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História Stigma (em revisão) - Amigos de verdade te esfaqueiam pela frente


Escrita por: h0pesea

Notas do Autor


CIAO

hey, cristais, tudo certo com vossas senhorias? espero que sim sz
enfim, essa att demorou? não sei [é sério, não chequei quando eu postei o último cap], mas não foi por querer, eu só estive muito cansada essas semanas, porque eu comecei a minha faculdade e a minha vida tá sendo sugada [se eu já to falando isso nas primeiras semanas, não quero nem ver pra frente]

mas enfim, aqui está!!
tenham uma boa leitura e como eu sempre encho o saco pra vocês ouvirem alguma música, podem colocar strawberries and cigarettes - troye sivan ou eyelids - pvris [ou os dois]

vejo vocês nas notas finas sz

[ah sim, eu to na correria agora, mas saibam que eu vou responder os reviews anteriores logo logo, porque vocês aquecem tanto meu coração com eles... sabe, é bom saber que vocês leem e acompanham, então obrigada, de verdade sz]

Capítulo 34 - Amigos de verdade te esfaqueiam pela frente


Fanfic / Fanfiction Stigma (em revisão) - Amigos de verdade te esfaqueiam pela frente

POV Hyejin

Horror.

Era a definição mais próxima do que eu sentia: horror. Tamanho que, em algum ponto da narrativa de JungKook, eu não era mais capaz de distinguir se tudo ainda era real ou se eu havia caído de paraquedas em algum filme de terror psicológico. Ali, olhando para as costas dele, eu não tinha ideia do que fazer, eu não sabia! Não sabia o que falar, o que-eu não sabia! A história rodava na minha cabeça como um carrossel de horrores em alta velocidade e, a cada detalhe que eu conseguia me ater brevemente, era mais uma bifurcação do horror para torná-lo maior e pavorosamente mais amplo.

Eu estava horrorizada.

No meu íntimo, eu sabia que a culpa não era de JungKook. A culpa não era dele, qualquer um que tivesse o desprazer de ouvir o que eu tinha acabado de ouvir chegaria a essa conclusão óbvia! E eu acreditava que, em algum lugar, em algum canto da sua mente, ele também sabia que não tinha culpa... Mas ainda assim, continuava repetindo para si mesmo as palavras que lhe induziram a acreditar serem as corretas: a culpa é minha.

Mas eu simplesmente não conseguia abraçar seu corpo que, vez ou outra, conseguia ver tremular e dizê-lo essas palavras, eu... Não conseguia.

Porque ele acabou criando uma guerra dentro de mim. Saiu derrubando e pisoteando qualquer expectativa que eu podia ter sobre os segredos que ele guardava de mim e me deixou a deriva, boiando nos fragmentos que restaram. Ia muito além do que eu esperava! E exigia muito além que qualquer resposta pronta que eu pudesse oferecer, além do que simples sins ou nãos.

Uma parte de mim implorava para que eu o consolasse. Ainda que eu não falasse nada: apenas o abraçasse, sufocasse aquele desespero que explodiu em suas palavras e gestos com o meu carinho, até que toda aquela tarde não passasse de um sonho ruim que nós compartilhamos após termos adormecidos, abraçados, na maca onde JungKook me encontrou.

O problema era que também tinha o outro lado, que estava tão influenciado pelo medo que parecia não ligar pro fato de estar sendo insensível ao gritar que eu expulsasse Jeon e a ameaça iminente de morte que o acompanhava do meu quarto de hospital — no qual, inclusive, eu estava por conta dele.

Era uma maldita guerra entre razão e emoção que estava fazendo aquele momento torturante se arrastar no tempo. Eu sabia o que sentia por JungKook, eu gostava dele! Gostava de verdade e, aparentemente, mais do que devia ou seria seguro. Eu tinha me apaixonado mesmo com todos os segredos que o acompanhavam, porque, na minha cabeça, eles não importavam! Não quando, mesmo com eles, Jeon ainda conseguia mexer comigo. E pensei que quando ele conseguisse se abrisse comigo, as coisas finalmente se ajeitariam. Sem mais segredos, sem mais empecilhos!

Mas a única coisa que o cair das cortinas me proporcionou foi o diabo na minha cabeça sibilando o quanto eu seria suicida se aceitasse aquela situação. Você quase morreu por causa dele; quem sabe se na próxima ele vai fazer você vai estar deitada numa maca ou na sua cova. Não que eu acreditasse nessas palavras! Que droga, por acaso era JungKook que saía com a porra de uma faca na mão esfaqueando alguém dia sim, dia não? Não! Mas era impossível ignorar o perigo constante que ficar ao lado dele traria. Eu não fazia parte do acordo, eu não era nada! No máximo, o amolador da faca de estimação do Coelho!

