História Strawberries and Cigarettes (taeyoonseok) - 14. he tried

O barman de cabelos avermelhados estava trabalhando como sempre. A noite estava bem tediosa, quase nenhum cliente à vista e nem música ao vivo teriam, muito provavelmente porque as provas finais estavam próximas e os jovens finalmente acordavam para a vida e percebiam que precisavam estudar para se formar ou para passar de ano. Então, deixavam o sonho de serem artistas de lado por alguns dias, apenas para não arranjarem problemas em seu histórico escolar.

Hoseok não conseguia evitar, mas toda vez em que ouvia passos, levantava o rosto rapidamente esperando encontrar o loiro platinado ou o anjo das asas desgastadas indo em sua direção, mas não... Quando enfim percebia o que estava fazendo, então, logo tratava de disfarçar o quão ansioso estava, cantarolando alguma música antiga e mostrando um belo sorriso treinado por anos.

Fazia exatas três semanas desde que não se viam, vinte e um dias desde a madrugada em que comeram lámen na lojinha de conveniência e sentiram-se bem sendo eles mesmos, aproximadamente quinhentas e quatro horas desde que trocaram os números de telefone e, contudo, o acobreado não conseguia entrar em contato com qualquer um dos dois, pois eles ignoravam totalmente suas mensagens e ligações. Era como se tivessem sumido do mapa e o jovem odiava ter consciência do quanto a ausência de ambos mexia com ele. Pensou até mesmo em abordá-los, afinal, sabia sobre os lugares onde poderia eventualmente encontrá-los, mas achou que isso soaria desesperado demais por atenção. E Hoseok, em suas próprias palavras, era interessante o suficiente para ser sua própria atenção.

Em seu juízo perfeito, Hoseok não se importaria com esse afastamento, obviamente, pois tinha plena noção de que ninguém duraria ao seu lado, mas uma pontinha desapontada com certeza acabava transparecendo por seus olhos quando acabava se distraindo em seus próprios pensamentos. Imaginava se havia feito algo de errado, se Yoongi e Taehyung continuavam a se encontrar sem ele, se Taehyung estaria bem ou se precisava de ajuda... Sua cabeça estava um caos total e, vindo de alguém como ele, isso era novidade.

— Ei, Hoseok! Porra, você está bem longe daqui, né, cara? — Seungwoo deu uma risada e estalou os dedos, tentando chamar sua atenção antes de pegar os copos de bebidas e colocar em uma bandeja. — Nunca vi você assim tão perdido. Por acaso tem a ver com aqueles dois lá? Você andava resenhando eles pra caralho e não tenho visto eles por aqui ultimamente...

Hoseok molhou os lábios e respirou fundo.

— Cala a boca, idiota... — Revirou os olhos, abriu um sorriso brilhante e logo deixou uma risada rouca marcar presença. — Yoongi está ocupado com o trabalho e Taehyung, com as provas finais. Simples assim. — Deu de ombros, indiferente, quando no fundo tentava a todo custo acreditar em suas próprias palavras. — Agora vai entregar logo essa porcaria de drink que aquela gata tá secando você desde que chegou aqui. Você pode acabar desidratado.

Seungwoo sorriu, completamente ciente sobre o interesse da jovem, mas ainda estava um pouco preocupado com o colega de trabalho. Conhecendo-o há um tempo considerável, sabia que era extremamente raro vê-lo tão afetado por alguma coisa. Isso apenas acontecia em uma certa época do ano, quando ninguém era capaz de entrar em contato com o barman, que sempre avisava ao dono do boteco que aquele período de tempo longe contaria como suas férias.

Ok, na realidade, ninguém ali conhecia quem Jung Hoseok era de fato, exceto que ele era um trabalhador responsável, vivia sozinho e usava da sua vida de solteiro para dar para quem quisesse. Era uma pessoa bacana, sorria sempre, gostava de conversar e era um paquerador de carteirinha. Além disso, poucos notavam, mas ele conseguia ser bem carinhoso também, só que muitas vezes suas outras facetas acobertavam esse seu lado e não percebiam o quão bom ele poderia ser. Nem mesmo o próprio jovem era capaz de enxergar sua humanidade, que dirá outras pessoas...

