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História Startruck: Ligados pela Música - Adeus


Escrita por: LilBeM

Notas do Autor


Adivinha??
Cheguei com um mês de atraso mas tenho explicações. Vamos de musiquinhas porque estou sofrendo demais com o final dessa fanfic. Boa leitura!
What Husth The Most - Cascada (cover)
Unconditionally - Katty Perry

Capítulo 49 - Adeus


A tempestade continuou pela madrugada e o dia seguinte, atenuando a um chuvisco no meio da tarde e outra vez a gotas fortes pela noite. O tempo parecia perceber o estado de Hermione transformando sua tristeza em chuva e mais chuva, cutucando esse sentimento com ventos frios e gotas de água escorrendo pela janela do quarto que dividia com Lily. Quando a morena conseguiu se mexer após fitar as costas de Ron ir se afastando até sumir definitivamente, o vidro da janela embaçado era a única coisa que ela lembrava de ter olhado por horas seguidas, sentada em sua cama, as lágrimas esquentando suas bochechas. O choro que prendeu durante a conversa com o ruivo irrompeu forte e doloroso e a garota ficava sem conseguir respirar a cada soluço solitário. 

Eventualmente sua mente foi ficando mais entorpecida e lenta, as batidas do seu coração soando como um acalento distante de que ainda tinha o que fazer pra proteger Rony, proteger a mãe. Laura havia batido na porta duas vezes e não ultrapassou o limite de Hermione, mesmo que a morena não lembrasse se tinha trancado ou não a fechadura. A cozinheira foi embora ao contemplar apenas o silêncio de Hermione em resposta mas ela se esforçou em respirar de um jeito que a mulher notasse que, pelo menos, ainda estava viva. Ou talvez não forçou muito já que sua garganta estava bloqueada pela dor e tivesse que sugar oxigênio pra espantar a tontura.

 

Eu posso aguentar a chuva no teto desta casa vazia, isso não me incomoda

(...)

Eu não tenho medo de chorar 

de vez em quando, mesmo que continuar com você longe ainda me chateie

 

Na manhã de domingo, outra vez sozinha, sem sair do quarto e tendo a chuva como companhia, Hermione permaneceu deitada na cama e agarrada aos lençóis. Sua barriga reclamava mas ela não conseguia mexer o corpo para ir encontrar algo para comer e beber – ela estava a muitas horas sem isso. Faltava uma hora para o dia amanhecer quando fechou os olhos e o relógio em seu celular marcava oito e dez quando os abriu.

Ela afastou o aparelho e se virou, voltando a dormir.

Ela sempre associou dias molhados a coberta quentinha, chocolate quente e uma boa maratona de filmes quando o tempo atrasava o trânsito, encharcava os sem sorte e regava a grama e árvores nos parques. No domingo, após passar toda a madrugada chorando até se arrebentar e cada suspiro doer em sua caixa torácica, Hermione se moveu contra a fadiga sem explicação lógica para atender o celular e falar com o médico da mãe.

Mônica tinha dado uma leve piorada em seu tratamento médico e ele queria informá-la da mudança de abordagem com a mulher. Hermione chorou mais ainda quando desligou.

Assim como imaginou ela ergueu a cabeça do travesseiro na manhã de segunda-feira com uma forte dor de cabeça. A dor fazia suas têmporas latejarem em agonia e o cheiro fraco de laranja que vinha da cozinha fez seu estômago se agitar também. Seu corpo estava muito pesado e quase não conseguia manter os olhos abertos – piscar estava consumindo toda sua energia. Talvez isso fosse um efeito de ter passado um dia completo sem comer nada.

 

Eu não tenho medo de chorar

 

Seu cabelo estava fedido e ela cheirava a água salgada, o pijama um pouco suado. Jogou as roupas no cesto e se impôs a um banho completo, sem esperar que a água ficasse quente antes de enfiar a cabeça no jato. Jurou que tinha alguém enfiando uma faca em seu crânio quando a água gelada bateu mas não se demorou muito registrando o incômodo. Lavou e secou os cabelos, escovou os dentes e vestiu o uniforme muito bem engomado que ficava em sua gaveta separa apenas para o trabalho. Seu rosto no espelho ainda refletia olhos inchados e vermelhos pelo choro mas quanto a isso não se tinha muito o que fazer.