Você ainda quer que eu me dê algum crédito?

A pergunta me atravessava com a violência de uma bala. Tão cruel quanto toda aquela situação, claro que eu queria que ele se desse algum crédito! Pelo simples fato de não ter enlouquecido, eu me sentia à beira da loucura só por ter ouvido tudo aquilo!

Mas... Mas eu não podia só concordar e fingir que não era nada, fingir que tudo continuava igual. Porque não continuava. A questão tinha ultrapassado qualquer que fosse o tipo de relacionamento que nós estávamos tendo: agora eu tinha consciência de que era a minha vida estava em jogo; a vida de Yoongi, Namjoon e Taehyung estavam em jogo; a sanidade de Jeon estava em jogo! E... Deus, aquilo tudo era tão errado!

E eu não tinha sido preparada para isso!

— JungKook. — o nome deixou minha boca sem aviso. Até mesmo para mim.

O que não fez a mínima diferença, já que Jeon não teve nenhuma reação. Nem mesmo tremeu.

— JungKook, por favor, olha pra mim.

Nada.

E sinceramente, minha inquietação já estava no limite pra ter que aguentar aquele silêncio!

Apoiei-me no chão com o braço bom e arrastei-me até ele da forma mais ágil que pude. Jeon permanecia parado no mesmo lugar, como se estivesse preso num transe de corpo e mente. Do qual só saiu quando parei a frente dele, bufando cansada por ter forçado meu corpo — mais uma vez. Mas eu não me importava de fazer isso por ele. Porque eu tinha certeza de que JungKook estava sofrendo muito mais do que eu.

Um tanto incerto, ele ergueu a cabeça, mas seus olhos não acompanharam o movimento, permaneceram travados em algum ponto longe de mim. Porém, eu podia ver pelo brilho molhado em suas bochechas que ele estava deixando as lágrimas rolarem... O que apertou tanto meu coração — mais do que ele já estava — que não controlei o ímpeto de segurar seu rosto já pálido entre minhas mãos e forçá-lo a me encarar.

Ele fechou os olhos. Não de forma violenta, pelo contrário: fechou-os tão levemente quanto uma pluma atinge o chão, e permitiu que mais rios de lágrimas descessem.

Eu nunca poderia imaginar como doeria ver aquela cena. Doía imaginar pelo que ele estava passando, pelo que passava há tanto tempo. Doía vê-lo desarmado daquele jeito, doía.

Sentindo as minhas próprias lágrimas queimarem nas órbitas, aproximei-me dele o suficiente para, delicadamente, beijar suas pálpebras molhadas. Uma... E depois a outra. Molhei meus lábios com o sal de suas lágrimas e recostei a testa na dele. Respirei fundo, com a própria respiração quente de JungKook misturando-se a minha enquanto eu tentava pensar no que dizer.

Mas não tinha como pensar no que dizer. Não tinha como pensar.

— Eu quero que você se dê crédito.

Era a única coisa compreensível que estava na minha cabeça. E por um instante, ele pareceu até mesmo parar de respirar com a minha frase. Aliás, pareceu prender o ar por muito mais tempo — ou era só eu desacelerando no tempo de tanta confusão — antes de rir nasalado, carregando na ironia, antes de se afastar. Agora, de olhos abertos e olhando nos meus, eu podia quase ver a textura de algo quebrado em suas íris.

— Isso tudo é pena?

A saliva desceu arranhando.

— Não é-

— Hyejin, sinceramente — a interrupção dele era tão ácida quanto a risada — seja o que for que você esteja pensando pra tentar me agradar, não perca seu tempo. Você acha que eu te contei isso tudo esperando o que, algum prêmio de consolação?

— Não é pena. — retomei como se ele não tivesse dito nada. — Você me perguntou o que eu achava, eu estou te respondendo: eu acho que você-

— Não, Hyejin, para, para!

A forma como JungKook ergueu-se foi a semelhança de um bêbado. Parecia sem rumo, as pernas embolaram-se quase levando-o ao chão antes que desse um arranque e se afastasse de mim aos tropeços. Ele nem mesmo se deu ao trabalho de se ajeitar, só voltei a me olhar, sustentando o mesmo olhar que um cão raivoso por já estar demasiadamente ferido possuiria.

