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História Stiletto - Liberdade


Escrita por: nunytales

Notas do Autor


Olá, vocês~
Como estão?
Estamos de volta com Stiletto, finalmente, depois de anos. Tem sido uma jornada mais longa que o esperado e eu realmente sinto muito ter demorado tanto. Acho até que eu deveria me responsabilizar por isso de alguma forma, então eu fiz o que eu deveria ter feito desde o começo: Escrevi a história toda (ou o que faltava dela).
Eu queria agradecer a todo mundo, de verdade, que comentou, que favoritou e que me apoiou. Eu não tenho palavras pra expressar o quão feliz eu fico, e acredito que somente vocês para me fazer concluir algo que nem mesmo eu acreditava que seria capaz de concluir...
Então, é isso. Esse é o fim.
Boa leitura <3

Capítulo 21 - Liberdade


Jeongguk tentava não pensar sobre como teria que se apresentar sozinho caso Taehyung não chegasse a tempo, ainda que tenham se inscrito para a competição de duplas. Se não o impedissem de subir no palco sem alguém a seu lado, a desclassificação não seria nenhuma surpresa.

O aplicativo de jogo que ele tentava vencer com dedos furiosos por pouco não minava sua paciência, mas era melhor tentar se distrair em vez de observar os outros bailarinos que se moviam pelos bastidores, terminando de vestir figurinos, ajeitar cabelos e aplicar pós e outros artifícios coloridos pelo rosto.

Se ele pudesse voltar no tempo, não teria deixado Taehyung vencer tão facilmente, evitando, assim, todo aquele estresse desnecessário.

Ainda podia lembrar a sensação da garganta seca, arranhando, quando seu celular tocou na tarde anterior com o nome de Hoseok aparecendo na tela como um mau agouro. Não que Hoseok não entrasse em contato com frequência, mas usualmente eram mensagens, nada urgente, que poderia esperar uma resposta durante horas se preciso fosse.

Uma ligação, por outro lado, tinha que ser algo mais. Algo diferente.

“Hyung?”, chamou ao atender, preocupado, já se perguntando se Taehyung por acaso havia descoberto que o pé – que milagrosamente havia saído ileso do pequeno acidente de que fora vítima – na verdade estava com o dobro do tamanho, necessitando de uma cirurgia urgente.

“Jeongguk! Como você está?”, o tom dele era alegre, animado. Nada que indicasse um acidente ou uma cirurgia surpresa, pelo menos, e Jeonguk não conseguia decidir o que era pior: a iminência de um procedimento cirúrgico de seu parceiro ou a incerteza do perigo desconhecido que enfrentava. A única coisa que sabia era que não gostava de nenhuma das opções.

“Você pode cortar a conversa fiada, hyung-- O que aconteceu?”, impediu-o de continuar com o teatro, apressado para saciar sua curiosidade enquanto procurava um lugar onde se sentisse mais confortável – havia uma boa chance de ele conseguir se livrar do barulho de ferro batendo e de grunhidos se se afastasse um pouco dos aparelhos.

“É sobre a competição, você sabe-- Você sabe que imprevistos acontecem, não é? A programação sempre fica sujeita a alterações... Eu preciso ter uma conversa séria com aquele nosso amigo, ainda não consegui superar que eles nunca pagaram aquele dinheiro do primeiro lugar e agora isso, francamente...”, Hoseok resmungou do outro lado da linha, e Jeongguk só conseguia pensar em como precisavam lidar com a situação do modo menos prejudicial possível, mesmo sem saber para quando as apresentações haviam sido remarcadas. Se fosse para dali a algumas horas, ele receava que Taehyung não conseguisse chegar a tempo – ele nunca conseguia chegar a tempo quando as coisas eram marcadas com antecedência, se o pior acontecesse, então...

“Taehyung já sabe?”, questionou, ignorando o fluxo de palavras que deixava a boca de Hoseok. Havia conseguido chegar à parte externa da academia, onde as mesas e cadeiras que serviam de extensão da pequena lanchonete de comida natural.

“Ainda não contei pra ele”, Hoseok respondeu depois de uma pausa, que pareceu longa demais para ser uma simples pausa de alguém que acabou de ser interrompido por alguém que não estava prestando atenção. “Tem certeza de que não quer saber pra quando ficou?”, provocou, e, oh, como Jeongguk odiava aquele tom de voz que tinha o incrível poder de reproduzir, em um som bastante característico, o sorriso divertido e cheio de malícia de quem achava que estava entendendo tudo.

“Na pior das hipóteses, ficou pra hoje. Na melhor das hipóteses, ficou pra amanhã. De um jeito ou de outro, nós estamos perdidos, mas o que eu quero saber é se eu vou precisar mesmo passar por tudo isso ou se nós já estamos fora, e como Taehyung é quem estava mais empolgado com tudo... achei que ele deveria ser o primeiro a saber”, explicou como quem explica a uma criança de cinco anos por que ela não pode brincar no parquinho quando outras crianças estão se divertindo sem ela. Sabia que não precisava se explicar para Hoseok, mas pelo bem de sua sanidade era melhor que o fizesse, antes que as conclusões do mais velho pudessem constrangê-lo em momentos inoportunos. “Além disso, Taehyung é quem tem problemas com horários, não eu, então ele vai precisar de um bom plano pra conseguir chegar a tempo.”

