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História Steps of Oz - Dunas


Escrita por: zandollar

Notas do Autor


vocês podem sentir que as coisas estão acontecendo meio rápidas, mas é o fluxo natural da história, porque eu não planejo que seja ser longfic. espero que eu consiga seguir o tempo do enredo, e que vocês gostem mesmo assim.
boa leitura ♡

Capítulo 5 - Dunas


Fanfic / Fanfiction Steps of Oz - Dunas

Quando a gente bebe, o mundo ainda continua por aí. Mas por um momento ele não te segura mais pela garganta. – Charles Bukowski.

— Ai, ai!

— Pronto – solto a orelha dela, vendo o pontinho de luz que fiz passar pelo furo — Olha se ultrapassou todo.

— Se não entrou na orelha, pelo menos entrou na minha alma – resmunga. Bridget salta do colchão e checa o resultado no espelho, os resmungos analisando a vermelhidão a fazem montar um rabo de cavalo para evitar acidentes.

Empurro para o lado o filtro dos sonhos pendurado na borda florida do espelho, conseguindo uma visão melhor do meu reflexo acima na cômoda branca.

Amarro o laço dos fios em minhas costas e encaro meu corpo no espelho: o body vinho com brechas triangulares ao longo da minha barriga está por cima da meia-calça escura, e embaixo do meu short preto de cintura alta. Tudo combina com minhas ankle boots pretas. Depois de uma maquiagem escura nos olhos e gloss transparente, passo o perfume que ganhei de natal, o la vie soleil de cristal é tão caro que eu quase me sinto culpada por estar usando.

— Você vai levar bolsa?

— Não, eu sempre esqueço de trazer de volta.

Guardo dinheiro e carteira de habilitação na capinha do celular, e junto com o gloss enfio tudo em meu bolso. Quando estamos prontas, Bridget cumprimenta minha mãe no andar de baixo.

Amy está dentro de um longo vestido verde kentucky, usando vários acessórios dourados que se destacam nos saturação de seus cabelos loiros, um resmungo escapa enquanto ela procura algo em sua bolsa de ombro branca antes de levantar o olhar para nós.

— Oi, Bridget – sorri. Dura meia fração, o olhar estuda meu corpo e é contrário ao que minha amiga recebeu — Kourt, você só usa esses shorts? Já saiu várias vezes com ele.

— Acha que eu devo trocar?

— Deixa... você tem quadris pequenos, essa roupa aumenta um pouco.

Não me permito dar ouvidos à isso, decido ficar aliviada quando ela dispensa os comentários machistas sobre meu body perfurado. Ela para em meu decote V vazio, que por ser uma roupa de alcinhas deixa meu colo completamente nu além do meu colar de ouro branco.

E eu sei que ela vai dizer a mesma coisa de sempre.

— Cuidado para não perder.

— Vai sair de novo? – pergunto, ela assente, puxando o batom que procurava. — Para onde?

— Uma confraternização dos dançarinos da turma de noventa. Será no teatro de Ocean View, mas eu devo voltar antes do amanhecer.

— Falando nisso, Srta. Schulz, como estão as coisas para a inauguração do teatro?

— Se tudo der certo, será inaugurado no início do verão. Queremos lançar os dois primeiros espetáculos antes de Setembro, mas eu não acredito que seja possível.

— São quantas introduções?

— Só três. Eu queria bem antes do inverno, porque as chuvas são rigorosas e isso atrapalha a estimativa de turistas e público, mas não depende só de mim.

Eu aproveito que minha amiga está puxando assunto demais e vou até a cozinha beber água. Procuro chicletes abandonados no armário e encontro três.

— Vamos?

— Cuidado. Vocês já sabem das regras – Amy convive com Miranda o suficiente que Bridget não precise perguntar. 

Entramos em meu Altima, eu pego o panfleto no porta-luvas, decorando o endereço grifado embaixo dos símbolos de festa.

— Você vai se apresentar em alguma das introduções da inauguração?