— Você acha que eu consigo acreditar nisso? Que eu sou idiota de me deixar acreditar nisso depois de tudo o que eu fiz? De tudo o que eu vi?

— Tudo o que você viu não foi culpa sua-

— Foi culpa minha! — ele frisou arregalando os olhos. — Hyejin, eu nunca fiz nada pra ajudar ninguém, nunca fiz nada pela minha mãe, nunca fiz nada! Eu só me encolhi igual a porra de um cachorrinho encoleirado, eu fui cúmplice! Cúmplice! Como você pode dizer que não é culpa minha!?

— Por que você está sendo coagido a fazer isso? Por que você se preocupa com as pessoas que você ama? Por que você está com medo? Por que você é humano!?

— E por isso eu posso assistir pessoas morrerem como se fosse algo normal!? É o que você acha!?

— JungKook-

— Eu sou a droga do capitão da Polícia Civil de Busan, Hyejin! Você tem noção disso!? — ele continuou, como se qualquer voz a não ser a dele fosse inexistente. — O mínimo que eu devia fazer era manter as pessoas seguras! Era fazer justiça, fazer jus a memória do meu pai! Mas o que eu faço!? Eu fico do lado de um psicopata! Eu devia ajudar as pessoas, mas a única coisa que eu faço é ajudar elas a se ferirem!

Ele estava desolado. Não era achismo. Estava na forma como ele gesticulava; como ele falava; como ele estava existindo: JungKook estava desolado. E eu me desolava junto a ele.

— Isso não é verdade...

— Não? Hyejin, como não é verdade!? Você viu o que aconteceu com o Jimin! Viu o que aconteceu com aquela garota na boate, com outras pessoas, o que aconteceu com você! Como você pode dizer que-

— O Yoongi continua vivo por sua causa também! — pela primeira vez, minha voz se sobressaiu a dele. — O Namjoon continua vivo por sua causa! O Taehyung continua vivo por sua causa! Por que você não consegue olhar por esse lado também?

Por um momento, ele parecia sem ter o que falar. Prendeu o ar e, com a respiração saindo trêmula pelas narinas, o tremor reverberando por seu corpo, ficou me fitando.

— Eu não sei mais se isso é suficiente.

— Nem que fosse só uma vida, JungKook, já é importante. Você está salvando três, ainda acha que não é suficiente?

Ele balançou a cabeça numa negação incerta. Não como se tivesse dúvidas em relação ao que acreditava, mas como se tivesse dúvidas se estava ouvindo certo.

— Eu acho que nós estamos fazendo a comparação errada aqui...

— Talvez, mas a situação não é exatamente normal pra nós termos algum parâmetro. — dei de ombros. — Você sabe, já era pra você ter enlouquecido. Acha que qualquer outra pessoa ainda teria alguma vontade de continuar depois de tudo isso? Tudo o que você passou? Acho que qualquer outra pessoa continuaria vivo que nem você?

— E de que adianta eu estar vivo? Se a única coisa que eu sei causar é desastre?

Aquelas pequenas perguntas me atingiram num baque, maior do que eu esperava. Com os olhos subitamente marejados numa mistura de pena, raiva e medo, um nó se formou na minha garganta e me vi incapaz de dizer quaisquer palavras. E em algum lugar em mim, eu infelizmente sabia que quaisquer palavras seriam inúteis, jogadas ao vento quando Jeon já estava corrompido com tanto sofrimento, que já tinha cravado suas raízes na mente e no coração dele.

Mas amá-lo e suportar aquele pensamento eram coisas impossíveis de coexistirem.

Num ímpeto, tentei colocar todo meu peso no meu único braço bom e no joelho da perna não quebrada, a fim de me erguer. Antes tivesse adiantado de alguma coisa: senti algumas fisgadas em minha nuca, onde tinha sido golpeada, além da pele queimada, na perna onde eu parcialmente me apoiava, repuxando dolorosamente.

Definitivamente, sair da cama e me acomodar no chão tinha sido muito mais fácil do que sair do chão e retornar para a cama.

Entreguei os pontos e voltei a cair com um gemido de dor. Alguns pontinhos pretos salpicavam minha visão, mas ainda vi a hora em que JungKook despiu-se da pose que sustentava, a alguns passos de mim, e praticamente voou em minha direção até estar ajoelhado a minha frente. Plantou as mãos em meus ombros e, com a voz preocupada, me perguntava se eu estava bem.

Não me dei ao trabalho de responder. Tudo o que fiz foi passar o braço bom por seu pescoço e acomodar minha cabeça ali, onde minha respiração soprava quando pedi, como uma criança que pede colo, para que ele me levasse de volta para a cama. Eu nunca conseguiria conversar normalmente com Jeon se estivesse incapacitada no chão.

