O cavaleiro de virgem estava sentado em seu trono em forma de lótus. O centro de sua solidão e arrogância.
"Há outro jeito.... Shaka..."
Aquela voz o conhecia tão bem, havia sido como seu pai e mestre desde seu nascimento... O machucava saber que até mesmo ele estava dizendo coisas tão sem sentido.
"Eu sei que dói, mas por favor, reconsidere...."
Ele não iria
"Pense de novo"
Ele não vai
"Shaka, não faça isso"
Ah, ele iria.
Levantou de seu trono, mas sua mente continuava em estado profundo de meditação, a voz repetia "reconsidere" como um mantra, intercalado com seu próprio mantra "ohm"
"Ohm": a palavra primordial que criou o universo
"Shaka, por você, não faça isso"
Se ele ligasse para si mesmo, não estaria andando até a cozinha agora
"Por mim então"
Mentiras, mentiras, mentiras...
"Se não por mim, por seus amigos"
Que amigos?
"Por Mu de Áries!"
Ele também não ligava... Ou talvez, Shaka queria que ele não ligasse. Suspirou, sentou no chão, e parou seu mantra, precisava responder
"Ah... O que tem Mu de Áries?"
Se Shaka pudesse ver o rosto de Buda agora, não saberia se ele estava desesperado para tocar em um assunto tão delicado, ou apenas tomando o caminho certo, sabe como é, às vezes até sábios se enganam.
"Você o ama"
"Claro que não"
"O adora"
"Mentira"
"Gosta dele"
"Não"
"O considera"
"Desista"
"De você não, Shaka"
"O que quer de mim?"
"Que pare de ser idiota"
Vazio, foi o que ele sentiu, o vazio que você sente quando sabe que outra pessoa que discorda de você está certa.
Ele era um idiota por ainda estar ali discutindo
Uma vez, lhe disseram que o verdadeiro motivo de não abrir seus olhos era porque tinha nojo de si mesmo, ou até mesmo medo.
Uma vez, lhe disseram que nem todo poder do mundo o faria ser bom o bastante
Uma vez, lhe disseram que seria melhor se ele estivesse morto
Shaka chegou à conclusão de que a vida é cheia de "uma vez..." Porque, se for só uma vez, parece que não tem importância
Uma vez você nasceu
Uma vez você conheceu seu melhor amigo
Uma vez você riu
Uma vez seu amigo foi para longe
Uma vez você chorou
Uma vez você ficou deprimido
Uma vez você abriu seus pulsos com uma faca de cozinha
Uma vez você se trancou em sua casa e não saiu mais
Uma vez você agiu como um idiota
Uma vez você se matou
A vida é só um grande "uma vez..." Assim parece que não dói tanto. Mas virginianos tem mania de somar tudo.
"Shaka, pense em seu amigo"
"Mu não é meu amigo"
"Como pode dizer isso depois de tudo?"
"Dizendo, essa é a verdade"
"Não é, e você sabe"
"Mesmo que eu me importasse com ele, ele não se importa comigo"
"Claro que se importa"
"Só se importa com a armadura de Áries"
"Shaka, pare de dizer coisas imbecis"
"Ele não liga, eu sei disso"
"Shaka"
"Ele me odeia"
"Shaka!"
E um vaso caiu da mesa e se espatifou, como se toda a raiva de Buda estivesse concentrada bem ali, como um aviso de "Shaka, você nem vai precisar se matar se não parar de falar tolices"
"... Eu limpo depois"
"Shaka ele te ama"
"Ele ama Kiki"
"Em que mundo isso impede que ele te ame?"
"Não sou alguém que atiça o amor nas pessoas"
"Eu te amo"
"É diferente, você é Buda"
"Tenho certeza que ele te ama"
"Como pode ter certeza de algo que é mentira?"
"Shaka, está sendo infantil"
"Não estou não"
"Você é um tolo, Shaka, ainda é muito jovem"
"Sou adulto o bastante para saber o que é melhor para mim"
"Shaka, está louco."
E aquilo doeu mais que qualquer golpe, qualquer facada que ele já tivesse dado em seu pulso. Doeu como... Ele não sabia, não se comparava a nada, nada que ele já tivesse passado ou sentido, era como se ele caísse de um penhasco, e o ar o comprimisse, o apertando, fazendo com que seu coração explodisse
Agora mesmo, ele estava chorando sentado no chão forrado com um tapete vermelho.
Shaka de virgem estava chorando
Mais lágrimas do que as gotas de chuva que caíam lá fora, raios, trovões, ventos e escuridão...
Chegava a ser assustador.
"Não irei mais discutir com você, Buda"
Ele levantou do tapete, seu rosto ainda úmido e cheio de lágrimas, se ele tinha alguma dúvida, ela havia se esvaído, e havia ido para mais longe que Mu, carregada pelos ventos.
"Shaka"
Era apenas um eco
"Vamos Shaka, repense"
Tão longe quanto qualquer coisa ao seu redor
"Vão sentir sua falta"
Shaka era como a solidão em pessoa
"Filho"
Ninguém sente falta da solidão
Ele lembrava daquela adaga dourada, ainda brilhante como a constelação do cavaleiro que a deu de presente a Shaka. Pensava em ter outro uso para o presente de Mu, algo como abrir cartas.
Mu estava longe
Aldebaran só sorria para ele
Saga o ignorava
Máscara o perturbava
Aioria não ligava
Aioros estava morto
Miro não o olhava
Dohko sentia pena dele
Shura era indiferente
Camus não sabia dizer se era um imbecil ou um louco
E Afrodite nem se lembrava dele nas raríssimas vezes que rezava
Quanto tempo levaria até que percebessem que ele estava literalmente morto? Porque, para o mundo, ele já havia morrido há muito tempo.
E agora, mais do que nunca, ele não sentia nada, e nem entendia nada
Estava cego demais para notar as lágrimas escorrendo dos olhos da estátua de Buda.
Estava surdo demais para escutar a armadura de Áries, ainda em sua caixa, caindo no chão.
Fraco demais para sentir o perfume de lavanda e de sangue que impregnavam a casa
Deprimido demais para sentir o gosto de seu sangue em sua boca
E quase sem ar demais para sentir duas lágrimas caindo em seu rosto após sentir sua cabeça ser colocada sobre as pernas de alguém
A constelação de virgem brilhou com toda sua força, assim como a vida de Shaka que o deu 5 segundos de força o bastante para notar o homem com cabelos lilases que derramava lágrimas e tentava conter os soluços com uma mão manchada de sangue
E em sincronia com a constelação, a vida de Shaka se apagou, tão rápido quanto cair no sono após uma semana acordado, apenas um milésimo de segundo
Ah, Shaka...
Eu me importava.
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