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História Startruck: Ligados pela Música - A Verdade


Escrita por: LilBeM

Notas do Autor


AÊÊÊÊÊ!
Atualização dessa bagaça, finalmente autora!
Tô até o pescoço de dever de casa do curso e eu só escrevendo hahaha
Tem musiquinha, minhas queridinhas da bad.

New Empire - A Little Braver
Andrew Belle - In My Veins

Vou deixar os links pra vocês no final. Boa leitura!

Capítulo 52 - A Verdade


Abril começou um pouco agitado para Rony Weasley.

Após nove meses viajando vários lugares para se apresentar e ainda ocupado durante todo o resto do tempo em produzir e compor seu próximo álbum, o ruivo conseguiu colocar seus sentimentos em espera por tempo o bastante para se deixar lembrar de Hermione só em ocasiões onde a saudade estava muito forte. As festas de fim de ano foram particularmente brutais para o seu controle, tantas lembranças assolando sua cabeça que ele teve que sair de fininho alguns minutos antes da meia noite do último dia 31 do ano para se trancar em um banheiro, respirando forte e descontrolado.

Ele e seus pais ficariam mais três dias na casa do amigo do tempo de adolescência de Arthur – a casa era um esplendor em grandiosidade e conforto – e o cantor não podia se sentir mais desconfortável com tantos olhos sobre si. Os últimos quatro meses haviam transcorrido rápidos demais com toda a tristeza e cansaço que sentia, mas Rony sabia que era apenas uma fase do término do seu relacionamento com Hermione, então foi se avaliando para as outras reações. No primeiro show de janeiro, dia 3, ele já conseguia distinguir a raiva crescente e assim conseguiu compor algumas músicas de uma vez só.

Quando abril chegou ele estava na Áustria, um mar de gente clamando por seu nome em um palco extenso. Na semana anterior tinha se machucado durante um ensaio de dança improvisado em um campo aberto durante uma viagem de ônibus, já que a cidade seguinte seria a poucos quilômetros de distância e ele quis ir pela estrada para relembrar o começo. Ele queria gravar o momento porque estava perto do pôr do sol e o lugar era bonito e deserto demais para se deixar para trás sem se divertir pelo menos um pouco. A equipe de dançarinos aceitou parar e os dois ônibus ficaram no encostamento e Rony começara a desbravar o chão, pisando e chutando a terra seca.

Até o final da série de movimentos ele retornou ao ônibus com o tornozelo latejando de dor e ficou de molho o dia seguinte com muito gelo no pé.

Os gritos de empolgação o fizeram abrir os olhos e sorrir, gerando uma outra onda de alegria.

O suor cobria seu corpo e a blusa preta estava marcada em vários pontos pela transpiração, mas Rony conseguia sentir uma pequena faísca de contentamento desde o começo daquele show. Sabia a causa daquele sentimento. Não tinha em nada relacionado com a alegria de estar finalmente de volta a sua zona de conforto que era aquele palco e o amor de poder fazer o que gostava e receber a gratidão dos fãs, mas porque ia finalmente colocar em prática para o público as músicas que seriam lançadas no próximo álbum.

Fora difícil produzir, porém a necessidade de colocar um fim na sua história com Hermione era maior e ele a fez da melhor forma que sabia – transformando seu amor por ela, o rancor que estava sendo superado aos poucos, a saudade que ainda arranhava sua garganta, seu coração e mente que gritavam por ela a cada respiração falha, era na música. Havia um monte delas. Rony tinha se empenhado e entregado noites de muito choro, dor e desespero nelas.

Ele mancou até o fim do palco e recebeu o violão que um assistente o entregou. A bota ortopédica era pesada e tinha previsão de retirá-la até a semana seguinte.

- Agora – sua voz se ampliou por todo o lugar, a luz dos holofotes ficando gradativamente mais baixas e um se iluminar e focar sobre ele. – Eu queria conversar com vocês sobre uma coisa – o público bateu palmas concordando. Rony respirou fungo, trazendo o violão mais acima da coxa. – Aconteceu muita coisa na minha vida antes dos nove meses que faço essa turnê. Foram muito esclarecedoras e serviram de aprendizagem, apesar das coisas ruins que vivências desse tipo acarretam – um feixe de memória passou por seus olhos e a lembrança da risada de Hermione gritou em seus ouvidos e ele foi sentindo os olhos ardendo. – Mas eu não me arrependo delas... não poderia, nunca. Porque eu amei. Amei muito todos os momentos e hoje, aqui com vocês, eu percebo mais uma vez que escrever e cantar música é o meu dom. A próxima música que vou cantar pra vocês vai estar presente no meu próximo álbum e vocês foram os escolhidos para escutá-la primeiro. Espero que gostem dela como eu gostei de escrevê-la.