Eu nem mesmo precisei repetir antes de sentir os dedos dele percorrerem agilmente meu corpo. Ao encontrarem um ponto de apoio seguro e que não fosse me ferir, firmaram-se e me ergueram do azulejo branco e imperceptivelmente frio onde eu estivera. Esse, em poucos segundos, foi substituído pela quentura e maciez do colchão da maca.

Quando me deixou segura, ele lentamente voltou a ajoelhar-se a minha frente, entre minhas pernas. Meu fraco abraço não o deixou: permaneci envolvendo-o gentilmente pela nuca, os dedos embrenhados nos cabelos castanhos de JungKook num carinho lento e, eu esperava, tranquilizante.

Em nenhum momento ele desviou o olhar do meu. Era quase como se houvesse alguma espécie de fio invisível ligando nossas íris, que prescrutavam uma a outra, cada uma desejando passar uma mensagem distinta. Por vezes, eu me perdia na infinitude do céu noturno dos olhos dele, salpicado de estrelas envoltas em verdades e segredos, antes de voltar ao momento e tentar acalmá-lo. Isso até que inclinei-me devagar em direção a ele e grudei meus lábios a sua testa, num beijo intencionalmente longo antes de enunciar, agora sem o nó na garganta:

— Você é mais do que isso, entendeu? Você tem sido forte, você é forte... Isso tudo na sua cabeça, isso tudo é mentira. E eu não suporto a ideia de que você esteja se sentindo derrotado por causa de mentiras...

A resposta não veio. Ao menos, não imediatamente. Com os lábios recostados sobre a pele de JungKook, eu sentia o corpo dele balançar junto a dança de sua respiração irregular, as mãos em minha cintura. Eu nunca poderia falar que o momento era de silêncio, não com os ruídos que meu coração e mente barulhentos faziam. Era um momento de espera. A qual Jeon encurtou as sussurrar a seguinte pergunta:

— Você ainda continuaria comigo? — jogou a cabeça para trás a fim de voltar a fitar meus olhos. — Mesmo depois de tudo o que eu contei, você continuaria? Você ainda acha que eu valho a pena?

E mais uma vez, ali estava eu: desarmada com uma pergunta dele.

Minha boca abriu-se, como se eu fosse dizer algo. Mas não consegui. Travei, por tempo suficiente para que ainda mais tristeza se abatesse no semblante dele.

— JungKook...

— Você não acha, não é? Claro que você não acha... — murmurou erguendo-se e, com passos sóbrios dessa vez, voltou a se afastar de mim.

— JungKook, eu só preciso de um tempo pra pensar! Só isso!

— Eu não sei o que eu estava esperando-

— Por favor, me escuta! — eu praticamente suplicava para as costas dele. — Você não pode simplesmente jogar tudo isso em mim e esperar que eu tenha alguma resposta pra te dar, eu só-eu preciso de um tempo! Você não pode exigir uma solução de mim-

— Eu não estou te exigindo solução nenhuma! — ele voltou-se para mim, com tanta dor no olhar que foi quase como um soco no meu estômago. — A única coisa que eu perguntei foi se você acha que ainda vale a pena continuar ao meu lado, mas — riu amargo — já deu pra ver que a resposta é não.

— Você tá distorcendo as coisas, tudo o que eu to te pedindo são uns dias pra colocar os pensamentos em ordem, só isso-

— Pra que? Pra você perceber como é suicídio vir comigo? Como eu sou um monstro que nunca vai merecer o seu amor? Você quer que eu te dê um tempo pra isso? Muito obrigado, mas não.

Eu não estava preparada. Em questão de segundos, JungKook cobriu a distância que havia aberto entre nós com fúria. A mesma presente no momento em que nossas bocas se uniram e, mais rápido do que eu gostaria de admitir, entreguei-me ao beijo dele.

A urgência que nos guiava nublava qualquer coisa que não fosse a sensação dos lábios de Jeon sobre os meus; uma sensação que nunca era a mesma, mas sempre conseguia me prender nas nuances do sentimento que ele havia feito florescer em meu peito, inflamadas pela presença do maior. As mãos dele, os dedos longos e que reduziam meu controle a pó pelo simples contato com minha pele, rodeavam meu rosto, mantinha-o próximo enquanto, pelo menos naquele momento, JungKook reclamava meus lábios sedentos por ele para si sem medo. E eu podia quase sentir meu peito prestes a explodir. Eu não sabia como estava conseguindo: há pouco, parecia que estava prestes a enlouquecer de preocupação com Jeon, e agora o carinho dele parecia tanto amortecer essas emoções ruins, quanto intensificar tudo dentro de mim e me fazer ter a certeza de que eu já pertencia a ele, apesar de tudo.

