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História Submission - Tell me pretty lies


Escrita por: cwbeIlo97

Capítulo 5 - Tell me pretty lies


Embora minha casa fique na cidade, existe uma divisão, e se você segue essa divisão chega numa região rural, quilômetros de terra plana, espaços abertos e apenas uma casa antiga. C. corre por aqui com frequência, com Rameau ao seu lado. Vestindo uma roupa de correr preta e tênis, eu a surpreendi de manhã cedo na esquina de sua rua, não muito longe da minha casa. Ela pareceu se divertir com a minha aparição e me convidou para correr. O sol ainda não tinha nascido. No vento frio, nosso fôlego escapa em pequenas nuvens brancas, o meu mais que o de C. Há séculos que não corro, e, embora malhe, não estou preparada pra corridas longas.

Olho para ela. Admito que é uma mulher atraente. Magra e em boa forma física, está com uma expressão entediada. Veste uma roupa de corrida azul. E luvas, queria ter lembrado de usar luvas. Meus dedos estão dormentes por conta do frio.

- Onde estava anteontem à noite? - Pergunto.

Ela me dá uma rápida olhada.

- Anteontem à noite?

- É, por volta das oito e meia. - Ela pensa um pouco antes de responder.

- Em casa.

- Sozinha, aposto.

- Isso mesmo.

- Muito conveniente. E sabe algo a respeito de um carro escuro com vidros fumê que quase me atropelou?

C. para de correr.

- Está falando sério? - Diz, uma expressão de preocupação invadindo seu rosto. - Não tenho intenção alguma de atropelar você. É óbvio que foi um acidente.

- É óbvio.

Ela olha para mim com um sorriso divertido.

- Se eu decidir te perseguir, Lauren, vai saber. Não vou me esconder por trás de vidros fumê.

- E é bom que saiba que vai precisar de mais do que uma tentativa fracassada para me assustar. Eu quero descobrir a verdade sobre minha irmã e você.

Continuamos correndo sem conversar.

Respirando com dificuldade, vou correndo. Meus pés já estavam doendo, e eu me sentindo completamente desajeitada ao lado de C.

- Eu normalmente me exercito numa academia. - Digo, tentando respirar normalmente. - Há anos que não corro.

- Nota-se. - Rebate, e sinto a condescendência em sua voz. Corro mais rápido, embora isso faça com que meus pulmões pareçam prestes a explodir.

- Você disse que sabia sobre o diário de Taylor... - Começo.

- Sim, já li inclusive.

- Então sabe o quão incompleto era. E que, mais para o final, deixou de fazer anotações. A última parte de sua vida não está registrada.

Dou uma pausa tentando recuperar o fôlego.

- Você não me disse coisa alguma sobre Taylor no jantar. Quero saber o que aconteceu durante as semanas antes da morte dela.

- Não tão rápido. - Diz C. - Temos que voltar para o começo, vamos fazer cronologicamente. O que aconteceu no final, fica para o final. - Hesita e em seguida acrescenta. - E só posso te dar informações até um certo ponto, como não matei Taylor, terá que se informar a respeito da morte em outro lugar. Mas mesmo assim, tenho muito pra contar.

Continuamos. Estou irritada mas tento não mostrar. Afinal, o jogo é dela, e tenho que jogar conforme suas regras, ou deixar ela pensar isso.

- Então tudo bem. Vamos fazer do seu jeito, me conta alguma coisa da Taylor, alguma coisa que eu não saiba.

Pensativa, ela encara o imenso gramado, sua cor cada vez mais intensa com o clarear do céu.

- Há duas coisas que Taylor fazia muito bem: comunicar-se, sei que deve ser surpresa pra você, e sexo oral. - Disse. - Pensando bem, acho que ambas as coisas são surpresa para você.

Sexo oral? Fico calada. Depois de ler o diário, entendi que ela, como todo mundo, tinha desejos sexuais. Mesmo assim, tenho dificuldades em imaginá-la chupando Camila.

- No início, ela era péssima com ambos. Era muito tímida e tinha problemas em falar a seu respeito, ou sobre seus pais e o que sentia. Quando passou a confiar em mim, abriu-se completamente. Ou talvez eu a forcei a se abrir. Ela não teve escolha, eu interrogava sem trégua, cutucando sua psique mais e mais profundamente. Ela continuou sendo tímida e medrosa até o fim e jamais me enfrentou, mas pelo menos chegou ao ponto de expressar seus sentimentos. Para mim, pelo menos. Sei muito a seu respeito, Lauren, do ponto de vista da Taylor. Sei o que ela achava de você e o que queria e não podia ter de você.