- Bom dia – saudou Laura, erguendo a cabeça da travessa de frutas cortadas em fatias que colocava na mesa da cozinha.

- Bom dia – respondeu a morena e sua voz estava muito rouca. Pigarreou e sentou na cadeira, observando as opções de café da manhã que pareciam fazê-la querer vomitar. Nada aparentava estar gostoso.

Laura apoiou as mãos na mesa e inclinou a cabeça no nível do olhos de Hermione, deixando-a desconfortável e girar a cabeça.

- Está doente, querida? Não dormiu bem?

Hermione desejou muito que a mulher ficasse quieta mas os seus pensamentos grosseiros foram massacrados quando outros pensamentos rugiram e ela afastou a franja dos olhos, abanando a mão em uma tentativa tosca de banalização. Se Laura estava perguntando era porque nem ela ou Ava tinham desconfiado da ocasião de sábado.

Demorou tempo demais ao decidir se isso era algo bom ou ruim.

- Estou com uma dor de cabeça terrível e não consegui dormir muito. Pode me passar o leite, por favor?

Os olhos redondos e grandes de Laura piscaram e piscaram até desistir de tentar falar algo e empurrar a jarra de leite para a garota. Hermione soltou a respiração quando a cozinheira se afastou e sorriu quando Lily surgiu no portal, com um vestido preto colado e jaqueta de couro. Estava com os saltos em uma mão, os cabelos loiros bagunçados e a maquiagem mais fraca do que normalmente ela fazia. Isso só podia significar que a loira tinha ido a alguma festa durante a noite de domingo e estava claramente virada.

- Boooom dia – ela plantou um beijo estalado em Laura e correu para Hermione, fazendo o mesmo. - Boooom dia, pequena elfa. O que aconteceu com você?

A boca de Hermione se torceu em desagrado.

 

O que mais machuca foi estar tão perto

E ter tanto pra dizer

E ver você indo embora

 

- Dor de cabeça – respondeu e deu uma garfada em um pedaço de maça.

Llily arregalou os olhos e se largou na cadeira ao lado de Hermione, claramente não acreditando.

- Empate – ela sorriu e deixou seus sapatos no çhão. Lily tirou a jaqueta, revelando ombros estreitos e duas manchas na base da clavícula que ao ver que as outras duas encaravam sem muita cordialidade, apertou a boca pintada em um biquinho e deu uma mordida no pão. - Noite longa, vocês nem imaginam. Laura, tem café mais forte que isso?

A cozinheira apontou para o armário atrás de si e a loira se levantou pra preparar seu café anti ressaca. Sua beleza pós noitada era quase injusta com Hermione que tinha passado mais de um dia dormindo direto e estava mais próxima da aparência de um zumbi do que da Afrodite. Lily sendo a Afrodite.

Ela engoliu o segundo pedaço de maça e desistiu de tentar terminar o leite em seu copo, se ingerisse mais acabaria vomitando ali mesmo. Mas seu estômago continuava reclamando. Bom, ela ia ganhar essa.

Duas vozes soaram pelo corredor que dava para a entrada.

- Isso vai ajudar, eu garanto.

Hermione levantou mais rápido do que era comum ao escutar também um espirro e uma sequência de tosse. Suas pernas, porém, pararam a poucos metros de Arthur e Molly Waesley. Ele dava pequenas batidinhas nas costas do filho enquanto Molly estava a frente de Rony, falando algo que ela não pode escutar porque estava focada na imagem do ruivo mais que qualquer coisa. Seus sentidos silenciaram o restante dos ruídos naturais do dia e se afloraram a cada espirro que ele dava, as fungadas fortes revelando o que ela tinha tido tanto medo de se concretizar: a chuva de sábado o deixara doente.