— Até agora ninguém me recrutou – não posso me sentir chateada com isso, muito menos realizada. É só uma pequena questão de tempo até o meu nome estar na lista de uma das apresentações e eu precisar preencher meus dias com mais uma ocupação.

A casa de Candice Moore está cheia como a festa de uma cheerleader de verdade deve estar. Os carros buzinam uns contra os outros para conseguirem a melhor vaga na rua atrás de seu quintal e eu tomo a frente do mini engarrafamento, estacionando embaixo de uma árvore com acesso para o imenso gramado.

Bridget contorna o carro e nos enfiamos até a piscina.

Claro que há garotas de biquíni. Garotos que apenas olham garotas de biquíni coloridos que, sem querer ou não, combinam com os copos em suas mãos. A temática do hip-hop existe além de algumas calças cargos, óculos de lente coloridas transparente e conjuntos de juicy couture das mais diversas cores claras, a música da mesa de som do DJ em frente à piscina é uma introdução de Soulja Boy.

— Conheceu alguém? – pergunto, desviando de alguns peitorais nus e molhados. Mesmo estando no precipício dos meus dezenove anos, eu me sinto relativamente velha e abusada dentro público dois anos mais novo.

— Deve ter bebida na cozinha. – ela lê meus pensamentos. 

Alguns amigos de sua turma a cumprimentam com beijos no rosto, vejo um veterano ou dois do meu ano letivo e sorrio com um aceno. A ilha da cozinha está abarrotada de frutas em tijelas rodeadas por garrafas de bebidas pré-prontas e álcool. Eu pego limonada e vodca, misturando os dois em um copo azul.

— Vocês vieram! – me assusto quando vejo unhas verde limão em meu braço e uma cabeleira cobre.

— Feliz aniversário, Candice.

Ela sorri, cintilando muito alcoolismo e uma euforia elevada. Claro que está usando o uniforme de torcida, mas pertence à outra turma, uma que eu lembro ser de muitos anos atrás.

— Obrigada, meninas. Fiquem à vontade.

Quando a capitã nos deixa a sós, Bridget desfaz o sorriso cínico.

— Até meia-noite.

— Até – ela some.

Me sento na ilha, vendo que várias pessoas fazem isso ao longo da madeira branca. Minhas pernas balançam para lá e para cá enquanto bebo a bebida cítrica com a ardosa, esperando algum impulso para me mover além disso. A música está baixa, não me comove, as pessoas não me atraem e eu não sinto que há alguma burrada para fazer mesmo que esvazie a garrafa de vodca, sozinha.

A ideia de me sentir sozinha mesmo quando não estou, é irritante.

Claro que milhões de ideias passam pela minha cabeça, e por mais que eu tente descartar a ideia de que subir na mesa e dançar para todos é uma decisão ilustre, ou beber até sair carregada por um quaterback de dezesseis anos é uma ideia cativante, nada realmente estimula a adrenalina do meu corpo.

Festas são, em grande maioria, bobas.

Pular na piscina é interessante até eu compreender que sairia molhada e a diversão acabaria quando eu percebesse que estava limitada a um tanque de água azul com pessoas sujas que não dá para lugar nenhum. Um grande desperdício. Mas eu já sabia de tudo isso, sabia de cada passo impaciente no momento em que aceitei vir para cá.

Penso em outros planos e nas três horas restantes de pura insatisfação que poderiam ser mudadas com uma simples mensagem de texto. E é isso que eu faço.

Desbloqueio a tela, lendo as 20:17 esbanjando meu wallpaper como um maldito cronômetro para ideias ruins. Abro o iMessage e mordisco a borda do corpo enquanto digito.

Ei

Quer conhecer aquela praia agora?

Viro todo o líquido em minha boca logo depois de enviar, com esperanças de ver a resposta com a visão zonza o suficiente para ler um não e me importar pouco com isso.

Demora uns sete minutos.

Zayn: Sim

Que minimalista.

Posso encontrar você em meia hora. Onde é melhor?

Começo a sentir o gosto de plástico descartável e vejo que estou desmanchando a borda do copo com os dentes. Apoio o celular em minha coxa, colocando mais vodca na limonada. Jogo dois morangos no copo e misturo com o dedo mindinho, sem a menor paciência de melhorar o drink.