Eu já pertencia a ele.

Mas, alheio a isso, JungKook quebrou o beijo.

Recostou sua testa a minha e, respirando pesadamente pelos lábios entreabertos, acariciou minhas bochechas com os polegares. Minha respiração estava tão descompassada quanto a dele, mas não tanto quanto meus pensamentos. As coisas que eu queria dizer embolavam-se, perdiam-se.

O que não realmente importou, já que ele se antecipou e soprou contra minha boca:

— Eu prefiro ir embora antes que você possa ter tempo de sentir nojo de mim.

E então, o vazio passou a me abraçar. Subitamente, não havia mais o toque de JungKook, ou sua presença. Eu, que sem nem perceber tinha fechado os olhos, abri-os para encontrar as costas do maior, que andava a passos apressados até a saída.

— JungKook!

Ele não se virou.

— JungKook! Yah, volta! JungKook!

Ele não voltou. Deixou-me chamando o nada. Porque ele não estava mais no quarto; saiu pela porta sem nem mesmo olhar para trás. Sem nem mesmo olhar para mim... Que voltei a cair na cama, sendo acometida por lágrimas e tremores, por uma febre que a presença e a ausência de JungKook causavam. Pelo medo de não saber o que aconteceria dali para a frente.

Pelo medo de perdê-lo.

::::::

POV JungKook
 

Emergi no corredor do hospital realmente como se acabasse de emergir do oceano congelante, onde eu estivera me afogando. Eu me sentia realmente cansado. Realmente sufocado.

Assim que estava a passos suficientes longe da porta do quarto de Hyejin e a meio caminho da sala de espera, recostei-me a parede do corredor, tentando colocar ar em meus pulmões. Meus olhos fecharam-se involuntariamente e a escuridão, úmida pelas lágrimas que eu me esforçava para conter, veio me fazer companhia.

Por que tudo tinha que ser tão difícil?

Por que tinha que ser tão injusto?

Só eu sabia como eu precisava de Hyejin. Como eu era apaixonado por ela. E só eu sabia como eu me sentia ser retalhado por ter dado as costas para ela. Mesmo que fosse o melhor a ser feito, machucava. Era apenas mais uma ferida sendo adicionada a coleção que eu carregava, mas essa parecia sangrar mais do que a maioria. Escorria dos pontos mal cicatrizados que as idas e voltas entre nós já tinham causado. E eu sabia, nunca cicatrizaria de fato, assim como alguns outros ferimentos que eu guardava. Eu sabia que permaneceria sangrando. Porque o amor que eu tinha por Hyejin era uma hemorragia constante. Da qual eu nunca me livraria.

::::::

Namjoon observava o teto, os braços cruzados e aparentemente entediado. O perfeito oposto de Taehyung e Matthew, que conversavam como se fossem velhos amigos. Os três sentados nas cadeiras azuis da sala de espera do hospital.

Assim que me viram, ergueram-se no mesmo instante. Não sabia se por finalmente verem a oportunidade de irem embora dali ou motivados por algo em meu semblante. O que não fazia muita diferença para mim.

— Eu ainda vou ver como o Yoongi está, vocês podem ir se quiserem.

— Quer companhia? — Namjoon perguntou, um passo incerto em minha direção.

— Não, não precisa... Você já viu ele, não é? — recebi um aceno de cabeça. — Então, pode ir sem mim, eu pego um táxi depois.

— Tá tudo bem, chefinho?

Voltei-me para Taehyung, que tinha traços de preocupação nos olhos. Fiz o melhor para abrir o sorriso mais amigável que eu tinha... Apesar do que, por mais inocente que Tae fosse, ele nunca se deixava enganar quando o assunto era eu.

Coloquei-me no caminho do balcão da recepção, a fim de perguntar onde era o quarto de Yoongi. O pequeno grupo de hyungs ficou para trás, de onde podia ouvir algumas frases soltas enquanto a recepcionista procurava a informação que eu desejava.

Vocês me deixam no IML?

Foi a última coisa que ouvi, vinda de Namjoon hyung. Depois, foram apenas os passos.

— Quarto 33, sr Jeon. — a voz da garota, de semblante calmo e fios rebeldes escapando do coque, respondeu. Tinha algumas olheiras visíveis. Parecia cansada.