 

Com dezembro vem o brilho no seu rosto

E eu fico um pouco nervoso

Eu fico um pouco nervoso agora

 

Rony firmou a voz e segurando a respiração, combinou-a com o ritmo suave do violão e pensou na contagem regressiva até a banda começar a tocar do que no rosto de Hermione que teimava surgir em sua mente. Apesar da dor latejante no peito que estava auto se pondo, ele sentia aquele rastro de alegria, tão pequeno como uma pedrinha de areia perdido na vastidão de uma praia, tão superficial que ele vacilou sob os pés. Precisava fazer isso. Redirecionou sua saudade da morena para outro lugar e focou em cantar tudo o que sentia para o público.

 

Quando fica difícil

Eu fico um pouco forte agora

Eu fico um pouco mais corajoso agora

(...)

Eu fico um pouco mais sábio agora

Antes de dar meu coração

 

O baterista explodiu em seu instrumento e uma chuva de fogos de artifício rodopiou em linha reta atrás do palco, em branco e dourado vivo. Os gritos recomeçaram e Rony sorriu, se afastando do pedestal, abaixando a cabeça e tocando o violão com concentração. A luz voltou por todo o palco e fora os dois telões na lateral que passavam seus movimentos no momento, o telão maior, atrás de si, revelava ao público algumas gravações íntimas que fez de Hermione. Nada revelador; a foto de uma sombra na calçada onde ela estava ou da mão dela fazendo carinho em sua nuca em alguma noite perdida que passaram conversando e ouvindo música até dormirem exaustos. Eram pequenos momentos que ele tinha gostado de registrar e durante aqueles meses, foram eles que o mantiveram resistentes a ideia de escrever um álbum sobre Hermione e tudo o que ela trouxe a sua vida. A teimosia, o orgulho, a maturidade. Até a mania de querer ser a sabe tudo, ele não se importava.

 

Os playgrounds se enferrujam e seu

Coração bate mais de dez mil vezes antes

Que eu tivesse a chance de dizer

Eu sinto a sua falta

 

A noite se seguiu calma com a playlist escolhida – músicas mais lentas e sentimentalistas, notas suaves e acordes alongados. Rony ficou em alguns momentos avaliando a prática dos seus parceiros da banda por estarem fazendo tão bem o que ele pediu nos ensaios, cada detalhe igual. Seu coração estava acelerado em sua caixa torácica e ficou arrastando o pé machucado o tanto que pode até o palco menor ligado ao maior por uma passarela extensa, erguendo os braços e embalando o corpo com a plateia. Muitas pessoas o olhavam de baixo, milhares de cartazes e rostos pintados, suados, sorridentes. O ruivo quis muito ficar completo naquele momento mas sentia que um pedaço da sua alma, tão importante quanto acordar todos os dias, comer e conviver em sociedade, estava do outro lado daquele mundo, vivendo uma vida onde ele não fazia parte.

Ele sentou na beirada do palco, alguns metros da cerca de proteção onde alguns seguranças começaram a correr esbaforidos. O cantor quase que revirou os olhos, querendo perguntar se eles não estavam vendo a bota discreta em sua perna, achando-o idiota o bastante para dar um salto e quebrar de vez o tornozelo.

Após a penúltima música ele começava a deixar o corpo sugar o cansaço que era ficar muitas horas seguidas de pé, ainda mais machucado e com dor física e mental.

- Essa noite foi maravilhosa – ele murmurou com a boca próximo ao microfone. Algumas gotas de suor deslizaram por suas bochechas, fazendo cócegas, e ele as enxugou com a mão trêmula. – Essa música foi uma composição a parte que eu fiquei em muita dúvida em expor ou não. Mas eu decidi que sim. Quero acabar com a ligação de uma vez por todas. Ok, agora, liguem as lanternas dos seus celulares... abaixem a luz do palco, por favor! Vamos iluminar as estrelas essa noite.

