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História Stigma (em revisão) - Nada além de uma mentira


Escrita por: h0pesea

Notas do Autor


oioioi capitães

olha só aNTES QUE VENHAM COM AS SETE PEDRAS NA MÃO POR CAUSA DA DEMORA, eu estava com bloqueio, ok? ok; e também tava sentindo uma puta insegurança porque esse é o primeiro capítulo que eu faço todo em 3ª pessoa, ok? ok; isso além dos probleminhas da faculdade, ser universitária não é legal não, vou dropar e tentar a vida como ficwriter [crianças é mentira tá]

eh isto :) boa leitura e vejo vocês nas notas finais





[vocês acharam que eu não ia dar sugestão de música hoje?

então, eu gosto muito de breaking benjamin e eles me fizeram o favor de lançar um álbum nOVO, Ember, e assim, eu recomendo escutar o álbum todo rs mas também pode ser só Blood e The Dark Of You
ou o nightcore de Antigravity do Starset, também pode ser

ok, agora sim eh isto, podem ir ler sz]

Capítulo 35 - Nada além de uma mentira


Fanfic / Fanfiction Stigma (em revisão) - Nada além de uma mentira

POV Narrador

 

Na penumbra duma sala de interrogatório, JungKook o observava. Os olhos pesados, passada a fase da incredulidade e agora afundado na negação. Não queria acreditar, não conseguia acreditar que aquilo não passava de um pesadelo.

Mas não era.

Não era.

Não importava quantas vezes Jeon tivesse estapeado o próprio rosto, o quanto tivesse socado as paredes, o quanto tivesse implorado para ninguém em especial que não fosse verdade... Taehyung ainda continuava ali. Algemado. A cabeça baixa. A máscara entre os dois, sobre o tampo da mesa.

E Jeon sabia: de todos os pesadelos que ele já tinha vivido, aquele estava sendo o mais doloroso de todos.

Yoongi também estava na sala, onde aquele que já considerava como seu ex-parceiro estava encerrado. Assim que a notícia chegou aos seus ouvidos, por meio de Namjoon, ele praticamente desapareceu do hospital e reapareceu na delegacia, pálido. Desde então, permanecia no mais completo silêncio, ao fundo do cômodo. Sem expressão. Mudo.

Até esse silêncio ser quebrado num fio de voz por JungKook:

— Por quê?

Nada.

Ele estava trêmulo. A garganta arranhava como se todos os gritos que desejava soltar já tivessem sido libertos. Ele nunca havia imaginado que uma simples pergunta pudesse doer tanto para ser feita, que apenas permitir que as sílabas escapassem pelos lábios conseguiria desarmá-lo. Mas ali estava Jeon: com lágrimas nos cantos dos olhos e os punhos cerrados ao repetir:

— Eu só quero saber... Por quê?

Nada.

— Por que, Taehyung, por quê!?

As lágrimas caíam. E se não fosse a dor a enlouquecer JungKook, o silêncio com certeza faria o serviço.

— Eu te fiz uma pergunta, me responde!

Nada.

— Você era um irmão pra mim! — vociferou acertando os punhos na mesa. — Eu estava disposto a dar a minha vida por você se precisasse, eu estava dando a vida de outras pessoas pra salvar a sua pele! Eu desisti de tudo por você, seu desgraçado! E você destruiu tudo! Destruiu minha família, destruiu a minha vida, você destruiu a mim! Por quê!? Por quê!?

Nada.

 Fala comigo!

Taehyung permanecia no mesmo silêncio. Parecia surdo aos apelos desesperados de JungKook, que não tinha mais nenhum controle sobre suas ações.

— O que foi, não quer falar agora? Não quer mais fazer suas piadinhas, não quer ameaçar me entregar alguém esquartejado na porta da frente!? Não consegue mais fazer isso me olhando cara a cara!?

Jeon estava quase atravessando a mesa. Falava com um sarcasmo tão ácido como se tivessem invertido os papéis e lhe conferido o de psicopata. Porque o que outrora era impossível para JungKook havia acontecido: ele estava ainda mais quebrado. Esmagado sob o peso da traição.

Taehyung pressionou os lábios e tombou a cabeça, oferecendo a visão do seu pescoço. Foi a deixa para o capitão contornar o móvel que os separava e fazer o Kim voltar a encará-lo, os dedos agarrando o colarinho da camisa desse com tanta força que chegava a sentir as unhas a ponto de furar as palmas através do tecido.

— Eu vou precisar perguntar de novo?

— Você fez muitas perguntas... O que especificamente quer que eu responda?

A voz do mais velho era baixa. Não olhava diretamente para Jeon, ainda que estivesse a centímetros dele. As pupilas estavam apontadas para o teto, mal visíveis por entre os fios do cabelo bagunçado caindo livremente pela cabeça tombada.