“É, certo”, Hoseok pigarreou, mas o pigarro mais parecia uma risada. “Eu vou falar com ele assim que encerrar essa ligação—A propósito, os duos vão competir amanhã”, ele cantarolou antes de desligar.

Taehyung entrou em contato logo em seguida, por meio de mensagens, questionando se era real e o que eles iriam fazer. Jeongguk sentiu vontade de rir das figurinhas desesperadas e chorosas que acompanharam as interrogações, mas, em vez disso, concentrou-se em tranquilizá-lo – era o mais importante no momento.

 

Se não for um problema pra você, então amanhã a gente faz o que a gente ensaiou

Um dia a mais ou a menos não vai fazer muita diferença

Mas tudo bem mesmo? Você não vai ter problemas?

 

Enviou as mensagens e observou enquanto suas palavras continuavam ali, não lidas e não respondidas, fazendo Jeongguk se perguntar por que não tentava uma chamada, se queria respostas imediatas. Mas bastou colocar o celular de volta no bolso para que sentisse o dispositivo vibrar contra sua perna. E então de novo e de novo.

Sem se dar conta, Jeongguk estava sorrindo, mesmo que fosse irritante receber tantas mensagens seguidas quando o outro poderia dizer a maior parte do que queria em uma só.

 

Eu provavelmente vou ficar devendo um rim pra Siyeon

Mas acho que dá certo

Pensei que você estaria mais estressado

Quer dizer

Não vai querer mesmo ensaiar mais uma vez?

Só pra garantir?

 

Jeongguk ainda estava sorrindo quando digitou uma resposta. Ele já era um tirano, um pouco mais de crueldade não deveria fazer muita diferença.

 

Se você quer tanto assim, a gente pode ver...

 

A resposta não demorou a chegar daquela vez.

 

Esquece

Eu não falei nada

ahahahaha

Acho que estamos bem

E meu pé pode precisar de mais um dia pra descansar

 

Foi preciso que Cha Woojin o chamasse com um tom de voz irritado para que Jeongguk deixasse de lado o celular e voltasse sua atenção para as atividades que haviam sido abandonadas devido à ligação de Hoseok e às mensagens trocadas com Taehyung.

Apesar da menção ao pé, Jeongguk sabia que ele estava bem fisicamente e que fizera questão de provar – a imagem de Taehyung não o deixando escapar de um ensaio ficaria gravada para sempre em suas memórias depois de todo o histórico deles...

E, sim, era pelo histórico, porque ele nunca iria imaginar que Taehyung, de todas as pessoas, iria arrastá-lo de volta para uma sala de dança como quem leva de volta para casa um animal de estimação fugitivo. Nada relacionado com o fato de que era verão, estação em que as calças eram trocadas por shorts, especialmente entre bailarinos, usassem eles saltos ou não.

A ausência de Taehyung ali nos bastidores, sem qualquer notícia sobre seu paradeiro, no entanto, fazia uma quantidade absurda de energia se concentrar debaixo da pele de Jeongguk, a qual vibrava, eletrizada. Matar zumbis nunca havia sido tão útil até então, mas infelizmente era a única coisa que ele poderia fazer – matar zumbis e confiar em seu parceiro.

As notícias sobre a ordem de apresentação ou sobre o horário de início ainda eram incertas quando Taehyung finalmente conseguiu chegar. Com os cabelos bagunçados, as bochechas em um tom vivo de vermelho, a respiração ofegante e carregando uma mochila nas costas, ele se aproximou com passos largos, conseguindo desviar de quem quer que estivesse no caminho, e foi tudo o que bastou para que uma onda de alívio inundasse Jeongguk ao mesmo tempo em que o mundo ao redor perdia a definição de seus contornos, embaçando e ganhando linhas difusas para que seu parceiro ocupasse o centro.

Eles estavam salvos.

“Nós não somos os próximos, não é?”, Taehyung perguntou meio sem ar, olhando ao redor, antes que Jeongguk pudesse se focar em algo diferente daquela sensação. “Quantos na nossa frente?”, insistiu, notando que não obteve resposta e que não havia previsão de que obteria alguma em breve.

“O quê--? Ah, não, não, ainda nem começou…”, Jeongguk respondeu, recompondo-se. Com um franzir de cenho confuso ele notou que seu personagem no jogo havia morrido, devorado por zumbis furiosos. “Você vai dançar assim?”, indagou e inclinou o queixo rapidamente para cima, de modo a indicar a vestimenta que o outro estava usando. Taehyung olhou para baixo como se tivesse esquecido da formalidade que as roupas usadas para dar aula evocavam. “Tem banheiro nos camarins”, disse e apontou na direção de um par de portas mais afastado.

“Obrigado”, ele murmurou, antes de se virar, escolher uma direção e partir.

Quando retornou, Jeongguk já não estava mais jogando, tendo optado por ouvir a música deles nos fones de ouvido, garantindo que ele lembraria os passos na hora que precisasse e, mais importante, que ele seria capaz de retomar a coreografia em sincronia com Taehyung caso cometesse algum erro.

“Tá tudo bem?”, questionou, vendo-o de volta, já menos intenso. Jeongguk estava agradecido por isso – eles definitivamente não precisavam subir em palco com a mente ainda ocupada com o que poderia ter dado errado ou com pensamentos sobre o que poderia ter sido feito diferente.