Mas todos nós estávamos... Todos nós estávamos.

— Obrigado.

::::::

As luzes de Seoul corriam pelo canto dos olhos. Envolviam-me numa esteira multicolorida, veloz e vívida. Mas sem nunca adentrar a bolha em que eu me encontrava. Uma bolha empurrada pelos meus passos lentos. Uma bolha sem cor. Uma bolha onde havia apenas eu e a falha tentativa de encontrar o mínimo de paz.

Eu percorria a ponte Mapo. Sem emoção, observava os montantes de água do Rio Han que passavam a alguns metros abaixo de mim. Deixava que tudo se perdesse conforme lembrava-me da conversa que havia tido com Yoongi, quase meia hora atrás.

::::::

— Então... Você contou tudo pra ela?

— Contei.

Minha voz estava baixa quando admiti. E me recusava a encarar Yoongi: estava focado em suas pernas cobertas pelo lençol azulado da maca de hospital. Tentava me concentrar nos desníveis causados pelos joelhos e vales, mas a minha ansiedade pela reação do hyung era tanta que, uma hora, me permiti olhá-lo diretamente.

— Ficou irritado?

Ele suspirou. Remexeu-se na cama, a fim de se acomodar melhor e ficou parado por um tempo, observando algum ponto a sua frente.

— Não, não fiquei. — soltou com outro suspiro. — Aliás, acho que eu já esperava por isso.

— Ah, sim...

Silêncio. Eu não sabia se aquilo era bom ou ruim, não sabia bem como interpretar Yoongi. Na verdade, interpretá-lo era sempre um desafio. O que dificultava um pouco a minha vida, visto que eu respeitava e considerava muito meus hyungs, não só por ser quase como espécie de guardião deles: por realmente considerá-los minha família.

Então foi... Aliviador quando Yoongi, de súbito, estalou a língua e se voltou para mim.

— Olha, eu... Eu só quero que você saiba... Que eu quero que você seja feliz. — tombou a cabeça. — Ou, pelo menos, da forma que der.

— Não tem medo que isso acabe matando você?

— Nah, não. Você não tem juízo, mas eu confio em você. — e abriu um sorriso para mim e pousou a mão no meu ombro, num gesto fraterno. — Mas se eu morrer, eu juro que volto pra te buscar.

::::::

O que está incomodando você?

A frase brilhava a minha frente. Parado com as mãos entrelaçadas nas costas, eu encarava as letras negras como se elas pudessem compreender todo meu tormento e me oferecer algum ponto final.

Não aconteceu.

— Que idiotice...

Ergui o olhar para o horizonte. O Sol da tarde iluminava o céu azul, tão límpido quanto eu desejava que meus caminhos fossem. Por vezes, alguns pássaros cortavam os ares, voavam livres e despreocupados. Retinham minha atenção de tal forma que eu me via acompanhando seus movimentos, até que os perdesse de vista e percebesse que eu ainda me encontrava no chão, preso ao meu corpo pesado... E não traçando rotas livremente pelos céus.

Suspirei e voltei a caminhar, deixando a pergunta gravada nas barras da ponte para trás.

O que está incomodando você?

Tantas coisas... Coisas demais para listar.

Contar toda a história para Hyejin, de certa forma, havia me transportado de volta para dois anos atrás. Minhas palavras tinham agido quase como uma máquina do tempo e me aprisionaram em eventos que eu daria de tudo para esquecer. E, como se não bastasse, a angústia do passado fundia-se a angústia do presente. A tortura daquela noite em Busan misturava-se a tortura de incontáveis outras noites. A mágoa do passado por ter perdido quem eu amava confundia-se com a tristeza do presente de não poder ter quem eu tinha aprendido a amar.

Eu era uma bolha de caos.

Não mentiria para mim mesmo, a ideia de mergulhar no rio abaixo de mim tinha um pequeno apelo dentro de mim. Mas era absurda demais para que eu prestasse atenção nela. Eu andava na ponte do suicídio ou na ponte da vida? Não sabia. Só sabia que, apesar de tudo... Eu ainda tentava ser forte. Ainda que Hyejin logo fosse se dar conta de que tudo o que havia dito para mim eram palavras que eu não era digno de receber, eu me agarrava involuntariamente a elas.

Você é forte.