Por culpa dela.

Ele limpou a garganta e acenou para a mãe.

O sorriso delicado que a ruiva abriu foi diferente em vários quesitos – Hermione nunca o tinha visto antes. Então Molly só revelava esse lado para o filho. Ou incluía Gina também?

Talvez tenha ficado muito tempo parada como uma estátua no canto do ambiente porque a mulher a viu e ergueu uma sobrancelha.

Hermione olhou para a nuca de Rony de novo e se afastou.

 

As pessoas ao redor de Hermione pareciam mais irritantes do nunca naquela manhã.

Para o seu bem e o de todos a sua volta a morena percebeu que seu péssimo humor não tinha nada por trás, apenas tristeza. A impaciência se alojou em seus ossos quando os ponteiros do relógio insistiam em bater devagar, um segundo mais lento que o próximo, o choro a beira de se derramar a cada fungada de ar que ela dava para se controlar.

As últimas horas de seu horário de trabalho fizeram com que a sua preocupação com Rony aumentasse quando os pais dele chegaram rindo e sem a presença do filho. Hermione sabia disso porque deu um jeito de correr com todo o seu serviço pela casa e espiar pelas janelas que davam para o portão da frente, uma vista completa de quem entrava e saía e quando um carro preto entrou na propriedade logo após o almoço, ela quase esvaziou o pote de óleo para móveis em uma velha e antiga poltrona estofada no corredor. Mas os carros da família eram todos da mesma cor e modelo, um padrão para evitar sequestros e outros problemas.

Então Harry e Gina saíram com dois amigos cada e Hermione escapou, decidindo que era uma apresentação que podia evitar já que a irmã e cunhado de Rony consideravam ela como uma possível amizade.

O tempo que teve sozinha por um lado, lhe serviu para focar em outra coisa.

A ausência de Rony em seu cotidiano era um peso enorme e ela sentia a pele formigar de saudade e sua mente estava alerta demais a cada ruído de passos pelo piso liso. Com uma nuvem de dor pairando sobre ela desde sábado e as conclusões definitivas que conjecturou por um tempo, só a fizeram ter certeza de algo que deveria ser feito o quanto antes.

Mas quando o sol foi embora e a derrota finalmente tomou a mente de Hermione, a garota permaneceu parada no centro do seu quarto, mirando além da janela e assentindo devagar para si mesma, tentando se convencer a acreditar que estava tomando o melhor caminho. O melhor talvez não; o mais racional a se tomar. Segurança. Precisava disso para si. Para a mãe. Era uma pena ter que largar aquela certeza que o emprego na casa de Rony, porém era idiotice continuar ali depois de tudo. Não quando cada canto daquele mausoléu a lembrava dos momentos escondidos, dos beijos roubados, das risadas que o ruivo a fazia dar quando dizia algo bobo e muito fofo. O cheiro era ainda pior. O corredor que dava para o quarto dele quase cantou para ela aquela manhã e Hermione podia jurar que o perfume de Rony estava impregnado em seu uniforme.

É difícil lidar com a dor de perder você em todo lugar que eu vou

(...)

Ainda mais difícil, me levantar, trocar de roupa, viver com esse arrependimento

 


Mas foi o envelope que estava em cima de sua cama que a fez bater o pé e arremessar as poucas roupas que levara para a mansão em sua bolsa e organizar seus produtos de higiene em outra. O susto foi um estopim de adrenalina que ela nunca sentiu antes até o momento que leu as palavras em negrito na parte superior do papel branco e mover o corpo pelo quarto e recolher suas coisas. Seu coração estava acelerado, suas bolsas organizadas uma do lado da outra em cima da cama e ela terminava de prender o cabelo em um rabo de cavalo, as palavras do que diria a Molly Weasley na ponta da língua.

PEDIDO DE DEMISSÃO.

Uma lufada de ar quente escapou por seus lábios ao ler de novo as palavras.