“Tá, tá—”, Taehyung respondeu, deixando que os músculos de seu rosto aos poucos abandonassem as rugas de preocupação e relaxassem em um sorrisinho discreto, porém visível o suficiente para que Jeongguk soubesse que ele estava falando a verdade. “Quase não consigo sair e ainda tive que enfrentar um pouco de engarrafamento. Vim passando os passos na cabeça, pelo menos. Espero não errar nada.” Sentou-se ao lado de Jeongguk, enquanto o caos que eram os bastidores mantinha seu ritmo.

Jeongguk quis tranquilizar Taehyung de que tudo bem errar, que o mais importante era saber lidar com os erros depois que eles aconteciam. As palavras até se formaram em sua mente, junto com algumas palavras que eram bem mais que uma simples mensagem de conforto.

Vai ficar tudo bem.

Eu confio em você.

Em vez disso, ele optou por algo levemente diferente, com uma tosse seca como complemento. “É, eu também espero não errar”.

“Você não vai”, Taehyung foi rápido em rebater, baixo como um sussurro, e por um breve momento Jeongguk se arrependeu de não ter dito o que primeiro havia desejado – teria conseguido superar Taehyung e ainda contaria com o elemento surpresa a seu favor. Mas ele não disse, e naquele momento já não havia mais nada que pudesse fazer para evitar que sua mente o surpreendesse com a primeira coisa capaz de desviar a própria atenção da vergonha que sentia naquele momento.

“Você vai passar maquiagem?”, perguntou, soando estúpido até para seus próprios ouvidos.

Toda a fisionomia de Taehyung se iluminou com a pergunta, o que, apesar dos pesares, era um resultado muito bom, Jeongguk concluiu.

“Está se oferecendo pra ser minha cobaia?”, ele rebateu, sorrindo de canto, os olhos brilhando, e Jeongguk não podia ter outra reação a não ser dar de ombros.

“Não é como se eu tivesse algo melhor pra fazer...”

 

 

Jeongguk já havia esperado para se apresentar antes, e, se tinha algo de que ele nunca sentira falta, era a sensação de estar à deriva, esperando por alguma informação, qualquer uma, que pudesse estabelecer um norte, alguma perspectiva de que aquela esperar iria acabar.

O melhor que ele podia fazer, contudo, além de perguntar para possíveis organizadores do Star Line que passavam apressados por eles, era tentar se distrair ao máximo, enquanto reservava energia suficiente para dar o seu melhor em palco. Não era uma tarefa fácil quando tudo o que ele queria era se movimentar, liberar parte da expectativa em forma de passos improvisados para uma música que não podia ser ouvida e que só existia em sua mente.

Ser a cobaia de Taehyung o distraiu por um tempo, é claro, mas logo ele precisava de uma distração para sua distração. E não importava o quanto prendesse a respiração ou tentasse não fazer movimentos bruscos, ele encontrava dificuldades em manter sua mente sob controle, principalmente quando o outro desviava o olhar do que estava fazendo só para olhar Jeongguk, não como o delineado ou como a pele coberta de pó, mas Jeon Jeongguk e todos os segredos que ele tentava a todo custo esconder, só para tê-los escancarados, impressos em suas írises, prontos para serem lidos por seu maquiador.

Pelo menos seus pulsos se fechando com força quando sentia a respiração alheia batendo em sua pele podia ser escondida por baixo das pernas.

Até que, rápido demais, Taehyung estava se afastando, dando o trabalho por encerrado e, ao mesmo tempo em que era mais fácil respirar, era difícil se acostumar com a sensação da ausência, do frio, da liberdade. Fazia Jeongguk querer que a apresentação deles não demorasse tanto, para que ele pudesse esquecer todas aquelas coisas por algum tempo – e se ele teria Taehyung por perto novamente seria apenas um detalhe irrelevante. Sem importância alguma.

Ao seu lado, Taehyung parecia tão tenso quanto, mas, ao contrário de Jeongguk, ele não se impedia de fazer os movimentos que queria, andando em círculos, imitando passos que ele vira na internet e que acabaram ganhando visibilidade no mundo todo, brincando com o que sabia e também com o que não sabia fazer.

Jeongguk queria poder se juntar a ele.

Como se pudesse ler sua mente, Taehyung o notou observando e não se deu por satisfeito até que ele o estivesse imitando, seus passos inventados na hora, ignorando como as outras pessoas daquele lugar compunham um estranho quadro com seus figurinos coloridos, com seus alongamentos de impressionar qualquer um.

Foi naquela brincadeira de “siga o mestre” que Jeongguk acabou esbarrando em alguém que se deslocava, passando distraidamente às suas costas – ou pelo menos a primeira impressão era a de que não havia nenhuma intenção por trás daquelas circunstâncias. Todavia percebeu, tarde demais, que não se tratava de um simples bailarino desatento em meio ao caos dos bastidores, mas de um rosto familiar que havia muito Jeongguk não encontrava.

“Olá, Jeongguk, espero não estar atrapalhando nada”, ele o cumprimentou com um sorriso quando Jeongguk se virou para pedir desculpas pela colisão. Ele desviou o olhar na direção de Taehyung, mas voltou a encará-lo sem deixar que a presença do outro ali o afetasse. Seu sorriso sequer tremeu durante aqueles poucos segundos em que Jeongguk encarava a pintinha embaixo do olho direito, com as lembranças inundando sua mente e provocando reações diversas em seu corpo.