JungKook riu.

— Eu quero uma explicação, filho da puta, a pergunta não interessa.

Por poucos segundos, o Kim chegou a encarar Jeon. Um momento breve, como se analisasse a frase antes de suspirar e voltar a recostar a cabeça no ombro.

— Eu não sei.

— Como assim, não sabe?

Mais um dar de ombros.

— Eu não sei.

— Eu juro, se você não começar a falar-

— Você vai fazer o que? — olhou para o mais novo, as sobrancelhas arqueadas. — Vai me matar, chefinho?

JungKook trancou o maxilar. Os dedos aumentaram tanto a pressão que o tecido realmente cederia a qualquer momento, mas nada parecia aplacar o que sentia, um ódio ramificado em todo os níveis de tristeza e repulsa que ele conhecia, os quais queria vomitar, expurgar de si, tão tóxico que era. Tão tóxico quanto Taehyung era, quanto tudo que ele representava. Tão tóxico quanto o Coelho era: uma erva daninha enrolando-se pelo corpo de Jeon até sufocá-lo; uma sanguessuga drenando-o, o tempo todo, o tempo todo. Um lobo em pele de cordeiro, abusando de sua confiança para que, sempre que tivesse vontade, arrancar um pedaço da sua carne e deixar a mordida sangrando. Sem nunca deixar a dor ir embora, sempre a espreita para ter certeza de que as presas continuariam enterradas na carne. E agora, tudo parecia mais intenso do que nunca.

JungKook sentia-se um idiota. Junto aos erros do passado, somavam-se as falhas que continuou cometendo por tanto tempo achando ser o certo, achando que estava salvando seu hyung ao se afundar na lama, sem perspectiva dele mesmo ser salvo. Mas tudo que fez foi dar um show para o Coelho. Tudo o que fez foi tornar-se um assassino, um monstro. Foi ser o motivo constante de piada para Taehyung.

E se não fosse algum último resquício de equilíbrio restante nos cacos que desabavam e colidiam dentro de Jeon, ele se sentia capaz de matar o Kim a sangue frio naquele segundo sem pensar duas vezes.

Se não fosse aquele último resquício.

— Você não merece tanta bondade.

Tremendo, JungKook soltou o outro.

Livre do pano amassado da camisa, enfiou os dedos no próprio cabelo, refreando a vontade de repuxá-lo e gritar. Por mais que tivesse dito o que disse, uma parte escura de si, um instinto que nunca havia sido desperto com tanta força, queria sim vê-lo morto. Queria ver o Coelho, seu maldito hyung, atado a uma cadeira para sangrar, com a garganta retalhada, até a última gota. Assim como havia feito com sua mãe com tanto prazer.

E ao mesmo tempo que desejava ver tal cena, enquanto Taehyung voltava a se sentar, também repelia esse desejo.

Por mais que já aceitasse ser uma aberração, depois de anos tratando outras vidas como se fossem nada comparadas aos seus próprios interesses, ele não queria consumar a desgraça. Ainda que essa também se parecesse muito com um ato de vingança e consequente alívio. Mas ele simplesmente não conseguia.

Talvez existissem conceitos diferentes para a monstruosidade que habitava os dois.

— O que você queria com o Matthew? — perguntou de repente, sem nunca se livrar dos tremores.

Mas novamente, Taehyung não mais respondia. O que puxou outro gatilho dentro de um instável JungKook.

— Você acha que eu estou brincando? — ele baixou a voz, aproximando-se. — Eu não sei se você entendeu, mas agora é você quem faz o que eu mando e eu já te falei, eu quero respostas. Agradeça por ainda estar inteiro, mas se você não começar a falar por que matou minha mãe, porque veio atrás de mim, dos outros, da Hyejin, eu vou arrancar cada palavra de você, entendeu?  — perguntou, quase rosnando. — Você me entendeu ou-

De repente, Kim bateu com as palmas na mesa e olhou visivelmente consternado para o mais novo:

— Será que dá pra você calar a boca!? Eu estou tentando pensar!

E mais um gatilho dentro de JungKook foi puxado. Esse que ele não sabia como, nem fazia questão de refrear.

Jeon chutou a cadeira onde Taehyung sentava, empurrou-a até que ambos estivessem no chão. Mal o barulho do corpo atingindo o assoalho se fez ouvir e JungKook atirou a cadeira para longe, montou no mais velho e acertou o primeiro soco em seu rosto. Seguido de outro. E outro. E outro.

