História Street Racer - Cap 18

POV CAMILA

Senti meu corpo formigar. Tentei abri os olhos mas a luz forte me fez fechar novamente. Fui piscando tentando me acostumar com a claridade, e então me deparei com um quarto bem decorado. Olhei em volta do lugar estranho. Onde diabos eu estava? 

— Ah, acordou. — Normani disse entrando no quarto. — Vim trocar seus curativos. — Só então eu percebi os curativos no meu pescoço, braços e um grande curativo na minha mão. 

— Mani, que lugar é esse? 

— Essa é uma das mansões Jauregui.  — ela respondeu tentado parecer calma. Eu sabia quando ela estava fingindo. — Você lembra do que aconteceu ontem? — 

Alguns flashs da noite passada vieram com tudo na minha cabeça, mas não me lembrava de exatamente tudo.

— Onde está Keana? Por que estamos em uma das mansões Jauregui? — perguntei confusa, colocando a mão na testa. Que dor de cabeça! O que tinha acontecido?

— Keana? Provavelmente deve estar bem longe do país agora. Estamos aqui porque Lauren achou melhor que não voltássemos pra casa depois do que aconteceu. — ela disse limpando os machucados da minha pele. 

Lauren. Lembrei de Lauren me salvando de Keana e socando diversas vezes a garota. Oh meu Deus! Senti meus olhos se arregalarem. Keana tinha tentado me matar! Eu precisava falar com Lauren, eu precisava explicar tudo isso.

— Onde ela está? — senti o desespero em minha voz.

— Calma, já já ela sobe pra te ver, ela está preocupada com você.

Ficamos em silêncio. Lauren estava preocupada comigo? 

— Mani, o que aconteceu com a minha mão? — perguntei olhando pro curativo que era maior que os outros.

— Acho que você segurou o caco de vidro com muita força, não sei, quem te salvou foi Lauren. — ela disse e então ficamos em silêncio novamente. 

Observei ela limpando meus machucados quando algo me chamou atenção em seu dedo.

— Dinah te pediu em namoro? — um sorriso se formou nos lábios dela.

— Pediu. — respondeu sorrindo animada mas sem prolongar o assunto. — Prontinho, vai ficar novinha em folha. Vou descer e ajudar Lucy na cozinha, as Jauregui não sabem cozinhar, acredita nisso? — disse divertida. Ela deixou a caixa de primeiro socorros encima da mesinha e abrindo a porta. — Ei, olha quem tá aqui. — ela abriu a porta me dando a visão do corpo de Lauren. 

Ela usava uma roupa básica qualquer de andar em casa, o que, estranhamente, a deixava linda. Ela era linda. Lauren era linda de qualquer jeito. 

— Oi. — ela disse tímida — Está melhor?

— Estou bem. — era claro que nós duas estávamos sem graça na frente uma da outra. — Você está machucada! — minha voz saiu quase que automaticamente quando vi os ferimentos em sua mão. 

— Isso não é nada, quero saber como você está. 

— Lauren, você precisa fazer um curativo nisso. — disse tomando impulso pra levantar da cama e ir atrás da bolsa de primeiros socorro que Mani deixou.

— Camila! — Ela interrompeu meu movimento rindo do meu desespero. — Não é pra levantar da cama, o médico disse que era um dia inteiro de repouso. — Médico?

— Vocês chamaram um médico aqui? — perguntei confusa. Eu me lembraria de ter sido examinada, eu acho.

— Não, falei com o Dr. Johnson por telefone. 

— Oh, certo. — disse tentando me sentar na cama, Lauren me ajudou passando a mão pelas minhas costas. Ficamos em silêncio alguns segundos e voltei a olhar em direção aos machucados dela. — Me deixa cuidar disso. — pedi, sentindo seu olhar fixar no meu.

— Camila... 

— Lauren por favor! Isso é tudo culpa minha. — disse exasperada. 

Eu não podia deixar a mão dela daquele jeito, não depois do que ela fez por mim. Ela respirou fundo, caminhou até a mesinha perto da porta, onde Mani tinha deixado a maleta, e trouxe até a cama sentando de frente pra mim. 

— Por que viemos pra cá? — perguntei enquanto pegava algodão e álcool. Graças a Deus não eram feridas daquelas abertas. 

— Bom, não poderia te levar pra casa machucada assim, nossas mães fariam perguntas. — Senti ela me observando enquanto molhava o algodão com álcool.