“Yugyeom...”, o nome saiu como areia em sua língua. Ao seu lado, Taehyung estava em silêncio, não mais rindo das caretas, dos desequilíbrios, da pequena competição não pronunciada entre eles para ver quem conseguia executar os passos improvisados com mais desenvoltura.

“Não pensei que iria encontrar você em uma competição, logo em uma dessas organizadas pelo Han Sungseo-ssi...”, comentou, divertindo-se com a cara de pateta que Jeongguk fazia ao encará-lo depois de tanto tempo.

“É, hm, a gente não queria perder a oportunidade de estar em palco...” Jeongguk tentou recuperar um pouco de sua compostura, virando-se para encarar Taehyung e introduzi-lo na conversa. Era bom ter algo diferente em que se focar, embora seus olhos não ousassem encarar o atual parceiro – não queria saber que tipo de expressão ele tinha no rosto. “Esse é Kim Taehyung, meu... minha dupla”, disse, esticando o braço a fim de indicar o homem ao seu lado, optando por mudar a denominação dada a ele ao perceber que a outra palavra não sairia tão cedo, ficando presa em seu peito. Esperava que sua hesitação não fosse tão óbvia e, para garantir que seu deslize seria pelo menos ignorado, apressou-se em continuar a apresentação. “Esse é Kim Yugyeom—”

“A gente dançava no mesmo grupo”, Yugyeom o interrompeu sem cerimônias, impedindo-o de expressar o que tinha em mente para explicar o relacionamento deles.

O engraçado era que Jeongguk não tinha ideia do que iria dizer e estava feliz pela interrupção – como ele poderia descrever anos e anos com uma simples palavra ou com uma frase curta? Estava tão abalado pela súbita aparição do outro que seu cérebro sequer conseguiria chegar à resposta oferecida por Yugyeom.

“Oh, entendo—Eu vou deixar vocês dois conversando, então, lembrei que eu tenho que ir no banheiro”, Taehyung ofereceu como desculpa para se afastar, desconfortável e ansioso por se ver longe dos dois, algo que Jeongguk notou, sem, no entanto, conseguir pensar em nada que pudesse tornar a situação menos embaraçosa.

“Tudo bem, foi bom conhecer você, Taehyung”, Yugyeom respondeu, sorrindo gentilmente como se não tivesse percebido que a explicação não passava de uma desculpa esfarrapada.

Jeongguk nem teve tempo de tentar impedir que sua dupla fosse embora, ganhando apenas um “vejo você depois” murmurado enquanto Taehyung resgatava sua mochila do canto onde ele a havia deixado e lhe dava as costas, desaparecendo em meio aos outros bailarinos.

“Ele parece legal”, Yugyeom quebrou aquele estranho silêncio entre eles, observando os cabelos castanhos que se distanciavam, visível por cima das outras cabeças.

“Ele é”, Jeongguk respondeu sem pensar duas vezes, com um suspiro. “Você está competindo também? Por que só é estranho quando sou eu competindo?”, indagou, virando-se novamente para seu interlocutor, mas se arrependendo do comentário no mesmo instante em que as palavras deixaram sua boca. Era estranho que ele competisse porque foi ele quem disse ­fodam-se as competições anos antes. Yugyeom, contudo, não parecia disposto a esfregar o passado em sua cara tão cedo – talvez estivesse esperando pela oportunidade que mais fosse lhe causar dor e sofrimento depois de tudo.

“Não é assim que são os dançarinos? Não se arriscam e se submetem a quase tudo por uma oportunidade de dançar?!”, ele deu de ombros, e foi impossível não lembrar da vez em que eles dançaram em cima de um palco que mal se sustentava em pé. A estrutura parecia que ia ceder a qualquer segundo, mas como bons profissionais que eram, ninguém pensou na possibilidade de simplesmente parar de dançar e garantir que eles ficariam a salvos primeiro. Nenhum deles pensava em outra coisa a não ser concluir a apresentação sem falhas – a integridade física deles que se danasse.

“É assim que são dançarinos”, Jeongguk concordou, deixando os ombros relaxarem diante da resposta e das memórias que elas provocaram. Eles costumavam ser parte de um todo, afinal de contas. Um todo muito maior, que era capaz de deixar as pessoas de queixo caído com suas performances, e um todo bem menor, que era só deles e de ninguém mais.

“Mas eu fico feliz em ver você de novo, dançando de novo... Como você está?”, perguntou com um tom esperançoso, gentil como talvez Jeongguk não merecesse, mas pelo qual ele se sentia grato.

“Tem sido uma montanha russa esses dias”, admitiu, pensando em todas as coisas pelas quais havia passado, os ensaios, os dias de trabalho, o esgotamento, a energia renovada no dia seguinte diante da perspectiva de poder se superar. Suas recém-descobertas preocupações com sua dupla. “Você vai competir com os outros ou...?”

“Com os outros?!”, replicou, sem entender a princípio, mas justo quando Jeongguk pensou em explicar a quem estava se referindo, as feições dele se transformara, transbordando compreensão. “Aah, não, não, eu estou aqui pela competição de solos... Você sabe, a vida de todo mundo se tornou uma bagunça depois...”, ele deixou a frase suspensa, mas não era preciso pensar muito para entender a que ele se referia. “E eu não encontrei ninguém com quem quisesse compartilhar o palco de novo, não recentemente”, finalizou, e Jeongguk pensou ter sentido uma leve provocação na forma como mencionou o fato, como uma piada interna que não era realmente engraçada, mas que era fácil de compreender.