Um som agudo e baixo soou e ele fechou os olhos. Soltando uma respiração exausta Rony ficou repassando em sua mente uma mesma frase, um mantra que vinha cortando seu coração a meses, algo que ele ainda carregava dentro de si forte o bastante para acabar com seu controle. Aquela noite seria ruim para se passar. Pensar em Hermione dali pra frente sempre seria doloroso porque quando se entrega seu amor a uma pessoa e ela simplesmente desmente qualquer sentimento, não sobra nada no lugar. Apenas uma casca vazia no peito que você tenta dia após dia preencher.

Eu te amo tanto, Hermione.

 

Nada acontece como o planejado

Tudo quebrará

As pessoas dizem adeus

(...)

Tudo em que você confia

E tudo o que você pode fingir

Vai deixar você de manhã

 

Ele bem que tentou mais não conseguiu impedir o rastro de uma lágrima deslizar por seu rosto e o público pareceu não perceber.

Ele ergueu a cabeça para o céu e desejou, intimamente, que tudo parasse de doer.

 

 

A semana seguinte finalmente chegou e Rony pode tirar a bota ortopédica da perna. A melhor parte era que estava mais à vontade sem aquela segunda pele pesada que dificultava no banho e dava coceira constantemente quando ficava em um lugar quente demais para transpirar. A lesão no tornozelo estava totalmente curada e o médico lhe parabenizou pela melhora – o homem grandão e de pele escura também ficou eufórico ao pedir uma foto com o astro, para as filhas ele disse. Rony gravou um vídeo pra elas também. O médico pareceu nas nuvens e murmurou algo como melhor presente na vida das garotas. O ruivo tinha que lembrar mais tarde de enviar a família alguns ingressos do próximo show.

O álbum havia sido lançado na manhã seguinte a apresentação na Áustria em todas as plataformas digitais. Ele já tinha escutado os pais falando sobre os convites de alguns apresentadores famosos chamando ele para divulgação e Rony respirou fundo, sentindo que aquela fase de atenção sobre si não iria parar tão cedo. De frente ao seu computador, em um dia quieto e raro onde a equipe e ele estavam descansando em um hotel da cidade, o cantor sentia uma vibração na barriga, uma sensação de ansiedade fazendo seus nervos agitarem estranhamente. O quarto do hotel era grande, com uma sala ligada a outra extremidade da cama alta de dorcel.

As cortinas estavam abertas, roçando no tapete vermelho que cobria o chão a cada sopro da brisa após alguns minutos de uma chuva fina.

Ali, tão distante de Londres, Rony conseguia formar mais planos voltados a si. Sua constante preocupação com a ex-namorada – Lexie – foi negada pela própria após a última ligação dela depois de algumas semanas e dele saber o próximo passo dela em sua jornada comunitária por países pobres e sem intervenção do governo ou nações. Já fazia muito tempo que ela estava fora dos tabloides com alguma fofoca sobre música, modelagem ou vida pessoal. É claro que a mídia ficou em cima dos dois nos meses seguintes que a notícia do fim do relacionamento deles quebrou os sonhos de casal perfeito dos fãs, mas Lexie tinha sido inteligente em se ocupar em outras coisas e saiu do país, deixando pra trás os estigmas, julgamentos e Jonh, logo após a sentença dele por mantê-la em cárcere privado, tortura psicológica e perseguição. Fora o fato de ter invadido a cada de Lexie o que custou a ele mais algum tempo em reclusão.

Rony sabia que Lexie ainda não estava bem e no fundo, durante uma ligação ou outra que ela conseguia fazer durantes as visitas as tribos humildes, que a vontade dela era falar com outra pessoa. Conseguia distinguir sua respiração trêmula, uma angústia sufocada. Mas ele não tinha o direito de falar nada. Se ela sentisse vontade de compartilhar para ele, um dia faria.

Apesar de querer sempre oferecer uma palavra a mais de conforto – você não teve culpa, Jonh que é um fã psicótico – as palavras sempre morriam assim que abria a boca. Ela ainda estava traumatizada, muito triste e começava a pescar sua autoestima do fundo de si, e ele não podia cogitar a hipótese de falar a verdade para ela. Sobre Hermione. Rony achava melhor assim, cada um em seu lugar. Já passava do tempo dele esquecer a morena e se concentrar na sua carreira.

