Quando ela viu os dragões aparecerem pelo portal, Lyndis por um momento achou que aquele era o fim.
Todos eles haviam ido até o Dragons Gate preparados para o pior - todos os que permaneciam com a sua companhia tinham sido avisados dos riscos, mas preferiram perseverar ao lado do grupo. Com o continente em risco, não tinham nada a perder.
Mas lá, naquele momento, ela não queria, não podia deixar que acabasse. Não quando Ninian surgira novamente na frente de todos e desmaiara de esforço logo depois de conter os dragões o máximo que podia. Não pelo olhar desacreditado de Eliwood ao vê-la, pelas lágrimas que caíram dos olhos de Nils.
Não pela mão que Hector colocara sobre a sua quando ela o abraçara por trás, quando ele prometera que não morreria naquele dia.
Ela apertou a haste de Sol Katti por entre seus dedos, a figura imensa do dragão de fogo de pé e absolutamente aterrorizante a poucos metros de seu grupo. Não era hora de hesitar, ela não deixaria que sua fraqueza a fizesse perder mais pessoas que ela amava de novo.
A garota respirou fundo, vendo quando os outros em volta dela também se prepararam, e correu.
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O estrondo da carcaça do dragão atingindo o solo fez o chão tremer, quase a desequilibrando em sua posição precária sobre as pernas fracas e a lâmina de sua espada quase cravada numa rachadura no solo. Lyn ainda respirava com dificuldade, observando o corpo chamuscado do dragão com olhos turvos, não acreditando no que via.
A adrenalina de seu corpo começou a ser somada por realização, que subiu como um jato de alívio por suas veias e quase a fez cair de joelhos ali mesmo pelo tamanho do cansaço que pareceu inundá-la de repente.
Ela olhou para os lados, observando os rostos aliviados das pessoas em volta - até que eles pararam em Hector mas a frente e Eliwood um pouco mas adiante, ambos parecendo tão exaustos quanto ela.
O primeiro escolheu esse momento para virar-se na direção dela, e por um instante ambos se viram parados no tempo, olhos presos um ao outro, o mundo envolta esquecido.
Ele abriu um sorriso largo e Lyn se lembrou então do sol surgindo pelo horizonte nas planícies, de quentura e de uma casa que ela uma vez pensou que nunca mas iria ter.
E quem diria - ela havia achado uma em Caelin, em todos os seus amigos que conhecera desde sua legião, e no homem brusco e imprudente que ela um dia pensou que nunca conseguiria aturar por completo.
Seus pés foram em direção a ele quase que sem pensar, até que só faltassem poucos passos de distância. O sorriso dela doía em seu rosto por um corte que ela tinha na bochecha, mas Lyn não conseguia parar.
- Acabou. - Ela falou assim que tinha certeza que ele poderia ouvir. - Nós ganhamos.
- Bom, é. Eu prometi, não foi? - Ele a respondeu com os olhos cálidos, o rosto num misto de alívio e a confiança característica de quando queria assegurar aos outros e a si mesmo, e…
E ela não queria perder aquela expressão no rosto dele nunca mais.
No fim, ela nunca havia respondido a declaração dele. Hector havia sumido logo depois de ter proclamado aquela frase quando ela estava tentando se redimir de suas ações, e ambos nunca pareciam ter algum tempo sozinhos durante a volta até Valor. Agora ela sabia que era por mais de um motivo - ele provavelmente não queria que percebessem que havia algo errado, e tinha se afastado de propósito.
Quando ela chorara por ele, por entre a confusão daquela batalha final, seus sentimentos finalmente se tornaram claros depois de todo aquele tempo. Lyn tinha quase certeza de que ele havia percebido naquele momento também, mas…
Mas eles tinham quase morrido naquele dia, e aquilo não parecia o suficiente agora.
- Ei, tá tudo bem? - O homem a sua frente percebeu o olhar dela, olhos a percorrendo brevemente como se procurasse por algum ferimento. Ela só sorriu em resposta, e usou o impulso dos últimos passos para se inclinar para cima.
Hector foi certamente pego de surpresa, e ela quase riu com o estrondo que Armads fez ao cair no chão; mas logo os braços dele estavam envoltos em seu corpo até levantá-la do chão e ele estava a beijando de volta e, ah, parecia que toda a adrenalina tinha voltado a correr pelo seu sangue.
Ela pensou ter ouvido um assovio alto quando envolveu seus braços pelo pescoço dele, mas aquele provavelmente era Sain e ela lidaria com suas implicâncias mas tarde.
Hector parecia insistente em não querer se afastar dela, só que ambos não tinham muito ar de sobra por ter acabado de sair de uma batalha e a armadura dele estava começando a se tornar um incômodo que, no fim, não houve outra escolha a não ser fazer isso.
As bochechas dele estavam pinceladas de vermelho quando se separaram, e o cansaço de antes do fim de batalha parecia ter completamente evaporado de seu corpo; ela sabia que provavelmente estava a mesma coisa. As mãos deles ainda permaneciam nos mesmos lugares e ele estava prestes a dizer alguma coisa quando alguém tossiu à esquerda dos dois.
Lyn piscou, olhando para o lado e encontrando Eliwood lá, um sorriso um tanto torto no rosto e uma sobrancelha arqueada.
- Eliwood! - Ambos falaram o mesmo tempo; Lyndis, de susto, sentindo seu rosto aquecer ainda mais e descendo suas mãos do pescoço para os braços de Hector, e ele de alegria, o beijo parecendo ter elevado seu humor ainda mais que antes, recusando-se a largar da cintura dela.
O ruivo, educado como sempre, manteve-se alheio à posição deles ao agradecer ambos por tudo que haviam feito, mas continuou com o mesmo sorriso de antes enquanto falava. Com o homem ao seu lado ainda a segurando e com sua vontade admitidamente baixa de se afastar, ela apenas sorriu novamente, agradecendo à Mãe Terra e ao Pai Céu por poder estar viva ao lado das pessoas que amava naquele momento.
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