Ele acertava com toda sua força, descarregava todos os tremores de raiva cega que tomava conta de si no Kim. A sensação de seu punho fechado acertando-o, ferindo-o era extasiante, a dor nos nós dos dedos pouco importava, ele só queria continuar acertando Taehyung, o Coelho, que fosse, com cada vez mais força, até que nem mesmo pudesse reconhecer aquele rosto.

Namjoon, que o tempo todo estivera observando tudo do lado de fora pelo semi espelho, junto a Matthew e seus sacos de gelo, desesperou-se com a cena. Porque ao ver que JungKook não parava, foi tomado por um medo real de que o mais novo acabasse matando o outro.

Pegou o microfone no painel a sua frente:

— JungKook, para com isso! Para com isso, você vai acabar fazendo besteira! Para-Yoongi, segura ele!

Yoongi, assim como no início, continuava em sua bolha de silêncio no fundo da sala. De braços cruzados, voltou-se para a direção do espelho e proferiu sem emoção por cima da sinfonia do espancamento:

— Por que eu faria isso?

A mão de Jeon sangrava. Em sua maior parte, proveniente do sangue que escapava das feridas abertas no rosto do Kim. Esse nem mesmo tentava se debater. Gemidos de dor escapavam de seus lábios cortados e ensanguentados, mas ele não tentava se libertar do corpo pesado e enfurecido de JungKook, não tentava revidar. Não, ele apenas ficava ali, estirado no chão e recebendo seguidos golpes que pareciam nunca cessar.

Isso porque o mais novo não queria cessar. Os motivos para continuar esmurrando aquele desgraçado abaixo de si pareciam não terminar! Cada segundo trazia uma lembrança diferente, um pedacinho de todo o aglomerado de tortura psicológica que havia engolido por dois anos, ministrados pelas mãos daquele que agora sentia toda sua frustração. Imagens disformes de todo o pavor, toda a submissão... O medo constante de perder quem havia sobrado, o arrependimento de ter se apaixonado por não querer ver Hyejin tão ferida quanto ele mesmo estava, o tormento embalado pela sua mãe morta... Dois anos haviam criado uma sede dentro de JungKook, a qual ele agora matava no seu causador. Naquele momento, ele era o Coelho e Taehyung, o seu coelhinho.

Mas mesmo que Jeon desfigurasse o outro com os punhos, jamais seria capaz de causar nele toda a dor a qual foi submetido.

E mesmo que isso fosse possível, o capitão logo se viu incapaz de ir até o limite de suas forças.

Porque foi tomado pela fraqueza.

Entre um soco e outro, ele deixou os olhos fitarem por alguns segundos o mais velho. E foi isso que o derrubou.

JungKook sabia. Sabia tudo o que ele era. Sabia o tipo de monstro que estava abaixo de si. Mas por breves momentos de vulnerabilidade, se viu ser invadido pelo sentimento que tinha pelo seu hyung. Pelo seu Tae hyung. Aquele que, por mais que fosse um ano mais velho, parecia ser tão mais novo, tão mais inocente. Aquele que ele sentia a urgência de proteger e, por vezes, isso o levava a ser mais ríspido. Aquele que frequentou a academia de polícia consigo e foi seu maior amigo em meio as dificuldades e solidão. Aquele que conseguia fazê-lo rir com seu jeito infantil mesmo nos piores momentos, em que esteve perdido. Aquele que o chamava de chefinho de um jeito carinhoso e passava horas junto a Yoongi, procurando algum serviço para resolver que não ameaçasse sua segurança.

Aquele por quem tinha tanto carinho que o fez desistir de si próprio para proteger.

De súbito, foi esse Taehyung que JungKook voltou a ver. E vê-lo coberto de luxações e filetes de sangue escorrendo pelo rosto inchado, a ponto de cuspir vermelho no chão onde estava estirado, foi demais para o mais novo.

Ele sentia enlouquecer. Era mais um daqueles momentos que achava que a cabeça poderia implodir, tamanha a confusão que o preenchia.

Como um animal acuado, saiu de cima de corpo do Kim e arrastou-se pelo chão até estar contra a parede, o mais longe que conseguiu chegar. JungKook hiperventilava, novamente tremendo. A dor nos dedos agora se fazia sentir e o sangue que os adornava era repugnante aos seus olhos desfocados. Ele desviava o olhar de Taehyung para as mãos e das mãos para Taehyung, repetidas vezes, tentando encontrar algum sentido para tudo aquilo.

Sem nunca conseguir.

Não havia sentido ao seu alcance. Nele, só havia o vazio. Uma queda livre. Senti-a inseguro, como se o chão sob seus pés fosse desaparecer a qualquer segundo para que despencasse no escuro, sozinho. O coração de Jeon estava disparado, os olhos voltando a marejar e a garganta, a arranhar com os gritos contidos. Os quais foram liberados em forma de soluços quando irrompeu num choro violento.