— Vai arder. — avisei encostando o algodão úmido na pele dela. Ela tentou puxar a mão mas acabei segurando com força sentindo sua mão gelada. Quase ri da sua careta de dor. — Nossos pais sabem que estamos aqui?

— Sabem. Ally e Troy enrolaram eles e vieram pra cá. Eles trouxeram algumas coisas pra vocês vestirem, mas se quiser pode pegar coisas no meu guarda roupa ali. — ela gemeu de dor quando passei o algodão na ferida maior, não aguentei e soltei uma risadinha.

— A bad girl que disputa rachas não aguenta dor? — provoquei fazendo ela rir. — Então esse quarto é seu? — ela assentiu. 

— Suas irmãs ocuparam o único quarto de hóspedes. Eu achei que você precisaria de silêncio pra repousar. — ela disse completamente sem graça. Achei fofo por um momento, quer dizer, ela se preocupou com isso.

— Obrigada, isso é legal da sua parte. Depois de tudo isso, achei que nem olhar na minha cara você iria. — disse tentando demonstrar toda a sinceridade que eu sentia, em minhas palavras. 

Ficamos em silêncio alguns minutos. Continuei limpando os machucados de sua mão sem nem olhar pra ela. 

— Camila, o que houve lá? — ela quebrou o silêncio — Por que Keana fez tudo isso? Por que você não se afastou dela quando viu que ela não era uma boa companhia? — Eu tinha que contar. Lauren precisava saber de tudo. Eu devia isso à ela.

— Eu tentei. — disse respirando fundo. — Ela me ameaçou. Ela disse que se eu terminasse com ela eu iria fazer companhia a Britt. — disse num sussurro tentando evitar os olhos de Lauren.

— ELA FEZ O QUE? — a indignação no grito de Lauren me fez encolher. — Camila, eu não acredito! Por que não me contou isso? Eu poderia ter te ajudado! Merda! — ela se levantou da cama me encarando com aquele olhar que poderia me matar em um piscar de olhos.

— Eu estava com medo Lauren, você me disse do que ela é capaz!

Estava me sentindo pequena naquela cama, sob o olhar julgador de Lauren. Ela suspirou fundo voltando a sentar na cama.

— O que mais ela fez? O que ela queria fazer ontem? Ela te obrigou a alguma coisa? — o tom preocupado em sua voz esquentou meu coração. A sensação de ver ela preocupada comigo era ótima.

— Ela estava drogada, já faz um tempo que ela está se envolvendo com isso, e dessa vez ficou bem agressiva, quando cheguei na casa dela. 

Fui me lembrando de cada momento e um arrepio frio percorreu meu corpo. Eu não queria lembrar disso tudo, muito menos falar dessa parte pra Lauren.

— Tá tudo bem, pode falar. — ela incentivou. Tomei coragem e resolvi falar tudo de uma vez.

— Ela queria transar comigo, e eu recusei. — eu não conseguia olhar pra ela, mas sentia seus olhos me queimando. Eu não suportaria ver seu olhar de pena. — Ela não aceitou e tentou tirar minha roupa. — meus olhos começaram a arder. Eu não queria chorar de vergonha por ter passado por essa humilhação. — Eu estava com nojo e não podia deixar ela fazer isso comigo. — a repulsa de lembrar daquele momento fez a primeira lágrima cair, seguida de outras. — Chutei a perna dela e corri pro banheiro me trancando lá. Mandei a mensagem pra Lucy enquanto escutava ela me ameaçando e falando coisas que... - minha voz falhou — Lauren... — tentei dizer, eu já soluçava. 

— Shhh, não precisa me contar mais nada. — ela disse me puxando pra um abraço. 

Enterrei minha cabeça em seu pescoço e ela nem ligou de eu estar molhando toda sua blusa, pelo contrário, ela me puxou ainda mais pra si. Apertei ela com força, sentindo falta de alguém que se importasse comigo, e ficamos assim por um tempo.

— Você acha que ela vai voltar? — perguntei fungando e secando o rosto.

— Depois do que eu fiz com ela? Provavelmente não. — ela disse tentando ser divertida, me fazendo soltar uma risadinha. — Você dormiu bastante, se estiver melhor, toma um banho. Tem roupas suas naquela mala, mas você pode olhar meu closet. — ela disse se levantando da cama, sem esperar resposta. 

Eu iria pedir pra ela ficar mas eu não tínhamos essa intimidade.

Fiquei mais algum tempo pensando em tudo o que tinha acontecido. Eu não iria conseguir seguir minha vida se eu não bloqueasse todas as imagens de ontem da minha cabeça.