Eu queria ser. Queria ser pelos meus hyungs, queria ser por ela. Eu não suportaria que eles recebessem um destino que não mereciam, muito menos por minha culpa... Eu tentava, com tudo o que eu tinha, protegê-los. Mesmo que eu não pudesse ser feliz como Yoongi havia dito, mesmo que eu não pudesse acreditar em Hyejin e fazê-la feliz, eu tentava continuar forte. Eu tentava protegê-los.

E enquanto eu fosse capaz de continuar a fazer isso, eu permitira que a ideia de pular daquela ponte permanecesse apenas como um devaneio em minha cabeça.

::::::

Acabei por voltar para a delegacia a pé. Precisava pensar, apesar de eu sempre tender a evitar essa prática. Mas às vezes eu simplesmente precisava enfrentar a mim mesmo e percorrer meus pensamentos, ou explodiria.

Reconheci a viatura que eu havia usado para ir até o hospital pelo número da placa, novamente parada no estacionamento da delegacia. Taehyung e Matthew já haviam voltado.

Peguei meu celular no bolso interno do paletó e conferi que horas eram. Quase 16:30h. E eu nem mesmo havia almoçado ainda... Não que eu desse mais falta de comida do que eu dava do meu sono, mas eu sentia meu estômago reclamar um pouco da quantidade de horas sem comer. Quem sabe os hyungs não quisessem comer um kimbap comigo, tinha uma loja de conveniências por perto que eu tinha plena certeza de ter a venda.

Sempre seguindo em frente, JungKook. Sempre seguindo em frente...

Eu cumprimentava alguns oficiais que cruzavam meu caminho conforme adentrava a delegacia, um sorriso cansado no meu rosto e no deles. O que, de certa forma, era algo normal no dia a dia. Então consegui terminar meu trajeto até o fim do corredor, onde ficava a minha divisão separada, sem nenhum inconveniente. O que era bastante óbvio que aconteceria, mas eu estava tão pesado que era como se estivesse arrastando o mundo pelos calcanhares, a vista de todos.

E de certa forma, eu estava arrastando algo tão pesado quanto. A diferença era que ninguém podia ver.

Abri a porta e encontrei a área destinada a Taehyung e Yoongi vazia. Suas mesas, que tinham sido esvaziadas noite passada, continuavam assim. Ri comigo mesmo. A ideia de ir embora de Seoul e migrar para outro lugar tinha sido algo tão urgente, mas agora parecia tão distante...

Eu só não sabia até quando permaneceria distante. Afinal, a última coisa que eu tinha era controle da minha vida. As pessoas, normalmente, já possuem apenas um pouco de controle. E eu, se fosse ser sincero, nem mesmo o possuía.

De qualquer forma, já havia me acostumado com aquela ideia. Era revoltante, mas já havia me acostumado. O que me importava no momento era encontrar Taehyung e Matthew e enfiar alguns kimbaps e talvez alguns litros de soju goela abaixo, quem sabe a situação não melhorasse um pouco.

Hyung, onde você está? 

Foi a mensagem que eu digitei enquanto abria cegamente a porta do meu escritório. Porém, antes que pudesse apertar o botão de enviar, meu dedo travou quando ergui o olhar e vi a cena que se desenrolava no chão da sala.

Sangue. Foi a primeira coisa que vi. Sangue saindo do nariz, da boca, de ferimentos abertos no rosto de Matthew, jogado no chão e se encolhendo, visivelmente, de dor. E na frente dele, engatinhando no chão... 

Eu comecei involuntariamente a tremer e senti o sangue gelar. Tanto que deixei meu celular cair no chão e dei um passo para trás, o que chamou a atenção do mascarado que se arrastava, respingos de sangue na superfície branca e negra da máscara com dentinhos. A faca na mão. O olhar apontado em minha direção.

O Coelho, bem ali, ajoelhado a menos de um metro de mim.

— JungKook! — a voz com o chiado distorcido atingiu meus ouvidos como duas agulhas. — JungKook, eu consegui! Eu-

Como meus reflexos responderam, eu não sabia. Mas assim que ele se ergueu do chão, numa velocidade que enviou arrepios por todo meu corpo só de imaginar que ele pudesse me alcançar, dei mais vários passos para trás ao mesmo tempo em que sacava a arma em meu coldre.

Eu sabia que era uma arma. O Coelho sabia que era uma arma. Mas para mim, não parecia uma arma. O que se misturava dentro de mim ao estar diante dele mais uma vez era algo tão insuportavelmente ruim que tudo parecia estar sendo distorcido e, por um momento, na minha cabeça, o que eu segurava não era mais um instrumento de defesa: era apenas um brinquedo inofensivo.