O Kim permaneceu largado ao chão, beirando a inconsciência. E JungKook enterrou a cabeça entre os joelhos, onde se permitiu chorar e terminar de liberar todo o peso que sentia em seus ombros. Seu corpo sacudia e tinha medo de se fogar nas lágrimas ao mesmo tempo em que desejava tal coisa.

Ele rachava. Mas os cacos que descascavam de sua pele eram invisíveis. Apenas Jeon sabiam que estavam ali. Porque ele se sentia exposto, despido, como em carne viva, agora mais do que nunca. E a pergunta que se fazia conforme as têmporas latejavam era quanto mais dor conseguiria suportar. Quanto mais pressão conseguria suportar.

Vendo-o daquele jeito, Yoongi finalmente rompeu seu transe e demonstrou algo: pena.

Por mais que para ele também fosse doloroso, sabia que JungKook havia sido aquele a aguentar a carga mais pesada. A cena diante de si apertava tanto seu coração que nem mesmo toda a revolta conseguiu fazê-lo permanecer impassível.

Devagar, o Min aproximou-se do mais novo. Pousou uma das mãos no ombro dele, quem nem mesmo sentiu o toque. E ali permaneceu, ambos sendo observados por Namjoon e Matthew, ferido pelo Coelho desfalecido na sala de interrogatório.

+::::::+
 

Mais ou menos uma hora tinha transcorrido. Jeon continuava uma pilha de nervos. Mas uma pilha de nervos controlada. Estava sentado em sua própria sala, a cabeça pendendo para frente enquanto Namjoon ocupava a mente enfaixando a mão ferida do mais novo.

Esse não sabia muito bem o que tinha acontecido depois de ter se afastado de Taehyung. Entrou num estado de choque tão grande, imergiu tanto nos próprios pensamentos sombrios que nem mesmo viu quando dois oficiais, chamados por Matthew, carregaram o Coelho desmaiado da sala mal iluminada. Não viu nada. Aliás, se fosse ser honesto, não viu nem mesmo como suas pernas o levaram para seu gabinete.

Dizem que o luto consiste em 5 fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. JungKook já havia passado por elas, duas vezes. Duas malditas vezes. 

Mas a terceira estava sendo diferente. Porque ele sofria a morte de quem ainda vivia. Ele sofria a morte de uma ilusão construída e entremeada em sua vida, sofria um tipo diferente de perda, mas tão dolorosa quanto a que já conhecia. Uma imagem desmanchava em sua cabeça. Pétalas desprendiam-se, caindo por trás dos olhos, deflorando a verdade crua e pavorosa. Tanto que os pedaços, do que fora algo frágil, retornavam para tentar remontar a farsa... Até a verdade voltar a se abater sobre Jeon e, novamente, as pétalas caírem. E os cacos retornarem. E caíam. E retornavam.

JungKook tinha se tornado uma bagunça entre as 4 primeiras fases do luto. Estava envolvido numa redoma emocional, cada hora dominada por um estágio, exceto a aceitação. No fundo, ele nunca tinha sido bom lidando com essa última parte. A cabeça doía e a letargia, após dar vazão pro que tinha dentro de si, era tão violenta, que Jeon parecia nem mais pertencer ao próprio corpo.

Era tudo... Surreal demais.

Taehyung era o Ceolho.

 

Taehyung era o Coelho...

 

— Pronto.

Namjoon murmurou, trazendo o capitão de volta a tona antes que se afundasse demais. Ele flexionou as mãos enfaixadas e assentiu em agradecimento, enquanto o mais velho guardava suas tralhas medicinais. 

— Cadê o Yoongi? 

Kim demorou para responder. Sinceramente, assim como o outro, não tinha a mínima vontade de falar, conversar ou interagir. Queria só sair daquele lugar. Queria tirar um tempo para si e, ainda que ele soubesse ser impossível, tentar não pensar em como... Como valia tão pouco.

Namjoon sempre teve orgulho do seu intelecto. Considerava-se inteligente, racional ou, pelo menos, capaz de enxergar claramente além das emoções. Ele gostava de considerar sua equipe como sua pequena unidade funcional, um mini sistema em que cada um tinha sua função única e insubstituível. E nesse sistema, a função dele era ser o instinto racional.

Mas pensar nisso agora o indignava. Porque ele não só se sentia desprezado, como também um completo imbecil. 

Ele esteve com Taehyung, por anos! Considerou-o como amigo, protegeu-o, aconselhou-o, enquanto ele esfaqueava pessoas pelas suas costas, tudo por ter algum prazer doentio não só em matar, mas em torturar JungKook psicologicamente, colocando a vida de quem o cercava em risco. 