Zayn: Eu vou te buscar

Zayn: Manda o endereço.

— Ei – viro meio de costas, chamando alguém atrás de mim. O grupo inteiro de dez pessoas conversando no pé da geladeira me olha — Qual é mesmo o nome dessa rua?

— The Pines 5th ST – só um me responde, e eles voltam ao que conversavam. Reescrevo o que ouvi, mas escrevi bem demais. Um ato de coragem requer a droga do álcool e infelizmente o meu drink parece de menos da conta.

Zayn: Tô saindo

Amy descobriria meus planos se eu estivesse na casa de Bridget, como alguns dias atrás. Seu sentido aguçado se alarma para decisões ruins e ela só precisava atravessar a rua para não me encontrar lá e tentar refazer a minha vida enquanto eu tentava fugir dela. Mas estando em outra cidade, e sem saber onde exatamente eu estou ou onde quero ir... bom, eu já fiz muito mais por muito menos.

A mensagem de Zayn dizendo que está na rua me dá ânsias. Eu não vou dar para trás, mas sei que se não me esforçar, não vou dar para frente. Relaxa, Kourtney. É só um cara, não seria o seu primeiro.

Só o primeiro enigma, porque o fato de que eu não o conheço é sedutor demais.

Pego a garrafa do que estou bebendo e com ela embaixo do braço, procuro a moto dele estacionada no jardim. Não demoro na busca.

Zayn está sentado na Yamaha ainda ligada, a motocicleta grande e robótica parece um cachorro de grande porte sob o seu domínio. Como um pitbull desfilando no asfalto com seu dono tão intimidador quanto ele, mas seguindo seus comandos porque ele é superior enquanto tem o controle daquilo. Como dois melhores amigos que se desentendem de vez em quando, tanto a moto, como pitbull, eventualmente se voltam contra o próprio dono.

— Oi – digo. Estranho que ele não trouxe nenhum capacete, mas não indago ainda. Zayn não responde até acabar sua rápida análise nada sútil sobre mim.

— Festa chata? – o sorriso dele é leve, quase inexistente e segue o ritmo da brisa que corta meus lábios.

— Mais ou menos. Acho que tô ficando velha antes do tempo.

O olhar dele muda. A análise sobre meu corpo se intensifica e os olhos semicerram curiosidade durante o percurso.

— Nem nos seus sonhos – contempla. Eu ergo o cenho — Fez bem em me chamar. Sobe.

Subo no banco, e sem esperar que ele peça o óbvio, passo meus braços em sua cintura coberta pela jaqueta jeans com logos esquisitas e deixo a garrafa entre minhas pernas. Claro que o perfume forte gruda com sucesso nela, e meus olhos acabam piscando demais em decorrência do álcool puro.

Minha primeira visão é de uma rosa imensa desenhada em seus cabelos mais curtos, próximo à nuca.

Depois dela, vem asas das laterais, e diversas outras coisas que pareciam compor um gibi maluco e estranhamente interessante de se ler. Tudo isso é apenas na cabeça dele, eu não estou secando suas mãos ainda.

Acho que estou com calor.

— Suas tatuagens são bem legais.

— Essas da minha cabeça?

— Sim. A rosa é bem bonita.

— Valeu – faço um som fraco com a garganta — Eu sei ir até o centro da cidade, depois de lá você me guia?

— Ok.

Ele dá partida, saindo da rua em questão de segundos.

— O que mais você leu do meu formulário? – mantenho a conversa durante o percurso, porque o asfalto é liso e o motor da motocicleta não é um grande empecilho na conversa. Yamahas não deveriam ser tão silenciosas — Eu não disse o meu nome.

— Kourtney Knight.

— Estava completo na folha.

— Sério? Não lembro.

Mesmo que ele não possa ver, minha desconfiança é inevitável.

Passamos por várias avenidas lotadas, ainda não são nem nove horas, então além de guia-lo pelas ruas até a praia eu indico uma área longe de olhos curiosos, porque ainda existe o risco de uns conhecidos estarem treinando por lá.