Hermione lembraria de agradecer a força divina depois ao ver o caminho livre até a saída dos dormitórios, pela cozinha e então para o escritório da matriarca. Tinha alguém na área da piscina e o relance de outras duas pessoas conversando nas espreguiçadeiras fizeram as pernas da garota se moverem mais rápido. Não queria plateia.

Não bateu na porta, sua mão trêmula girou a maçaneta e ela se viu outra vez na mira de Molly.

Queria dizer tantas coisas. O quanto ela estava sendo horrível com o filho, o quanto estava machucando-a por chantageá-la, o golpe doloroso que deu em nem dar uma última chance a Hermione para que ela pudesse pensar no próximo passo... mas sua expressão suavizou e percebeu que não vali a pena. Já tinha acabado.

Se ela queria mesmo forjar um pedido de demissão, que assim fosse.

- Suas últimas palavras?

Hermione engoliu em seco e apertou a mão na alça da mochila. Tentou e sem sucesso, abaixou a cabeça para desviar a atenção dos olhos maliciosos da ruiva, a vulnerabilidade pesada contra seu corpo, o fogo de poder partindo-a em vários pedaços ao dar o que aquela mulher queria.

Havia um cilindro de alumínio repleto de canetas e lápis de pontas afiadas em cima da mesa e Hermione caminhou em silêncio até lá, espalmando o papel na madeira e abrindo uma das canetas, correndo a ponta pela linha pontilhada que exigia a sua assinatura. Encarou o início do papel e seus dedos apertaram a borda, amassando a folha antes imaculada e uma risada de escárnio soou da boca de Molly.

- Você faz parecer uma sentença de morte, garota.

- Talvez seja mesmo – ela escutou sua voz responder, rouca pela falta de uso durante o dia, mas baixa o suficiente para expressar sua raiva. – Mas tenho certeza que é a sua.

Molly fechou o sorriso e ergueu uma sobrancelha.

- O seu gênio que a levou a isso. Desceu a tanto que não suporta ver a verdade.

- Para o inferno você e a sua verdade – Hermione largou a caneta e deu um passo para trás. – Só espero tenha tudo muito bem planejado e que suas ações não machuquem o Rony.

- Eu já me livrei do problema maior – Molly sussurrou como um segredo, os olhos redondos piscando em uma falsa meiguice. – Agora, bico fechado. Não cruze mais o seu caminho na vida do meu filho. Ele vai estar bem melhor que você nos próximos meses.

Hermione quase que silenciou as palavras da mulher para se virar e ir embora, mas no último segundo parou perto da porta. Ele vai estar bem melhor que você nos próximos meses.

A morena abriu a boca, lutando contra o rugido em seus ouvidos.

- O que quer dizer com isso?

- Já não é da sua conta – ela deu a volta pela mesa e se aproximou de Hermione. – Se me der licença.

Não, ela não daria. A morena ágil por impulso ao agarrar o punho de Molly Weasley que abria a maçaneta. Os olhos chocados da ruiva dispararam para Hermione.

- O que quer disser com isso! – repetiu, as palavras saindo um sussurro fraco.

Molly deu outro de seu riso forçado e estapeou para longe a mão de Hermione, o golpe surpresa empurrando a menina alguns centímetros para trás.

- Já que é assim, garotinha. Preste muita atenção no que vou dizer. Não tente dar uma de espertinha e falar com o meu filho quando achar que eu não vou estar por perto. Rony assinou para uma turnê grande o suficiente para mantê-lo longe de você e de seus sonhos infrutíferos e bobos. Longe dessa fantasia que você criou – ela cutucou o ombro de Hermione com o dedo, empurrando-a. – desse desejo adolescente e passageiro que ele achar ser verdadeiro.

Mentira. Mentira, mentira, mentira.

Hermione queria gritar. Seus olhos esquentaram e ela balançou a cabeça.

Ele me ama, queria dizer. Ele me ama e eu o amo também. Você não pode ficar feliz com isso?

- Não entendo todo esse ódio por mim.

- Ódio? – Molly inclinou a cabeça, avaliando Hermione de cima pra baixo. – Você não vale o meu ódio.