Inclusive a de Namjoon. E em nenhuma hora ele havia notado, sequer cogitado a possibilidade de que Taehyung e o Coelho pudessem ser a mesma pessoa! Como pode ser tão cego?

Ele imaginava... Se alguma vez  tivesse sobreposto a razão a emoção, como ele tinha julgado fazer tão bem, será que teria chegado ao mesmo resultado que a realidade apresentava? Será que teria poupado JungKook de sofrer, assim como esse o poupara por tanto tempo?

Namjoon não sabia. A única coisa que sabia era que nunca tinha se sentido tão enganado e tão inútil em toda sua vida.

E apesar de tudo, era isso que o estava compelindo a ser forte naquele momento. Porque se não pode evitar que o mais novo passasse pelo inferno sem assim merecer, pelo menos que estivesse ali por ele no fim.

— Pegou uma viatura e foi dirigir. Disse que precisava esfriar a cabeça.

— Ah, sim...

Silêncio, vez ou outra cortado pelo tilintar dos fracos do kit médico. Até Namjoon largá-lo e suspirando, sentar-se no chão a frente de Jeon.

— Quer conversar? — recebeu uma negativa. — Não mesmo?

— Não se preocupe, hyung... Não é como se eu já não estivesse acostumado com isso.

— O que, esfolar a mão depois de arrebentar alguém? — o das covinhas tentou brincar.  

JungKook negou. E sua voz, mais baixa do que antes, devolveu:

— Perder quem já foi importante pra mim...

 

O mínimo sorriso que Kim sustentava desapareceu e pode jurar que tinha ouvido seu coração quebrar. A desolação no rosto do mais novo era cortante e a falta de brilho que apenas havia crescido nos seus olhos havia atingido um nível tão crítico naquele dia que o legista, sem nem mesmo saber como, viu-se de pé junto com o mais novo segurando-o pelos ombros.

JungKook nem mesmo teve tempo pra processar como havia sido erguido da cadeira antes do outro falar num tom que não deixava espaço para discussão:

— Você nunca vai me perder. Nem a mim, nem ao Yoongi. Nós somos sua família e vamos estar aqui ao seu lado, não importa o que! Mesmo se você estiver num dia ruim e não quiser nem olhar pra nossa cara, não interessa, nós vamos estar aqui! Você é a minha família e eu preferiria deixar aquele Coelho me rasgar de cima a baixo a te trair! Eu preciso ser mais claro?

 

Jeon engoliu em seco. Ele não queria deixar mais nenhum sentimento se juntar a avalanche que o devastava por dentro. Tudo que ele desejava era o silêncio interno, mas se viu tão atingido que logo estava abraçando seu hyung com todas as forças que tinha. Agarrava-se a Namjoon como se ele fosse alguma tábua em meio ao oceano revolto, um bálsamo em meio ao caos. A esse ponto da sua vida, palavras não deveriam significar nada mais do que uma promessa vazia. Mas era o contrário: ele estava tão fragilizado que foi involuntário abraçar o mais velho ao ouvir suas palavras.

Não havia se dado conta do quanto estava precisando de uma promessa. Pouco importava se fosse ser quebrada ou não no futuro, desde que acalmasse a tempestade do presente. Vai ficar tudo bem, era o que o Kim murmurava. Jeon não acreditava muito nisso, mas ainda assim se deixava levar. 

Parecia uma criança assustada. Sentia-se uma criança assustada. 

 

E por maior que fosse sua necessidade de conforto, não teve mais coragem de continuar a assumir esse papel quando, sem aviso, a voz de Matthew se fez ouvir no gabinete:

— JungKook, eu posso conversar com você?

O capitão praticamente saltou para longe do abraço paterno de Namjoon. Pigarreando, olhou para a porta, onde estava um major ainda cheio de hematomas no rosto. Ele parecia sério, ainda que incerto, conforme se aproximava ante o sinal do mais novo para que entrasse. Esse discretamente checava abaixo dos olhos, em busca de alguma possível lágrima inexistente, não queria parecer fraco na frente de Matthew. Ele podia se sentir fraco, mais fraco do que jamais esteve em muito tempo, mas não queria demonstrar isso. Não pra ele. 

Namjoon, querendo deixá-los mais a vontade para conversar, apressou-se com as reverências, murmurando algo sobre ir verificar se todos os seus presuntos continuavam no IML ao mesmo tempo que se retirava da sala. O som da porta fechando ecoou, abafando os passos do o Kim que havia sobrado.

Uma vez a sós, JungKook suspirou tentando relaxar a postura. Indicou a cadeira onde estivera sentado para o major, mas esse dispensou na mesma hora:

— Não, eu não vou me demorar, eu só... Só queria... Perguntar uma coisa. 

