim.

Alisha rolou os olhos e o imitou relaxando seus músculos.

- Ainda somos amigos?

- Como quiser.

...

No início da noite se separou de Alisha e passou por perto de Ginevra Weasley no corredor do seu quarto, que o encarou de cima, sempre com o mesmo brilho de ressentimento, acusação e ódio. Por força de experiência, soube o que a ruiva havia feito com sua imagem e iniciou uma busca por Hermione, encontrando-a no sofá da sala. Não tinha ideia do que estaria pensando, reconheceu apenas a expressão de curiosidade e atenção. Seria mais fácil e claro se ela simplesmente fizesse uma pergunta, mas não aconteceu nada, Hermione passava dias pensando em algo antes de tomar uma atitude.

- Que cara é essa? - Perguntou sentando-se ao seu lado.

- Não há nada de errado com a minha "cara".

- Sim, você está ... daquele jeito. - Passou um braço no encosto do sofá e Hermione sabia que o desejo dele era iniciar contato físico, mas "não sabia" como fazer isso no meio da sala.

- De que jeito? - Perguntou deitando a cabeça no ombro dele, esperou que seu corpo fosse retesar, no entanto seus músculos relaxaram.

- Granger, por via das dúvidas, saiba que não existe nada entre Alisha e eu. – Foi direito, imaginando que a aquela altura a ruiva já tivesse infestado o cérebro dela.

Hermione corou e quase se engasgou com a própria saliva.

- Você acha ela bonita? - Perguntou como quem não tem intenção nenhuma, brincando com um botão na camisa dele.

Draco coçou o lado do rosto e se viu em uma situação nunca antes provada, não sabia o que dizer. Hermione sabia que Alisha era bonita, ele não encontrou nenhuma lógica naquela inquirição. O que ela esperava ouvir?

- Se eu mentir você vai saber e passará dias pensando sobre o porquê de eu ter mentido, poderá alegar que quis fugir de problemas, ou poderá imaginar que eu menti porque quero ficar com ela sem levantar suspeitas... Principalmente se tiver ajuda da bruxa ruiva, que parece determinada a me afastar de você, na formação dessa ideia. - Acabou vocalizando seu raciocínio de forma quase inconsciente. - E se eu admitir você vai ficar irritada... ? Salazar, isso não faz o menor sentido.

- Não vou ficar irritada com você por uma bobagem dessas. - Hermione garantiu.

- Então por que está perguntando?

- Ela está afim de você, notou? 

Se dissesse que o mau entendido realmente aconteceu, e que eles resolveram, Granger compartilharia isso com a ruiva e Draco podia prever o inferno que aquela mulher faria.

- Não, talvez ... não sei direito ... Quer dizer, sabemos que Veelas femininas atraem homens de forma inconsciente. - Em sua cabeça julgava que estava se saindo bem, mesmo sabendo que a primeira intenção de Alisha fora espontaneamente essa. - Existem outros determinantes.

- Então se sentiu atraído por ela?

Merda.

- Hermione ... O que importa?

- Quero saber o que você pensa sobre isso.

- Eu não penso sobre. Como disse, existem outros determinantes ...

- Quais determinantes?

- Você os conhece pessoalmente.

E ela realmente conhecia.

- Eu não sou nenhuma possessiva Draco, desculpe se te deixei preocupado com minha possível "reação" diante sua nova amizade, não existe nada que te impeça de conversar com outras mulheres... Ela gosta de cozinhar e você também, não há nada de errado em se filiar a pessoas que tem interesses comuns aos seus... Bom, desde que o interesse dela por você não saia da cozinha.

Ele riu

- Então era mesmo essa razão? - Draco pareceu muito orgulhoso do seu potencial dedutivo, talvez nem fosse tão difícil entendê-la. - Eu faria mais outros dois palpites pra tentar descobrir porque você parecia querer matar alguém com o olhar.

Foi a vez dela rir.

- Você nunca fez isso?

- O que?

- Ficar com uma ... apenas uma.

Molhou os lábios e pareceu ponderar se dizia ou não.

- Nunca quis antes ... - Hermione o olhou bastante convencida. - Não fique se achando, Granger. É que eu tenho gosto por coisas esquisitas, e nós somos produto de um histórico trágico, inimizade, dor, preconceito, mágoa ...

- Um sequestro.