“Não é como se você estivesse escolhendo alguém com quem se casar”, Jeongguk retrucou, mas sua voz não saiu azeda como poderia ter saído se ele ainda fosse o Jeongguk que se recusava a pisar em uma competição de novo depois de todo o estresse com ensaios e de toda sua sede de competição vencendo os laços que o unia aos outros.

E de todas as pessoas, Yugyeom era a quem deveria ter saído mais ferido de tudo, principalmente quando eles viviam grudados, como gêmeos siameses, embora seu relacionamento fosse muito além do amor fraternal comum entre integrantes do mesmo grupo.

Olhando para trás, Jeongguk percebia que era mais fácil machucar alguém próximo – quanto mais perto, maior a profundidade da ferida, e ele havia feito isso com Yugyeom, mesmo quando tudo o que o outro queria era ajudá-lo a entender que todos estavam fazendo o que podiam e que ele não estava sendo justo.

Se as pessoas parassem de dar desculpas em vez de se esforçarem, nós não teríamos perdido o primeiro lugar, você sabe disso.

O que você tá dizendo é ridículo, tem coisas que não estão sob o nosso controle, Jeongguk...

É, você tem mesmo toda razão-- eu não sei por que ainda estamos juntos, por exemplo, já que você não quer o mesmo que eu—Ou melhor, nós não temos controle sobre como queremos viver…

Se Jeongguk tivesse sido um pouco mais maduro para entender o lado dos outros, talvez tivesse conseguido evitar que o término deles fosse tão drástico.

“Você me conhece.” Ele riu daquela vez, sem dar sinais de estar chateado pelo que Jeongguk havia dito. E então em uma sútil mudança em sua expressão jogou Jeongguk de volta para um caminho de incerteza, desconfiança e receio.

“O quê?!”, perguntou, não gostando nada da forma como ele o encarava.

“Nada... Só estava pensando que você parece mesmo feliz... Diferente. Taehyung tem feito bem a você”, ele suspirou, os ombros relaxando ao mesmo tempo em que soltava o ar.

“Não é o que você tá pensando”, foi tudo o que Jeongguk conseguiu pensar em dizer, e Yugyeom arqueou uma sobrancelha. “Eu estou falando sério, eu e ele não estamos...”, tentou explicar, mas sem conseguir encontrar um complemento que fosse satisfatório e que não denunciasse todas as imagens bizarras que seu cérebro havia conseguido criar desde o último ensaio deles – nem mesmo diante da morte ele seria capaz de admitir que não conseguia tirar a imagem de Taehyung de salto da cabeça, o que era absurdo porque ele já tinha visto Taehyung de salto antes, não deveria ser nenhuma novidade.

Não deveria ser nenhuma novidade e, ainda assim, ele se pegava lembrando, e uma coisa levava à outra, de modo que ele acabava pensando em todas as outras vezes em que coisas estranhas aconteceram, como uma briga por um celular no meio da noite, como um lápis preto para olhos espetando-o pouco depois de uma língua rosada ficar tentadoramente presa entre lábios igualmente coloridos, como uma noite preenchida por batidas agitadas e luzes neon, como descobrir que ele seria seu novo parceiro, como o rosto atr-evidonão, Jeongguk se corrigiu. Como o rosto atraente que ele sempre imaginou que Taehyung fosse.

Desde o primeiro encontro na recepção do estúdio de seu sunbae.

“Se você diz...”, deu de ombros. “Sinto muito por ter interpretado errado”, pediu, mas Jeongguk o conhecia bem o suficiente para saber que ele não estava arrependido por ter se metido onde não devia. Em vez disso, ele parecia achar algo muito engraçado.

“O que é tão divertido pra você estar sorrindo assim?”, questionou, tentando não pensar em como as coisas haviam mudado a ponto de ele precisar perguntar para saber.

“Nada—Eu já falei que estou feliz por ver você dançando de novo?”, mudou de assunto tão rápido que Jeongguk quis bater em seu braço. Fechou a mão em punho ao lado do corpo, de onde ela não deveria sair.

“Já...”, Jeongguk disse com calma, sentindo-se mais velho de repente. E então, sem planejar e sem pensar muito sobre o que estava fazendo, ele adicionou: “Sinto muito pelo que aconteceu. Naquela época”, porque era a verdade e porque ele precisava.

“Acho que você não percebeu, mas no fundo as coisas já estavam desmoronando muito antes de você irritar todo mundo como a criança grande que você é... Ou era, é difícil dizer”, Yugyeom estava sendo sincero, mas não havia intensão de ofender.

Nesse instante, a música de abertura do evento soou alta e atordoante aos ouvidos deles, indicando que finalmente tudo estava prestes a começar.

“Você vai torcer por mim?”, Yugyeom jogou a pergunta, um último pedido antes da inevitável despedida.

Em outro momento de sua vida, Jeongguk sabia que diria que não iria torcer por ninguém ou que sua torcida não valia de nada. Especialmente sendo Yugyeom, de todas as pessoas possíveis para compor aquele quadro. Mas havia uma estranha calmaria em seu peito que fez seu sorriso sair fácil e sua resposta sair diferente. Imperturbável.