O mais novo assentiu, indicando que fosse em frente.

— É que... Seu amigo Yoongi veio me procurar, depois que colocaram o Taehyung na cela e você veio pra cá e... Eu não entendi bem, ele me pediu que eu não comentasse sobre o que tinha acontecido?

— Ah, ele... Pediu?

— Sim, eu-Olha, essa cara foi o que matou minha irmã. E também veio atrás de mim, tentou me matar e teria matado se não fosse você pra interromper, eu tenho meus motivos pra odiar ele. — arqueou as sobrancelhas, como se dissesse você sabe do que eu estou falando. — Mas não me faça de bobo, JungKook, eu ouvi cada palavra daquele interrogatório e é óbvio que tem mais coisa entre vocês dois que eu não sei! Então eu quero saber, por que eu não posso falar sobre o que aconteceu com ninguém? Por que-por que aquele psicopata tá lá, numa celinha de delegacia? É só isso? Ele assassina minha irmã e é só isso que ele recebe!?

E ali estava mais uma parte com a qual JungKook não queria lidar.

Desde o dia em que ele tinha sido lançado naquele acordo doentio, o seu desejo era que o Coelho sumisse de sua vida. Pouco importavam as circunstâncias, se fosse cortando a garganta dele ou deixando-o apodrecer numa solitária. Mas nunca havia parado para pensar no que faria se ele realmente fosse pego. 

Jeon tinha sido cúmplice. Por mais de dois anos, ele tinha sido um cúmplice, acobertou um sociopata autor de tantas mortes que só de temtar imaginar o número total, o capitão sentia náuseas. Na cabeça dele, os motivos para ter feito o que fez eram bons: proteger quem amava. Mas ele tinha certeza de que qualquer outra pessoa, especialmente alguém como Kim Matthew, cuja irmã tinha sido morta pela negligência de JungKook, não veria tal motivo como bom.

Ele não sabia o que fazer.

Tinha medo de ser aquele a dividir a cela com Taehyung, caso esse fosse preso. Claro, Jeon tinha autoridade, poderia só entregar o Coelho a justiça com as provas que possuía sobre os assassinatos e só, que se danasse o resto! Mas ele tinha certeza que o mascarado não ficaria de boca fechada sobre o acordo. E por mais que sua palavra valesse mais que a de um lunático, JungKook tinha medo que existissem provas que o incriminassem. Que expusessem sua vergonha, sua covardia, sua fraqueza. 

Ele não sabia o que fazer. 

Diante do silêncio profundo que o cômodo havia recaído, o major retomou a palavra:

— Escuta, eu... Eu sei que o Taehyung era seu amigo. Acredite, eu também gostava muito dele! Foi o que mais se aproximou de mim, sempre foi gentil comigo e essas coisas. Mas esse carinho de dois meses que eu criei não apaga o que ele fez, aliás só me faz ter ainda mais raiva dele! E eu sei que com você não é a mesma coisa e deve ser muito mais difícil, mas você também não sabe como é difícil pra mim ver o cara que esfaqueou minha irmã até morrer no meio da pista de uma boate qualquer encarcerado numa delegacia, sem que ninguém esteja nem levantando um dedo pra prisão dele! 

Tudo saiu quase num fôlego só. A expressão de Matthew estava distorcida em amargura e desespero, as orelhas tão vermelhas quanto as bochechas.

Jeon sabia que ele estava certo. Sabia pelo que o maior estava passando. Sabia bem até demais.

Mas ele simplesmente não conseguia pular logo para a quinta fase de aceitação ou encarar as consequências do que tinha feito. 

— Bom, e-eu-como você disse — pigarreou, finalmente falando claramente — Como você disse, é... Muito mais difícil pra mim. Ele-ele é um amigo desde a época da academia e... E você está certo, realmente tem mais coisa entre nós, muita coisa. 

— Quanta coisa?

— Eu disse que conheço ele desde a época da academia, quanta coisa você acha que é?

Ao ouvir isso, o Kim recuou um pouco. Os ombros caíram lentamente, um sinal mudo de compreensão. 

— Eu só preciso de um tempo pra assimilar tudo. — JungKook continuou após engolir em seco.— Ou, pelo menos, reunir tudo o que eu tenho e entrar nos trâmites legais. É só o que eu te peço, pelo menos um dia, por favor.

O outro se colocou a pensar. Por trás das íris escuras, podia-se quase ver uma balança oscilar conforme pesava os prós e contras de acatar ao pedido — súplica — do capitão. Não lhe parecia uma coisa muito inteligente a se fazer, porém ainda assim pegou-se assentindo sem muita convicção. 