Mas para ele não era. Tanto que, tão devagar quanto podia, ele ergueu os braços ao lado do corpo. Sustentando a faca com a mão direita.

— Abaixa a arma...

Balancei a cabeça, negando mais vezes do que o necessário. Eu não sabia o que estava fazendo. Talvez fosse a maior estupidez da minha vida ficar com aquela arma levantada, mas eu não conseguia abaixar! Não conseguia, não quando, em algum lugar de mim, eu também sentia que finalmente tinha o poder naquela situação; que, pela primeira vez, o controle era meu. Eu não conseguia abaixar. Não quando, desde o dia que entrei na casa de minha mãe e encontrei aquele psicopata brincando com uma faca, era a primeira vez que eu finalmente fazia o que desejava há tanto tempo: apontava m cano carregado para o meio da testa dele.

Eu não queria abaixar.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei com ódio, nojo em cada sílaba enquanto alternava o olhar entre ele e o corpo do major jogado no chão. — Por que você veio aqui? Por que veio atrás do Matthew, hã? Ele não faz parte do acordo, por quê!? Já não bastou a Hyejin hoje de manhã, você ainda vem atrás dele!? Nada disso fazia parte do acordo, seu desgraçado, o que você está fazendo!?

— JungKook-

— JungKook? — repeti, respirando pesado. — JungKook!? O que foi, não sou mais seu coelhinho? Você-Isso é alguma brincadeira!? Cadê o Taehyung!? 

— Abaixa a arma-

— Senão o que, você vai me matar!? — a ironia saiu embolada a raiva, sem lugar pra sentir medo de que ele realmente fizesse aquilo. — Eu juro, se você fez alguma coisa com o Taehyung ou o Namjoon, eu atiro na sua cabeça-

— Abaixa a arma-

— Eu não vou abaixar a arma! — puxei a corrediça e fiz meu melhor para firmar a mira.

Eu estava fervendo por dentro. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas a única coisa que eu eu conseguia me concentrar era em como eu estava diante do meu carrasco, do meu algoz, em posição de colocar um fim na vida dele como ele havia colocado na de tantas outras pessoas. Como ele tinha colocado um fim na vida da minha mãe!

Eu nem mesmo conseguia ver direito. Não pensava direito. Todo o meu corpo gritava para que eu puxasse o gatilho e fizesse algo que nem mesmo eu conseguia processar o que era. Eu não conseguia ver o que enfiar uma bala nele causaria, eu só sabia que eu queria fazer aquilo. Queria fazer aquilo por puro ódio, porque só de ver aquela maldita máscara, meu corpo tremia tanto que eu sentia que poderia perder o controle, como se fosse um animal, a qualquer momento.

Mas se havia uma parte mais forte do que esse meu instinto... Com certeza era a parte que me compeliu a ordenar:

— Tira a máscara.

Ele não se mexeu.

— Tira a droga da máscara! — repeti indo na direção dele, aumentando o aperto dos meus dedos ao redor do revólver.

Eu queria olhar nos olhos dele. Queria olhar nos olhos daquele covarde desgraçado e que Deus me segurasse quando eu fizesse isso!

Tão lentamente quanto antes, ele ergueu as mãos até a parte de trás da cabeça. Os nós dos meus dedos já estavam até mesmo brancos de tanta força que eu impunha na arma. Cada vez mais atento conforme o choque se dissipava, eu observava a mão do Coelho, que continha a Buck 119, se mover para cima e para baixo atrás na nuca dele... Até eu reconhecer o barulho de uma fita sendo cortada. 

 

A sensação de ser traído... Ela é letárgica. 

 

Conforme a máscara caía do rosto a minha frente, em direção ao choque com o chão, eu me sentia desacelerar. Toda a adrenalina que havia me assaltado, que havia me feito acreditar que eu estava pronto para atirar para matar, tudo o que eu estivera sentindo, tudo... Lentamente escorreu por entre meus dedos, como se eu fosse uma máquina sem mais uma gota de combustível em suas engrenagens para poder funcionar. 

A traição me lançou a um torpor. Doloroso. Mas cuja dor eu ainda não conseguia sentir por inteiro. Porque eu estava com dificuldade de sentir. Com dificuldade de pensar. Com dificuldade de processar. Com dificuldade de fazer qualquer coisa que não fosse abaixar a arma e, transbordando confusão e negação, deixar meu olhar cair até a máscara ondulando no chão... De um lado para o outro... E retornar para seu dono.

Para os olhos de seu dono.

Para os olhos de Taehyung.


Notas Finais


Então é isto, boa tarde, boa noite, bom dia


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