Annie não se arrepende do que fez, nem do que estava prestes a fazer, faria tudo de novo se precisasse. Mas ela tinha sim alguns arrependimentos, e um deles era ter sido tão descuidada. Havia colocado tudo a perder quando usou o DMT de Marco, porque seguir as ordens de Reiner parecia ser a única alternativa lógica. Se tivesse simplesmente ignorado o projeto de soldado e Bertholdt, não teria envolvimento com sua morte e ficaria livre de suspeitas.
Agora era tarde demais para pensar nisso. Com sua identidade exposta e encurralada pelos inimigos, teria sorte se não terminasse o dia em uma cela no subsolo, com informações arrancadas a força de si. Não duraria para sempre sob tortura, e Reiner e Bertholdt não conseguiriam resgatá-las sem expor suas próprias identidades também; dando um fim a uma missão que não gerou nada além de fracasso desde o seu começo.
Annie estava sozinha.
As incessantes súplicas desesperadas alguns degraus chamaram sua atenção novamente, fazendo-a se lembrar do outro arrependimento que vinha carregando. Eren implorava para que ela os acompanhasse, provando de uma vez sua inocência. Era claro para Annie que nem mesmo ele acreditava naquilo, e o pequeno escândalo era apenas sua forma de lidar com uma situação em que nenhum dos dois queria estar.
Os dentes estavam cerrados e o olhar fixo em seu rosto, porém os pés não se atreviam a sair do lugar. Annie testemunhou a admiração e confiança serem transformados em um receio irreparável. Era o mínimo que merecia, por nunca ter conseguido lutar contra a maré, mas ainda a machucava. Nunca pensou que um dia sentiria falta de uma obsessão infantil que o garoto tinha desde tão novo, mas aqui estava ela querendo outra vez ver a intensa determinação que a preenchia igualmente com paixão e remorso.
Talvez, em uma situação normal, Eren não teria essa vontade de lutar. Seria uma pessoa comum vivendo uma vida comum, quem sabe poderia até seguir a carreira do pai como médico. Talvez, em uma situação normal, Annie não teria se importaria tanto com ele. Seu outro arrependimento era ter incentivado a fantasia de que Eren poderia conquistar a liberdade que eldiano algum jamais teria, dentro ou fora daquela ilha amaldiçoada.
Era agora o grito de Mikasa que a importunava, com a mulher brandindo sua espada sem o menor sinal de hesitação. Diferente de Eren e Armin, ela não parecia se importar que uma colega do 104º Esquadrão de Cadetes era uma inimiga. Observou entre os três os olhares de ódio e ressentimento — nenhum deles nunca lhe foram estranhos — e era essa a última visão que teria antes de provar ao trio o monstro que realmente era.
Annie se acovardaria outra vez, causaria a morte de ainda mais pessoas, mas quebrar a promessa que fez para seu pai estava fora de questão.
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