História Sonho - Quebra de rotina

 Já eram oito horas da manhã, senti meu coração se encher de nervosismo e antecipação. Era o horário que ele chegava.

Sem me desapontar, observei a porta da padaria ser aberta com um barulho forte e um garoto alto passar por ela encabulado por ter chamado tanta atenção ao quase ter quebrado a mesma.

Veio até o caixa e pediu um Americano. Não que ele precisasse ter especificado, eu já havia decorado seu pedido há muito tempo, assim como suas manias e todos os tipos de sorrisos que tinha. Entreguei o café para ele com cuidado, observando pela quinquagésima vez o jeito que derrubava quase metade da bebida até chegar no lugar que sentava sempre.

E agora era a pior parte.

Ele ficava ali, sentado, comportadinho, me dirigindo um olhar doce e um sorriso meigo enquanto despejava metade do açúcar pra fora do copo, tomava o pouco de café que sobrevivia ao trajeto e derrubava o porta-guardanapos.

Eu só sabia ficar encabulado, vez ou outra eu juntava coragem e o respondia com outro sorriso enquanto olhava em seus olhos, mas logo inventava alguma coisa pra fazer — ajeitava os docinhos já perfeitamente alinhados na vitrine, conferia os reservatórios de café que tinha acabado de encher... — só pra poder desviar toda minha vergonha para alguma atividade.

Se era patético ficar só esperando a chegada do garoto todos os dias, sem fazer nada? Claro que sim. Mas eu não tinha nenhuma coragem de falar com o garoto alto e de cabelos verdes, então eu estava muito bem apenas apreciando-o, obrigado. Aquilo já era parte da minha rotina e definitivamente não queria que nada arrancasse aquele pequeno prazer de mim.

Observei o menino se levantar da cadeira. Ele estava indo embora? Mas já? Ele costuma demorar mais… Destruindo tudo o que pensei saber, se aproximou novamente do caixa. Aquilo, sim, era inédito.

— Eu gostaria de um sonho. — Pediu, com aquele sorriso gentil que trazia covinhas fofas às suas bochechas.

— Qual o seu? — Arrisquei. Queria tanto saber mais sobre aquele garoto e aquela pareceu uma deixa perfeita.

— Você.

— A loja fecha às 18:00. — Consegui responder, chocado, enquanto lhe entregava o doce.

— Até lá. — Respondeu com um sorriso largo, saindo da loja após me pagar.

O que raios tinha acabado de acontecer?

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Aconteceu que você convidou um cara pra vir te ver numa padaria vazia, Kim Seokjin! Isso que tinha acabado de acontecer, seu idiota! Na verdade, nem era “um cara” e sim o seu crush! Aposto que ele te acha um oferecido e que o convidou prum vuco vuco!

Lá estava eu, uma pilha de nervos, me xingando mentalmente sem descanso enquanto esperava apreensivo sentado em um dos banquinhos altos do balcão da padaria. Os outros funcionários já tinham ido embora há mais ou menos meia hora e bateu aquele arrependimento de não ter ido junto. Mas será que o garoto continuaria a frequentar a padaria se eu desse um bolo nele? Eu não queria quebrar a minha tão amada rotina…

Batidas leves na portinha de vidro do estabelecimento — que estavam cobertas, assim como as vitrines — despertaram-me de meus pensamentos agoniados e deram-me um susto. Sem conseguir conter aquela mistura de animação e nervosismo que corria pelas minhas veias, caminhei apressado até a porta e a abri rápido, encontrando o garoto alto sorrindo e um pouquinho corado.

— Oi… — Falou com a voz grave, tímido.

— Oi… — Foi tudo que consegui responder também devido ao nervosismo.

Automaticamente, nos sentamos de frente um pro outro na mesa de estimação do de cabelos verdes, sem saber muito o que falar.

— Meu nome é Namjoon… — Se apresentou, falando baixinho.

— O meu é Jin… — Respondi no mesmo tom.

— Eu sei. — Soltou uma risada fofa. — Ah, não pense que eu sou stalker, por favor! É só que eu vi os outros atendentes te chamando assim, ok? — Completou nervoso, me fazendo rir.

— Sem problemas. É um prazer te conhecer, Namjoon! — Dei um sorriso tranquilo pro outro, que pareceu ficar um pouco mais confortável.

— Você tem as chaves da padaria? — Perguntou depois de um silêncio gostoso cheio de trocas de olhares.

— É que eu sou filho do dono — Expliquei. — Por isso que eu fico o dia inteiro aqui também. É tipo um trabalho escravo.

— Faz sentido. — Riu. — Então você vai estar sempre por aqui, não é?