Ela já tinha escutado demais.

Hermione escapou da presença vertiginosa daquela mulher e agarrou mais sua segunda bolsa ao dar as costas para a mãe de Rony.    

***                                              

O quarto do hotel era enorme. As paredes de um amarelo claro estavam sufocando-o, mas nada poderia ser pior do que lembrar, repetidas vezes, várias vezes durante aqueles dois dias, as palavras de Hermione.

Rony não tinha ajeitado suas coisas nas gavetas do quarto ou vasculhado ali e aqui por coisas banais que normalmente fazia, um ritual de hospedagem que adquiriu após anos viajando. Não tinha tido muitas forças para sair da cama naquela manhã e seu corpo estava latejando de dor ao abrir os olhos após poucas horas de sono, a consciência se arrastando e consumindo seus sentidos, os últimos acontecimentos ocupando seu espaço em roubar o oxigênio. O ruivo tinha permanecido deitado na cama por mais uns minutos até sua mãe entrar, ignorando os pedidos dele de bater antes, e cantarolar um bom dia animado demais e despejar a programação do dia.

Ele só concordou com tudo para ela poder ir embora mais rápido e pudesse se afogar em seu poço de raiva e humilhação.

 

Oh não, eu cheguei perto demais?

Oh, eu quase vi o que está realmente por dentro?

Todas as suas inseguranças

 

Quando aquela enxurrada de revelações caíram sobre ele naquela noite de sábado e a verdade do que realmente empurrava Hermione em seu caminho se infiltrou, uma pequena voz ao fundo dentro de si, um quase sussurro muito fraco, começou a lembra-lo de pequenos acontecimentos que compunham os meses em que ficaram juntos. Foi nesse momento que ele vacilou, a borda da dúvida trabalhando em decodificar cada palavra que a morena dissera.

Rony conhecia Hermione. O bastante para saber que ela era orgulhosa como um deus, mas boa a medida de ajudar um estranho na rua como um amigo íntimo. Ela era gentil, sua voz delicada encantava qualquer pessoa que a ouvisse cantar e nas noites em que eles não tinham muito o que fazer, ela sempre cantarolava uma ou duas músicas em seu violão após uma avaliação impecável da afinação; não era gentil a ponto de ser boba também. Era justa, gostava de ver todos os lados, prestativa, uma filha que amava a mãe a ponto de arriscar seu sonho pela música, tinha uma beleza excepcional...

Ele suspirou, pensando cada vez mais nas qualidades de Hermione.

Ela era uma grande cabeça-dura também. Teimosa, tão grandemente teimosa.

Mas mentirosa?

Eu não quero mais brincar com você.

Ele apertou os dedos nos olhos, sentindo uma nova vontade de chorar. Virou de lado, agarrando um dos vários travesseiros da cama.

Não era possível, era? Hermione não podia ser capaz de esconder um sentimento assim. Repulsa? Era isso que ela sentia dele? Todas as vezes que ele a beijava ou a tocava, era esperando que acabasse logo a razão que devolvia tais gestos.

O que aconteceu naquela noite não é o que importa agora, Rony.

O ruivo abriu os olhos úmidos e com o coração batendo forte, o sangue em suas veias correndo livre pela pontada de desconfiança. Ela tinha falado diferente... o cantor podia jurar que ouviu um tremor suspeito na voz dela ao dizer que não importava o fato dele amá-la, mas a chuva estava forte e barulhenta, o vento circulava os dois como um violino desafinado.

Era tolice ainda querer mais explicação. Querer uma última checada. Provavelmente estava agindo como se nunca tivesse sido deixado por uma garota, mas Hermione não era só uma garota. Rony tinha uma certeza na vida e acima de todas as possibilidades de sua carreira, do ódio gratuito e do amor na mesma intensidade que a mídia e seus fãs davam, era que queria mais tempo com a morena. Um tempo que podia ser prolongado se ela quisesse e que ele ainda precisava apostar a favor. Não queria se arrepender de muitas coisas não feitas na vida e incluir ela na lista não era um caminho favorável. Era impossível cogitar essa ideia.