Esse era o perfil que Hoseok tendia a passar, como um mecanismo de defesa para manter as pessoas longe, porém, perto o suficiente para que não se sentisse sozinho. E isso era confortável para todos naquele ambiente de trabalho: gostavam do acobreado justamente por ele não depositar seus problemas nos outros, não causar problemas a uma viva alma e não se intrometer em problemas alheios. Confortável.

Naquele momento, Hoseok sentia na pele como escolheu o caminho errado ao se deixar envolver pela companhia de dois estranhos, ainda que tenha escolhido de forma consciente trilhar esse caminho. O incômodo da perda era evidente e o jovem barman ficava mais e mais incomodado a cada minuto que passava, seja por raiva de si mesmo por se deixar levar tão fácil assim, seja pela preocupação de ter feito alguma merda que justificasse o súbito afastamento de Yoongi e Taehyung. Lembrava muito bem, além disso, de como refletiu muito sobre como afastar aqueles dois de si para, no final, ser ele quem foi deixado para trás. Irônico.

— Cara, seu celular tá tocando há um tempão. — Seungwoo aproximou-se bufando e deu um peteleco na testa de Hoseok. — Deve ter perdido umas sete chamadas. Atende essa merda antes que incomode ainda os poucos clientes que temos, por favor. Essa musiquinha chiclete dos infernos vai espantá-los.

O acobreado, assim, piscou algumas vezes até voltar a entender o que estava acontecendo e aonde estava. Ao confirmar que o aparelho realmente vibrava e tocava Axel F do Crazy Frog em alto e bom som, quase sentiu o ar faltar ao ler o nome "Yoongi Gatinho" no visor. Aceitou a chamada imediatamente, mas não sem mostrar o dedo do meio ao colega de trabalho.

Seungwoo, por sua vez, divertia-se com sua personalidade e sorriu como que uma criança irritando os pais de propósito e logo empurrou Hoseok em direção à porta do depósito, tomando conta do balcão de bebidas até a ligação ser encerrada.

— Ora, ora, quem é vivo sempre aparece. — O barman suspirou, fingindo indiferença. — Fala, gato, o que você quer? A quem agradeço a honra de poder falar com ilustre figura como Min Yoongi? Eu realmente estou emocionado, não é todo dia que... 

Do outro lado da linha, o loiro platinado bufava, nem um pouco surpreso com as palavras escutadas. Era óbvio que Hoseok falaria mais que a boca e continuaria falando sozinho caso não o interrompesse, afinal, queria tratar de um assunto importante e urgente. Admitia no fundo que nem hesitou em realizar aquela chamada, ou melhor, as oito chamadas, embora tivesse um certo pavor de se comunicar por meio de aparelhos eletrônicos, os quais sempre davam um jeito de distorcer o real sentido da mensagem a ser passada e criavam mais problemas para Yoongi.

— Como eu estou? — O ruivo prosseguia em seu monólogo quase sem respirar. — Eu estou bem, obrigado...

— H-Hoseok, eu estou no hospital. — Cortou o mais jovem com menos incerteza que pensou que teria.

De súbito o barman parou de tagarelar e franziu as sobrancelhas, contemplando a notícia com cuidado. Nem parecia que segundos atrás soltava palavras de deboche atrás de palavras de deboche, pois aquela simples frase mexeu com seu interior de um modo quase que familiar, de modo que sentia-se tão anestesiado que não percebeu o calafrio percorrendo seu corpo dos pés à cabeça. E então sua mente ficou vazia por alguns instantes, tentando processar tantas hipóteses ao mesmo tempo que as dúvidas iam se chocando contra si até desaparecerem sem solução. Sabia que Yoongi não telefonaria por qualquer coisa; ele gostava do silêncio e gostava de passar despercebido... 

— Como assim? — Travou o maxilar, extremamente sério, parecia outra pessoa realmente. — O que aconteceu? Você está bem?

— Eu estou bem. — O loiro acobreado suspirou, mostrando sinais de cansaço facilmente captados pelo barman, mesmo que estivessem a vários quilômetros de distância um do outro. — Taehyung, por outro lado, não está. Ele tentou, Hoseok...