- Eu não te sequestrei. - A olhou com desaprovação. - Quer parar de me fazer parecer um pervertido?

- A definição de sequestro é: detenção ilegal de alguém, privando-o da liberdade contra a sua vontade. E você me manteve contra minha vontade em uma casa localizada numa pedreira, rodeada por um oceano congelado, me maltratava com insultos e ...

- Se pretende parecer mais dramática nesse seu fatídico relato, acho bom que acrescente amarras, mordaça, um chicote e privação de alimento... - Ele estalou os lábios e franziu o cenho pensando em mais alguma crueldade desumana. - Pode dizer também que eu te tratava feito um elfo doméstico e te obrigava a andar nua pela casa.

- Obrigada, eu vou me lembrar de fazer esse pequeno acréscimo no meu depoimento. - Não era para sorrir das barbáries dele, mas ela não controlava mais os músculos que espontaneamente repuxavam seus lábios nos últimos dias.

Draco moveu o tronco e girou o pescoço para tomar sua boca, segurou o próprio movimento quando o animal laranja e peludo pulou no colo dele.

- O que diabo é isso, Hermione? - Perguntou com os braços erguidos para não tocar no bicho.

- Um gato, ora bolas. Meu gato. - Ela pegou bichento na mãos e o beijou acima do focinho. - Tonks o trouxe para matar a saudade, o pobrezinho, mal estava comendo por estar tanto tempo distante de mim.

- Eu sei que talvez você tivesse expectativas de passar a vida inteira rodeada por livros e gatos, mas por Salazar mulher ... Agora você tem um homem! - E então veio o primeiro espirro e o segundo, Draco tentou conter o terceiro, mas escapou.

- Você é alérgico? - Hermione perguntou como quem presencia uma catástrofe.

- Não sei ... Meu nariz pinica, meu canal auditivo coça e minha garganta também! - Ele disse muito preocupado. - Tire-o daqui!

- Não haja feito um ogro com meu filho!

- O seu filho, que é nosso, está dentro de você. Isso é uma bola peluda infestada de peste! - Draco se levantou do sofá e correu para pegar os livros de medicina na estante atrás do sofá, bichento pareceu gostar dele e tentou segui-lo sendo detido por Hermione.

- Draco, por favor, você precisa iniciar um tratamento. Mas antes deve reconhecer que tem um problema. - Ela falou alisando o gato e o olhando muito preocupada.

- É tão grave assim? - Ele sobressaltou olhando para o gato como se pensasse em chutá-lo do colo dela antes que a contaminasse também.

- Estou falando sobre o seu TOC ...

- Eu não tenho nenhum transtorno, Granger!

- Você tem sim querido, e agora com doenças. Olhe essa quantidade de livros médicos, Draco.

- Eu realmente estou me coçando todo por dentro! - Nessa hora ele coçou a garganta, o som fez Hermione expressar uma careta. - Você me chamou de querido outra vez?

- Ótimo, um hipocondríaco. - Se lamentou vendo-o folear o livro com velocidade.

- Que tal me ajudar?

- Você pode sim ter alergia a gatos... Céus, está vermelho. - Ela se levantou e foi até Draco pegando em seu rosto.

- Então jogue-o pela janela! Vamos, eu abro e você o atira para longe.

Hermione olhou para bichento que estava sentado na poltrona, balançando o rabo peludo no ar e encarando-os com indiferença, e depois olhou para o pai do seu filho por quem era apaixonada, como se ponderasse qual deles escolher.

Isso ofendeu muito o rapaz.

- Você vai ter um filho comigo!

- Existe maneira de remediar o problema, você só precisa da poção correta e não terá outra crise. Posso fazer a mistura essa noite, atirar meu gato através da janela não é a única opção!

...

Draco não saiu para suas obrigações naquela madrugada. A poção de Hermione cumpriu na regra tudo o que prometia, ela só não contou que um dos efeitos colaterais era a sonolência. Fazia horas desde que conseguirá se livrar do mau humor e as reclamações dele em relação ao gato. Depois de deixar a última reunião com os meninos, ela voltou para o quarto deles onde o abandonou mais cedo. Antes de partir para o banho, observou Draco por alguns minutos desmaiado na cama, ao que parecia, bichento se recusou a dormir em outro lugar que não fosse o abdômen do sonserino.

...