A placa verde com informações sobre as dunas está inclinada para o lado, enterrada na areia fria.

Zayn estaciona na trilha de madeira da orla. A escuridão da praia é mais evidente e real, me deixa um pouco confiante. Querendo ou não, mesmo estando quase em Lewis, ainda é Lagoon Creek. Minha visão é conquistada pelo mar negro agitado e barulhento, e as dunas de areia em nosso lado, a quilômetros de distância.

— Quantos metros? – claro que ele está fascinado com elas da mesma forma que eu fico sempre que enxergo o topo, e de lá uma falsa alusão de proximidade com a lua é mais real do que parece.

— Uns vinte... – estipulo — mas pode ser mais.

Desço da moto, ele logo em seguida. Zayn passa por mim e quando ergue a mão, fico confusa por alguns segundos eu entender que ainda estou segurando a garrafa de vodca.

— Ok. Bem-vindo. – quando desvio meus olhos dos cordões em seu pescoço, percebo que estamos na metade do caminho — Espera.

— Vai me dizer que nunca subiu lá?

— Você quer fazer isso agora?

— Quero.

— Vou precisar dessa garrafa pra recarregar minhas energias.

— Quando eu disse que você me devia uma tour, eu estava falando sério.

Tem umas ruguinhas sérias na testa dele. A capacidade da mudança de feições é instantânea, poderiam ser naturais.

Todas elas são atraentes.

Pego a garrafa da mão dele e giro a tampa. Quem sabe ele possa entender a resposta como um sei lá.

— Há quanto tempo você dança? – voltamos a andar. Eu respondo quando o líquido desce, queimando e não contenho uma careta horrorosa. Vodca pura é ruim, eu não preciso fingir que sou durona sobre algo que ele deve saber.

— Há quinze anos.

— Você é daquelas que nasceu dançando? – arqueio o cenho — Não me diga que tem quinze anos.

Rolo os olhos como reposta, e como reação ao nome completo.

— Tenho vinte um – balanço a garrafa, rindo com sarcasmo. — Você?

— Dezesseis.

— Mm, que pena – bufo, sabendo que ele está deduzindo a minha idade e que acertou.

Chegamos na barreira que dá início a longa jornada duna acima. O monte de areia no topo me deixa completamente intimidada e não é diferente das vezes em que eu subo lá. Mas consigo arrancar um resquício de adrenalina alcoólica e flexiva.

Tiro minhas botas e deixo para trás, levando o mínimo de peso possível.

— Você tem fôlego, vem logo.

— Você é piloto, não deveria ter tanto – reclamo, afundando meus pés na areia, começando uma escalada difícil.

— Eu faço exercícios, só pra você saber.

Saber disso não me ajudou em nada. Nao positivamente. Continuamos no ritmo adequado para nenhum dos dois virarem piada. Toco a areia com a mão, vez ou outra me inclinando sobre meu peso.

Deixo meu corpo cair completamente na areia quando chegamos ao topo. A primeira coisa que eu vejo é o céu anil, a segunda, — é segunda mais bonita — é a lua crescente bem no meio dele.

— Você é uma vergonha.

— Não tem alpinista no termo dançarina, Zayn.

— Falando em dança – minha mão é puxada da minha barriga e eu sou erguida para ficar de pé antes que possa querer realmente fazer isso — Você faz isso todo dia?

Zayn senta onde eu estava. A paisagem atrás dele é a mesma que sempre me desconcerta: um imenso mar índigo, quase negro banhando a costa leste, acompanhando de quilômetros de areia com pequenos grupos de pessoas ao longo dela. Virando alguns centímetros para o lado, avisto a cidade inteira ao norte. As luzes acesas, diversos sons dos lugares mais opostos. Gritos de vitória dos meninos acertando manobras novas em uma trilha onde não passamos e outros dos surfistas noturnos que sonham com o mundial na Austrália.

É rejuvenescedor.

— Todo dia, cinco horas por dia.

— Caralho. Precisa de tudo isso?