“Quebre a perna”.

Ao ouvi-lo, Yugyeom riu.

“Obrigado, sabia que podia contar com você”, ele respondeu, sincero, e Jeongguk se pegou sorrindo. Era como se eles fossem bons amigos de novo, como se nenhum dia tivesse se passado desde a primeira competição deles, embora muito tivesse acontecido até que eles estivessem cara a cara de novo. “Quebre a perna você também—Ah, dê um beijo em Taehyung por mim!”, Yugyeom estava se afastando, a voz soando um pouco mais alta do que havia soado até então. Seria uma típica cena de despedida, se não fosse a piscadela que o outro lançou em sua direção, o que fez Jeongguk revirar os olhos.

Mas vendo a figura que se distanciava, Jeongguk sabia que o passado havia ficado para trás e que tudo iria ficar bem.

 

 

 

Encontrar Taehyung no meio do caos dos bailarinos – que havia se intensificado com o anúncio do início da competição – não foi fácil. Jeongguk sabia que não iria encontrá-lo em banheiro algum, e as pessoas corriam de um lado a outro atrás de detalhes de figurino que já não estavam mais em seus devidos lugares depois de toda a espera.

Procurou nos camarins, nas escadas que levavam ao palco, esticando o pescoço em busca de qualquer vislumbre que pudesse obter. Depois dos solos eles seriam os terceiros a se apresentar, segundo conseguiu descobrir com um dos organizadores – que passaram a carregar pranchetas com uma lista definitiva de bailarinos em ordem de apresentação – e nunca era uma boa ideia ficar afastado dos integrantes de seu grupo quando as competições começavam. Sempre havia o risco de ficar faltando alguém.

“Taehyung!”, chamou ao avistá-lo conversando com um grupo de bailarinos vestindo macacões engraçados, cheios de desenhos infantis e coloridos sobre um fundo lilás. Jeongguk perderia algum tempo contemplando o conceito, viajando em pensamentos a fim de descobrir sobre o que seria a apresentação, se Taehyung não o tivesse ignorado.

Deveria ser a distância, concluiu, preparando-se para chamá-lo mais uma vez, porém desistindo antes que o nome deixasse sua boca. Aproximar-se dele era melhor que ficar gritando.

Taehyung não pareceu surpreso ao sentir a mão em seu ombro, mas a falsa inocência foi o que realmente fez Jeongguk arquear uma das sobrancelhas.

“Eu procurei por você por todo o teatro”, era uma mentira e um exagero, mas seu esforço era equivalente, de modo que sua consciência não pesava. “Nós estamos entre os primeiros, melhor não ficar longe”, explicou, vendo Taehyung franzir o cenho.

“Pensei que você quisesse mais algum tempo a sós com seu amigo”, ele rebateu, um tanto quanto ácido – e era impressão de Jeongguk ou havia um pouco mais de acidez adicionada à palavra amigo?

“Ex-namorado”, Jeongguk o corrigiu por impulso, sentindo a palavra não ter qualquer efeito em sua boca, mas trazer um estranho aperto para seu peito. Não pelas lembranças ou pelo vínculo afetivo que o unia a Yugyeom, não. Era a necessidade de que Taehyung soubesse. “A gente não se falava desde o término”.

Sorte sua que o grupo de macacão já não estava mais por perto, percebeu ao olhar ao redor.

Pigarreando e se distraindo em enfiar a bandana de volta na mochila só para ter algo com que se ocupar, ele se viu falando e falando, sem saber o porquê.

“Eu queria algo sério e duradouro, mas acho que Yugyeom não estava pronto para compromisso. A gente conversava com frequência sobre o assunto, disfarçando em tom de brincadeira as opiniões diferentes sobre o rumo do relacionamento, até que eu cansei de não ser levado a sério…”, fungou, pouco confortável em expor tanto – não deixava de ser uma ferida proveniente de uma aventura que terminou de modo ruim. Não, mais que uma aventura. Ele pensou que seria para a vida toda. “Foi... Feio”, concluiu, não muito inteligente, mas era o mais longe que seria capaz de ir.

A princípio, nenhuma palavra veio por parte de Taehyung. Nenhum conforto, nenhuma risada, nenhum comentário cheio de pesar e, o que seria o pior de tudo, de pena. A ausência de uma manifestação fez Jeongguk virar o rosto para finalmente encará-lo, encontrando forças para dar a cara a tapa de onde nem sabia que existia.

Mas ver, em primeira mão, o que quer que estivesse visível no rosto alheio ainda era melhor que permanecer no escuro sobre o que iria encontrar ali, como efeito de sua história.

Ou pelo menos foi isso o que Jeongguk pensou antes de encontrar o olhar turvo de Taehyung, o meio sorriso que era um misto de tristeza e de... céus, algo tão doce quanto compreensão.

E nem adiantava querer desviar o olhar, uma vez que a força magnética da figura à sua frente não o permitiria desviar nem mesmo por um segundo, a fim de verificar se a vez deles havia chegado.

“Por que ‘tá me contando isso?”, Taehyung indagou, já não mais adotando qualquer postura defensiva, nem mesmo sustentava o tom petulante e azedo. Em vez disso, ele havia murchado um pouco, a voz saindo como uma nota baixa, grave e calmante em seus ouvidos.