Era muito estranho para ele sair durante o dia, demorou a se acostumar com o barulho e as aglomerações do cotidiano. Se não fosse a paranoia, aproveitaria o prazer da liberdade que era poder andar pelas ruas como uma pessoa normal geralmente faz. Fugiu de casa para acompanhar Lester a tal consulta, como havia prometido fazer. Draco seguia o lado do senhor Lester, era bem alto em relação a estatura franzina do homem. Andavam muito devagar e isso irritava o rapaz, embora não demonstrasse. Lester apontava para todo lado com a bengala e contava a história completa dos lugares por onde passavam. Draco ouviu a história do estabelecimento até antes de sua inauguração, a história do bar, até mesmo do terreiro baldio. Ao que aprendeu escutando, antes da superpopulação todo o lugar era puro matagal.

Dois dias depois de ter sido “induzido ao coma” – ele fez essa escolha de palavras em sua acusação -, por Hermione, Draco precisou recuperar o tempo perdido se prestando suportar ainda mais pressão que antes. Voltará a beber regulamente, e excluindo Hermione, Lester e Alisha, não conversava com mais ninguém. Estava evitando falar com Narcisa, e toda vez que Carlinhos deixava a casa, Malfoy torcia para que ele fosse morto da maneira mais brutal possível. Ainda sabendo que Narcisa se manteria fiel a Lucius mesmo se o marido fosse morto, não era concebível para Malfoy imaginar que um cara enxergava sua mãe como mulher, e mesmo sendo um comportamento infantil, faria Narcisa escolher se preferia conversar com o ruivo ou com ele.

- Existem as aranhas também, filho. Bom, se quiser conhecer sua cria não deixe-as te picar.

Agora o senhor Lester falava sobre os animais perigosamente venenos da região, inconsciente de que ele andava ao lado do segundo bruxo mais procurado da parte mágica europeia, e que corria riscos de vultos negros rasgarem céu e passarem a disparar maldições para todos os lados. Por isso, Draco mantinha a mão em sua varinha por dentro do sobretudo azul marinho, tentando ignorar o calor que quase o levava a uma insolação.

- Malditos degraus, por que não usam rampas? - Foi a reclamação da vez quando chegaram ao prédio onde Lester consultaria o dentista.

Passaram trinta minutos sentados em uma sala de espera branca, Draco odiou a música que tocava ao fundo e, em sua ignorância, decidiu que as músicas trouxas não eram nada se comparadas as músicas bruxas. Gastou seu tempo conversando com Lester, mais ouvia do que falava, como de costume. Por sorte era um homem de inteligência considerável, e após perceber algumas coisas fazendo comparações, concluiu que o tal “dentista” era uma espécie de medibruxo, se viu estranhamente preocupado com o velho, apesar de achar que ele viveu o suficiente, não ficaria feliz se o destino resolvesse tomar os restos dos seus dias com alguma doença terrível.

- Ei, vejam se não é meu bom amigo Lester!

A voz veio de um homem que usava um jaleco parecido com o que o senhor Parkinson costumava usar. Ele era tão alto quanto o Konai, embora fosse mais atlético no lugar de gordo. Draco assistiu o homem de cabelos negros se aproximar, piscando algumas vezes enquanto estudava a possibilidade de conhecer aquele sorriso, pareceu muito familiar.

- Não encha, Granger ... Já não basta essa maldita dor de dente. - Senhor Lester respondeu com sua habitual alegria disfarçada de mau humor, estranhando que o rapaz ao seu lado perdeu uns três a quatro tons de cor na pele. - Onde está sua esposa? Gosto mais dela.

- Georgia estará aqui bem logo, ela está com um paciente. - O homem de jaleco respondeu. - E quem é esse rapagão? ... Por Deus, rapaz você está branco como papel.

- Ele é inglês, eles não conhecem sol. - Senhor Lester zombou.

- Mesmo? britânico? - Draco assistiu um brilho de vazio e distanciamento no olhar do homem. - Sempre tive vontade de conhecer seu país ... Ou eu o conheço? - Balançou a cabeça e riu. - Desculpem minha memória, ela tem estado um caos ultimamente.

- Ela usou mesmo Obliviate... - Draco murmurou para ele mesmo incrédulo.

- Oblivi o que? - O senhor Granger se inclinou para tentar compreender.

- Não se preocupe, Granger ... O garoto é um tanto biruta.