 

Caminharia através dessa tempestade

Eu faria tudo isso porque amo você

Eu te amo

 

Se desse errado... se sua última tentativa desse errado o só servisse para comprovar a desilusão que Hermione criou para ele, o ruivo podia guardar aquelas lembranças em uma caixinha, no fundo do coração. Então podia visitá-las sempre que necessário para reviver risadas únicas, uma cumplicidade que talvez nunca criassem com mais ninguém. Podia tocar nas memórias e sorrir satisfeito por ter feito sua parte em amá-la. Em desejar, com todo o coração, o quanto fosse verdade. O quanto ela o fizera feliz nos meses que o deu, mais do que pedira, mais do que ela podia dar. Podia olhar contemplativo para o horizonte e entender que não foi sua culpa ela ter mentido. Se é que ela tivesse mentido.

Ele abriu os olhos e encostou a testa no travesseiro, engolindo um soluço.

Ele podia conviver com o fato dele não ter sido o suficiente para ela, mas Hermione foi para ele. Foi mais. Sempre muito mais.

Só precisava ter a nítida certeza e acalmar sua alma ao tentar de tudo.

***

O taxi parou em frente à casa de Luna uma hora depois.

Quando conseguiu sair da mansão quase como uma espiã tentando não ser vista, a morena caminhou por um bom tempo e foi só quando as lágrimas dificultaram tanto sua visão e ela começou a esbarrar nas pessoas, que ergueu o braço e um taxi parou. Era um luxo que ela não podia se dar no momento, mas Hermione não tinha mais fôlego para encontrar um ponto de ônibus. 

Assim que disse o endereço e o carro deu a partida, as ruas movimentadas da cidade voltaram a ficar um borrão, os coloridos das roupas ficando marrom padrão, o cheiro de hortelã no estofado dos bancos fazendo seu nariz coçar. O motorista bem que tentou um papo em meia voz, mas a voz chorosa dela o silenciou e Hermione afundou mais no banco, envergonhada da cena que fazia.

Ah, inferno. Nem sofrer em paz podia. O choro se transformou em uma sequência de xingamentos direcionados a si mesma e ela com certeza parecia patética com o rosto banhado de lágrimas, murmurando feito maluca.

Porém, pouco antes de chegar até Luna, em um semáforo qualquer, um ônibus gigantesco parou ao lado e um cartaz exibia a foto de Rony em um show, os cabelos grudados no rosto pelo suor, um sorriso de lado estampado nos lábios grossos que ela tanto sentia falta. A garota ainda tocou os próprios, fechando os olhos ao relembrar... então o semáforo ficou verde e o taxi foi por um caminho diferente do ônibus e a imagem do ruivo se distanciou.

 

Incondicional, incondicionalmente

Eu te amarei incondicionalmente

 

Foi aos prantos que Luna a encontrou. Hermione não disse nada a amiga, apenas permaneceu parada na entrada, a mochila nas costas, a bolsa de mão presa entre os dedos da garota.

- Hermione? O que aconteceu? – Luna murmurou assustada, atravessando a sala até chegar na amiga. Ela colocou as mãos nos ombros trêmulos da morena e a sacudiu fracamente. – Por favor, você está me assustando.

O estado da garota mostrou a loira que nada sairia da boca de Hermione por um bom tempo e Luna suspirou, enxugando as bochechas da amiga e vendo que não adiantara muito, abraçou a morena pelos ombros.

Elas ficaram de pé, abraçadas, o corpo de Hermione sacolejando pelos soluços, um sofrimento que Luna sentia se arrastando sobre se como erva daninha. Era um choro baixo, mas forte de expressões e palavras sussurradas pela morena, vários pedidos de desculpas dirigidos a outra pessoa. Ela escutou quando outras pessoas se aproximaram por trás, porém quem quer que fosse deve ter avaliando a situação e passado para a próxima. Quando o choro de Hermione deu lugar a um choramingo, Luna a puxou para seu quarto e acomodou o corpo da amiga em sua cama.