Rony respirou fundo, fechando abaixando a tela do computador e encostando as costas na cadeira.

Apesar do revestimento acústico do quarto o interior estava silencioso demais para ajudar a abafar o som do lado de fora – a recente chuva havia espantado também a barulheira do trânsito – e ele escutou o batucar de passos no corredor. Não seria algo que chamasse sua atenção mas então a voz do seu pai atraiu seus ouvidos e ele gritou algo antes de uma porta bater. Arthur nunca gritava, não que Rony lembrasse de algum problema recente que necessitasse da intervenção inervada do patriarca. Então levantou-se e saiu do quarto, dando alguns passos até chegar ao dos pais.

-...teve CORAGEM! – Arthur gritou, erguendo a mão quase até o rosto em revolta. Rony parou com a mão na maçaneta a tempo de vê-los de costas, afastando-se até a perto da cama. Molly ia atrás depressa.

- Arthur, por favor, não grite! Rony pode escutar!

O cantor já ia fechando a porta porque claramente seus pais estavam resolvendo algo de casal, mas a sentença o parou. Seu pai voltou-se para a mulher irritado, a vermelhidão na nuca mais proeminente nas orelhas.

- Ele tem mesmo é que escutar! Molly, pelo amor de Deus! O que você fez?

A mulher colocou as mãos nos quadris e observando as costas da mãe, o garoto pode imaginá-la franzindo as sobrancelhas.

- Fiz o que toda mãe faria para proteger o filho! Não tem o direito de me jugar por causa disso!

- Não reverta a situação contra mim! – exasperou Arthur, batendo os punhos na escrivaninha. – Você está mentindo para ele a meses... estava mentindo até para mim! Como você pôde... pôde esconder isso do nosso filho.

Rony sentiu que nada de bom viria a seguir e sua mão se fechou mais ainda contra o metal.

- Não é mentira quando o assunto não tem mais relação com a gente. Acabou! Aquela garota não significa mais nada para a vida dele.

- A mãe daquela garota morreu! Ao contrário do que você fez, de tudo o que manipulou para separar Hermione de Rony, é uma vida! Uma pessoa que morreu cedo demais! Você não enxerga isso?

Algo explodiu dentro de Rony e conseguiu escutar os fragmentos de seus órgãos escorrendo por sua carcaça podre. Um rugido inconveniente o deixou tonto e apesar de seus olhos estarem arregalados de pavor e ódio, ele empurrou a porta até ela se chocar na parede e deu um passo a frente. Seu coração deu uma batida forte assim que piscou os olhos, encarando a fisionomia chocada de seus pais, parados do outro lado do cômodo.

- Rony...

Ele ergueu a mão e sua mãe se calou. Ele sentiu seus lábios se contorcerem de raiva.

- Mônica morreu – não era uma pergunta. Seu peito latejou e ergueu a cabeça, olhando fundo nos olhos dos pais. – Quando isso aconteceu? Por que eu não soube?

Porque ele deveria sim saber. Ele próprio tinha assinado alguns papéis para a internação de Mônica e alguns dos termos que pediu para serem inclusos era de receber os relatórios mensais de acompanhamento da mulher. Ainda tinha os registros de alguns meses no celular mas estava tão ocupado em enxergar apenas a própria e estúpida dor que não lembrava de verificar seu e-mail.

Ele girou a cabeça até Molly.

- Como você sabe sobre Hermione?

Sua voz estava superficial. O controle estava ali mas não conseguia registrar muito bem.

Molly Abriu várias vezes a boca e ficou em mais alerta com o olhar frio e impaciente que ele deve ter jogado a ela.  

- Nada disso importa mais – foi que ela respondeu, impassiva.

- IMPORTA SIM! Já chega de mentira, já chega dessa merda toda! Mãe, por favor... me diz.

Mas a mulher balançou a cabeça e caminhou de encontro ao filho, os olhos gentis outra vez.

- Você está apenas um pouco estressado.

Rony registrou tarde demais o avanço dela e quando sentiu as mãos dela em seus punhos, tirando suas mãos de onde massacrava os cabelos, a empurrou com força para trás.

- Me diga você então.