Draco não tinha nenhuma certeza naquele momento, estava perdido, confuso, satisfeito, abismado e consideravelmente nervoso e assustado. Todavia, passar a primeira impressão de que era um louco para o avô do seu filho não era coisa que queria.

- É um prazer, senhor Granger. - Estendeu a mão sentindo o estranhamento que era em pensar que aquele era o pai de Hermione, e que ele havia engravidado a filha dele. - O senhor teria um copo de água? - Se obrigou a falar para calar seus pensamentos e com esperança de que a água faria desaparecer o nó em seu estômago.

Granger soltou sua mão do aperto firme, e se moveu para pegar o copo de água para ele.

- Oh, senhor Lester!

Draco piscou mais uma poção de vezes, pensou ter visto Hermione quando a mulher baixinha, de cabelos e olhos castanhos passou por ele para abraçar o velho.

- Georgia! Linda, como sempre!

Não sabia o que era mais bizarro, ver a quase cópia viva de Hermione ou presenciar o velho sendo gentil.

- Olá rapaz, você é o neto?

Fala sério, por que não o tratavam feito um homem? Era um homem formado. Os pais dela deviam vê-lo como um homem suficientemente responsável e forte para cuidar da filha deles. Malfoy pensava.

- Não, ele é quase um aprendiz. Vai ser pai, acredita? Que tempos são esses, não? Os jovens estão tão dinâmicos e impetuosos.

Os olhos da senhora Granger cresceram enquanto seu genro desconhecido quase sofria uma síncope nervosa.

- Uma responsabilidade muito grande, meu jovem. - O senhor Granger alertou entregando a água para ele.

- Eu cuido muito bem dela, não se preocupe. - Garantiu, sentindo-se inteiramente estúpido depois.

- Não duvidem, o rapaz é muito esforçado e prestativo. Gosta de aprender e é esperto ... As vezes.

Draco nunca antes havia pensado em matar um idoso, com exceção de Dumblerdore.

- Senhora Granger, a senhora também é medibru... Trabalha na área da medicina? - Criou outro assunto.

- Sim, meu marido e eu somos dentistas. E você, agora que sabe sobre seu filho, pretende trabalhar com o Sr. Lester?

- Eu não me interesso pela área em que ele atua, gosto de cozinhar.

- Acho que precisa estudar muito para isso. O que? Uns quatro, cinco anos ... - Senhor Granger se meteu. Draco não sabia, mas era costume da região que as pessoas se mostrassem um tanto evasivas. Como o senhor Lester tinha a mania de responder as perguntas por ele. - E até lá precisará tratar do seu filho.

Se ele era assim sem saber de toda situação, o loiro temia em imaginar como seria caso ele soubesse.

- Cinco anos? - Draco o olhou. - Por Salazar, não. Na verdade tenho que completar apenas mais um ano de ... - Desistiu em um suspiro, ia acabar fritando os cérebros dos pais dela. - Eu venho de uma família com um confiável poder aquisitivo. Não preciso de uma carreira para cuidar dela e do moleque, eu quero ter uma carreira.

- Você parece ser bem decidido. - Senhor Granger acenou com a cabeça. - Como se chama?

- Dário. - Disse o senhor Lester.

Devia -lo amaldiçoado quando teve a chance, pensava Malfoy.

- Me chamo Draco senhor, Draco Malfoy.

Outra vez aquele brilho distante no olhar, dessa vez na senhora Granger.

- O seu nome é mesmo horrível, filho. O que significa? - Perguntou Lester.

Ele riu nessa hora, quase um riso de desespero, ponderando pela primeira vez se agia assim com os outros. Enquanto tentava descobrir o que faria agora que os encontrou, o mais sensato seria um sequestro, no futuro Hermione teria de entender que foi para o bem deles.

- É uma constelação. - Respondeu a senhora Granger ainda com os olhos presos em Malfoy, o analisava. - Devia saber disso, Lester, não é você um amante das estrelas?

- Eu me agrado somente de um seleto grupo, juntas formam Scorpion. Uma linda constelação, as outras não prestam. E nem mesmo fica visível nessa época do ano, temos muito apenas da estrela que mais odeio, o sol.

Era impossível deixar de olhar para a mãe de Hermione, isso porque ela também o encarava de volta. Draco ficou nervoso quando o Sr. Granger levou Lester para o atendimento, deixando-os a sós.