— Certo... Certo, certo, tudo bem. — continuou assentindo, como se estivesse no automático. — Um dia, você promete?

— Sim, eu... Só um dia. Acho que... Vai ser suficiente. — nenhum dia nunca seria suficiente. — Ele vai passar a noite aqui e amanhã eu começo o processo. 

Matthew murmurou algo ininteligível em compreensão, mais para si mesmo, antes de dizer um tanto mais alto:

— Pelo menos, o que me consola... É que você fez o que eu tive vontade de fazer desde o início.

Ele olhava para as mãos enfaixada de JungKook. Involuntariamente, ele enlaçou-as, como se assim pudesse escondê-las. Não sabia mais como se sentia sobre aquilo, se era um símbolo de orgulho ou melancolia.

Qualquer que fosse a resposta, ele não queria pensar no assunto para descobri-la. Ao invés disso, ao ver o major começar a dar passos cegos para trás, buscando a saída, chamou-o.

— Eu-eu também quero perguntar uma coisa. — ante a fala, dessa vez foi o mais velho aquele a assentir para que Jeon continuasse. — Não sei se você vai querer falar sobre isso, mas... E-eu queria saber, o que aconteceu antes que eu chegasse aqui? Como você acabou desse-desse jeito? — perguntou apontando para o próprio rosto, indicando os hematomas do rosto alheio.

Matthew respirou fundo e deixou uma das mãos bagunçar o cabelo. Um mínimo sorriso ladino apareceu no canto dos lábios, cheio de significados. Entre eles, claramente o arrependimento.

— Sabe, agora chega até a ser engraçado... Depois que você disse que nós podíamos ir embora no carro sem você, lá no hospital, eu vim pra cá pra delegacia junto com o Taehyung. O Namjoon ficou no IML e o Yoongi, internado, então eram só nós dois aqui. Ele disse que era melhor nós esperarmos você na sua sala e eu-bom, eu aceitei, certo? — suspirou. — Mas ele mandou eu ir na frente, disse que precisava usar o banheiro porque tinha ficado muitas horas no hospital junto com você e blá-blá-blá. Eu acreditei, vim pra essa sala e fiquei esperando ele.

"Mas... Eu notei que ele estava demorando. Ele estava demorando muito, cheguei até a achar que tinha se perdido no caminho ou-ou ficado preso no banheiro, eu sei lá! Só sei que eu resolvi ir atrás dele e quando abri a porta, — apontou para aquela atrás de si — eu encontrei um maluco usando máscara de Coelho e com uma faca na mão."

JungKook imitou o sorriso que havia visto. Ele também sabia bem até demais como era passar por aquilo.

"Eu não sabia o que fazer! A minha cabeça deu pane, eu-Sabe, eu fiquei preocupado com aquele desgraçado do Taehyung, achei que alguma coisa tinha acontecido com ele! E eu também não queria morrer, então por mais que tivesse a droga de um psicopata armado com uma faca na minha frente, eu só conseguia pensar em como passar por cima dele e correr pra fora daqui! Mas era tudo tão estranho, ele não tentava vir pra cima de mim, só ficava ali na porta falando umas coisas esquisitas, tipo ele é que nem a garota, ele é importante, vai ser o primeiro ou sei lá o que."

Isso foi quase como um soco na boca do estômago de Jeon. Involuntariamente, sentiu seus músculos voltarem a tensionar ao sabor da raiva. Não como antes, mas um mínima chama voltou a aquecê-lo por dentro.

Lembrou-se das vezes que Taehyung tentou persuadi-lo a não se envolver com Hyejin. Ou de como, de fato, foi o que mais se aproximou do major desde que o conheceu. 

+::::::+

— O favor que quero te pedir é: me mande todos os arquivos de assassinatos que envolvam esfaqueamento ou Buck 119 nos últimos dois anos. Pode fazer isso em vinte minutos?

— JungKook, você não acha que-

— Pode fazer isso, detetive Taehyung?

— Posso, claro que posso, JungKook. Mas como seu amigo, eu preciso te perguntar... Você quer mesmo envolver mais gente nisso?

+::::::+

— Hã... Algum problema?

O Min piscou. Como se nada tivesse acontecido — e talvez realmente não tivesse — voltou-se para mim.

— Nenhum, só tentando me lembrar qual tinha sido a explicação que o Taehyung me deu pra sua... Visita, Hyejin.

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— JungKook...

A voz de Namjoon interrompeu meus pensamentos [...].

— Por favor, você também não...

— Taehyung me contou sobre essa Hyejin. Jeon, o que- o que você está pensando?  

+::::::+  

Ah, ótimo, ele havia entregado mais duas pessoas de bandeja para o Coelho. Bem na cara dele.