- Agora – ela murmurou carinhosamente, enrolando seu lençol em Hermione. – Por que não começa do início? Com calma, não precisa presa.

Com soluços, lágrimas e fungadas, Luna ficou sabendo de tudo. Do vídeo, de Molly, da chantagem. De como a morena teve que mentir para Rony e de como ele a odiava, de como estava se sentindo horrível em não ver uma escapatória onde não manchasse a vida e o futuro dele.

- Ah, Hermione – lamentou Luna, tocando nos cabelos da morena. Seus olhos azuis brilharam de compaixão, a boca fina se erguendo em um sorriso triste. – Você não tem culpa de nada.

Isso fez Hermione erguer a cabeça, surpresa.

- Como não, Luna? – exigiu saber, passando as costas da mão na boca. – Eu menti pra ele. Eu magoei ele.

Luna negou com a cabeça.

- Não foi porque quis, a mãe dele que tem culpa. Que mulher mais odiável! Como ela pode!

- Narcisista – Hermione falou como se fosse óbvio, erguendo os olhos para a amiga. – Ela quer ser o centro do mundo de Rony. Controlar a vida dele em torno do que ela acha interessante, o certo. E eu não sou o certo pra ele.

- Em qual base? De um vídeo idiota? Todo mundo tem um vídeo bêbado passando vergonha.

- E o que as fãs dele ia achar disso, hein? Que foi com uma garota que dança bêbada em uma festa foi a escolhida no lugar de Lexie Lux?

- A vida particular do Rony não é da conta de ninguém, Hermione. Ele não é mais criança pra ter a aprovação...

Mas o sermão da loira morreu quando um barulho insistente soou de algum lugar.

Ela deu um pulo ao notar que era o seu celular que tocava de onde estava na sua penteadeira.

Hermione fungou, apertando o lençol contra si quando a loira saltou da cama pra atender. Luna gaguejou após um cumprimento e arregalou os olhos na direção da morena.

- Quem é?

- Tá – Luna respondeu a pessoa do outro lado. – Ela está aqui agora, pode falar com ela – à medida que caminhou até a morena com a mão estendida, percebeu o pânico de compreensão no rosto de Hermione. – É o Rony.

- Por que ele ligaria pra você? – ela continuou com os braços onde estavam, o corpo inclinado levemente pra trás.

Luna revirou os olhos.

- Você não atendia o celular. Pegue.

- Não.

- Hermione.

- Luna – ela devolveu a mesma repreensão. A loira apenas moveu o dedo pela tela do celular em resposta, ainda olhando para a morena.

- Está no viva-voz, Rony. A não ser que Hermione queira que eu escute também, pode falar com ela.

- Você deveria me ajudar! – explodiu Hermione e se arrependeu quando Rony murmurou:

- É minha vez agora. Eu escutei o que você tinha a falar da última vez, mas você não me deu tempo de falar também.

A garota olhou do celular pra amiga e de volta para o aparelho. Com um suspiro forte, decidiu pelo menos saber o que ele queria. Talvez torcer mais seu coração, não achando o suficiente que aquela voz rouca como se tivesse ligado assim que acordou de um cochilo não afetasse seu corpo. Seu ventre torceu com uma dor aguda.

- O que você tinha de saber, eu já disse. O que poderia ter a mais?

 

Saiba que você é totalmente digno


 

- Eu acreditar em você – ele sussurrou, a dor flutuando até a ela. Ela apertou a mão na boca para abafar um arfar, odiando não poder estar ao lado dele e dizer, por favor, por favor, confie em mim.

Ela tentou falar, um mero murmúrio:

- Você ainda tem dúvidas de como eu me sinto? Acha que me alegra destruir suas idealizações assim?

- Hermione.

A morena ignorou Luna e olhou para os três pontinhos da chamada que se alongavam revelando a respiração afetada do ruivo. Uma pausa longa se deu depois disso e ela não ia ser a primeira a quebrar a quietude. Talvez ele desistisse e ela não precisaria mais fazer aquilo.