A senhora Granger lembrava Hermione até mesmo nos gestos, o jeito que fechava o semblante e adquiria linhas no centro da testa ao dar uma sutil bronca no marido que falava palavrões e trivialidades ao senhor Lester e a ele. A mania que tinha de inspecionar as unhas, e uma pinta característica na linha do pescoço. Algumas vezes teve que se forçar a desviar a atenção dos olhos e dos cabelos da mulher, ainda fazendo suas comparações. As diferenças eram poucas, Hermione tinha alguns centímetros a mais de altura, e a senhora Granger não tinha a comum carranca de arrogante de sabichona, como Hermione tinha. Coisa que ela pareceu herdar do pai, pelo pouco que viu do homem descobriu que o temperamento veio dele e isso não foi muito animador para o rapaz.

...

- E quanto os seus pais? - Perguntou como quem não quer nada quando ela se deitou na cama. Conhece-los melhor poderia vir a ser útil na hora do sequestro. - Você nunca me falou sobre eles.

Os dois estavam duplamente nervosos e apreensivos, aquela seria a primeira consulta que Hermione teria sem ser com Konai, e a primeira que Draco a acompanhava.

Hermione o olhou de esguelha e deu um sorriso triste. Feliz por ele se interessar e ao mesmo tempo infeliz por ter que falar sobre.

- Eles são dentistas, é uma profissão trouxa onde trata-se os dentes das pessoas. – Pausou para apreciar a expressão de espanto que sempre marcava o rosto de todo puro-sangue que ouvia isso.

- Coisa estranha. - Fez questão de comentar para que ela não desconfiasse.

- Pode parecer ... – Ela deu de ombros. – Chamam-se Georgia e Ruppent, se conhecesse minha mãe com certeza notaria que compartilhamos muitos traços físicos ... Do meu pai peguei quase toda a personalidade.

Ele a assistia falando com total concentração, concordando mentalmente com que ela dizia.

- Quando souberam que eu era uma bruxa, meu pai ficou muito empolgado, enquanto minha mãe praticamente interrogou Mcgonnal. – Ela riu. – Um mês antes do meu primeiro ano letivo começar, papai mudou de empolgado para extremamente preocupado, de certo por influencia da minha mãe. Você acredita que eles se recusaram a me deixar ir, se Dumblerdore não permitisse que eles fizessem uma inspeção no Castelo?

- E como o diretor conseguiu convencê-los? Hogwarts está longe de ser o lugar mais seguro pra uma criança trouxa.

- Sabe, até hoje me faço essa mesma pergunta. – Ela admitiu. – Teria Dumblerdore usado um feitiço ilusório com os meus pais?

- Não acho difícil ... No quinto ano ele passava por mim no corredor e dizia sorridente “Boa tarde, Draco! Hoje você poderá cumprir suas obrigações de monitor ou prefere passar mais tempo na sala precisa?” – Riu sem notar a tristeza da menina. – O velho era esperto ...

- O seu senso de humor sombrio combinaria com o do meu pai ...

- Acha ... – Pigarreou. – Eles me aprovariam com você?

Hermione enrugou testa e mordiscou o lábio.

- Érr ...

Draco riu.

- Muito encorajador.

- Eles são boa gente, mas eu cresci com uma superproteção exagerada ...

- Agora está explicado porque se enfia em tantas confusões ... Sua criança interior quer provar a eles e a si mesma de que é capaz de se virar sozinha.

Ela o fitou com suspeita.

- De onde tirou isso?

- Meus livros não são inúteis. E é nítido que você reflete esse comportamento. – Recolocou erguendo o nariz com arrogância, imitando o tom de sabichão que ela costumava ter.

- E você foi mimado. – Julgou. – Na verdade, vejo que sua mãe te mima até os dias de hoje.

- Cuide de sua vida, Granger. – repetiu o de sempre, quando ficava sem argumentos.

O medibruxo era um homem muito esguio e baixinho. Trazia consigo um sorriso no rosto quando abriu a porta, o sorriso morreu e seu rosto se contorceu em horror ao ver Draco Malfoy.

O doutor pareceu ter de reunir toda coragem do mundo para atravessar a porta.

- Que panaca ... – Draco sussurrou para só ela ouvir.

- Se comporte ... – Ela rosnou de volta antes de se apresentar e fazer malabarismos com sua simpatia para deixar o homem confortável.

