Plataforma 2 17:30 25/11/2016
Rotineiro.
O local já estava cheio, como sempre. Era o horário de pico então não era nada além do normal, ainda mais na estação que parecia ser a mais movimentada do metrô.
Ela teve a sorte de sair mais cedo, seu chefe achou que não tinha nada demais em liberá-la um pouco antes da hora daquela vez, ela tinha que ir à tal festa do sobrinho e não poderia se atrasar. Além do mais, ele poderia descontar aquele pequeno favor com outras coisas mais tarde.
E lá estava ela, em cima da faixa do metrô, esperando. O vento vinha quente. O Rio de Janeiro parecia um inferno, não só pelo clima - pelo menos para a mulher.
Ela lembrava agora de todas as coisas que a rotina atarefada do trabalho a faziam esquecer. Dos pais pressionando, a escola que teve que largar para trazer dinheiro para casa - já que ela tinha idade o suficiente para ser algo além de um estorvo para os pais -, do irmão que engravidou a namorada "puta" e teve que casar muito cedo, o sobrinho - fruto dessa confusão - que tinha que ser educado para que não tivesse o mesmo erro de seus pais - ou até mesmo o erro que os próprios avós tiveram.
Ter um filho.
Na santa e sagrada Bíblia do Senhor, diz-se que os filhos são Sua herança. Mas ela só conseguia se ver como uma maldição.
Aquelas palavras santas eram repetidas frequentemente, mas os olhares de decepção, as "conversas de correção" e os silêncios - como quem já está cansado demais para continuar a tentar converter certa pessoa - já que ela já está perdida demais para ser salva - eram tão frequentes quanto. E aquilo pareceu chegar ao seu ápice naquele momento, no metrô.
Havia lugar certo para ser sentir mal? Para se sentir sufocado ou esgotado?
Qual era o código?
O que era preciso para que aquilo se ativasse tão facil? E como se parava?
Para ela, só bastou 2 passos para frente.
Prezados clientes, o metrô está em modo de emergência ...
E as pessoas na plataforma reviraram os olhos, tanto pelo anúncio no auto falante quanto para a mulher imóvel nos trilhos.
Mas uma que atrapalhava a ida para casa dos outros.
Ficaram ali, esperando, até que o corpo fosse retirado e o metrô finalmente viesse, enchendo como uma lata de sardinha, e indo embora.
Agora sim.
Tudo bem de novo.
Rotina reestabelecida.
Que Deus a perdoasse. Amém.
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