— Sim, eu devo assumir a loja daqui alguns anos. Por que?

— Só pra saber se eu vou conseguir te encontrar sempre que vier. — Falou encabulado e eu sentia minha face queimar também. — Volta e meia eu pensava o que aconteceria se eu viesse aqui e você não fosse mais um funcionário. Por isso resolvi falar com você…

— Entendi…

Porra, Kim Seokjin, que resposta bosta! O menino que você ficava flertando acabou de ser super fofo e o que saiu da sua boca foi “Entendi”??? Faça-me o favor!

— Me ignore se for uma pergunta muito descabida, mas… Eu poderia te dar um beijo? — Pediu.

Observei o garoto encarar fixamente para o meu rosto, decidido, com as bochechas coradas, provavelmente fazendo muito esforço para não desviar o olhar. Como negar? O menino que eu ficava secando teve a coragem de falar comigo, me encontrar, falar coisas fofas e pedir um beijo!

Me inclinei por cima da mesa e deixei um selinho em seus lábios carnudos, sentindo um aperto gostoso no coração ao observar o grande sorriso se formou no rosto do garoto após o ato.

— Acho que deve ter ficado bem óbvio, na verdade, sempre foi bem óbvio, mas eu gosto de você, Jin.

— Ah, é? O que te dá tanta certeza? — Perguntei em tom de brincadeira, apesar de realmente estar curioso.

— Hm… — Botou uma mão no queixo, pensativo. — Uma boa prova é que eu odeio piadinha tosca, mas sempre que eu vejo você contando alguma piadinha de tiozão pra algum colega eu só sei achar adorável. E a sua risada também.

— Por acaso você está criticando minhas piadas e risadas?

— Claro que não! — Riu. — Muito pelo contrário, acho tudo que vem de você lindo!

— Hm… Sei… Vou deixar essa passar, Sr. Namjoon.

— Agradeço a bondade. E você?

— Eu o que?

— Por que você me beijou?

— Se for seguir sua linha de pensamento, é porque te acho fofíssimo mesmo quebrando e sujando a loja inteira.

— Ah, é verdade, eu tenho esse problema… — Coçou a cabeça me dando um sorriso torto.

— Não chega a ser um problema. — Sorri, dando-lhe mais um beijo por impulso e deixando o garoto espantado.

Depois do choque inicial, o de cabelos verdes segurou meu rosto delicadamente e começou a massagear meus lábios com os seus de forma tímida. Sem desgrudar os nossos lábios, tentou contornar a mesa, para que esta não ficasse no nosso caminho e acabou derrubando a mesma com um estrondo alto, interrompendo o beijo e arrancando-me várias gargalhadas.

— Para de rir! Assim eu fico magoado! — Reclamou.

— Namjoon, sabe o que um pato disse pro outro?

— Ai Deus… Não…

— Vem quá! — Respondi alegre, abrindo os braços. O garoto revirou os olhos, mas não conseguiu esconder sorriso por muito tempo, aproveitando a minha posição para me dar um abraço.

— Jin, eu queria poder te conhecer melhor… — Disse apertando um pouquinho os braços em volta de mim. Conseguia sentir o coração do mais alto bater forte que nem o meu, o calor de seu corpo e um cheirinho amadeirado. Droga, ele conseguia ser ainda mais encantador ali, daquele jeito, do que quando eu apenas o observava. — Saber coisas além do seu nome, trabalho e amor por piadinhas infames.

— Também estou curioso em saber o que mais você tem pra me mostrar além de seu nome e poder de destruição. — Revidei, me desvencilhando um pouco de seus braços para colar nossas bocas com ternura novamente.

— Até amanhã então? — Perguntou com um sorriso depois de trocarmos diversos beijos, de fofos até os molhados. Meu coração palpitava e as palmas de minha mão suavam um pouquinho. Eu poderia ficar pra sempre com o garoto ali, mas saber que a minha rotina seria incrementada com a proximidade que sempre desejei ter com ele me serviu de consolo para sua despedida.

— Até amanhã. — Sorri, destrancando a porta da padaria e deixando que o menino passasse por esta.

Observei ele andar pela rua da entrada da loja, apreciando o jeito fofo que olhava para trás repetidas vezes com um sorriso bobo no rosto, provavelmente igual o que estava estampado em minha cara. Quando ele estava prestes a virar a esquina, lembrei de algo importante.

— Namjoon! — Gritei.

— Hm? — Respondeu ele, cheio de expectativas. Ri do trocadilho bobo que estava prestes a fazer, mas que o mais alto tinha inventado.

— Você é um sonho!