“Porque é a verdade—e porque eu não quero que você fique aí agindo como se eu fosse fazer dele minha nova dupla”, resmungou, por fim fingindo que havia algo de importante que ele precisava verificar na direção das escadas, como se ele fosse descobrir se havia chegado a vez deles só com um olhar.

Jeongguk imaginou que Taehyung teria algo a dizer, mas ele permaneceu em silêncio e a conversa foi dada por encerrada sem maiores incidentes. Talvez fosse até melhor não ter que lidar com as réplicas para sua explicação mal elaborada, afinal, não era o momento para que eles discutissem, mesmo que não houvesse nada o que fazer além de esperar mais um pouco.

Eles precisavam se concentrar no que estava por vir.

“Como você ‘tá?”, Jeongguk ouviu Taehyung perguntar baixinho ao seu lado, preocupado. “Nervoso?”, adicionou rapidamente, antes que Jeongguk pudesse imaginar que a pergunta se referia a Yugyeom.

O primeiro instinto de Jeongguk foi o de oferecer uma resposta negativa. Não, ele não estava nervoso, porque era o que ele queria acreditar. Parando para pensar no que estava sentindo de verdade, contudo, Jeongguk percebeu que não estava nervoso a despeito de toda a espera e de seu encontro com Yugyeom. Ele não estava nervoso para encarar o vazio, o desconhecido, porque de repente não importava nota, não importavam as reações da plateia, não importava que ele não quisesse ver o trabalho de horas trancado em uma sala sendo menosprezado pelos espectadores.

Ele e Taehyung haviam se esforçado e seria triste não obter um bom resultado, mas mais importante que isso era que ele estava desejando voltar ao palco, deixar o que havia de melhor em si sair, como uma vingança particular provocada pelo descaso demonstrado por aqueles que deveriam estar preocupados com a qualidade do que estavam oferecendo.

Além disso, ele estava de bom humor depois de conversar com Yugyeom e queria mostrar a ele também através da dança que era outra pessoa. Melhor.

Ele queria provar a si mesmo que estava diferente.

Dê um beijo em Taehyung por mim...

“Não—Não estou nervoso”, respondeu, procedendo com o alongamento de braços, pernas e troncos, sendo imitado por Taehyung que, ao seu lado, estava sorrindo – não mais o meio sorriso de antes, algo mais divertido em vez disso.

À medida que o tempo passava, a expectativa crescia. A cada artista, a cada bailarino que descia às escadas ofegante e com diferentes expressões em seu rosto enquanto o próximo competidor era anunciado pelo microfone, as batidas em seu coração aceleravam um pouco mais, a ponto de fazer suas mãos suarem e sua respiração ficar pesada.

Taehyung a seu lado, não dava sinais de que percebia aqueles pequenos detalhes, mas olhar para ele fazia Jeongguk esquecer por alguns segundos pelo que estava esperando. Sua mente era atraída para a forma como a língua passava pelos lábios a fim de umedecê-los, na forma como os fios de cabelo levemente mais longos cobriam os olhos, na forma como o nariz retilíneo e adornado por uma pintinha apontava para frente, não disposto a levar desaforo para casa.

Logo, alguém da produção os estava buscando, informando que eles seriam os próximos, e então Jeongguk estava recolhendo o pouco de confiança que havia identificado em meio aos batimentos acelerados e estava andando, lado a lado com Taehyung, sentindo a mão dele roçando na sua enquanto faziam o caminho até as escadas, mas se afastando quando começaram a subir, Taehyung a sua frente por alguns degraus.

Até que seu parceiro já não estava mais subindo, parando pouco antes de atingir o topo.

“Taehyung?”, Jeongguk o chamou, preocupado. “O que foi? Tem algo errado?”, indagou, sem conseguir imaginar por que motivo ele hesitaria ao estar tão perto do que tanto lutou para obter.

Ouviu-o puxar o ar com força para dentro dos pulmões, soltando com um expirar exagerado e barulhento, que trouxe algum alívio para o peito de Jeongguk, mas não sem deixar ali uma pequena semente de desconfiança.

“Nada não, deixa pra lá...”, Taehyung respondeu com a voz estranha, embargada. Era como se estivesse tentando fingir que tudo estava bem ou que não tinha algo a declarar naquele momento, e Jeongguk acreditou nele.

Deveria ser o nervoso, pensou. Todo mundo fica meio esquisito antes de entrar em palco, e ele falaria se algo estivesse mesmo errado.

Assumiram seus postos na penumbra das coxias, um de cada lado do palco, e esperaram pelo apagar completo das luzes, quando a dupla que se apresentava deixaria o palco.

A fim de se aquecer e ativar os músculos em seu corpo, Jeongguk deu alguns pulos no lugar, ouvindo a música diminuindo até desaparecer, substituída pelo som ensurdecedor das palmas.

Depois dos aplausos para os bailarinos que aos poucos eram absorvidos pela escuridão, veio o silêncio. Depois do silêncio, o nome deles sendo anunciado. Como bailarinos e coreógrafos, seus nomes davam corpo ao Hope Dance Studio, evocando as palmas rotineiras para recebê-los. Infelizmente, Jeongguk não conseguia ouvir muito bem a recepção calorosa, os gritos dos conhecidos que se encontravam na plateia. O coração batendo alto e forte em seus ouvidos não lhe permitia.