Ignoro sua tentativa de fazer eu me sentir culpada. Não era muito mais que uma criança quando Taylor veio morar comigo e fiz o que pude. Não fui uma grande irmã, disso eu sei.

- E, quanto ao sexo oral, ela era realmente horrível quando nos conhecemos. Desajeitada, perigosa até. - Ela ri. - Mas ela se esforçava em agradar e aprendia rápido. Depois que ensinei o que fazer, tornou-se excelente. É claro que sua disposição para aprender era culpa do meu poder de indução, ela aprendeu rápido que as consequências por não me satisfazer eram maiores que sua relutância.

Eu controlo minha raiva, mantendo a distância suas palavras frias. Sei que quer me deixar com raiva ou culpada.

- Que consequências eram essas?

- Não tão graves como está imaginando. Lembre bem que ela era apaixonada por mim. Queria me agradar.

Em vez disso, lembro de como ela a amarrou à cadeira da sala de jantar, de pernas abertas, para castigá-la por ter vestido o robe vermelho.

- Quais eram as consequências? - Repito, mas ela ignora.

Chegamos numa velha ponte de concreto e começamos a voltar.

- Por hoje chega. Por que não me diz algo sobre você? - Suspiro.

- O que quer saber?

- Todos temos segredos, Lauren. Todos temos problemas, coisas que não queremos ou podemos enfrentar. Taylor parecia crer que você não tivesse nenhum, eu não concordo. Quero conhecer os seus.

Não tenho a menor vontade de compartilhar coisas com essa mulher.

- Converse comigo.

Fico mais uma vez em silêncio, muito desconfortável com o caminho que a conversa toma.

Corremos por uma fileira de árvores antiga.

- Fale a respeito das mulheres da sua vida. - Pede, me encorajando a falar. - Taylor dizia que se mantinha sempre distante delas, que você tinha inúmeras namoradas mas não levava a sério.

- Não sou distante da minha atual namorada, somos muito próximas até.

- Natural, e temporário. Você perde a irmã e procura consolo em alguém, não vai durar.

Sinto a raiva aumentar.

- Você não sabe coisa alguma a meu respeito ou da minha namorada.

- Esquece ela, não me interessa. Quero saber por que nunca se apaixonou.

- Tive muitas namoradas. - Digo, olhando para o chão.

- Mas jamais se apaixonou. - Havia insistência em sua voz.

- Estou apaixonada agora. - Ela me lança um olhar gélido.

- Então tá. - Concorda embora não acredite em mim. - Está apaixonada agora, pela primeira vez na vida aos vinte e cinco anos de idade. Muito estranho, não acha?

- Não. Simplesmente demorei para encontrar a pessoa certa.

- Está mentindo, tem mais por trás disso.

- Estava muito ocupada com a minha carreira, e antes, com a faculdade. Não tinha tempo ou vontade de me envolver com alguém.

C. passa alguns minutos em silêncio e de repente olha para mim.

- Agora me conta a verdadeira razão.

Fico quieta. Conheço bem a resposta; tive muitos anos para pensar nisso. Mas C. é a última pessoa com quem me abriria.

- Taylor queria muito ser amada, mas, até eu entrar na vida dela, não tinha ninguém. Você teve inúmeras namoradas e se recusou a se aproximar delas. Você não enxerga, mas são dois lados da mesma moeda. São muito mais parecidas do que imagina.

- Talvez não tenha me aproximado de ninguém porque só queria me divertir. Nada de envolvimentos sérios, nada de compromissos, só divertimento.

- Talvez, mas eu duvido, Lauren. Está escondendo algo de mim.

Voltamos ao local onde começamos. C. para, Rameau também. O animal ofega, sua língua descansa de um lado da boca.

- Não precisa saber nada sobre mim. - Digo. - Não tem nada pra saber. E você não me disse nada sobre Taylor, ela conversava e te chupava bem, e daí? Quero saber das coisas que não li no diário.

- E saberá. Saberá bem mais do que gostaria. - Quando se vira para partir, agarro seu braço.

- Agora, quero que me conte alguma coisa agora. - C. retira minha mão.

- Não foi a curiosidade que matou o gato, foi a teimosia. Está aí algo que Taylor nunca aprendeu. E algo que é melhor você aprender antes que seja tarde.

Minha respiração morre na garganta. Foi por isso que a matou? Sua teimosia?

Uma rajada de medo, gelada, invade meu corpo.

- O que quer dizer com isso?

 C. apenas sorri, e então ela e Rameau sobem a rua correndo, me deixando para trás.



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