Arthur ficou olhando a mulher voltar a se recompor do choque.

- Pai – repetiu Rony, mas o homem nem sequer erguia os olhos para o filho. – Pai!

Mais um tempo.

- Apesar de tudo, Molly não fez por mal. Eu nunca concordei com os meios dela de ajudar você, filho, porque tudo sempre foi uma bagunça de gente demais...

- Arthur – anunciou Molly, mas o homem não a escutou.

- ...mas então você ficou perturbado demais, então voltamos para casa e Hermione aconteceu. No começo achamos que seria apenas por diversão então você mudou. Eu percebi. A sua mãe também.

Rony concordou com a cabeça. Ele sentia a mudança também, todos os momentos que ficava ao lado de Hermione, que a tinha em seus braços, que beijava os lábios úmidos, que sentia a risada dela contra seu pescoço, ele conseguia engolir o gosto da felicidade. Seu pai continuava a falar enquanto lutava pelo olhar com sua mãe e ela as vezes abria a boca para retrucar então ele achou melhor ficar focado de novo.

- Mônica morreu pouco mais de um mês depois do começo da turnê. Você não sabe disso porque tinha ficado distante do celular depois que Hermione terminou com você e então a sua mãe não achou o suficiente e se intrometeu de novo.

Então foi sua mãe. Tudo estava ligado a ela no fim.

Hermione não queria terminar o relacionamento porque não o amava mais e sim porque Molly fez alguma coisa.

Um novo tipo de raiva se apossou dele e o ruivo se virou para a mãe.

- Como você pôde?

- Eu faria de novo se fosse preciso – ela respondeu, a voz branda, calma demais. Calculado. – Você é importante demais para mim, foi por isso que eu fiz tudo isso. Não havia futuro com aquela garota. Eu sei disso, seu pai sabe e você também.

- Você não me deu a chance de saber por mim mesmo! Julgou Hermione com suas próprias convicções, manipulou ela assim como faz comigo e eu sou patético o suficiente por não ter já acabado com isso! – ele caminhou pelo quarto, incapaz de permanecer parado sem acabar batendo em algo e deixando sua mente trabalhar para ligar os pontos. – Desde o começo não foi Hermione que queria terminar comigo... foi você! Você e a sua vontade grotesca de me tratar como uma propriedade!

A ruiva inflou as bochechas de ira.

- Não fale assim comigo!

- Faz muito tempo que você não me devolve tal respeito!

- Eu só estava protegendo você, Rony!

Ele inclinou a cabeça, parando por um segundo e soltando uma risada de escárnio. Um nojo subiu por sua garganta.

- Me proteger? Me machucando? Magoando a garota que eu amo por nada? – ele cuspiu as palavras.

- Ah, o amor – Molly revirou os olhos. – Olha o que ele fez com você! Abra os olhos e entenda: ela não serve pra você!

- Tem razão, mamãe – ele respirou, cansado. Percebeu que sua mãe abriu um pequeno sorriso de vitória. – Eu vou abrir bem olhos a partir de agora. Mas para os tipos de amor igual o seu. Falso. Manipulador. Do tipo podre que só com poder pra conseguir o que quer, tudo camuflado em segundos interesses. Esse tipo de amor que você nem esconde mais sentir por mim. Pai?

Arthur já tinha desistido de tentar participar e havia desabado em uma poltrona, a cabeça entre as mãos. Ele ergueu a cabeça para o filho, os olhos baixos e escuros, o azul brilhoso agora inundado de dor.

- Se você me amasse teria impedido a mamãe de afastar Hermione de mim. Teria evitado muita merda.

Dito isso saiu do quarto.

***

O primeiro voo direto pra Londres saía ainda de madrugada, as duas e quarenta e cinco.

As revelações do dia não paravam de voltar e voltar a sua mente e o ruivo não registrou muito bem seus passos até chegar ao aeroporto. Se tinha chegado ali a pé ou com algum táxi também não lembrava. Já tinha sacado dinheiro do caixa eletrônico mais próximo, comprado uma passagem e roupas novas na loja do aeroporto. Uma blusa, suéter, jeans, um boné e óculos escuros. Estava apenas com o celular na mão quando embarcou. O melhor modo de chegar a Londres era assim já que seu próprio jatinho não estaria a disposição com a rapidez que queria e um outro embate com os pais estava fora de cogitação.