Com um último olhar na direção de Taehyung, embora não pudesse ver muito na penumbra, Jeongguk tentou confirmar que tudo estava bem. Não havia, contudo, mais espaço para preocupações, e ele disse isso a si mesmo, enquanto respirava fundo e se esforçava para se concentrar no que deveria fazer e para ignorar a sensação de que havia eletricidade correndo por suas veias.

Foi uma boa ideia, percebeu ao notar que seu peito se expandia e seus músculos relaxavam. As primeiras notas não o assustaram, e ele esvaziou a mente para se concentrar na já tão bem conhecida melodia.

Dançar em um palco, carregando o peso da responsabilidade por um trabalho, era diferente de dançar em uma apresentação de rua em que o máximo que ele poderia experimentar pela desaprovação era o vazio— a falta de espectadores interessados no que ele tinha a oferecer.

Mas naquele momento, em que ele deixava seu corpo se guiar por todas as horas de ensaio, ignorando o pior que poderia acontecer para se permitir ser e estar ali, Jeongguk se sentia no topo, e a julgar pelo sorriso e pelos olhares que Taehyung lhe lançava, ele não estava sozinho lá em cima.

Jeongguk ainda não conseguia ouvir as palmas quando as luzes se apagaram, ainda ouvindo o coração batendo acelerado em seus ouvidos, som que se intensificou depois que a música desapareceu por completo, competindo apenas com um leve zumbido devido ao retorno de som do palco.

Taehyung estava com dificuldade em respirar e tossia ao descer as escadas, cambaleando pelos degraus como se mal tivesse forças nas pernas para suportar o próprio peso – o fato de que ele precisava descer tornava o esforço ainda maior. Em um primeiro momento, era fácil atribuir aquelas reações à euforia contagiante dos palcos e em parte à quantidade de energia extra gasta para fazer a apresentação deles incrível – as pernas de Jeongguk estavam trêmulas e era simplesmente natural. No último degrau, contudo, Taehyung escorregou, provocando uma reação rápida por parte de seu parceiro, que o seguia de perto.

“Cuidado”, Jeongguk o alertou tardiamente, precipitando-se para segurá-lo. Seus braços permaneceram parados no ar, sustentando o nada, e sua ajuda revelou-se desnecessária: ele conseguiu equilibrar-se sozinho ao final da escada, tossindo um pouco mais.

Em reação ao alerta, Taehyung se virou, encarando-o surpreso. Todavia ao notar que seu parceiro o observava com os braços prontos para evitar sua colisão com o chão, ele talvez tivesse imaginado que seu objetivo era outro, lançando-se em seus braços por inteiro, sem hesitar, quase fazendo com que os dois caíssem com a intensidade da colisão entre os corpos.

“Você foi incrível, Jeongguk!”, o tom dele estava arrastado e suspiroso, e Jeongguk queria poder dizer que conhecia bem a sensação que borbulhava em seu peito, jorrando por todo seu corpo, a ponto de produzir constelações em seus olhos e de embriagá-lo com nada além de felicidade. Algo, porém, não estava se encaixando ali.

“Foi incrível...”, concordou, deixando sua mente vagar pela força com que ele se agarrava ao seu corpo em um abraço, pelas mãos que se agarravam à parte posterior de sua camisa, pelo cheiro de suor, xampu e… e Taehyung, que se desprendia dos cabelos dele e penetrando em suas narinas sem pedir licença.

Foi Taehyung o primeiro que se moveu para pôr um fim àquele abraço, já não mais dominado pela euforia contagiante do palco, mas foi Jeongguk quem o impediu de se desvencilhar de seus braços, mantendo-o firme em seu aperto de ferro, preso no mesmo lugar.

Se ele o questionasse, Jeongguk sabia que não teria uma explicação pronta para oferecer, e se ele se recusasse a permanecer ali, não haveria alternativa a não ser deixá-lo ir, mas nenhuma das duas opções teve vez. Taehyung o encarava como se estivesse curioso, sim, mas nada que o pressionasse a ter uma resposta na ponta da língua, nada além de um leve franzir de cenho que poderia facilmente ser ignorado – qualquer coisa poderia ser ignorada quando se tinha algo mais importante em que se fixar.

Enlevado e bêbado em nada além daquele fervor provocado pela sensação de dever cumprido misturada com a vontade de gritar, incapaz de conter toda aquela energia em seu corpo, Jeongguk não podia evitar querer mais. Nada poderia lhe impedir de reclamar ali, naquele momento, o maior prêmio da noite e que se encontrava ao seu alcance. Bastava apenas que ele se inclinasse um pouco e—

“Eu sinto muito, Jeongguk”, ele disse. E as palavras, como a água fria de um balde gigantesco e imaginário, percorreram o corpo de Jeongguk até atingirem seu coração.

“Do que você tá falando?”, conseguiu, lutando contra a garganta seca e a língua que se recusava a mover. Taehyung não poderia estar falando sobre— “Taehyung?”

“Eu sinto muito...”


Notas Finais


"Quebre a perna" sempre me pareceu um jeito meio violento de desejar boa sorte a bailarinos, mas isso existe, então não se assustem daskhdsajhsf Achei que seria muito a cara do Jeongguk e do Yugyeom...
Eu sempre preferi "merda" e variantes.
Eeeeenfim~

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