Não.

— Sim, mas eu não passo cinco horas rodopiando como uma louca, não é bem assim. Eu faço três horas de dança moderna, porque ainda estou aprendendo.

— Aprendendo? – considero o tom de dúvida como um elogio.

— Meus quinze anos de dança foram dedicados ao balé, agora eu só treino ele por duas horas, no fim do dia, e só.

— Você é bailarina? – assinto. Cruzo minhas pernas uma na frente da outra enquanto desço para me sentar, formando a posição de índio. Fico a favor do vento, porque balança meus cabelos para o lado e não me impede de ver o rosto dele — Não parece.

— Você não é o primeiro a dizer isso – resmungo. 

— Isso é ruim?

— Talvez.

— Não foi uma ofensa. Mas bailarinas são sempre iguais.

— Então você conheceu muitas?

Os olhos de Zayn pairando nos meus são uma alusão ao dourado perfeito, quase áureo. Existe um abismo de diferença entre o meu castanho opaco e comum, e o dele, que às vezes transforma o âmbar clichê em verde ou chocolate. Parece que a atmosfera gelada muda para o calor interno em uma frenesi mal calculada e estúpida de adolescente ansioso. Mas ele não é um, e meu rosto cora violentamente quando ele demora demais sem pronunciar qualquer palavra sequer.

— Algumas – expõe. Eu não esperava que ele fosse beber, mas vira um gole intermediário depois da afirmação — Como eu disse, são meio iguais.

— Você parece traumatizado.

Zayn ri sem demons genuinidade em seu humor.

— Depois dessa vodca horrível eu tô um pouco.

— Então a próxima tour está na sua conta – meus pés balançam como reação à intensidade estudiosa lançada sobre mim — Vai me levar em um bar.

— Só tenho dezoito anos.

Me inclino sobre a areia, ficando de joelhos em sua frente e puxo a garrafa de volta.

— Então eu posso ser presa porque você está bebendo comigo?

A risada volta. Aquela estranheza particular que parece esconder algo que eu não devo perceber. Não vou conseguir guardar essa anotação mental por tanto tempo.

— Acho que é você quem está bebendo comigo – ele lambe os lábios. — Considerando que eu te trouxe aqui.

— Não. Você nunca chegaria aqui sem mim.

— Jura? – assinto. Zayn escolhe as pernas, cruzando os braços em volta delas e me encara com desafio faiscando em seus cílios grandes — Então não é lá embaixo que tem uma pista de motocross desativada?

Abro minha boca em um círculo quase perfeito. 

— Tá brincando comigo? – ergue os ombros, despreocupado — Você sabia!

— Verão de dois mil e nove. Lembra que eu disse que estive aqui uma vez? Eu assisti uma peça chamada Opala, alguma coisa assim. Não lembrei que você era atração principal até me dizer que é bailarina.

— E você lembrou que era eu?

— Eu nem esqueci.

A resposta remexe em meu estômago.

Não sei se consigo disfarçar o quanto fui pega de surpresa. Claro que nossos caminhos não se cruzaram, mas eu me sinto exposta ao saber disso. Aquela peça foi a minha primeira apresentação como dançarina pública — da cidade.

— Mas como você sabe da trilha?

— O verão foi extenso, eu estive em muitos lugares aqui.

— Fish & Fries?

— Aquele eu realmente não conhecia.

— Porque não me disse antes?

— De um jeito ou de outro nós não nos conhecemos, não faria diferença.

— Faria sim, eu saberia que você é um mentiroso.

— Eu não seria o único.

— Ah, não?

A cabeça dele está parcialmente próxima à minha. O cheiro de perfume caro deve superar o meu e navega em meu nariz, o mesmo pode tocar o dele em alguns centímetros, ou segundos, e não movo um músculo sequer para mudar isso. Nem para frente, e muito menos para trás.

— Porque você tem vinte e um anos.

— Assim como você tem dezesseis.

— Uhum. Mais pra vinte e sete, linda.

