Ele achou a árvore como se soubesse o caminho pela palma de sua mão, mesmo depois de todos aqueles anos.
O tronco grande e majestoso parecia muito menor, diferente de suas memórias antigas. A cavidade grande em que ele passara dias escondido da chuva e de pessoas da vila não passava de um pequeno buraco agora, as folhas da árvore menos vibrantes.
Ainda assim, o homem tocou o velho tronco como se fora precioso. Seu sorriso se abriu para algo levemente doce amargo, olhos vermelhos perdidos em memórias de tempos passados.
Soren sabia que não seria a mesma coisa, mas ainda assim tinha vindo até ali.
Ele não achou coisas para dizer, e nem viu motivos para fazê-lo; já dissera o suficiente de volta ao continente do além-deserto, numa colina de frente ao mar onde apenas a haste de uma velha espada a demarcava como um lugar especial por entre tantos outros.
A memória que tinha vindo para sua mente, a de um pequeno garoto e uma mão estendida por entre tantas que o afastaram, acabou por trazê-las, mesmo assim.
- Espero que não se importe que eu tenha passado aqui antes de cumprir o que prometi à você. – O homem não sabia por que estava sendo tolo ao ponto de falar coisas que certamente não seriam ouvidas por ninguém; mas também, ele havia se apegado a muitas coisas tolas naqueles últimos anos.
- Crimea prospera assim como você pensava que estaria. O rei seguiu os passos de sua mãe decentemente. – De sua boca, aquilo seria um elogio e tanto, provavelmente. O líder do país ao norte talvez nunca fosse como Elincia fora em seu auge, mas era alguma coisa. -... O forte também ainda está de pé.
Assim como novos integrantes, e um líder com os olhos claros de Mist e a postura displicente de Boyd. Soren se mantivera por entre as árvores, só por tempo o suficiente para não ser notado pelos mercenários. Não encontrara rostos familiares, como já esperado, mas gastara alguns minutos parado junto ao cemitério da vila mais próxima.
As pessoas mal apontaram para ele, nada além de breves olhares para a marca em sua testa. Ele não confundiria apatia de outros por aceitação, mas ainda assim era melhor que ódio.
- Depois daqui... Eu irei até Goldoa, como prometido. – Seus punhos se fecharam, uma reação involuntária.
(Ele podia se lembrar da cena em sua mente, tão clara. Do homem de cabelos que um dia tinham sido azuis, uma mão em seu ombro, sempre o guiando para além de sua teimosia.
- Sua mãe está viva, Soren. Não deixe de fazer coisas que um dia você se arrependerá de não ter feito.
Ele quisera rebater, mas a quietude do momento não o permitira. No fim, Soren só pôde assentir.)
Ele não sentia nada por aquela mulher, não possuía o mínimo desejo em vê-la. Mas aquela fora uma das últimas promessas que ele fizera a Ike, e tempo era o que não faltava para cumpri-la.
- Depois... Suponho que eu procure outros lugares para ir. Eu já deveria esperar que você fosse me condenar a uma vida longa vagando sem rumo. – Ele suspirou, o sorriso doce amargo voltando à sua boca. – Me fazendo prometer viver até o resto de meus longos dias, mesmo que o tempo passe tão mais lentamente sem você.
O homem engoliu em seco, empurrando para baixo o nó que se formara em sua garganta. Ele olhou uma última vez para o tronco da árvore, para o lugar de breve estadia de um garoto que um dia achara que morreria depois de apenas mais alguns dias sem comida, e pensou em como a vida poderia ser tão irônica.
Ainda assim, talvez ele ainda pudesse lhe dar uma última chance.
Soren deixou o lugar sem mais palavras, sem olhar para trás. A brisa leve que passou por ele ao se virar, uma que fez seus cabelos e a capa vermelha em suas costas voarem, sentiu como uma despedida.
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