- Eu queria poder falar com você pessoalmente e dizer o que eu acho.

- Diga agora. Não tenho tempo para isso – ela fechou os olhos. – Tenho assuntos importantes pra resolver na minha vida real.

Luna franziu as sobrancelhas e quis interferir. Eles pareciam mergulhados demais em sua interação dolorosa para se darem conta que ela continuava ali, segurando seu celular, como se ele fosse uma bomba prestes a explodir para Hermione. 

- Pois bem. Eu tentei fazer do jeito certo, ainda pensando muito em você – Rony rugiu do outro lado e a vibração de sua raiva assustou a loira. – Então escute isso: se você nunca sentiu o mesmo por mim, não vou continuar achando que amar você foi algo ruim. Porque não foi. Você pode continuar com o seu fingimento com as outras pessoas, mas pra cima de mim não vai se repetir. Nossos mundos são diferentes, certo? Eu acho que eles nunca deixaram de ser, nem antes e agora eu vou entender essa sua decisão. Ou eu estou errado e você mentiu em relação a tudo?

Luna olhou cheia de esperanças pra Hermione mas a amiga apenas encostou o dedo nos lábios e a pediu que ficasse quieta. Indo contra sua vontade de gritar as verdades que a morena escondia, a loira apertou os lábios em irritação e jogou o celular na cama. O aparelho rolou duas vezes até parar emborcado perto do joelho de Hermione, assim que Luna fechou a porta do quarto após sair.

Hermione abaixou os olhos para as mãos torcidas entre o tecido do lençol e escutou mais duas lufadas da respiração do ruivo, cada batida de seu coração ressoando em sua mente pesada.

- Não importa mais – ela sussurrou mais para si, porque não importava mesmo. Pelo menos para ela. Já tinha feito o estrago, as consequências que estavam chegando. – Foi bom enquanto durou.

- Ah, pelo amor de Deus – resmungou ele cheio de ira. – Chega de fingimentos e frases de efeito. Você já deixou seu ponto bem a mostra. Isso é um adeus, então.

Ela assentiu, apertando a mão na boca, sentindo as lágrimas molharem seus dedos. A angústia foi cavando um buraco em seu estômago.

- Adeus, Rony – disse, a meio soluço, mas ele já tinha desligado.


Notas Finais


Gente do céu eu tô tão enterrada em dever de casa que eu tô pra correr doida.
No começo dessa semana eu tive uma crise muito forte de ansiedade e foi uma noite de descanso perdida. Eu trabalhei alguns dias até tarde essa semana também então quando eu chegava era tempo só de limpar a casa, tomar banho e fazer dever ou estudar um pouco. Minha mãe se operou de um olho, então ela não tá indo trabalhar, nem pode cozinhar, levantar peso, nem ficar no claro.

Eu e minha irmã estamos nos dobrando pra cozinhar e fazer as coisas para os cursos on-line que estamos fazendo para nos preparar pra um concurso. Ou seja, tudo muito corrido e o capítulo só saiu hoje porque ontem eu sentei exclusivamente pra escrever. Não ficou tão grande porque eu queria incluir as músicas mas prometo, de pé juntinho, que vou tentar terminar tudo que é de dever esse fim de semana pra escrever um novo capítulo pra vocês até o mais tardar sábado que vem. Talvez até antes, mas fiquem ligadinhos:D

EU SÓ TENHO UMA COISA PRA FALAR: TÁ TUDO ERRADO! HERMIONE MULHER!
Eu estou A N S I O S A pro próximo cap porque vai acontecer mais babado ~hihi não conto, não conto~ aguenta o coração ai!
Comentem, xinguem, expressem tudo o que estão sentindo. Amo que amo vocês, até sábado que vem!
Me sigam no instagram, LiaMor18, apareço por lá as vezes com uns storys sobre a fanfic e o livro de Lexie e Zen ~chocada, passada que vai ter!~
Compartilhem amor.
Nox!


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