Alheio a isso, Matthew continuou:

— E uma hora, eu avancei... Tentei desarmar ele... Deu certo por um tempo, mas ele também avançou em mim. E eu não sei o que aconteceu, mas eu estava tão nervoso que-aish, eu acabei ficando lento! Fiquei lento demais e acabei indo pro chão com ele em cima de mim, me dando um soco atrás do outro. Parando pra pensar agora, foi humilhante — olhou para Jeon, claramente frustrado. — Depois disso, eu não vou saber dar muitos detalhes, mas acho que você sabe bem o que aconteceu...

Assentiu, cruzando os braços.

— Sim, eu sei — infelizmente. — Você está bem agora? 

— Bom, eu estou vivo, acho que conta — deu de ombros. — E eu te devo isso, então... Obrigado. De verdade, obrigado.

— Foi um acidente, não precisa agradecer — imitou o dar de ombros.

JungKook não estava exatamente acostumado a receber agradecimentos quando tudo o que sabia causar era caos.

Quase como se lesse esse pensamento, Matthew devolveu:

— Um acidente, mas ainda assim você devia aceitar meu agradecimento. Não é como se a minha vida valesse pouco.

E sem dar tempo de resposta, o major se retirou da sala, tão repentinamente quanto havia entrado, deixando para trás um atordoado Jeon JungKook. 

+::::::+

 

O capitão rondava a cela a semelhança de um predador. Não que fosse a intenção, mas sua postura era intimidadora, os olhos atentos como se Taehyung pudesse atravessar as barras da cela se piscasse. Esse seguia os passos lentos que JungKook dava, apenas as íris se movendo em seu corpo inerte, recostado na parede ao fundo.

— Eu não consigo nem olhar pra sua cara sem querer vomitar.

O peito do detetive deu um leve tranco, denunciando uma risada ao ouvir a fala de Jeon. Esse imitou o gesto antes de umedecer os lábios numa revolta contida.

— Você acha graça disso... Claro que você acha graça, o que eu estava esperando...

— Você não quer vomitar por minha causa, JungKook. Você quer vomitar — Kim apontou para a própria cabeça. — Por causa do Coelho.

O mais novo estancou no lugar. Com mais intensidade que antes, focou no oficial jogado no fundo da cela. E ele, ao ver que tinha a atenção do capitão, endireitou-se e sorriu aéreo.

— A mente humana é curiosa... Você sabe que tem diferença, aí dentro você sabe. Você odeia é quem usa a máscara. Não eu! Você ama o seu hyung, eu sei que ama...

— Agradeça, porque é só por isso que eu parei de-

JungKook interrompeu-se a centímetros das barras, cerrando os punhos já feridos. O outro nem mesmo se deu ao trabalho de se mexer ante o rompante do mais novo, enquanto esse travava uma luta interna que o fazia respirar pesado.

O sorriso quadrado que antes tanto amava, agora lhe dava náuseas. A inocência que costumava ver, agora assemelhava-se a loucura. Mas ainda assim... Era impossível apagar o carinho que ainda sentia por vê-lo. Ou a pena que fazia seu coração, no fundo, apertar ao ver Tae preso daquela forma. Não parecia certo ver seu hyung, que o acompanhou desde que era um adolescente com aspirações a ser um delegado respeitado como o pai, enjaulado como um criminoso. Isso ao mesmo tempo em que parecia totalmente certo ver o Coelho, que tirou tudo dele, enjaulado como o criminoso que era.

Era exatamente essa confusão que o havia feito parar de espancar Taehyung.

E essa confusão era perigosa.

De repente, Jeon soltou o ar e deu impulso para trás, para longe daquela dualidade. Era tudo tão confuso, tão confuso...

— Você não quer me matar. — a voz do Kim se fez ouvir.

O capitão voltou a rir, praticamente cuspindo:

— Não pense que eu ainda temo pela sua vida, Taehyung. Aliás, esse é o seu nome de verdade? Alguma coisa que você já me disse era verdade?

Lá estava o silêncio. Prolongou-se tanto que, por um momento, JungKook achou que a conversa havia acabado. 

Surpreendeu-se ao voltar a ouvir a voz de Taehyung:

— Você não quer me matar.

O mais novo tornou a fitá-lo. Mas sem ser correspondido: o hyung olhava para o teto repleto de pedaços de tinta seca faltando, rachados e teias de aranha nas arestas. Entretanto, parecia não mais conversar com Jeon, que encarava o outro sem nem mais saber como distinguir suas emoções. Parecia conversar consigo mesmo, como se repetisse um mantra:

— Você não quer me matar.


Notas Finais


boa tarde, boa noite, boa madrugada, bom dia


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