- Senhorita Granger ... – Suas mãos tremiam enquanto analisava com a varinha um pouco do sangue que retirou dela. – S-sua alimentação, como está?

Olhou para Draco, Hermione apenas comia o que ele preparava, desconhecia boa parte das receitas que ele aprendeu sozinho e insistia que eram indispensáveis.

- No café da manhã ela ingere duzentos gramas diárias que variam de tubérculos, cereais e raízes. No almoço ...

- Eu acho que o básico serve, querido ...

- Oh ... Ela se alimenta muito bem. – Resumiu cruzando os braços e se ajeitando na cadeira.

Hermione pode sentir o olhar interrogativo dele mais uma vez na palavra “querido.”

- Ce-erto, muito bom. – O medibruxo olhou horrorizado ao compreender que Draco Malfoy era o pai da criança, o pescoço do homem estava avermelhado e nem mesmo parecia respirar. – A senhorita permite? – Perguntou movendo a varinha com o olhar preso em Draco.

- Fique a vontade.

Malfoy assistiu atento os movimento circulares que o doutor fazia sobre a barriga dela, se o homem não pulasse de medo ao ouvir a voz dele, faria muitas perguntas.

- Com isso pode saber se ele está bem? – Ela perguntou.

- O seu bebê está se desenvolvendo com total normalidade ... – O doutor parecia ser apaixonado pela heroína, e ao que parecia, esperava ela pedir socorro com olhar para atacar o comensal da morte e salva-la da possível maldição de controle. – Você quer saber o sexo, certo?

- Sim. – Responderam juntos.

- Preciso examinar no meu laboratório, a noite a senhorita receberá minha coruja ...

Ele poderia realizar a verificação ali mesmo dentro de algumas horas, mas tudo que conseguia querer era distância de Draco Malfoy.

...

Ela dormia quando a coruja branca bicou a janela do quatro deles trazendo dois envelopes marrons. Surpreendeu-se com a decência do doutor medroso em enviar dois resultados, um ele levaria e o outro deixou sob o criado mudo ao lado dela.

Malfoy não possuía o menor senso de “momentos significativos” tanto que não viu nada demais em não estar junto a ela para ver e compartilhar a emoção do resultado.

Draco aquela noite aparatou mais cedo na cabana, trazia consigo um pequeno envelope no bolso de trás da calça, nele, continha o sexo do seu filho. Quis abri-lo com Laster, sem nem mesmo saber porque, o velho provavelmente iria parabeniza-lo e depois apontaria alguma desvantagem no gênero do bebê. Na verdade, Draco sustentava uma pequena expectativa de que talvez ele fosse comunicar isso ao senhor e a senhora Granger, mesmo sem ter consciência de que eram parentes  da criança, parecia certo que soubessem.

Draco primeiro viu todas as luzes apagadas, coisa que estranhou, na varanda o livro favorito do velho estava jogado no chão ao lado da cadeira de balanço. Respirou fundo e sacou sua varinha, tinha quase uma premonição do que acontecerá.

Não era possível que ocasionara a morte de outro inocente que só fez ajuda-lo.

Viu o jogo de xícaras favorito de Lester destruídas por cima da mesa. Seu coração quase parou, mas antes de poder se desesperar, ouviu um barulho muito alto. Sentiu a dor e viu o sangue vazar do seu abdômen. Ergueu sua varinha e escurou-se de costas na parede, com velocidade alcançou o envelope e o abriu com os dentes.

Seu bebê era um menino.

Sorriu, logo após os vultos negros chegaram a sala, Draco ainda sorria quando seu pai ganhou forma.

- Scorpion ... É mesmo a constelação mais bonita, o que você acha Lucius?

...


Notas Finais


Frank - My Away

(Eu vivi uma vida completa
eu viajei por toda e qualquer estrada)

(E mais, muito mais que isso,
eu fiz do meu jeito)

(Arrependimentos, tenho alguns
mas novamente, muito pouco a citar.)

(Eu fiz o que eu tive que fazer e vivi por completo sem exceção)

(E mais, muito mais que isso
eu fiz isto do meu jeito)
...

Cortei o cap por motivos óbvios. o lado positivo é que talvez demore menos de vinte dias até o próximo.

...

Eai gostaram? Não deixe de comentar.

Vejo vocês em breve. 🎆


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