Ele não dormiu. Rony permaneceu acordado olhando pela janela da aeronave, observando o sol ir surgindo no horizonte e imaginando se estava fazendo o certo. Então a percepção da morte de Mônica o atingiu tarde demais e os sentimentos bloqueados pela raiva iniciaram seu caminho até sua mente e os olhos dele lacrimejaram.

Morta. A mãe de Hermione não tinha resistido aos tratamentos e a morena estava sozinha, sofrendo, enquanto ele estava recriminando-a por algo que foi imposta a fazer. Agarrou-se ao ódio até o avião pousar na cidade britânica.

Ele entrou em choque assim que pisou na calçada.

O sol da manhã chicoteou por seu rosto e ele abaixou mais o boné, abaixando a cabeça e se misturando na multidão de pessoas assim que cruzou o primeiro semáforo. Ele caminhou por um tempo, perdido, a cabeça latejando da briga do dia anterior. Seu celular tinha descarregado ainda dentro do avião e não precisava mais encerrar as chamadas dos pais ou responder as mensagens. Eles não eram burros pra não saberem onde teria ido. Não estava nem um pouco preocupado.

Rony não sabia o que fazer a seguir. Estático e respirando fundo, concentrando oxigênio em sua caixa toráxica tempo o suficiente para não sufocar de dor e culpa, o cantor se agarrou a lembranças de Hermione.

Primeiro ele planejou. Caminhou até uma loja de conveniência e pediu o carregador emprestado do garoto que ficava no caixa.

Quando o aparelho pegou carga o suficiente para algumas horas ele pagou uma garrafa de água, dois pacotes de biscoito e um suco. Seu estômago estava inquieto e com certeza pedia uma refeição mais completa e saldável, mas ele devorou os biscoito e engoliu o suco rapidamente porque sua visão estava turva e a tontura persistia em amolecer suas pernas. Agora ele precisava encontrar a sua vida. A parte da sua alma que reclamava.

Ele começou a sentir a insegurança então a sufocou até o fundo. Era iria implorar se necessário. Pediria desculpas a Hermione.

Excluir o número dela da lista de contatos não serviu de nada quando se tinha a sequência decorada na mente. Mas a ligação chamou pelas três tentativas e sempre caiam quando a mulher da operadora repetia que o número não existia mais. Então Hermione não queria falar com ele. Bom. Entendia a mágoa dela e não a culpava.

Ele discou o número de Luna e a loira não atendeu. Nem na segunda ou na terceira, ou quarta. Não estava tendo sorte.

***

Rony desacelerou a corrida quando viu a porta do prédio.

Ele apertou o interfone e um clique soou.

- Quem é? – disse a voz anasalada e ele resfolegou sem ar. A corrida do ponto de ônibus até ali foi turbulenta.

- Hermione?

- Quem? – a voz guinchou. – Não sei quem é essa garota. Apertou no apartamento certo?

- É o 201?

- Sim, mas não tem nenhuma Hermione aqui. Deve ser a antiga moradora.

Isso não era bom.

Droga, Hermione!

A pessoa não voltou a falar e o ruivo bateu o pé no chão irritado. Então a morena tinha saído do apartamento após a morte da mãe. Compreensível. Ele tirou o boné e apertou os cabelos da testa, olhando ao redor sem ter o que fazer.

A posição do sol estava mudando quando o celular em sua mão tocou.

- Finalmente! – ele gritou, jogando os punhos para o alto e atendendo. – Ah, Luna, Luna! Onde você estava?!

Um barulho de vômito soou do outro lado assim como uma buzina insistente de um carro.

- Onde você estava, seu idiota! Imbecil! Vocês garotos são um bando de filhos da pu...

- É, eu sei, eu sei! – Rony voltou a se esconder no boné e caminhou até um beco discreto, falando mais baixo. – Luna eu descobri. Agora eu sei por que Hermione terminou comigo.

- O mínimo, claro! Como você pode acreditar nela? Minha amiga está tão arrasada ainda e tem a morte da mãe dela... EI! – ela berrou em seu ouvido e o cantor xingou. – Você não serve nem pra mandar uma mensagem de pêsames de morte da Sra. Granger! Ela esperou sabia? Hermione esperou por semanas... ela está tão triste, tão quebrada que não responde mais minhas mensagens. Eu não sei nem onde ela está morando, se está comendo, como está sobrevivendo porque ela não me diz nada! Sabe como é horrível ver sua melhor amiga definhando?!