Vinte e sete anos me pegou de surpresa, mas não deixo isso evidente. Já cheguei até aqui, sou maior de idade e ele não parece, nem de longe, ter a idade que diz que tem. As horas passam e eu só percebo por causa da navegação da lua entre algumas nuvens vagas, isso me alerta para olhar o tempo exato no celular. Bufo baixinho quando leio 23:47. Mas grande parte de mim está aliviada, embora ainda tenha muito para conversar com ele, eu não quero esgotar a sensação boa em meu estômago no que seria apenas a primeira de algumas noites.

— Relaxa, Cinderela.

Apanho minhas botas no mesmo lugar onde as deixei e uso o banco da moto como apoio para calça-las.

— Em uma versão mais sofisticada... e com uma mãedrasta má.

— Ela é dançarina, não é? – aceno — Uma admiração pra você ou algo assim?

Céus, nem de longe. Amy está entre as últimas pessoas do planeta cujo a personalidade me inspiraria. Guardo o comentário pra mim, ele poderia achar insensível e desrespeitoso. Típico de quem não entende a relação.

— Eu danço tão bem quanto ela, já passamos da parte da inspiração.

— Não acredito em você – cruzo os braços. Zayn encosta o corpo quando eu tiro minha perna, se igualando ao meu tamanho em sua frente — Devia me deixar tirar a conclusão.

— Quer que eu dance pra você? – eu sei que a sobrancelha erguida é uma proposta. Louca demais para ser verdade, mas a verdade me encara séria demais mais para ser brincadeira. — Não vou dançar na sua frente, Zayn Malik.

— Por que não?

— Porque isso é muito... – existem mil palavras que servem de sinônimo para o absurdo, mas eu escolho a mais simples — Íntimo.

— Mm, e não chegamos lá ainda?

Balanço a cabeça em negação. Zayn dá de ombros, e antes que eu entenda que sua mão está puxando a minha e ele me leva para si, o braço esquerdo que eu designei com as melhores tatuagens está perfeitamente volta da minha cintura e meu peito cola no dele. Zayn afasta meu cabelo com as costas dos dedos e segura minha mandíbula, fitando minha boca entreaberta. Molho os lábios e avanço um centímetro, fechando meus olhos logo antes de grudar nossos lábios.

O beijo é calmo e lento, mas o fervor do álcool intensifica a necessidade de aprofundar e meu corpo inteiro esquenta porque o lábio dele parece ser naturalmente assim. Sua mão desce para o meu pescoço e eu pouso as minhas na nuca dele. Meu lábio inferior é mordiscado suavemente antes de interrompermos o beijo por falta de ar.

Me encontro mais ofegante do que esperava. Abro meus olhos, e os dele estão caídos em meus lábios agora sem gloss, impedindo o contato visual. Dou um sorriso fino e involuntário, mas Zayn continua sério. Pensante.

Porra, ele está concentrado em mim.

— Íntimo o bastante – murmura. Me contenho em não fechar os olhos como reação à rouquidão do sotaque forte dele.

— Meia-noite... – lembro, contragosto.

Os dois goles que ele deu foram mais do que suficientes para se meter em encrenca.

— Me dá isso, eu não vou acabar levando você para casa – puxo o vidro de volta, conseguindo um rodar de olhos.

Sem os meus comandos, o caminho de volta é seguido com maestria e praticidade. Zayn estaciona na mesma rua onde me buscou, e a festa parece ter duplicado o volume do som e o número de pessoas ainda no ápice da noite.

Ligo para Bridget, fico menos infeliz quando Zayn espera comigo até que ela confirme que está vindo me encontrar aqui fora.

— Quando precisar ser socorrida de novo, já sabe.

— Que eu saiba a próxima tá na sua conta.

— Um bar? – lembra, os olhos estreitos me fazem sorrir — Eu não conheço bares em Lagoon Creek.

— Não acredito em você. Sua credibilidade com os lugares está baixa. Boa noite, Zayn – identifico minha amiga se despedindo de amigos no gramado, meio cambaleante enquanto me procura.

— Eu duvido – liga o motor, posicionando as mãos nas manoplas — Boa noite, Jade.



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