Ele podia criar todo um cenário em sua mente onde Hermione chorando, sozinha, era a personificação da solidão. Ele realmente era um grande filho da puta.

- Informação demais, Luna. Se você tiver a remota ideia de como eu possa encontrá-la, por favor, me diz.

A loira suspirou.

- Você não merece essa informação.

- Tá, agora já chega! Você está me crucificando sem razão! Eu não tive culpa!

- Você está certo. A culpa é da sua mãe. Aquela vaca!

Ele deveria ficar revoltado, mas não tinha tempo pra isso. Uma coisa de cada vez e a prioridade era encontrar a morena.

- Luna, pelo amor de Deus. Onde está a Hermione?

- Eu só sei onde ela trabalha – revelou a garota. – Mais ao sul da cidade tem uma lanchonete. TopSnack, fica ao lado de uma loja de brinquedos usados. Você vai vê-la assim que chegar, em um espaço pequeno. Só não a assuste mais. Acho que Hermione não vai aguentar ver você assim tão de repente.

Ele encerrou a ligação após agradecer.

***

O que eu estava pensando? Que ela ficaria trabalhando na minha casa e fingido que nada tinha acontecido? Que todos os momentos e lembranças boas que fizemos iriam sumir no tempo como nada? 

Não sei o que eu tinha na cabeça quando concordei em viajar durante um ano fazendo shows pelo mundo quando o centro do meu mundo estava ali, saindo de uma lanchonete com um semblante tão triste que doía até em mim - a caracterização de algo bem maior e mais profundo escondido numa face aparentemente neutra. Eu poderia afirmar confiante o bastante que aquele sorriso que preenchida seus lábios não era verdadeiro, apenas cordial e duramente fabricado na ocasião necessária. 

Observei, na segurança do meu carro, Hermione limpar as mãos no avental assim que colocara em cima da mesa do lado de fora da lanchonete uma porção de batatas fritas para um casal que não desgrudava as mãos. Vi também quando ela passou um tempo a encarar as mãos do casal, um tremor no queixo tão imperceptível quanto pude notar daquela distancia e logo em seguida entrar no estabelecimento apressada. 

Pela janela lateral pude vê-la estancar perto do balcão, segurando no mármore precariamente pra respirar fundo. Com certeza se esforçando para não chorar.

A noite já começava a chegar e foi quando o céu começou com seu espetáculo de azul, rosa e laranja foi que as pessoas que comiam do lado de fora foram embora, deixando a calçada repleta de mesas e cadeiras abandonadas com apenas a sombra de bons momentos para trás. 

A esperei paciente terminar seu turno e sair. Ela usava um casaco azul por cima do uniforme de garçonete e o cabelo estava preso a um elástico. Sai do carro e bate o mais silenciosamente a porta. Como ela caminhava de costa para mim, tive que dar alguns passos até conseguir sua atenção.

- Hermione? 


Notas Finais


Chegamos ao prólogo minha gente, aê!
Não foi fácil. Nesse capítulo o Rony descobriu o que a mãe dele armou ~glória~ agora é correr atrás do prejuízo.
Nossa Mione tá sofrendo, tadinha. O próximo vai ser bem deprê mesmo, quero abordar um lado do luto e solidão a parte então vou dá tudo de mim pra ser perfeito.

Mais pequenas amostras do que aconteceu com a Lexie, teorias? Vamos lá apoiadores e shippadores, o que acham? Será que Lexie e Zen é edgame? hahaha, tô ansiosa pra escrever o livro deles. Várias ideias, cês nem imaginam!

Comentem, quero saber o que acharam!
Malfeito feito!
Nox!

https://www.youtube.com/watch?v=OUHmqpkvqCE - In my Veins
https://www.youtube.com/watch?v=aHmp0UTy8AM&t=105s - A litter braver

PS: nunca assistir o dorama da segunda música porque na época que tentei, minha irmã me deu um spoiler assim, CRUCIAL, e desisti. Mas eu adoro essa música, acho que vou tentar de novo haha Beijo!


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